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Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

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ser a resposta de um auditório face a um espetáculo medíocre, pois “quan<strong>do</strong> o<br />

comediante cai abaixo de certo nível, não se ri mais dele, ri-se de si mesmo, da<br />

própria idiotice: como é possível ser tão besta a ponto de perder tempo ven<strong>do</strong> tal<br />

estupidez?” 13 Sabe-se também que os “membros de um grupo contam e gostam de<br />

ouvir piadas sobre si mesmos [...] a autodepreciação é uma estratégia conhecida no<br />

humor judaico” 14 . Este sentimento autoderrisório, que nos faz enxergar nossos<br />

aspectos cômicos e rir de nosso próprio ridículo, é uma atitude saudável – na<br />

opinião de Konrad Lorenz – visto que pode nos tornar menos orgulhosos, menos<br />

sujeitos a auto-ilusões lisonjeiras e mais honestos para conosco. 15<br />

No mun<strong>do</strong> contemporâneo e pós-moderno (profundamente influencia<strong>do</strong> por<br />

interesses econômicos e transforma<strong>do</strong> pelos meios de comunicação), o riso se torna<br />

um produto de consumo obrigatório, quer como remédio, para manter os cidadãos<br />

num constante esta<strong>do</strong> de analgesia, neutralizan<strong>do</strong> suas insatisfações pessoais, sua<br />

<strong>do</strong>r, depressão ou estresse, quer como tática mercantil, deixan<strong>do</strong> os indivíduos<br />

numa situação de euforia contínua, pois “O homem feliz compra, e o riso é um<br />

poderoso argumento de venda” 16 . Nesta sociedade forçosamente humorística<br />

(repleta de pegadinhas, piscadelas de conivência, distrações lúdicas, quebras<br />

propositais de distanciamento, comédias-pastelão, humor enlata<strong>do</strong>), comercializa-se<br />

o riso com tanta banalidade que tu<strong>do</strong> parece ser motivo de grande festa, tu<strong>do</strong><br />

precisa ter uma pitada de gracejo ou ironia, “tu<strong>do</strong> deve acontecer sob o crivo da<br />

brincadeira” 17 .<br />

E quan<strong>do</strong> o que já soava ridículo e grotesco se transforma em nonsense<br />

absoluto, em absurdidade ou insensatez, emprestan<strong>do</strong> a máscara da loucura para<br />

desarticular a lógica, desafiar a ordem e inutilizar os valores, surge o riso surreal, o<br />

riso niilista <strong>do</strong>s ridentes radicais. O que mais dizer desse riso, que mistura alhos com<br />

bugalhos, senão que é um riso enigmático que promove a estupefação e a<br />

desintegração e que se permite tu<strong>do</strong>, mesmo sen<strong>do</strong> antitu<strong>do</strong>?<br />

Desde a Antiguidade, a natureza mesma <strong>do</strong> humor tem si<strong>do</strong> investigada e<br />

debatida, tanto por admira<strong>do</strong>res quanto por detratores <strong>do</strong> riso. Curiosamente, há<br />

apenas <strong>do</strong>is pontos sobre os quais ambos parecem concordar. Primeiro: o humor é,<br />

13<br />

MINOIS, Georges. Op. cit., p. 373.<br />

14<br />

DRIESSEN, Henk. Op. cit., p. 256.<br />

15<br />

LORENZ, Konrad. Op. cit., p. 300.<br />

16<br />

MINOIS, Georges. Op. cit., p. 602.<br />

17<br />

Ibid., p. 599.<br />

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