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Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

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discurso ao auditório ou não quis levar em conta as opiniões de seus interlocutores,<br />

duas condições fundamentais para uma argumentação eficiente.<br />

Às vezes, uma pitada de hilaridade pode ter uma função claramente<br />

apazigua<strong>do</strong>ra: evitar brigas e discórdias, dissipar a ira, a indignação ou a frustração,<br />

suprimir um clima tenso, relaxar os indivíduos recalcitrantes. Ao tentar superar, com<br />

jocosidade, uma constrange<strong>do</strong>ra situação de conflito, os envolvi<strong>do</strong>s “encontram no<br />

riso uma área comum de comunicação [...] O riso torna suportável o insuportável.” 4<br />

Uma das funções mais comuns e subliminares <strong>do</strong> humor é aquela em que se<br />

provoca o riso coletivo como instrumento de correção, punição e exclusão de<br />

indivíduos indeseja<strong>do</strong>s. Esse riso moral, que denuncia os excessos, os desvios<br />

comportamentais e os atenta<strong>do</strong>s contra os princípios <strong>do</strong> grupo, atua como um<br />

poderoso instrumento de autodisciplina e controle social. É um riso vingativo, que<br />

repreende os que considera maus sujeitos, marginaliza os desencaminha<strong>do</strong>s, afasta<br />

os esquisitos ou exóticos e rejeita os costumes alheios, servin<strong>do</strong> como “muralha das<br />

normas, <strong>do</strong>s valores e <strong>do</strong>s preconceitos estabeleci<strong>do</strong>s”. 5 A intolerância expressa por<br />

esse tipo de humor transforma a vítima de uma piada num ser estranho, contribuin<strong>do</strong><br />

assim para se construir “uma sociabilidade por exclusão”. 6<br />

O humor farsesco que assoma naturalmente durante certas festividades<br />

sociais, previstas e aceitas, como o carnaval, por exemplo, costuma gerar risos que<br />

são aguarda<strong>do</strong>s por muitos com grande expectativa. Esse riso parece cumprir um<br />

desejo de liberação e de catarse, uma necessidade de desforra contra tu<strong>do</strong> aquilo<br />

que representa opressão (autoridades, tradições, regras, instituições). Já que não<br />

reconhece fronteiras, essa comicidade festiva acaba sen<strong>do</strong> marcada por excessos:<br />

propicia a livre expressão <strong>do</strong> corpo e <strong>do</strong>s desejos <strong>do</strong> corpo, prega peças, faz<br />

brincadeiras de mau gosto, abusa de imitações, paródias e caricaturas, exibe<br />

verbalismos obscenos e travestimentos audaciosos, debocha de qualquer pessoa ou<br />

coisa, não tolera oposições, não admite insatisfação e não respeita isolamentos,<br />

perseguin<strong>do</strong> a to<strong>do</strong>s com um riso tirano e impositivo. Por outro la<strong>do</strong>, esse humor que<br />

4 DRIESSEN, Henk. Humor, riso e o campo: reflexões da antropologia. In: BREMMER, Jan;<br />

ROODENBURG, Herman. (Org.). Uma história cultural <strong>do</strong> humor. Rio de Janeiro: Record, 2000.<br />

p. 262.<br />

5 MINOIS, Georges. Op. cit., p. 172.<br />

6 Ibid., p. 307.<br />

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