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Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

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identidade de um conjunto de pessoas, as blagues vindas de fora ameaçam-lhe o<br />

prestígio e que a “piada de um grupo é, freqüentemente, a <strong>do</strong>r de outrem”. 2<br />

Em geral, os seres humanos costumam fazer uso da propriedade ofensiva<br />

<strong>do</strong> riso para rivalizarem entre si. Quan<strong>do</strong> deixamos correr, à rédea solta, nossos<br />

instintos agressivos, surge um tipo de humor ferino e bastante cáustico que se<br />

compraz com a derrota ou com o rebaixamento <strong>do</strong> outro. Esse riso mordaz e<br />

injuria<strong>do</strong>r, que escarnece, ridiculariza, caçoa, difama, calunia, desonra, irrita, ofende<br />

ou desdenha, é normalmente emprega<strong>do</strong> como armamento para intimidar ou<br />

embaraçar o opositor, para enfraquecer ou provocar o adversário. Também é um<br />

tipo de riso de triunfo em que o vence<strong>do</strong>r se vangloria de sua ilusória superioridade,<br />

afirman<strong>do</strong> e reafirman<strong>do</strong> a si mesmo.<br />

Existe também um tipo de riso sádico, mórbi<strong>do</strong> e extremamente hostil que,<br />

ao se comprazer com a humilhação pública de suas vítimas, pode acarretar<br />

desfechos dramáticos, arruinar relacionamentos, destruir carreiras, motivar<br />

ostracismos, incitar o ódio e até mesmo promover homicídios ou suicídios. Dos<br />

charivaris medievais aos trotes contemporâneos de calouros, na história da<br />

humanidade não faltam exemplos de como essas manifestações coletivas de<br />

vexação cômica são capazes de se tornar danosas e funestas.<br />

Quan<strong>do</strong> um auditório heterogêneo, composto por diferentes facções, sente-<br />

se desconfortável diante de algumas teses que lhe são apresentadas, quan<strong>do</strong><br />

desconfia que essas teses podem não apenas pôr em xeque sua preferência por<br />

determina<strong>do</strong>s valores, mas ameaçar sua imagem ou status, quan<strong>do</strong> esse mesmo<br />

auditório deseja evitar um ora<strong>do</strong>r inoportuno, impedin<strong>do</strong> o fluxo normal de sua<br />

argumentação, ou simplesmente quan<strong>do</strong> os ouvintes constatam o anacronismo de<br />

um discurso, a ilogicidade de um comentário ou o contra-senso de uma proposta, é<br />

bem provável que surja um riso grupal de evasão, explosivo e barulhento, que (ao<br />

ser reforça<strong>do</strong> por burburinhos, vaias ou aplausos) pode emudecer completamente o<br />

ora<strong>do</strong>r, além de produzir desordens e divisões de difícil controle. 3 Esse riso costuma<br />

ser o castigo impingi<strong>do</strong> àquele ora<strong>do</strong>r inabili<strong>do</strong>so que não soube ajustar o seu<br />

2 BREWER, Derek. Livros de piada em prosa pre<strong>do</strong>minantes na Inglaterra entre os séculos XVI e<br />

XVIII. In: BREMMER, Jan; ROODENBURG, Herman. (Org.). Uma história cultural <strong>do</strong> humor.<br />

Rio de Janeiro: Record, 2000. p. 142.<br />

3 Para entender melhor as funções complementares desse tipo de riso, ver o interessante artigo de<br />

BAECQUE, Antoine de. A hilaridade parlamentar na Assembléia Constituinte Francesa (1789-91).<br />

In: BREMMER, Jan; ROODENBURG, Herman. (Org.). Uma história cultural <strong>do</strong> humor. Rio de<br />

Janeiro: Record, 2000. p. 195-223.<br />

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