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Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

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Perelman 45 , filósofo belga que, na segunda metade <strong>do</strong> século XX, firmemente<br />

apoia<strong>do</strong> em Aristóteles, resgata e estabelece os princípios de um trata<strong>do</strong> geral da<br />

argumentação a partir da análise de procedimentos discursivos utiliza<strong>do</strong>s por<br />

juristas, filósofos, literatos, políticos, publicitários e cientistas sociais.<br />

As reflexões de Perelman não tratam <strong>do</strong>s problemas específicos da<br />

fabulação, mas redimensionam a visão desses problemas ao fornecer-nos uma<br />

perspectiva mais ampla sobre a arte de convencer e persuadir, da qual participa<br />

ativamente a arte de romancear. A leitura que faço de Perelman não abarca, nem<br />

pretende esgotar, to<strong>do</strong> o pensamento <strong>do</strong> filósofo, apenas aproprio-me de algumas<br />

noções que me parecem fundamentais na esperança de poder ampliá-las,<br />

redesenhá-las, direcioná-las e estendê-las às demandas literárias, tentan<strong>do</strong> extrair o<br />

máximo possível de efeitos, relações, conseqüências e indagações.<br />

Sua obra abriu novas frentes de pesquisa ao revalorizar o aspecto retórico<br />

<strong>do</strong> pensamento, mostran<strong>do</strong> que nossa razão não se limita a realizar cálculos,<br />

identificar erros e descobrir a verdade (como pressupõe a lógica estritamente<br />

matemática), mas que o raciocínio também se move o tempo to<strong>do</strong> no senti<strong>do</strong> de<br />

justificar nossas condutas, gostos, preferências, escolhas, opiniões, decisões e<br />

pretensões.<br />

A antiga retórica da cultura greco-latina dedicava-se, juntamente com sua<br />

contraparte, a dialética, a estudar os raciocínios, os valores e os juízos humanos<br />

implícitos na composição de diferentes tipos de discursos, orais ou escritos. Na<br />

retórica clássica, Perelman encontrou as bases de uma espécie embrionária de<br />

análise <strong>do</strong> discurso que se propunha a compreender os méto<strong>do</strong>s comuns a to<strong>do</strong>s os<br />

ora<strong>do</strong>res quan<strong>do</strong> estes se dirigem a um determina<strong>do</strong> auditório com o intuito de<br />

persuadir o seu interlocutor.<br />

O conjunto daqueles aos quais desejamos dirigir-nos é muito variável. Está<br />

longe de abranger, para cada qual, to<strong>do</strong>s os seres humanos. [...] Há seres<br />

com os quais qualquer contato pode parecer supérfluo ou pouco desejável.<br />

Há seres aos quais não nos preocupamos em dirigir a palavra; há outros<br />

também com quem não queremos discutir, mas aos quais nos contentamos<br />

em ordenar. Com efeito, para argumentar, é preciso ter apreço pela adesão<br />

<strong>do</strong> interlocutor, pelo seu consentimento, pela sua participação mental. [...]<br />

em matéria de retórica, parece-nos preferível definir o auditório como o<br />

conjunto daqueles que o ora<strong>do</strong>r quer influenciar com sua argumentação.<br />

45 Que escreveu sua principal obra com o auxílio de uma pesquisa<strong>do</strong>ra assistente. Ver PERELMAN,<br />

Chaïm; OLBRECHTS-TYTECA, Lucie. Trata<strong>do</strong> da argumentação: a nova retórica. 2. ed. São<br />

Paulo: Martins Fontes, 2005.<br />

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