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Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

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transferem o foco <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s para a relação entre o texto e seus prováveis efeitos<br />

sobre certos leitores. Mas sejam quais forem esses efeitos não parece ser possível<br />

estudá-los sem que pressuponhamos a existência de causas, intenções, recursos e<br />

funções. O que fatalmente leva o estudioso a uma outra questão: por que foi que eu<br />

li? E mais: por que é que o texto literário me permite ler <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> como eu o li?<br />

O desejo de querer filiar narrativas tão abrangentes e instáveis, como o<br />

romance, àquilo que alguns acreditam ser um novo mo<strong>do</strong> de narrar é sempre<br />

tenta<strong>do</strong>r. Prefiro resistir à tentação e ver O tetraneto del-rei como um mo<strong>do</strong><br />

disfarçadamente renova<strong>do</strong> de se fazer algo muito antigo: sátiras. Ao tomar a<br />

irreverência como linha mestra <strong>do</strong> texto de Harol<strong>do</strong> Maranhão, percebo que o autor<br />

emprega o mesmo conjunto essencial de procedimentos que fazem (e sempre<br />

fizeram) parte de textos tipicamente satíricos: humorizar, parodiar, ironizar, imitar,<br />

proverbiar, exagerar, metaforizar, valorizar e desvalorizar.<br />

No barroquismo anacrônico da linguagem haroldiana, percebo a existência<br />

de uma oratória persuasiva minuciosamente elaborada para tornar mais factível e<br />

atraente o mun<strong>do</strong> ficcional proposto pelo autor. Considero a retórica empregada<br />

para validar a ficção (para convencer as mentes humanas da possibilidade de um<br />

mun<strong>do</strong> fictício) como sen<strong>do</strong> fundamentalmente a mesma que usamos para validar o<br />

mun<strong>do</strong> empírico. Por conseguinte, penso que boa parte daquilo que é posto em<br />

movimento numa trama ficcional – e que freqüentemente é visto (estuda<strong>do</strong> e<br />

considera<strong>do</strong>) como imagem, figura, técnicas ou recursos próprios <strong>do</strong> estilo – diz<br />

respeito muito mais à razão <strong>do</strong> que à imaginação; são artifícios estéticos mas não<br />

estáticos, mecanismos funcionais, quase sempre engenhosos e falaciosos, mas não<br />

arbitrários nem gratuitos, manobras discursivas que simplesmente não podemos<br />

evitar porque participam da dinâmica natural <strong>do</strong>s discursos inventa<strong>do</strong>s pelo homem.<br />

Com isto quero dizer que certos procedimentos que consideramos literários não<br />

apenas se baseiam na razão como são inerentes à espécie humana e estão<br />

presentes, em maior ou menor grau, em todas as manifestações discursivas, sejam<br />

elas coloquiais ou especializadas, tenham elas aparência mais (ou menos) subjetiva<br />

ou objetiva, mais (ou menos) comprometida e passional ou impessoal e fria.<br />

Na busca por caminhos teóricos que valorizem o aspecto persuasivo da<br />

oratória romanesca, dan<strong>do</strong>-lhe forma e função, deparei-me com as idéias de Chaïm<br />

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