Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná
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omance. E Sérgio Afonso Alves 41 tenta compatibilizar diferentes formulações<br />
teóricas (conceitos de pastiche, paródia, sátira, ironia, hipertexto, intertextualidade,<br />
inversão, transcontextualização, picaresca e dialogismo) para reforçar a idéia de um<br />
romance híbri<strong>do</strong>, paródico e lúdico. Num exame posterior, Alves 42 filia O tetraneto<br />
del-rei a uma estética neobarroca latino-americana, cuja principal característica,<br />
segun<strong>do</strong> o ensaísta, é a utilização de marcas e exercícios verbais próprios <strong>do</strong><br />
barroco para reinserir o passa<strong>do</strong> no presente, provocan<strong>do</strong> questionamentos e<br />
renovações.<br />
Por fim, há também reflexões críticas a partir de uma ótica portuguesa. Maria<br />
Margarida Gouveia 43 atém-se aos mitos, arquétipos e estereótipos presentes no<br />
romance, tratan<strong>do</strong>-o como texto pós-moderno. Além disso, argumenta no senti<strong>do</strong> de<br />
reverter a favor <strong>do</strong>s próprios portugueses to<strong>do</strong> o escarnecimento <strong>do</strong>s mitos lusitanos<br />
proposto por Harol<strong>do</strong> Maranhão:<br />
Pensamos mesmo que um texto que parodia a História de Portugal ou que<br />
constrói anti-heróis a partir de heróis portugueses não deixa de, por efeito<br />
de boomerang, voltar a chamar a atenção para a cultura de origem. Um<br />
autor assimila<strong>do</strong> por uma via parodística e li<strong>do</strong> <strong>do</strong> “avesso” não deixa de ser<br />
por isso uma referência ou mesmo um paradigma. [...] uma ironia atirada à<br />
cara de um português não faz com que ele seja menos português e não<br />
impede, pelo tal efeito de boomerang, uma revalorização da cultura de<br />
origem – o que não deixa de ser valorativo para ambas as culturas e as<br />
suas incontornáveis afinidades de fun<strong>do</strong> e de língua. 44<br />
Para os críticos literários, de mo<strong>do</strong> geral, diferentemente <strong>do</strong>s leitores<br />
comuns, terminada a leitura, inicia-se o processo de procura: o que foi que eu li?<br />
Pastiche, paródia, sátira, romance histórico, picaresco ou pós-moderno? Não é nada<br />
fácil encontrar o tronco ou as raízes de uma narrativa, vinculan<strong>do</strong>-a a um<br />
determina<strong>do</strong> mo<strong>do</strong> de se fazer literatura. Diante de tantas possíveis respostas,<br />
talvez o crítico prefira se perguntar: como foi que eu li? Ou ainda: de quantos mo<strong>do</strong>s<br />
diferentes o texto se deixa ler? Questões não menos delicadas que apenas<br />
41 ALVES, Sérgio Afonso Gonçalves. Fios da memória, jogo textual e ficcional de Harol<strong>do</strong><br />
Maranhão. 233 f. <strong>Tese</strong> (Doutora<strong>do</strong> em Estu<strong>do</strong>s Literários) – Pós-graduação em Letras,<br />
<strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2006.<br />
42 ALVES, Sérgio Afonso Gonçalves. Expressão neobarroca em O tetraneto del-rei. <strong>Universidade</strong><br />
de São Paulo, São Paulo, Encontro Regional da ABRALIC, 23 a 25 jul. 2007. Disponível em:<br />
Acesso em: 15/04/2008.<br />
43 GOUVEIA, Maria Margarida Maia. Memória de mitos portugueses n’O tetraneto del-rei, de<br />
Harol<strong>do</strong> Maranhão. <strong>Universidade</strong> <strong>do</strong>s Açores, Ponta Delgada, [200?]. Disponível em<br />
. Acesso em: 13/10/2007.<br />
44 Idem. (grifos da autora)<br />
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