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Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

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aquelas noções de normalidade que se tornaram normativas. A ironia e o humor <strong>do</strong>s<br />

satíricos agem no senti<strong>do</strong> de reforçar, testar, questionar ou rever nossas<br />

convenções mais arraigadas. É por isso que eles parecem se divertir confrontan<strong>do</strong>-<br />

nos com circunstâncias grotescas, arranhan<strong>do</strong> o verniz <strong>do</strong>s modelos sociais,<br />

bombardean<strong>do</strong> as instituições, desimportantizan<strong>do</strong> as coisas que consideramos<br />

importantes, reduzin<strong>do</strong> as noções amplificadas e amplifican<strong>do</strong> as noções reduzidas,<br />

transgredin<strong>do</strong> o gosto público, expon<strong>do</strong> o proibi<strong>do</strong>, evidencian<strong>do</strong> o antiqua<strong>do</strong> e<br />

assumin<strong>do</strong> atitudes e idéias que o bom senso nos obriga a esconder.<br />

Nesta delicada e perigosa tarefa de apontar defeitos e criticar o homem, o<br />

riso se torna um cúmplice fundamental. Ao manipulá-lo e fazê-lo surgir, o escritor<br />

consegue proteger (e ocultar) muitas de suas intenções, eximin<strong>do</strong>-se de várias<br />

possíveis críticas, já que os indivíduos ridentes se tornam co-responsáveis por<br />

grande parte das inferências e conclusões. Uma das grandes virtudes <strong>do</strong> humor é<br />

justamente conseguir explicitar contradições e diferenças humanas com relativa<br />

tolerância e consentimento <strong>do</strong>s demais. As dicções com intenção cômica suscitam<br />

risos capazes não apenas de identificar determinadas comunidades discursivas,<br />

mas, ao mesmo tempo, de incluir ou excluir delas certos indivíduos.<br />

O humor abre um espaço intersubjetivo de interação no qual os<br />

interlocutores conseguem compartilhar informações, opiniões e juízos que excedem<br />

em muito as expectativas convencionais da linguagem. Mas para que isso aconteça<br />

é preciso que saibamos não somente reconhecer os códigos e sinais expressos no<br />

discurso <strong>do</strong> outro, como também elaborar o não dito, isto é, criar significações<br />

suplementares que se oponham, se interponham, se alternem ou se sobreponham à<br />

elocução propriamente dita. Yuri Lotman dizia que “informação é beleza” 5 . Talvez a<br />

informação seja também prazerosa. Talvez dividir valores comuns seja igualmente<br />

aprazível. E talvez o humor seja um mo<strong>do</strong> a mais de compartilhar beleza. A literatura<br />

com freqüência consegue nos proporcionar esse tipo de prazer.<br />

175<br />

Harol<strong>do</strong> é lúdico – homo ludens. Harol<strong>do</strong> se diverte. Mas há tanta seriedade<br />

nele, tanta densidade, tanto mergulho nos abismos. Um ludismo abissal. [...]<br />

Ele escreve de maneira vertiginosa. [...] A vida de Harol<strong>do</strong> não foi agitada<br />

por fora. Mas o foi por dentro. Porque ele pensa vertiginosamente. 6<br />

5<br />

Apud EAGLETON, Terry. Teoria da literatura: uma introdução. São Paulo: Martins Fontes, 2001.<br />

p. 139.<br />

6<br />

VILLAÇA, Antonio Carlos. Miguel Miguel, <strong>do</strong> inesgotável, surpreendente Harol<strong>do</strong> Maranhão. In:<br />

MARANHÃO, Harol<strong>do</strong>. Miguel Miguel. Belém: CEJUP, 1992. p. 7. (grifo <strong>do</strong> autor)

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