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Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

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décadas de 70 e 80 19 , podem ser li<strong>do</strong>s à luz de um provável ressurgimento da<br />

picaresca, desta vez, porém, na América Latina. 20 Num estu<strong>do</strong> anterior, ele já havia<br />

se referi<strong>do</strong> a esse conjunto de narrativas como neopicaresca 21 , isto é, produção<br />

literária com traços particulares que pode ser perfeitamente vinculada pelos leitores<br />

ao pícaro original, mesmo que o autor não tenha ti<strong>do</strong> intenção consciente de usar o<br />

modelo espanhol. Foi este, aliás, o caso de O tetraneto del-rei, a respeito <strong>do</strong> qual<br />

González declara:<br />

tivemos a oportunidade de perguntar ao autor sobre a consciência de algum<br />

tipo de relacionamento <strong>do</strong> seu texto com a picaresca clássica. A resposta foi<br />

negativa. [...] Parece-nos até mais interessante quan<strong>do</strong> o resulta<strong>do</strong> não<br />

decorre de um condicionamento cultural prévio <strong>do</strong> autor. 22<br />

A picaresca que o pesquisa<strong>do</strong>r acredita haver se desenvolvi<strong>do</strong> no Brasil não<br />

satisfaz to<strong>do</strong>s os requisitos formalistas da tradição tipicamente espanhola, mas<br />

contém as características essenciais <strong>do</strong> gênero:<br />

um anti-herói, socialmente marginaliza<strong>do</strong>, protagoniza uma série de<br />

aventuras dentro de certo projeto pessoal; por meio delas, a sociedade – e<br />

particularmente seus mecanismos de ascensão social – são satiricamente<br />

denuncia<strong>do</strong>s, já que a trapaça continua a ser o caminho para evitar ser<br />

aniquila<strong>do</strong> e poder “subir”. 23<br />

Esse novo pícaro-malandro se mantém estreitamente relaciona<strong>do</strong> com o<br />

herói cervantino e muitas vezes encarna mesmo a antítese <strong>do</strong>s valores quixotescos,<br />

ou seja, suas ações e imperfeições podem ser lidas como inversão <strong>do</strong>s atos e<br />

virtudes de Dom Quixote. Talvez o melhor perfil <strong>do</strong> personagem anti-heróico dessa<br />

neopicaresca brasileira seja aquele traça<strong>do</strong> por Gilda de Mello e Souza, a propósito<br />

de Macunaíma, num estu<strong>do</strong> que se intitula O tupi e o alaúde: “um venci<strong>do</strong>-<br />

vence<strong>do</strong>r, que faz da fraqueza a sua força, <strong>do</strong> me<strong>do</strong> a sua arma, da astúcia o seu<br />

19 A pedra <strong>do</strong> reino, de Ariano Suassuna, Galvez, impera<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Acre, de Márcio Souza, Meu tio<br />

Atahualpa, de Paulo de Carvalho Neto, Os voluntários, de Moacyr Scliar, O grande<br />

mentecapto, de Fernan<strong>do</strong> Sabino, Travessias, de Edward Lopes, O tetraneto del-rei, de Harol<strong>do</strong><br />

Maranhão, e O cogitário, de Napoleão Sabóia.<br />

20 GONZÁLEZ, Mario M. A saga <strong>do</strong> anti-herói: estu<strong>do</strong> sobre o romance picaresco espanhol e<br />

algumas de suas correspondências na literatura brasileira. São Paulo: Nova Alexandria, 1994.<br />

21 GONZÁLEZ, Mario M. La novela neopicaresca brasileña. Cuadernos Hispanoamericanos,<br />

Madrid, n. 504, p. 81-92, jun. 1992.<br />

22 GONZÁLEZ, Mario M. Op. cit., 1994. p. 326-327.<br />

23 Ibid., p. 314.<br />

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