14.04.2013 Views

Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

grande amigo <strong>do</strong> Torto, com sua despedida somos toma<strong>do</strong>s pela solidão, invadi<strong>do</strong>s<br />

por um sentimento de tristeza e de saudade que só fazem reforçar nossos laços de<br />

simpatia para com o personagem.<br />

Em A retórica da ficção, Wayne C. Booth analisou uma série de táticas<br />

empregadas pelos ficcionistas para distanciar e aproximar, envolver e manter aceso<br />

o interesse <strong>do</strong> leitor ao longo da obra. 12 Entre elas, destacam-se as seguintes: o<br />

“desejo de acabamento intelectual” 13 , ou seja, a curiosidade pela descoberta <strong>do</strong>s<br />

fatos, razões, interpretações e circunstâncias que explicam a configuração de<br />

mun<strong>do</strong> proposta pela narrativa; o “desejo de acabamento causal”, em literatura, bem<br />

mais <strong>do</strong> que na vida, o leitor não apenas espera que as causas sejam dilucidadas,<br />

como também exige que essas causas tenham uma conseqüência, um resulta<strong>do</strong>,<br />

um efeito, por isso, diante de um encadeamento <strong>do</strong> tipo crime-revelação-motivo-<br />

castigo, o leitor tende a manter o interesse até que to<strong>do</strong>s os itens dessa seqüência<br />

sejam satisfeitos; o desejo de confirmação de “expectativas convencionais” 14 , pois é<br />

a partir de algumas convenções que somos capazes de prever e desejar certos<br />

resulta<strong>do</strong>s, assim, se lemos contos de fadas, por exemplo, é porque esperamos<br />

encontrar, entre outras coisas, magia e finais felizes; o interesse pela surpresa,<br />

“sabemos que qualquer satisfação das nossas expectativas será dada com uma<br />

diferença e sentimos inevitável curiosidade em relação a essa diferença”, o autor<br />

pode nos surpreender quan<strong>do</strong> viola convenções, quan<strong>do</strong> interrompe ou cancela a<br />

relação causa-efeito, quan<strong>do</strong> nos apresenta padrões diferentes ou mais<br />

convincentes, quan<strong>do</strong> abala nossas convicções ou quan<strong>do</strong> nos confunde de mo<strong>do</strong><br />

delibera<strong>do</strong>; o desejo de conhecer a boa ou má fortuna <strong>do</strong>s personagens, sempre e<br />

quan<strong>do</strong> o autor consiga nos fazer amá-los ou odiá-los; e o desejo de encontrar<br />

qualidades prometidas dentro da obra, ou seja, toda vez que alguma de suas<br />

páginas nos brinda com um predica<strong>do</strong> qualquer (algo de humor, emoção,<br />

profundidade, riqueza estilística, filosófica ou simbólica), cria-se uma “promessa<br />

implícita de mais”, uma expectativa de encontrarmos novas e surpreendentes<br />

recompensas, isso nos faz avançar em busca de outro tanto daquilo que nos foi<br />

tacitamente prometi<strong>do</strong>.<br />

12 BOOTH, Wayne C. A retórica da ficção. Lisboa: Editora Arcádia, 1980.<br />

13 Ibid., p. 141-143. (grifos meus)<br />

14 Idem. (grifo <strong>do</strong> autor)<br />

163

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!