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Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

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universais apenas se os mantivermos num nível satisfatório de imprecisão, como<br />

convém às noções sabidamente vagas.<br />

Cada cultura, cada nação, cada grupo, cada indivíduo, enfim, utiliza<br />

discursos e narrativas para elaborar, transmitir e reforçar valores que justifiquem<br />

possíveis ações, reações e omissões, num ato de responsabilidade e envolvimento.<br />

Lorenz se propõe a chamar de “entusiasmo militante” 7 essa disposição humana<br />

(filogeneticamente programada) para defender as causas, os valores e os deveres<br />

<strong>do</strong> grupo com uma emoção particular e fervorosa.<br />

Embora difíceis de explicitar, valores são idéias, seres ou objetos em nome<br />

<strong>do</strong>s quais o ser humano se mostra disposto a viver, a lutar e, se preciso for, morrer.<br />

Um valor é tu<strong>do</strong> aquilo que tomamos entusiasticamente no mais alto grau como um<br />

dever-ser, um preceito ao qual aderimos de mo<strong>do</strong> afetivo, uma espécie de causa<br />

sagrada que, uma vez acolhida, nos provoca certezas irracionais.<br />

Vários são os agentes responsáveis pela criação de hierarquias entre<br />

valores. Cada pessoa adere a um determina<strong>do</strong> valor com uma intensidade particular.<br />

O grau de importância que cada um de nós concede aos valores – sejam eles<br />

concretos (como família, ouro, corpo) ou abstratos (como modéstia, inteligência, fé)<br />

– varia de forma considerável; esse é o primeiro motivo que nos leva a subordiná-los<br />

uns aos outros e organizá-los hierarquicamente. O segun<strong>do</strong>, é o desejo de<br />

tentarmos conciliar valores considera<strong>do</strong>s nobres, como por exemplo: liberdade,<br />

fraternidade, felicidade e igualdade. Quan<strong>do</strong> postos la<strong>do</strong> a la<strong>do</strong>, eles costumam se<br />

rejeitar ou provocar o surgimento de seus contrários. Nem to<strong>do</strong>s os valores são<br />

necessariamente compatíveis e harmônicos, a busca utópica pela integração de<br />

muitos deles pode gerar conflitos que nos obrigam a fazer escolhas, por isso, há que<br />

sacrificar certos valores em determinadas circunstâncias para se evitar<br />

incompatibilidades. O terceiro motivo comum de hierarquização é a relativa falta de<br />

autonomia <strong>do</strong>s valores. Amiúde nós os vinculamos uns aos outros, de mo<strong>do</strong> que é<br />

quase impossível fazermos referência a um valor sem pressupormos<br />

necessariamente certa quantidade de outro. É comum, por exemplo, associarmos o<br />

amor ora a valores concretos (amor ao dinheiro, amor aos filhos), ora a valores<br />

abstratos (amor à verdade, amor a Deus), ou fazê-lo depender, em grande parte, da<br />

7 LORENZ, Konrad. A agressão: uma história natural <strong>do</strong> mal. Santos: Livraria Martinsfontes<br />

Editora, 1973. p. 273.<br />

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