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Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

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139<br />

Dizen<strong>do</strong> de um homem que é um urso, um leão, um lobo, um porco ou um<br />

carneiro, descreve-se metaforicamente seu caráter, seu comportamento ou<br />

seu lugar entre os outros homens, em virtude da idéia que se tem <strong>do</strong><br />

caráter, <strong>do</strong> comportamento ou <strong>do</strong> lugar desta ou daquela espécie no mun<strong>do</strong><br />

animal, tentan<strong>do</strong> suscitar a seu respeito reações iguais às que se sente<br />

comumente a respeito dessas mesmas espécies. 12<br />

As fusões metafóricas e os paralelos analógicos emprega<strong>do</strong>s pelo ficcionista<br />

paraense tendem, no geral, a humilhar e apequenar certos indivíduos,<br />

potencializan<strong>do</strong> supostas falhas e vícios humanos. Por outro la<strong>do</strong>, ele se vale da<br />

mesma técnica para realizar várias formas de alargamento e estreitamento nocional<br />

que podem atrair (e distrair) a atenção <strong>do</strong> leitor, acarretan<strong>do</strong> conseqüentemente<br />

risos involuntários.<br />

Personifican<strong>do</strong> os animais<br />

1. Porcos são açucara<strong>do</strong>s e cordatos. São simples, quase simplórios, destituí<strong>do</strong>s<br />

de rompâncias. Têm inveja? Os porcos têm inveja? São da<strong>do</strong>s a iras? Uns<br />

mininos, Ribeiro, porcos são mininos. (p. 200)<br />

2. Albuquerque, um ponto que me acode: acaso já se ouviu falar de leitão frascário<br />

e de leitoa vulgívaga? Desde que o mun<strong>do</strong> é mun<strong>do</strong>, pergunto-te, um leitão<br />

induziu a transvios uma leitoa de provada pudicícia? Indago-te mais, amigo<br />

Albuquerque: porcos apresentam apetite venéreo imorigera<strong>do</strong>? Sabes que<br />

foram os bovinos que copiaram os porcinos na calma postura, no sossego<br />

moral, na paz d’alma? (p. 201)<br />

Os exemplos 1 e 2 fazem parte <strong>do</strong> mesmo diálogo surreal entre Torto e<br />

Ribeiro a propósito <strong>do</strong> enterro de quatro almôndegas de porco, consideradas<br />

equivocadamente como carne <strong>do</strong> português Vasco Guedes. É irônico constatar o<br />

fingi<strong>do</strong> arroubo e a suposta autoridade com que os <strong>do</strong>is debate<strong>do</strong>res discorrem<br />

sobre assuntos de transcendência duvi<strong>do</strong>sa. A intenção satírica e moraliza<strong>do</strong>ra<br />

neste caso parece clara: na verdade, criticam-se os portugueses, seus instintos,<br />

seus costumes, sua cultura.<br />

Personifican<strong>do</strong> elementos da natureza<br />

3. E pedras são néscias: que pensamentos migram das pedras? (p. 33)<br />

4. Amortalhei-o de almiscaradas folhas e flores gentis (p. 195)<br />

Os elementos da natureza não são apenas humaniza<strong>do</strong>s, mas parecem<br />

adquirir as características <strong>do</strong>s tipos humanos aos quais se associam. Em 3, o Torto,<br />

12 PERELMAN, Chaïm. Op. cit., 1999. p. 336.

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