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Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

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Sempre soube que escrever não é o alegre piquenique que alguns<br />

imaginam: escrever quan<strong>do</strong> chega a “inspiração”! Não existe absolutamente<br />

inspiração. É a velha desculpa <strong>do</strong>s preguiçosos e equivoca<strong>do</strong>s. [...] Lutei<br />

sozinho contra a vaidade literária, que é muito maior que a vaidade feminina<br />

[...] Melhor que estrear moço é estrear maduro, e melhor que estrear<br />

maduro é não estrear. 6<br />

Como escritor, talvez tenha si<strong>do</strong> exemplo de um talento explosivo alia<strong>do</strong> a<br />

uma clara inquietação cria<strong>do</strong>ra. O resulta<strong>do</strong> desse amálgama o levou a escrever<br />

constantemente como um possesso e a esmerilhar sua narrativa com grande <strong>do</strong>se<br />

de ternura, obsessão e sofrimento: “Até hoje, juntar palavras raramente me dá<br />

consolação e paz. Quase sempre é me<strong>do</strong> o que sinto ao me locomover no espaço<br />

das palavras. Retiro uma, outra, mais outra, evito esta, prefiro aquela, disponho-as<br />

como se encaixasse as peças de um jogo de armar.” 7 Harol<strong>do</strong> Maranhão costumava<br />

seguir à risca a máxima que reza Nulla dies sine linea, também dizia que “o bom<br />

escritor não pode ter pressa para publicar” 8 , porque uma escrita precisa de tempo<br />

para amadurecer.<br />

Entre as principais características de sua narrativa, encontram-se:<br />

disposição para desmistificar personagens históricos <strong>do</strong> Brasil e personalidades<br />

políticas <strong>do</strong> Pará; tendência, desde o início, para o uso de arcaísmos e de<br />

construções sintáticas inusitadas; inegável maestria na caracterização de<br />

personagens-tipo e evidente vocação para a burla e o escárnio, que estampam em<br />

suas páginas uma acerba impressão de desabafo.<br />

Em O tetraneto del-rei, Harol<strong>do</strong> Maranhão ficcionaliza a chegada <strong>do</strong>s<br />

portugueses ao nordeste brasileiro. Seu projeto romanesco usa sobretu<strong>do</strong> a<br />

irreverência para denunciar a falsa lisura e o pseu<strong>do</strong>-heroísmo <strong>do</strong>s explora<strong>do</strong>res<br />

lusitanos, valorizan<strong>do</strong> conseqüentemente os costumes, a esperteza e a valentia <strong>do</strong>s<br />

indígenas. Deste mo<strong>do</strong>, o escritor transforma um acontecimento histórico, envolto<br />

em lendas e mistificações, num universo aparentemente mais dinâmico e tangível,<br />

onde o leitor pode sentir o embate violento entre duas culturas, a <strong>do</strong> conquista<strong>do</strong>r e<br />

a <strong>do</strong> conquista<strong>do</strong>.<br />

6 MARANHÃO, Harol<strong>do</strong>. O Pará não morreu. Viva o Acará! A Província <strong>do</strong> Pará, Belém, 23 e 24<br />

set. 1990. 2º Caderno, p. 9. Entrevista concedida a Elias Ribeiro Pinto.<br />

7 FERREIRA, Renata. Governo presta tributo ao escultor de palavras, Harol<strong>do</strong> Maranhão. Governo<br />

<strong>do</strong> Pará, Belém, 16 jul. 2004. Disponível em: . Acesso em: 18/09/2005.<br />

8 Idem.<br />

13

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