14.04.2013 Views

Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

a aceitar certas analogias como questões de fato, revigoran<strong>do</strong>-lhe o mo<strong>do</strong> de pensar<br />

e obten<strong>do</strong>, assim, sua adesão a diferentes conclusões ou conseqüências.<br />

Em O tetraneto del-rei 11 , as analogias, metáforas e demais tropos a elas<br />

relaciona<strong>do</strong>s ajudam a estimular o cômico <strong>do</strong> discurso, a ativar a feitura de senti<strong>do</strong>s<br />

menos previsíveis, a renovar as sensações <strong>do</strong>s leitores e guiá-los em direção a<br />

perspectivas de mun<strong>do</strong> mais originais e surpreendentes. Vejamos de perto algumas<br />

dessas funções.<br />

Analogias<br />

O autor recorre às analogias com tanta freqüência, que não seria exagero<br />

afirmar que, em cada duas ou três páginas de seu romance, encontraremos no<br />

mínimo um procedimento analógico, encabeça<strong>do</strong> ou media<strong>do</strong> por vocábulos <strong>do</strong> tipo:<br />

como, como se, que, mais [...] que, se, que se, tal ou qual. Às vezes, os próprios<br />

elementos que configuram o tema da analogia podem evocar metáforas ou conter<br />

alguma expressão metafórica a<strong>do</strong>rmecida que o autor pretende despertar ou<br />

esclarecer. Já os termos embasa<strong>do</strong>res mais utiliza<strong>do</strong>s como foro fazem referência a<br />

objetos, contextos e <strong>do</strong>mínios mundanos, de rápida apreensão cognitiva, e<br />

costumam sugerir certo exagero ou fazer alusão a elementos inespera<strong>do</strong>s e<br />

surpreendentes, que no conjunto evocam sensações de mobilidade e agilidade, bem<br />

como de trivialidade, ingenuidade, pureza, simplicidade e naturalidade. Quan<strong>do</strong><br />

essas impressões são transferidas aos elementos <strong>do</strong> tema, obtém-se uma<br />

revigorante sensação de transparência e nitidez, de concretude e presença.<br />

1. O silêncio era mais tenso que um arco leva<strong>do</strong> à sua máxima tolerância. (p. 34)<br />

2. jazi<strong>do</strong> estava em seu catre na nau capitânea, tal larga<strong>do</strong> saco de cebolas (p. 44)<br />

3. vidas se apagavam como a sopro se apagam candeias (p. 102)<br />

4. matérias remoinhavam, qual tufão, pela cabeça <strong>do</strong> Albuquerque (p. 149)<br />

5. mui disciplinada era Muira-Ubi. Que tu<strong>do</strong>, tu<strong>do</strong>, sem uma palavra escapar,<br />

memorizava, à cabeça recolhen<strong>do</strong> palavras como fruitos a um cesto. (p. 164)<br />

6. Sentia eu que suas carnes e toda ela palpitava como um peixe palpita quan<strong>do</strong><br />

cativo: o peixe na ânsia de evadir-se, e ela no afogo de mais e mais cativar-se.<br />

(p. 175)<br />

7. É noute avançada e o sono perdi, como quem no escuro perde um rial. (p. 221)<br />

11 MARANHÃO, Harol<strong>do</strong>. O tetraneto del-rei: o Torto, suas idas e venidas. Lisboa: Livros <strong>do</strong> Brasil,<br />

1988.<br />

137

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!