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Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

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As metáforas também desempenham um papel de relevância naqueles<br />

argumentos que visam a propor ou modificar uma determinada visão de mun<strong>do</strong>.<br />

Para que um raciocínio não-verificável empiricamente possa ser confirma<strong>do</strong> ou<br />

aceito como expressão fiel da realidade, é comum que ele se ampare em algumas<br />

metáforas ou analogias fundamentais.<br />

Por exemplo: ao representar a eletricidade como uma corrente, o som como<br />

uma onda ou o cérebro como uma máquina, direcionamos o mo<strong>do</strong> como certos<br />

fenômenos devem ser compreendi<strong>do</strong>s para podermos extrair deles determinadas<br />

conseqüências e conclusões. Por isso, aceitar uma metáfora implica em aceitar em<br />

paralelo o conjunto de suas conseqüências.<br />

Conceber o pensamento, quer como uma cadeia de idéias (O raciocínio é<br />

uma corrente), quer como um entrelaçamento de idéias (O raciocínio é um teci<strong>do</strong>),<br />

pode gerar efeitos ou resulta<strong>do</strong>s diametralmente opostos. 5 Isso porque, enquanto<br />

na primeira perspectiva valorizamos a seqüência, a união e o vínculo necessário<br />

entre cada um <strong>do</strong>s elos de uma cadeia, na segunda, atribuímos muito mais valor à<br />

solidez ou à complexidade da trama e menos importância ao possível rompimento<br />

de um <strong>do</strong>s fios da urdidura.<br />

Quase toda mudança de paradigma, isto é, toda instauração de um ponto de<br />

vista que se pretende mais original, sóli<strong>do</strong> e verdadeiro <strong>do</strong> que o anterior, também<br />

costuma apoiar-se em expressões metafóricas inova<strong>do</strong>ras. Estas não apenas<br />

valorizam aspectos antes despreza<strong>do</strong>s, mas conseguem estruturar o real de um<br />

outro mo<strong>do</strong>, hierarquizar diferentemente os valores, construir outras experiências<br />

psíquicas e transformar certas aproximações e analogias em elementos medulares<br />

de uma nova cosmovisão.<br />

Para perceber essas transferências de valores e associações cognitivas<br />

desencadeadas por metáforas, gostaria de retratá-las como prolongamentos<br />

analógicos ou como analogias condensadas. As analogias costumam pressupor um<br />

des<strong>do</strong>brar-se no tempo que quase sempre nos instiga a prolongá-las e desenvolvê-<br />

las em várias direções; quan<strong>do</strong> prolongadas ou emendadas, tendem a uma fusão<br />

que pode terminar naturalmente por transformá-las em metáforas. 6<br />

5 PERELMAN, Chaïm. Retóricas. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 339.<br />

6 PERELMAN, Chaïm; OLBRECHTS-TYTECA, Lucie. Trata<strong>do</strong> da argumentação: a nova retórica.<br />

2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005. p. 457.<br />

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