Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná
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AS METÁFORAS<br />
132<br />
«borboleta é uma flor que sai voan<strong>do</strong>»<br />
Harol<strong>do</strong> Maranhão – Vôo de galinha<br />
Como tenho sugeri<strong>do</strong> no decurso deste trabalho, a significação é um<br />
constructo humano, uma estratégia engendrada pela mente para fornecer respostas<br />
a preocupações e necessidades humanas. Não é um produto acaba<strong>do</strong> e imutável,<br />
muito menos a expressão de um suposto da<strong>do</strong> objetivo da realidade, mas depende,<br />
de maneira essencial, de um intelecto capaz de elaborá-la, alterá-la e aperfeiçoá-la.<br />
Deve existir uma ligação mental profunda e interativa entre formas, valores,<br />
circunstâncias e intenções, uma ligação que não pode ser jamais ignorada porque<br />
dela resulta o mo<strong>do</strong> como cada um de nós estrutura o mun<strong>do</strong> real, fabrica suas<br />
noções e, consoante a determinadas regras de uso, atribui senti<strong>do</strong>s às palavras,<br />
enuncia<strong>do</strong>s, discursos ou à comunicação em geral.<br />
Tratan<strong>do</strong> as noções como instrumentos adaptáveis às mais diversas<br />
situações, já não haverá razão para buscar, ao mo<strong>do</strong> de Sócrates, o<br />
verdadeiro senti<strong>do</strong> das palavras, como se houvesse uma realidade exterior,<br />
um mun<strong>do</strong> das idéias, às quais as noções devam corresponder. A questão<br />
<strong>do</strong> senti<strong>do</strong> das palavras deixa de ser um problema teórico, com uma única<br />
solução, conforme ao real, mas torna-se um problema prático, o de<br />
encontrar, ou elaborar se for o caso, o senti<strong>do</strong> mais bem adapta<strong>do</strong> à<br />
solução concreta que se preconiza por uma ou outra razão. 1<br />
Pensamento e ação, de um la<strong>do</strong>, e experiência cultural e física, de outro,<br />
interagem continuamente para criar senti<strong>do</strong>s. Significa<strong>do</strong>s não são atributos<br />
inerentes às palavras ou coisas, senão operações de interatividade que elaboramos<br />
conforme as circunstâncias. Na prática diária, é bastante comum tentarmos<br />
compreender e organizar certas noções vagas ou complexas com base em outros<br />
conceitos, elementos ou entidades que nos parecem muito mais estáveis, coerentes<br />
e concretos.<br />
George Lakoff e Mark Johnson 2 realizaram algumas constatações sobre o<br />
mo<strong>do</strong> como a linguagem e o pensamento ocidentais convivem e dependem<br />
cotidianamente de metáforas. Raciocinar de forma metafórica não é privilégio <strong>do</strong>s<br />
1<br />
PERELMAN, Chaïm. Lógica jurídica: nova retórica. São Paulo: Martins Fontes, 2004. p. 164.<br />
(grifo <strong>do</strong> autor)<br />
2<br />
LAKOFF, G.; JOHNSON, M. Metaphors we live by. Chicago: The University of Chicago Press,<br />
1980.