Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná
Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná
Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
tradicionais) o Torto é satiricamente <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de grandeza fálica e de um tipo muito<br />
particular de priapismo, motivo de ostentação e contentamento.<br />
Exageros relaciona<strong>do</strong>s a Duarte Coelho<br />
35. o mais principal [...] o autor da abracadabrante trama [...] Abracadabrante.<br />
Abracadabrante trama. E abracadabrante e industriosa trama [...] porque por<br />
essa forma assi a definia o próprio, o supremo arquiteto <strong>do</strong> universo parecen<strong>do</strong>,<br />
que éditos decretava sem que qualquer neles vislumbrasse luz, ou porque mui<br />
alta fosse a sua ciência, ou mui baixo o discernimento <strong>do</strong>s demais (p. 77)<br />
Nas mãos <strong>do</strong> satirista, os personagens se tornam, quase sempre, vítimas<br />
indefesas, tal a sanha de degradá-los, humilhá-los e rebaixá-los. Com Duarte não é<br />
diferente. O escritor o retrata com ilimita<strong>do</strong> poder de coman<strong>do</strong> sobre os outros e com<br />
nenhum poder de governo sobre si mesmo, um ser que padece de paranóicas<br />
ambições de guerra e manias de grandeza, um déspota que traz na boca uma<br />
retórica vazia, na mente, idéias absurdas e entre os de<strong>do</strong>s, uma arma de fogo.<br />
Exageros relaciona<strong>do</strong>s aos portugueses<br />
36. as patrícias [...] não são lá amigas da água [...] Amá-las é como se à ilharga<br />
houvéssemos que suportar um bacalhao à salga. (p. 48)<br />
37. Esse Calafurna [...] Se o largassem uns <strong>do</strong>is anos ou até menos por aqueles<br />
matos, sem contato com humanos, retornaria a mexer-se de quatro e a informarse<br />
pelo focinho, mais porco <strong>do</strong> que os porcos, haven<strong>do</strong> de to<strong>do</strong> desaprendi<strong>do</strong> a<br />
fala nossa e as mãos empregan<strong>do</strong> como patas. Desse javali transvia<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />
seus, que entre nós outros se metera, pode dizer-se sem risco de mintira que na<br />
escala zoológica precisamente se interpunha entre o homo sapiens e para além<br />
<strong>do</strong>s macacos, que por macaco não se podia tomá-lo, que nestes há<br />
componentes humanos. Javali, disse-se, mas poderia tratar-se de onagro,<br />
cérbero ou chacal. (p. 53, grifo <strong>do</strong> autor)<br />
38. Tô<strong>do</strong>los pensavam em só dizimar os rústicos, matar, pisar, destruir, fazê-los<br />
sumir (p. 75)<br />
Alvos prediletos das críticas <strong>do</strong> autor, os portugueses são achincalha<strong>do</strong>s de<br />
todas as formas e o tempo to<strong>do</strong>. A vilania, o ufanismo, a ganância, a crueldade e o<br />
caráter bélico são eleva<strong>do</strong>s ao paroxismo. A ignorância, a fobia, a má sorte, a<br />
tagarelice, a conduta animalesca, a imundícia e a fetidez corporal, atribuídas<br />
satiricamente aos portugueses, são os principais motivos temáticos que animam o<br />
autor paraense ao deboche.<br />
130