Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná
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pensamento e imprimir sensações (auditivas, visuais, táteis) em sua consciência:<br />
repetição de terminologia tabu com intensidade crescente; ênfase em elementos<br />
repulsivos com o auxílio de exclamações ou com indicação gráfica de sua duração<br />
prosódica; emprego inusita<strong>do</strong> <strong>do</strong> superlativo para exprimir indignação de mo<strong>do</strong> mais<br />
impressionante e dura<strong>do</strong>uro; alusão a entidade simbólica de reconheci<strong>do</strong> poder<br />
sugestivo; evocação de idéias desagradáveis ou reticentes com reforço de<br />
aliterações. Note-se que o uso (irônico e provocante) de quantidades numéricas<br />
aleatórias, situadas bem abaixo ou muito acima de mil, não apenas renova a fórmula<br />
imprecativa como pode provocar o cômico no discurso.<br />
Exageros realiza<strong>do</strong>s por reescrita de expressões idiomáticas<br />
13. Uma vez de similhante pesadelo seria poção para mamute (p. 40)<br />
14. Neste ponto morava o fulcro de uma das partes <strong>do</strong> busílis. (p. 42)<br />
A técnica consiste em tomar locuções de uso comum e desfigurá-las ou<br />
a<strong>do</strong>rná-las com prolixidade, adaptan<strong>do</strong>-as ao suposto linguajar empoladamente<br />
literário <strong>do</strong> século XVI mediante vocábulos que se aproximem, o máximo possível,<br />
da noção de palavra mumificada. Assim, as expressões ser <strong>do</strong>se, ser <strong>do</strong>se pra leão<br />
ou ser <strong>do</strong>se pra elefante, bem como aí é que está o busílis, o xis da questão ou o<br />
cerne da questão, são satiricamente reinventadas e assimiladas dentro dessa<br />
concepção de passa<strong>do</strong>-museu. A verborragia intencional da reescrita poderá ser<br />
percebida como anacronismo lingüístico, ironia ou paródia, provocan<strong>do</strong>, neste caso,<br />
respostas cômicas por efeito de contraste.<br />
Exageros realiza<strong>do</strong>s por metaplasmos<br />
15. aos ares deflagrou-se esta assombrosa sentença:<br />
— Nããããão! Bananas, nãããão! (p. 16)<br />
16. — À guerra! FOOOOOOOOGO! (p. 66)<br />
17. Foi um, talvez, lancinante uivo [...] que dizia tu<strong>do</strong> e não dizia nada, e embora<br />
nada dizen<strong>do</strong> é como se tu<strong>do</strong> houvesse dito.<br />
— “Aaaaaaaaaahhhhhhhhhiiiiiieeeeeuuuu!” (p. 113)<br />
18. A voz fora de mulher, pontiagu<strong>do</strong> chamamento, tal farpa de seta, sibilante<br />
zuni<strong>do</strong>: Aracyyyyy. (p. 144)<br />
19. Ite in pace, et Dóminus sit tecum. Aaaaaaaaamén. (p. 244, grifo <strong>do</strong> autor)<br />
Quan<strong>do</strong> o escritor paraense insiste em chamar a atenção para a<br />
materialidade <strong>do</strong> discurso, e particularmente <strong>do</strong>s discursos diretos, realizan<strong>do</strong> com<br />
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