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Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

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argumentações. 7 Por esse mesmo motivo todas as técnicas discursivas que se<br />

prestam a estabelecer uma empatia com o auditório, a tornar o discurso mais<br />

estimulante e atraente, visam em primeiro lugar a garantir adesão, ou ainda, a<br />

fortalecer a adesão já conquistada a fim de, por meio dela, angariar em seguida<br />

novas adesões.<br />

Sob a ótica de uma retórica persuasiva, a noção de senso comum torna-se<br />

particularmente importante. Essa noção, embora vaga, é indispensável ao processo<br />

argumentativo porque é o senso comum que dá fundamento às nossas opiniões, é<br />

ele que, na impossibilidade de uma demonstração empírica, funciona como nosso<br />

critério de certeza, que propicia nossos primeiros princípios, que nos fornece as<br />

idéias mais evidentes e seguras, bem como os pressupostos de partida em que se<br />

baseia qualquer argumentação.<br />

“Aquilo a que chamamos habitualmente senso comum consiste numa série<br />

de crenças, admitidas no seio de uma determinada sociedade, que seus membros<br />

presumem ser partilhadas por to<strong>do</strong> ser racional.” 8 Este sistema de crenças, na<br />

maioria das vezes não-formula<strong>do</strong>, é que nos auxilia a estabelecer o admissível e o<br />

razoável, que nos indica os fatos, as verdades e os valores mais aceitos, que nos<br />

aponta o preferível e o indiscutível, as diretrizes, as linguagens e as noções mais<br />

usuais.<br />

Se é o senso comum que geralmente fornece os elementos constitutivos da<br />

reflexão moral de filósofos e cientistas, qual o papel que esse mesmo senso<br />

desempenha na atividade artística de ficcionistas e poetas? Por que é que esse<br />

conjunto (invisível e implícito) de convicções, presunções e valores morais costuma<br />

nos deixar aparentemente imobiliza<strong>do</strong>s ou irredutíveis diante de certas idéias? Será<br />

o senso comum inato à espécie humana, váli<strong>do</strong> para todas as épocas e lugares? Ou<br />

variará conforme as tradições e o meio? Será sempre o mesmo em nossa história<br />

evolutiva ou sofrerá a influência <strong>do</strong>s avanços técnicos e científicos da humanidade?<br />

Essas e outras questões configuram cativantes objetos de pesquisa. Entretanto,<br />

para os propósitos específicos deste estu<strong>do</strong>, parece-me suficiente recordar, por ora,<br />

as idéias de Fénelon, arcebispo de Cambrai, escritas em 1718 e resgatadas por<br />

Perelman:<br />

7 PERELMAN, Chaïm. Op. cit., 1999. p. 372.<br />

8 PERELMAN, Chaïm; OLBRECHTS-TYTECA, Lucie. Op. cit., p. 112.<br />

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