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Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

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uma demonstração matematicamente rigorosa. Isso porque os argumentos não são<br />

coercivos como as provas analíticas; ao contrário, eles sempre admitem algum tipo<br />

de contestação, promovem divergências, carregam consigo certa quantidade de<br />

valores, dependem de determinadas circunstâncias e auditórios, podem ser fortes ou<br />

fracos, relevantes ou irrelevantes, razoáveis ou desarrazoa<strong>do</strong>s.<br />

Nas sociedades humanas, os homens se valem de linguagens vivas para<br />

estear seus juízos (o que é bom e o que é mau, feio ou belo, justo ou injusto), para<br />

persuadir e convencer os demais, para granjear o assentimento <strong>do</strong>s semelhantes e<br />

levá-los a realizar certas ações ou compartilhar determinadas opiniões. Um<br />

entendimento mais humanizante da razão exige que também consideremos como<br />

atividade racional os meios discursivos de prova utiliza<strong>do</strong>s pelos homens para<br />

persuadir os seus iguais.<br />

O aparelho argumentativo da racionalidade humana é aciona<strong>do</strong> todas as<br />

vezes que necessitamos oferecer ou sopesar os prós e os contras de uma<br />

determinada tese. Quan<strong>do</strong> alguém nos apresenta uma opinião (idéia ou questão) a<br />

respeito da qual não estamos totalmente de acor<strong>do</strong>, exigimos provas discursivas, ou<br />

seja, técnicas de pensamento e de justificação que servem para dirimir nossas<br />

dúvidas, suprimir as hesitações e estimular o nosso assentimento.<br />

To<strong>do</strong> aquele que toma a palavra pretende criar um certo esta<strong>do</strong> de espírito<br />

no ouvinte, mudá-lo, transformá-lo, influenciar e orientar suas opiniões e<br />

pensamentos, excitar ou aplacar suas emoções e seu intelecto, conquistar sua<br />

simpatia, confiança e compromisso ou abalar sua quietude e suas crenças. Uma das<br />

principais metas de to<strong>do</strong> discurso é provocar a adesão <strong>do</strong>s espíritos, ou seja, a<br />

aquiescência <strong>do</strong>s interlocutores.<br />

As pessoas costumam aderir a to<strong>do</strong> tipo de opiniões, no entanto, essa<br />

adesão sempre se efetua com uma intensidade variável. 6 Os efeitos de uma<br />

argumentação sobre determina<strong>do</strong> auditório são sempre precários, nunca definitivos,<br />

em parte porque os contextos podem se modificar perpetuamente. É por isso que<br />

nas sociedades humanas os acor<strong>do</strong>s são relativos e revisáveis, as decisões<br />

tomadas são passíveis de alteração, e as adesões, sempre provisórias, costumam<br />

se enfraquecer com o tempo, exigin<strong>do</strong> <strong>do</strong>s ora<strong>do</strong>res novas e insistentes<br />

6 PERELMAN, Chaïm; OLBRECHTS-TYTECA, Lucie. Trata<strong>do</strong> da argumentação: a nova retórica.<br />

2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005. p. 577.<br />

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