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Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

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intuições evidentes como garantia infalível da verdade. 3 Segun<strong>do</strong>, esse conceito de<br />

razão tem caráter impessoal, intemporal, insocial e anistórico, sen<strong>do</strong> muito útil,<br />

portanto, em formulações teórico-matemáticas preocupadas com a contemplação de<br />

verdades e conhecimentos não-humanos; pouca ou nenhuma serventia nos<br />

proporciona na prática, na urgência da vida diária e no estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> conhecimento <strong>do</strong><br />

homem. Terceiro, essa forma de conceber o raciocínio baseia-se na presunção de<br />

que existe uma única verdade e de que a busca da verdade está vinculada à<br />

racionalidade, portanto, considera erro, ou falta de razão, to<strong>do</strong> dilema, desacor<strong>do</strong>,<br />

dúvida, hesitação ou divergência. Note-se também que:<br />

119<br />

O que caracteriza a idéia de verdade é que ela é regida pelo princípio de<br />

não-contradição, e que a negação <strong>do</strong> verdadeiro só pode ser o falso. Se o<br />

que afirmo é verdadeiro, quem me contradiz só pode estar erra<strong>do</strong>. Mas,<br />

quan<strong>do</strong> se trata de filosofia da ação, de filosofia prática, de filosofia <strong>do</strong>s<br />

valores, várias concepções diferentes podem ser igualmente razoáveis. [...]<br />

na verdade, há várias formas de ser razoável, e não é por não estarem de<br />

acor<strong>do</strong> sobre uma decisão por tomar que duas pessoas não podem ser,<br />

ambas, razoáveis. 4<br />

Por isso, quan<strong>do</strong> as evidências não se impõem da mesma forma a to<strong>do</strong>s os<br />

indivíduos, percebemos que a vontade humana recorre a mecanismos mentais que<br />

possibilitam o exercício da liberdade de escolha, de escolhas razoáveis, e que na<br />

prática, quan<strong>do</strong> discutimos, deliberamos ou refletimos, nossas opiniões tornam-se<br />

muito mais importantes <strong>do</strong> que as verdades. E o que são as verdades, senão o<br />

conjunto comumente aceito de “nossas opiniões mais seguras e provadas” 5 ? As<br />

opiniões são formas de raciocínio que cobrem um imenso campo de racionalidade,<br />

porém, o estu<strong>do</strong> dessas formas, conhecidas como provas dialéticas, foi<br />

negligencia<strong>do</strong> e desqualifica<strong>do</strong> nos três últimos séculos por conta das idéias<br />

empiristas vigentes na meto<strong>do</strong>logia científica.<br />

O cérebro humano não executa somente operações de dedução. Grande<br />

parte de seu funcionamento atua consoante uma série de técnicas de<br />

argumentação. Essas técnicas, ou provas discursivas, costumam ser utilizadas no<br />

cotidiano para justificar ou modificar qualquer esta<strong>do</strong> de coisas. Quan<strong>do</strong> a razão,<br />

movida pela vontade, assume a forma maleável de um argumento, já não é possível<br />

mecanizá-lo, considerá-lo simplesmente verdadeiro ou falso, nem subordiná-lo a<br />

3 PERELMAN, Chaïm. Op. cit., 1999. p. 213.<br />

4 PERELMAN, Chaïm. Ética e direito. São Paulo: Martins Fontes, 1996. p. 323-324.<br />

5 PERELMAN, Chaïm. Op. cit., 1999. p. 367.

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