14.04.2013 Views

Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

A EXAGERAÇÃO<br />

118<br />

«O numeroso sapiente Bassalo ou Baçallo, amigo-amigo de livros muito altos, e que sorri<br />

<strong>do</strong>s cumes a que se alçapremou, <strong>do</strong>s risíveis conselheiros acassícimos, historia<strong>do</strong>res<br />

histriônicíssimos, elabora<strong>do</strong>res de Actas impagabilíssimas, de Votos Congratulatórios<br />

jocosíssimos, de Comunicações científico-literárias irresistibilíssimas, que imprimem em<br />

volumes de conteú<strong>do</strong>s franciscaníssimos, que efetuam conferências comiquíssimas,<br />

pomposíssimos eles todíssimos, soleníssimos, inscientíssimos de tudíssimo,<br />

incapacíssimos de aguentaríssimo qualqueríssima conversíssima nem sequeríssima<br />

seríssima, pela sua sacramentalíssima jumentice, o que tudíssimo, ao finzíssimo e ao<br />

cabíssimo é engraçadíssimo, senhoríssimos parvíssimos a brincarem de cultíssimos.»<br />

Harol<strong>do</strong> Maranhão – Cabelos no coração<br />

É provável que um <strong>do</strong>s grandes equívocos <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> científico de<br />

inspiração positivista tenha si<strong>do</strong> a tentativa de impor, a todas as áreas <strong>do</strong> saber, a<br />

prova científica clássica como o único modelo váli<strong>do</strong> para a construção <strong>do</strong><br />

conhecimento. 1 Contu<strong>do</strong>, o próprio Aristóteles já advertia que, ao la<strong>do</strong> das provas<br />

analíticas (coercivas e formais, concernentes às verdades necessárias), que<br />

fundamentam a lógica matemática e o raciocínio dedutivo, encontram-se também as<br />

provas dialéticas ou retóricas (não-coercivas e não-formais, concernentes ao<br />

opinável e ao verossímil), responsáveis pelo raciocínio prático utiliza<strong>do</strong> para justificar<br />

nossas decisões e escolhas. 2 Abrir-se ao estu<strong>do</strong> das provas dialéticas, tentan<strong>do</strong><br />

investigar a existência de uma possível organização lógica por trás <strong>do</strong>s juízos de<br />

valor e da comunicação persuasiva, significa expandir as noções de razão e de<br />

prova e trilhar um caminho intermediário entre a inevitável estreiteza <strong>do</strong> méto<strong>do</strong><br />

científico e a suposta irracionalidade de tu<strong>do</strong> o que a ele não se amolda.<br />

O rigor meto<strong>do</strong>lógico imposto pelo pensamento de origem cartesiana<br />

converteu o raciocínio dedutivo, formalmente correto e mecanicamente controla<strong>do</strong>,<br />

na única estrutura racional aceitável em ciência. Entretanto, vários são os<br />

inconvenientes dessa concepção rígida de racionalidade. O primeiro, é a<br />

pressuposição de que existem verdades, fatos, evidências e elementos<br />

indubitavelmente objetivos que devem ser percebi<strong>do</strong>s <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong> por to<strong>do</strong> ser<br />

pensante considera<strong>do</strong> normal. Ora, as evidências também são da<strong>do</strong>s psíquicos e,<br />

como tais, podem ser relativas, instáveis e engana<strong>do</strong>ras; não nos podemos fiar nas<br />

1 PERELMAN, Chaïm. Retóricas. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 266.<br />

2 ARISTÓTELES. Retórica. Madrid: Instituto de Estudios Políticos, 1953. lib. I, cap. 2.<br />

ARISTÓTELES. Tópicos. São Paulo: Abril Cultural, 1978. liv. I, cap. 1.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!