14.04.2013 Views

Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Nonsense<br />

81. Custa pouco a Pedro beber a capa a Paio. (p. 78)<br />

82. Não entrar em barco de Cacilhas! Não, não, não entrar em barco de Cacilhas!<br />

Força é que eu vo-lo diga e rediga, uma, duas, bastas vezes: não entrar em<br />

barco de Cacilhas! (p. 78-79, grifo meu)<br />

O discurso confuso e obscuro rompe com as condições prévias de uma<br />

argumentação eficaz e, conseqüentemente, provoca dúvidas sobre as intenções, a<br />

qualidade ou a competência <strong>do</strong> ora<strong>do</strong>r. Quan<strong>do</strong> percebi<strong>do</strong> como expediente, o<br />

nonsense pode causar efeitos cômicos. É o que acontece com esses adágios de<br />

Duarte Coelho, dispara<strong>do</strong>s a sua tropa sem maiores explicações. O que deveria ser<br />

um discurso de estímulo, que mexesse com os brios <strong>do</strong>s solda<strong>do</strong>s, atiçan<strong>do</strong>-os ao<br />

combate, transforma-se em nonsense absoluto, em paródia ultrajante <strong>do</strong>s discursos<br />

de guerra. A grande ironia <strong>do</strong> episódio é que essas frases, cuja real significação e<br />

alcance somente o Duarte parece ser capaz de perceber, provocam um sentimento<br />

de desconforto, surpresa e impotência intelectual em seus subordina<strong>do</strong>s; a mesma<br />

sensação que nós, leitores, sentimos diversas vezes diante <strong>do</strong> texto de Harol<strong>do</strong><br />

Maranhão.<br />

Relações humanas<br />

83. Cada qual folgue com seu igual. (p. 27)<br />

84. Rendas são má rima para grosso pano. (p. 27)<br />

85. Fitilhas e plumas não se cosem com a alpaca. (p. 27)<br />

86. Ninguém quer <strong>do</strong> indigente ser primo nem parente. (p. 44)<br />

87. Lé com lé, cré com cré – cada um com os da sua ralé. (p. 45)<br />

88. To<strong>do</strong> sangue é vermelho. (p. 78)<br />

89. A familiaridade encurta o respeito e rebaixa a autoridade. (p. 79)<br />

90. Cada um é filho <strong>do</strong> seu pai. (p. 186 e 187)<br />

Esses aforismos jogam com valores e preconceitos sociais e raciais,<br />

invocan<strong>do</strong> noções conflitantes de igualdade e intolerância, consangüinidade e<br />

diversidade, respeito e desrespeito, responsabilidade e irresponsabilidade. As<br />

analogias, aliterações e rimas reforçam as relações de identidade e simetria que<br />

presumimos existir entre seres e palavras.<br />

Os três primeiros, forneci<strong>do</strong>s pelo narra<strong>do</strong>r, ajudam a modelar a imagem de<br />

afetação, superioridade e arrogância <strong>do</strong> Torto, tão vai<strong>do</strong>so de sua fidalguice e de<br />

suas origens reais que se recusa a se misturar ou manter contato com os membros<br />

114

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!