14.04.2013 Views

Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Aqui, os provérbios apelam para raciocínios de repetição contínua, em forma<br />

de círculos viciosos, que manipulam contrastes, valores e noções de prestígio, além<br />

de contarem com a força persuasiva (e irônica) de rimas, ênfases e exclamações.<br />

Na aldeia tabajara, um prisioneiro português muito impertinente, ao tomar<br />

conhecimento <strong>do</strong> acor<strong>do</strong> nupcial <strong>do</strong> Torto, põe-se a escarnecer da situação através<br />

<strong>do</strong> adágio 72, levantan<strong>do</strong> sérias dúvidas sobre as reais intenções <strong>do</strong> noivo. O<br />

engraça<strong>do</strong> é que o castigo por esse atrevimento chega de forma imediata e<br />

irreversível: “— Mato-te à pica, filho de puta. À pica! Espavori<strong>do</strong> fugiu o Bodibeira,<br />

sain<strong>do</strong> a correr pelas brenhas que dele nunca mais se soube, sen<strong>do</strong> seguro que o<br />

frecharam e bem frecharam.” 22 O refrão 69 é uma daquelas frases retumbantes de<br />

Duarte Coelho, calculadas para causar espanto e obediência em sua tropa de<br />

néscios, analfabetos e covardes.<br />

Morte<br />

74. Até aí morreu o Neves! 23 (p. 42)<br />

75. Até a morte, pé forte. (p. 78 e 79)<br />

76. Que a terra lhe fosse fofa. 24 (p. 110)<br />

77. A morte só não cansa os mortos. (p. 139)<br />

78. Quem morreu, morreu. (p. 208)<br />

79. Quem vivo está, que faça por não morrer. (p. 208)<br />

80. Senhor: minha vida não vale um traque. Estou-me entre a cruz e a água benta.<br />

(p. 223, grifo meu)<br />

Repetições, metonímias, rimas e aliterações reforçam o sentimento de<br />

presença de elementos concretos na consciência <strong>do</strong> ouvinte, proporcionan<strong>do</strong> mais<br />

dramaticidade aos dilemas e para<strong>do</strong>xos. Para o Torto, a idéia de morte carece de<br />

transcendência, assemelha-se mais a um incômo<strong>do</strong> que, antes de sua aparição,<br />

deve ser evita<strong>do</strong> e, depois de sua passagem, deve ser despreza<strong>do</strong>. Em sua boca, os<br />

provérbios 78 e 79 parecem refletir o mais puro desdém pela morte e pelos mortos,<br />

no entanto, como já apontamos no capítulo dedica<strong>do</strong> ao humor, cadáveres e temas<br />

macabros exercem um fascínio incontrolável sobre o personagem.<br />

22<br />

Ibid., p. 220.<br />

23<br />

A idéia deste provérbio é a seguinte: embora a morte de um ilustre desconheci<strong>do</strong> seja grave, ela<br />

não me afeta e pode, portanto, ser ignorada.<br />

24<br />

Na edição brasileira o provérbio dizia: “Que a terra lhe fosse branda” (p. 93). O adagiário popular<br />

sustenta: “Que a terra lhe seja leve”. PÁGINA <strong>do</strong>s Provérbios, máximas e citações. Op. cit.<br />

113

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!