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Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

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e principalmente emocional. É certo que essa comunhão varia de acor<strong>do</strong> com as<br />

consciências e os auditórios, mas continua sen<strong>do</strong> uma comunhão, uma espécie de<br />

adesão, mesmo que provisória. As artes e a literatura em geral são exímias<br />

propaga<strong>do</strong>ras desse tipo de comunhão ao re<strong>do</strong>r de valores humanos considera<strong>do</strong>s<br />

fundamentais, estão sempre preocupadas em garantir a qualidade e a intensidade<br />

dessas adesões, desses acor<strong>do</strong>s que alimentam o nosso senso comum de vida em<br />

sociedade.<br />

O tetraneto del-rei é um romance capaz de falar abertamente a to<strong>do</strong>s e, ao<br />

mesmo tempo, de sussurrar intimidades a alguns leitores em particular: aqueles que<br />

conviveram com Harol<strong>do</strong> Maranhão, que conheceram sua caminhada e seu contexto<br />

cultural mais imediato, que já o leram (e ainda o lêem), que reconhecem seus gostos<br />

e sabem identificar os seus amigos.<br />

O ficcionista paraense fazia questão de se autodenominar um mentiroso. Em<br />

alguns apêndices de suas obras encontramos declarações como essa: “Mantenho<br />

um diário. É minha ginástica, em que só três de<strong>do</strong>s se mexem, na máquina. São<br />

exercícios de ficção ou treinos de mentir, que em essência é a minha profissão:<br />

mentiroso.” 2 Sempre que retorno aos seus livros, com olhos atentos às ironias,<br />

consigo divisar as pistas plantadas por ele, no próprio texto, para que os leitores<br />

executem uma leitura o menos literal possível, me <strong>do</strong>u conta <strong>do</strong>s rastros<br />

metairônicos deixa<strong>do</strong>s por ele para fazer com que vejamos suas narrativas, antes de<br />

tu<strong>do</strong>, como uma encenação mentirosa da vida.<br />

2 MARANHÃO, Harol<strong>do</strong>. O começo da Cuca. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1985. p. 42.<br />

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