Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná
Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná
Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
os indivíduos, tornan<strong>do</strong>-os, assim, predispostos a defender ou executar (em nome<br />
desses valores) certas ações no futuro. Em suma: para agir sobre seu auditório, o<br />
ficcionista pode valer-se livremente de to<strong>do</strong>s os meios retóricos e persuasivos que o<br />
discurso literário lhe faculta, inclusive daqueles que atuam de mo<strong>do</strong> subliminar, ou<br />
seja, <strong>do</strong>s expedientes capazes de sacudir afetos, excitar paixões, fomentar<br />
empatias, sensibilizar e enternecer os ouvintes.<br />
A grande dificuldade de se agrupar provérbios (qualquer que seja o méto<strong>do</strong><br />
eleito: por temas, funções, significa<strong>do</strong>s, características formais ou contextuais) está<br />
em que muitos deles não se deixam apreender, já que sua extrema maleabilidade os<br />
capacita a migrar de um ambiente para outro ou pertencer a <strong>do</strong>is ou mais grupos ao<br />
mesmo tempo. Nomear esses conjuntos é uma tarefa bastante árdua. Quan<strong>do</strong> não<br />
foi possível reuni-los conforme a temática, invoquei suas funções comunicativas. E,<br />
para não ampliar desnecessariamente os agrupamentos, optei por deixar sob o<br />
mesmo título refrães que, embora conflitantes, ligam-se uns aos outros por<br />
correlação ou circunvizinhança. Se os provérbios, quan<strong>do</strong> descola<strong>do</strong>s da narrativa,<br />
perdem o seu contexto imediato, em conjunto parecem tornar mais evidentes tanto o<br />
projeto satírico-parodístico <strong>do</strong> romancista quanto seu intento de inebriar o leitor, de<br />
coletar e explorar o maior número possível de adágios, sobretu<strong>do</strong> os menos<br />
familiares. É importante frisar também que a forma de apresentação escolhida não<br />
pretende dar conta <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> exclusivo de cada sentença, mas apenas permitir o<br />
reconhecimento de potenciais focos temáticos <strong>do</strong> ficcionista e impor uma relativa<br />
organização ao grande volume de adágios amealha<strong>do</strong>s.<br />
Alimentos<br />
Adagiário de O tetraneto del-rei 11<br />
1. Colhe cada um segun<strong>do</strong> semeia. (p. 50)<br />
2. Foi no que deu, em águas de bacalhau. 12 (p. 64)<br />
3. Razões não fazem sopas. (p. 73)<br />
4. Quem não tem farinha, escusa peneira. (p. 79)<br />
5. Ao fazer sol na eira e chover no nabal? 13 (p. 82)<br />
11<br />
MARANHÃO, Harol<strong>do</strong>. O tetraneto del-rei: o Torto, suas idas e venidas. Lisboa: Livros <strong>do</strong> Brasil,<br />
1988.<br />
12<br />
Ou seja: não deu em nada.<br />
13<br />
Diz o adagiário popular: “É muito mau de contentar quem quer sol na eira e chuva no nabal”;<br />
“Querer sol na eira e chuva no nabal”. PÁGINA <strong>do</strong>s Provérbios, máximas e citações. Provérbios<br />
portugueses e brasileiros. Disponível em: .<br />
Acesso em: 28/03/2008.<br />
106