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Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

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provérbios que podem ser rebati<strong>do</strong>s por outros provérbios, achar exemplos que se<br />

neutralizam ou se fortalecem de forma recíproca.<br />

Isso demonstra que os julgamentos por eles emiti<strong>do</strong>s não são<br />

necessariamente forçosos, que os acor<strong>do</strong>s por eles propostos não são coercivos e<br />

que a receptividade de um provérbio depende das intenções <strong>do</strong> ora<strong>do</strong>r, das<br />

expectativas <strong>do</strong> auditório, <strong>do</strong>s matizes contextuais e temporais e da hierarquia de<br />

valores que o interlocutor está disposto a aceitar como base da argumentação. Sob<br />

essa ótica, os adagiários podem ser vistos como um acervo de abundantes<br />

possibilidades argumentativas que o saber popular nos coloca à disposição. É<br />

compreensível, portanto, que alguns ficcionistas sejam naturalmente compeli<strong>do</strong>s a<br />

usá-los, pois eles os auxiliam a persuadir os seus iguais e a estabelecer uma<br />

comunhão de idéias e valores com o auditório.<br />

Os provérbios funcionam como citações, quan<strong>do</strong> apóiam, com o peso de sua<br />

autoridade, aquilo que pretendemos dizer. 10 O emprego de um provérbio invoca o<br />

respal<strong>do</strong> da maioria, pressupõe um apelo à autoridade <strong>do</strong> grande número,<br />

principalmente quan<strong>do</strong> ele é incorpora<strong>do</strong> ao discurso de forma espontânea e<br />

imperceptível. Pode ocorrer que, diante de uma acumulação proposital de máximas,<br />

de um aproveitamento exagera<strong>do</strong> e abusivo delas, o leitor se incline a percebê-las<br />

como formalismo, artifício ou expediente retórico. Neste caso, a estratégia torna-se<br />

mais visível, mas nem por isso menos eficiente. Em parte, porque esse<br />

procedimento pode gerar risos, e o riso é uma forma efetiva de adesão.<br />

Nos discursos ficcionais, o escritor tem mais liberdade de utilizar to<strong>do</strong>s os<br />

procedimentos disponíveis e inimagináveis para vencer a inércia mental <strong>do</strong>s<br />

interlocutores e levá-los a pensar na perspectiva desejada. No entanto, não se trata<br />

de obter <strong>do</strong>s leitores apenas um resulta<strong>do</strong> intelectual. Em termos persuasivos, o<br />

discurso literário pretende que o auditório reconheça certos valores, que esses<br />

valores sejam efetivamente abraça<strong>do</strong>s e que se realize uma comunhão plena em<br />

torno deles, de forma que se desencadeie, no momento oportuno, uma ação<br />

determinada. Mas a intensidade dessas adesões pode variar segun<strong>do</strong> as mentes e<br />

os auditórios. Por isso, o discurso literário está sempre tentan<strong>do</strong> reforçar e ampliar,<br />

muitas e repetidas vezes, a comunhão ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s valores considera<strong>do</strong>s<br />

importantes, para garantir um nível satisfatório de acor<strong>do</strong> e sintonia emocional entre<br />

10 PERELMAN, Chaïm; OLBRECHTS-TYTECA, Lucie. Op. cit., p. 201.<br />

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