Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná
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sobrevivem, em parte, graças à sua utilização na propaganda e na literatura. 5<br />
Questões ligadas ao desprestígio social e ao aban<strong>do</strong>no das tradições podem estar<br />
inibin<strong>do</strong> a difusão de aforismos nos espaços urbanos. Não se sabe com exatidão<br />
como os adágios são incorpora<strong>do</strong>s ao subconsciente nem sobre o mo<strong>do</strong> como<br />
irrompem em nossa consciência. Algumas vezes podem afluir de maneira<br />
involuntária, como certas piadas ou motejos, mas quase sempre necessitam de um<br />
gatilho no mun<strong>do</strong> externo, isto é, de uma situação concreta que ativa nossos<br />
processos mentais. De acor<strong>do</strong> com Paulo Ronái:<br />
103<br />
É pelo que têm de espirituoso – chistoso, ladino, atila<strong>do</strong>, pitoresco,<br />
surpreendente e expressivo – que os provérbios nos atraem, infiltran<strong>do</strong>-se<br />
em nossa memória. Segun<strong>do</strong> Keats, “um provérbio não o é enquanto a vida<br />
não o ilustra”. 6<br />
Usá-los exige <strong>do</strong>s interlocutores agudeza de espírito, atitudes cooperantes,<br />
comportamentos sagazes, habilidades para descobrir relações, estabelecer<br />
analogias e interpretar símbolos, bem como o desejo de julgar, criticar ou ensinar.<br />
Um provérbio, dito pela pessoa certa no momento oportuno, pode cumprir funções<br />
didáticas importantes, ocasionan<strong>do</strong> no ouvinte uma espécie de insight psíquico de<br />
grande proveito pedagógico. O alvo de seus ensinamentos e conselhos é sempre o<br />
ser humano e no momento da enunciação os envolvi<strong>do</strong>s assumem papéis<br />
conversacionais que recordam de perto a situação mestre/discípulo ou<br />
professor/aluno. O emissor de uma citação proverbial coloca-se numa posição<br />
aparentemente privilegiada que lhe faculta o direito de agir sobre o interlocutor e<br />
exercer sobre ele diversos efeitos perlocutórios: aconselhar, advertir, ameaçar,<br />
amedrontar, consolar, convencer, desprezar, encorajar, esconjurar, intimidar,<br />
repreender, e assim por diante. 7<br />
Outro aspecto peculiar <strong>do</strong>s provérbios é seu talento para persuadir através<br />
de sensações de veracidade e de familiaridade. Numerosas máximas se originam de<br />
um contato direto com as coisas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> real, provêm <strong>do</strong> exame cuida<strong>do</strong>so de<br />
5<br />
Os slogans, freqüentes na mídia, são palavras de ordem elaboradas para impor à nossa atenção<br />
certas crenças, idéias, marcas e símbolos, persuadin<strong>do</strong>-nos, assim, a executar uma ação<br />
específica ou a defender a necessidade dessa ação; porém, não costumam compartilhar <strong>do</strong> vasto<br />
acor<strong>do</strong> tradicionalmente usufruí<strong>do</strong> pelos provérbios. PERELMAN, Chaïm; OLBRECHTS-TYTECA,<br />
Lucie. Op. cit., p. 189.<br />
6<br />
Apud MOTA, Leonar<strong>do</strong>. Adagiário brasileiro. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora da<br />
<strong>Universidade</strong> de São Paulo, 1987. p. 28.<br />
7<br />
AUSTIN, J. L. How to <strong>do</strong> things with words: The William James Lectures delivered at Harvard<br />
University in 1955. Oxford: The Claren<strong>do</strong>n Press: Oxford University Press, 1962. p. 147-163.