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Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

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A eficácia artística e persuasiva <strong>do</strong>s aforismos se deve também a um tipo<br />

muito particular de brevidade que os converte em um <strong>do</strong>s meios mais econômicos<br />

de expressão <strong>do</strong> pensamento. Essa capacidade de síntese, condensação e<br />

concisão de idéias tende a obedecer à lei <strong>do</strong> menor esforço lingüístico, cujo principal<br />

objetivo é conseguir dizer o máximo utilizan<strong>do</strong> o mínimo de vocábulos. Vários são os<br />

recursos envolvi<strong>do</strong>s nesse processo e em diversas esferas da linguagem. Os mais<br />

evidentes são: o aproveitamento sistemático de falácias; o uso recorrente de tropos<br />

ou figuras retóricas, principalmente as antíteses, comparações, elipses, hipérboles,<br />

metáforas e para<strong>do</strong>xos; o emprego de estruturas bimembres, de termos<br />

polissêmicos, de pronomes indefini<strong>do</strong>s, de formas arcaicas, de hipônimos e<br />

hiperônimos. O presente é o tempo verbal que pre<strong>do</strong>mina nos adágios, é ele que<br />

expressa a normalidade, a atualidade, a generalidade; também é ele que, de<br />

maneira sutil e capciosa, permite que passemos de uma ação (daquilo que<br />

simplesmente é) para uma obrigação (aquilo que deve ser), que saltemos <strong>do</strong> normal<br />

para a norma, ou seja, o presente faz com que, a partir <strong>do</strong> ser, concluamos<br />

equivocadamente um dever-ser, uma regra ou uma lei universal. 3<br />

Ao mesmo tempo em que apresentam essa propriedade generalizante, uma<br />

inclinação para transcender seu significa<strong>do</strong> textual e as circunstâncias em que foram<br />

produzi<strong>do</strong>s, os provérbios também exigem o conhecimento prévio de hábitos e<br />

costumes típicos e <strong>do</strong>s sistemas de crenças e símbolos da comunidade que os criou<br />

(<strong>do</strong>s mitos, lendas, superstições, tabus, presunções e demais subsídios <strong>do</strong><br />

imaginário popular). Há refrães cuja significação vem sen<strong>do</strong> alterada com o passar<br />

<strong>do</strong> tempo, outros que adquirem significa<strong>do</strong>s distintos em diferentes regiões ou<br />

culturas, e também aqueles que possuem aparentemente uma validade universal e<br />

atemporal.<br />

Embora a introjeção de um provérbio possa cumprir importantes funções<br />

psicológicas 4 , isso por si só não garante sua sobrevivência nem explica o seu<br />

paulatino desaparecimento das comunidades urbanizadas, onde os refrães ainda<br />

3 PERELMAN, Chaïm; OLBRECHTS-TYTECA, Lucie. Trata<strong>do</strong> da argumentação: a nova retórica.<br />

2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005. p. 181.<br />

4 Os adágios são considera<strong>do</strong>s uma respeitável fonte de satisfação <strong>do</strong> psiquismo humano; eles<br />

conseguem nos proporcionar diversos ganhos de prazer, à medida que os utilizamos, por<br />

exemplo, para expressar algo escondi<strong>do</strong> ou proibi<strong>do</strong>, exprimir sentimentos, compartilhar valores,<br />

liberar impulsos negativos ou perversos, exorcizar desejos reprimi<strong>do</strong>s, desvendar símbolos e<br />

construir significa<strong>do</strong>s. COHEN, Claudio. Provérbios e o inconsciente. São Paulo: Casa <strong>do</strong><br />

Psicólogo, 1991. p. 11-139.<br />

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