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MERCADO DE TRABALHO E URBANIZAÇÃO ... - XII Simpurb

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<strong>MERCADO</strong> <strong>DE</strong> <strong>TRABALHO</strong> E <strong>URBANIZAÇÃO</strong>: CARACTERÍSTICAS E<br />

Resumo:<br />

TENDÊNCIAS NO ESTADO DO PARÁ<br />

ALDO LUIZ FERNAN<strong>DE</strong>S SOUZA 1<br />

UFF/IFPA- aldofernand@yahoo.com.br<br />

PEDRO FERREIRA DA SILVA NETO 2<br />

IFPA- pedroisbell@hotmail.com<br />

WAN<strong>DE</strong>RLEY HENRIQUE N. FERREIRA 3<br />

IFPA - derleynunes@yahoo.com.br<br />

A formação e dinamização do mercado de trabalho na Amazônia oriental estão fortemente<br />

condicionadas pelo processo de urbanização regional. O objetivo deste artigo é analisar as<br />

características e tendências do mercado de trabalho no estado do Pará nas últimas décadas em<br />

um contexto de intensificação da urbanização da população e do território. Parte-se da hipótese<br />

de que a formação e a dinamização do mercado de trabalho na Amazônia Oriental estão<br />

intimamente relacionadas ao processo de urbanização iniciada durante a exploração da borracha<br />

no século XIX e fortemente impulsionada após 1960 no âmbito da economia de fronteira e da<br />

modernização promovida a partir da integração espacial e econômica das últimas décadas.<br />

Palavras-Chave: Urbanização; Mercado de trabalho; Modernização; Amazônia Oriental<br />

Consolidação do mercado de trabalho e urbanização, duas faces do processo de<br />

modernização na Amazônia oriental que materializam as contradições herdadas da<br />

história e da penetração das relações capitalistas no mundo trabalho, na estrutura<br />

produtiva e na produção do espaço. Na Amazônia oriental a crise do trabalho advinda da<br />

reestruturação produtiva e do avanço do neoliberalismo se sobrepõe às relações de<br />

trabalho da economia de fronteira e mesmo àquelas do período anterior a 1960, como o<br />

aviamento. Por outro lado, os conflitos, mazelas e contradições nas relações de trabalho<br />

somente podem ser entendidos, a partir da natureza precária e segregadora da<br />

urbanização regional.<br />

O objetivo principal deste artigo é analisar as características e tendências do<br />

mercado de trabalho no estado do Pará nas últimas décadas em um contexto de<br />

intensificação da urbanização da população e do território (SANTOS, 1993). Parte-se da<br />

1 Geógrafo (UFPA), Mestre em Planejamento do Desenvolvimento Regional (UFPA), doutorando em<br />

geografia pela UFF. Professor de geografia do IFPA. Bolsista da CAPES.<br />

2 Geógrafo (IFPA).<br />

3 Geógrafo (IFPA)<br />

1


hipótese de que a formação e a dinamização do mercado de trabalho na Amazônia<br />

Oriental estão intimamente relacionadas ao processo de urbanização iniciada durante a<br />

exploração da borracha no século XIX e fortemente impulsionada após 1960 no âmbito<br />

da economia de fronteira e da modernização promovida integração espacial e<br />

econômica das últimas décadas.<br />

No plano metodológico mobilizam-se conceitos e dados que possam dar conta<br />

da relação entre mercado de trabalho e urbanização, a partir da contribuição de autores<br />

como Lia Machado (1999), Bertha Becker (1994), Maria Célia Coelho (1995), Roberto<br />

Santos (2004) e outros, que debatem essas questões na Amazônia. Trata-se de uma<br />

leitura que toma como norte a análise da economia política da urbanização tal como<br />

proposta por Milton Santos (SANTOS, 2009, p.114). A análise parte do processo de<br />

formação do mercado de trabalho, porém, o enfoque principal é dado para investigação<br />

de variáveis relacionadas ao mercado de trabalho e à urbanização coletadas e<br />

organizadas a partir dos dados do censo demográfico do Instituto Brasileiro de<br />

Geografia e Estatística (IBGE) de 1991 e 2000. A base territorial utilizada serão as<br />

mesorregiões geográficas do IBGE.<br />

Este artigo está estruturado da seguinte forma. Na primeira parte, discute-se a<br />

formação do mercado de trabalho no Pará, tomando como referência o período da<br />

exploração da borracha e o período pós-1960 de integração territorial e econômica da<br />

Amazônia à economia nacional e mundial. Na segunda parte, analisam-se as<br />

características e as tendências do mercado de trabalho no Pará no contexto de<br />

intensificação da urbanização da população e do território (SANTOS, 1993). Por fim,<br />

faz-se algumas considerações sobre o sentido e a natureza da relação entre marcado de<br />

trabalho e urbanização.<br />

1- Elementos da formação do mercado de trabalho na Amazônia oriental<br />

O presente artigo analisará como vem se consolidando as relações capitalistas<br />

de produção no estado do Pará a partir de um período da história onde há intensas<br />

intervenções políticas e econômicas na região por parte do Estado e do capital,<br />

culminando em intensos fluxos migratórios, intenso processo de urbanização e a<br />

consolidação de um mercado de trabalho urbano na região, ancorado, principalmente,<br />

no setor de comércio e de serviços.<br />

A formação do mercado de trabalho na Amazônia oriental tem sua gênese no<br />

início do processo de urbanização no contexto da economia da borracha (1850-1912)<br />

2


pelo qual passara a região. Esse momento histórico possibilitou significativos<br />

investimentos nas cidades primazes Belém e Manaus, dessa forma dá-se o impulso para<br />

o que Lia Osório Machado (1999) chama de formação da rede proto-urbana na<br />

Amazônia. São nessas cidades que o mercado de trabalho, na região, começa a aflorar e<br />

não nos espaços rurais onde havia os seringais. Nessas cidades o mercado de trabalho<br />

passava a ter forma, na medida em que as atividades, sobretudo comerciais e de<br />

serviços, inscreviam-se de forma considerável no território urbano, enquanto que nos<br />

seringais a relação de produção chamada aviamento se caracterizava pela pouca, ou<br />

nenhuma, monetarização nessa relação, assim como não havia mobilidade do trabalho<br />

nesses espaços.<br />

Até a década de 1960, a região amazônica vivia praticamente no isolamento em<br />

relação ao restante do país. Esta região foi marcada por ciclos econômicos que pouco<br />

contribuiu para o seu desenvolvimento, pois após cada ciclo, se estabelecia na região,<br />

um longo período em que a economia regional pouco se desenvolvia. Esses ciclos foram<br />

marcados pela pouca ou nenhuma monetarização nas relações de trabalho. No período<br />

da coleta das “drogas do sertão” o índio era escravizado para o “[...] extrativismo de<br />

matérias-primas para o aumento do patrimônio do Monarca.” (SANTOS, 2004, p. 273).<br />

Também no período entre a segunda metade do século XIX e a primeira metade do<br />

século XX, torna-se predominante na região o sistema de aviamento uma “[...] relação<br />

mercantil simples, não monetarizada, de troca de trabalho por mercadoria [...]”<br />

(MACHADO, 1999, p. 112).<br />

O mercado de trabalho é entendido aqui na perspectiva da compra e venda da<br />

força de trabalho e da reprodução das relações de produção sob a forma assalariada,<br />

assim como da existência de uma mobilidade geográfico/territorial da força de trabalho<br />

(GAU<strong>DE</strong>MAR, 1977), algumas das marcas fundamentais do modo de produção<br />

capitalista. “O mercado de trabalho coincide histórica e teoricamente com a expansão<br />

do trabalho assalariado – ou se generaliza ou então se manifesta como estanque ou<br />

residual, não se constituindo como mercado” (BARBOSA, 2008, p. 45).<br />

A região amazônica se integra político-economicamente às outras escalas e<br />

passa a fazer, definitivamente, parte da agenda de investimentos do Estado no período<br />

pós-guerra. É principalmente, no contexto do governo militar (1964/1985), que há<br />

condições para uma significativa fluidez no território nacional, além de um maior<br />

controle político-ideológico e social. Esse momento da história surge como crucial para<br />

a intensa dinamização e consolidação do mercado de trabalho na região.<br />

3


Neste sentido, a região amazônica, vista como um celeiro inesgotável de<br />

recursos naturais passou a ser alvo de várias políticas que tomaram seu território no<br />

sentido de expandir uma economia de fronteira (BECKER, 1994) que culminou em um<br />

intenso povoamento tanto de “ordem intencional” ou “planejada”, quanto de “ordem<br />

espontânea” (MACHADO, 1999).<br />

Esse povoamento de ordem intencional, segundo Lia Osório Machado (1999),<br />

fez parte das estratégias do governo em atrair trabalhadores para a Amazônia Oriental,<br />

direcionando os fluxos migratórios para a região a partir da implantação de redes de<br />

infra-estrutura com o intuito de integração regional, além de projetos agropecuários e<br />

assentamento rural.<br />

Por outro lado, na medida em que há essa expectativa de terra e trabalho, e um<br />

intenso fluxo migratório, ocorre também o surgimento de diversas vilas, povoados,<br />

cidades devido à necessidade de moradia por parte desses trabalhadores, vastas áreas<br />

são desmatadas a mando de grandes proprietários fundiários, entre outras<br />

consequências, empregando mão-de-obra assalariada “[...] esse tipo de organização do<br />

trabalho contribuiu para a urbanização, na medida em que os trabalhadores (e suas<br />

famílias) vivem nas aglomerações e não nas fazendas” (MACHADO, 1999, p.122). Para<br />

a autora, trata-se de uma ordem espontânea de povoamento, por não ser previamente<br />

planejada pelo Estado.<br />

Esta mobilidade populacional e do trabalho que começou antes das políticas<br />

dos militares, mas foi acentuada por eles, seguiu a dinâmica de fronteira da região<br />

amazônica. Assim surgiram novas cidades, frentes de trabalho e o crescente processo de<br />

urbanização do território, mesmo que de forma mais pontual se compararmos com a<br />

urbanização em outras regiões. Essas novas cidades surgiram como estratégia para<br />

atração e concentração de mão de obra, sendo que a partir delas essa mão de obra foi<br />

redistribuída por toda a região, para Berta Becker esses núcleos urbanos:<br />

[...] São residência e mercado de trabalho alternativo para os<br />

trabalhadores agrícolas assalariados; são também residência de<br />

pequenos agricultores, em sua maioria semiproletários, atraídos pela<br />

presença da escola, por oportunidades de emprego e expectativa de<br />

acumulação; é ainda neles que residem temporariamente os<br />

migrantes que chegam, antes de se redistribuírem em ocupações<br />

diversas (BECKER, 1994, p. 54).<br />

A abertura de novas frentes de trabalho ligadas a exploração mineral como o<br />

4


projeto Ferro Carajás (no Sudeste Paraense), a Albrás (em Barcarena), projetos de infra-<br />

estrutura como a construção de usinas hidrelétricas (em Tucuruí), programas de<br />

colonização agrária como o ocorrido na Transamazônica, desenvolvido pelo governo<br />

militar (a partir dos anos de 1970) que tinha como pretensão o assentamento de famílias<br />

de agricultores, através do conhecido urbanismo rural promovido pelo INCRA e a<br />

construção de rodovias, que facilitavam o acesso à região, contribuem para a formação<br />

do mercado de trabalho regional, com base, sobretudo nos núcleos urbanos.<br />

O mercado de trabalho, nessa perspectiva, tem se dinamizado, sobremaneira,<br />

dada a intervenção do Estado na região, entrada de capital e abertura de novas frentes de<br />

trabalho, consolidando um novo mercado de empregos na Amazônia, impactando,<br />

assim, as formas tradicionais de organização do mundo do trabalho da região anteriores<br />

à chegada destas dinâmicas de fronteira. A tabela 01 a seguir mostra a taxa de<br />

urbanização no estado do Pará no período de 1940-2010, onde apresenta inclusive a<br />

dinâmica da urbanização em cada mesorregião do estado.<br />

Estado do Pará e<br />

Mesorregiões<br />

TABELA 01: TAXA <strong>DE</strong> <strong>URBANIZAÇÃO</strong> DO ESTADO DO PARÁ 1940-2010<br />

Taxa de urbanização 1940-2010 (%)<br />

1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010<br />

Estado do Pará 31,41 35,21 40,4 47,16 48,99 52,45 65,55 68,49<br />

Mesorregião do Baixo<br />

Amazonas 17,42 25,14 27,46 35,83 41,14 53,98 56,11 57,98<br />

Mesorregião do Marajó 11,6 12,04 13,01 18,71 22,84 31,86 38,87 43,41<br />

Mesorregião Metropolitana<br />

de Belém 77,01 77,7 81,24 83,64 78,25 66,84 93,73 92,43<br />

Mesorregião do Nordeste<br />

Paraense 14,76 15,83 25,89 24,81 31,43 41,06 48,59 48,8<br />

Mesorregião do Sudoeste<br />

Paraense 15,35 15,17 17,68 27,53 48,5 38,94 46,55 57,76<br />

Mesorregião do Sudeste<br />

Paraense 30,93 39,11 40,17 31,1 33,74 53,45 62,24 69,8<br />

Fonte: Dados censitários do IBGE<br />

O estado do Pará nas décadas de 1940/50/60 possuía uma taxa de urbanização<br />

de, respectivamente, 31,41%, 35,21% e 40,4% (tabela 01). Foi a partir da década de<br />

1960 que começaram as ações efetivas de intervenção regional por parte do Estado<br />

Brasileiro, contribuindo para que houvesse significativos fluxos migratórios para o<br />

estado do Pará, essa população migrante tinha nas cidades seu lócus de reprodução,<br />

começando nesse contexto a surgirem diversas outras aglomerações humanas como<br />

vilas, povoados e novas cidades. Em 2010, o estado do Pará apresenta uma taxa de<br />

5


urbanização de 68,49% o que reforça a importância do urbano nesse processo de<br />

apropriação do espaço e de seus recursos sociais, econômicos e naturais por parte dos<br />

novos vetores ligados à modernização.<br />

A Mesorregião Metropolitana de Belém e a Mesorregião do Sudeste Paraense<br />

apresentam as maiores taxas de urbanização nesse período de 1940-2010. A mesorregião<br />

metropolitana de Belém sempre apresentou as maiores taxas entre as mesorregiões. Em<br />

1940 apresentava 77,01% e no dado censitário de 2010 apresenta uma taxa de 92,43%,<br />

essa mesorregião possui a maior oferta de bens e serviços, mesmo a capital Belém não<br />

se industrializando a exemplo da cidade de Manaus, que se encontra na parte ocidental<br />

da Amazônia.<br />

Em relação ao crescimento populacional em Belém e Manaus nesse contexto<br />

de intervenção regional (pós-1960), Trindade Jr. (2006) diz que “[...] por meio do<br />

incentivo ao surgimento de novas atividades e da criação de um número crescente de<br />

instituições vinculadas à nova dinâmica regional, viu-se aumentar a concentração<br />

populacional nessas capitais” (TRINDA<strong>DE</strong> JR., 2006, p.181). O que configura uma<br />

característica da urbanização brasileira no período que vai dos anos de 1960 a 1990, em<br />

que há um aumento significativo da população urbana (SANTOS, 1993) com a difusão<br />

dos nexos da modernização.<br />

Com a entrada de capitais e infra-estruturas em outras cidades no interior do<br />

estado do Pará, viu-se uma crescente importância econômica de outras cidades, ou sub-<br />

centros regionais, e a relativa perda de importância da cidade de Belém, frente à<br />

dinâmica da economia de fronteira no interior do estado, essa relativa perda de<br />

importância aconteceu principalmente a partir da década de 1990, porém o espaço<br />

metropolitano ainda mantém sua primazia.<br />

O reforço da metropolização e do primado metropolitano para o caso<br />

de Belém se dá na maneira em que é preciso levar em conta o espaço<br />

metropolitano como conteúdo que manifesta um determinado processo<br />

ligado à urbanização [...]. Nesse sentido, o processo de urbanização<br />

no espaço amazônico, e em específico na Amazônia Oriental,<br />

pressupõe o primado metropolitano como produto, condição e meio à<br />

realização da dinâmica presente na região, ainda que em outros<br />

termos, bem diferente daquele para as primeiras décadas da<br />

integração regional. (TRINDA<strong>DE</strong> JR, 2006, p.190)<br />

Na Mesorregião do Sudeste Paraense se instala grandes empresas minerais e<br />

começam a surgir diversas obras de infra-estrutura motivando significativos fluxos<br />

6


migratórios que culminaram em um intenso processo de povoamento, assim<br />

contribuindo, significativamente para o crescimento da taxa de urbanização nessa<br />

mesorregião. Em 2010 o Sudeste Paraense apresentou uma taxa de 69,8%. Enquanto<br />

que as outras Mesorregiões também tiveram consideráveis aumentos na taxa de<br />

urbanização, exceto a Mesorregião do Marajó que apresenta as menores taxas entre as<br />

Mesorregiões por não ter sido alvo de intensas intervenções políticas e econômicas,<br />

assim como, nunca, tratou-se de uma Mesorregião atrativa para fluxos migratórios.<br />

Essa difusão de sistemas técnicos - Tecnoesfera- na Amazônia configura a<br />

tendência de urbanização do território e a difusão de sistema de valores – Psicoesfera-<br />

(SANTOS, 1993), engendra, no âmbito do mercado de trabalho, significativas<br />

transformações, inclusive fortalecendo o setor de comércio e de serviços, ou talvez,<br />

trata-se de uma significativa parcela da população se ocupando no que Milton Santos<br />

(1979) chama de “circuito inferior da economia urbana”. Sobre este circuito da<br />

economia urbana, Milton Santos diz:<br />

[...] a apreensão do ‘circuito inferior’ recobre uma realidade muito<br />

mais ampla que a expressa pelo termo ‘terciário’. Na realidade, tratase<br />

mais de um conceito que de uma denominação; o circuito inferior é<br />

o resultado de uma situação dinâmica e engloba atividades de serviço<br />

como a doméstica e os transportes, assim como as atividades de<br />

transformação como o artesanato e as formas pré-modernas de<br />

fabricação [...]. (SANTOS, 1979, p. 158)<br />

No estado do Pará as décadas de 1960, 1970, 1980 marcam a construção de<br />

grandes obras e a entrada de vários empreendimentos impactando o mundo do trabalho<br />

tanto dos municípios sedes quanto seu entorno (Quadro 1), sendo importante ressaltar<br />

que não são somente os municípios de seu entorno imediato que são impactados. As<br />

estradas construídas neste contexto de intervenção regional, tanto por parte do Estado<br />

quanto pelo mercado internacional, para darem suporte a essas grandes obras irão<br />

também impactar varias outras localidades que passam a sofrer influências destas novas<br />

redes, tanto no que diz respeito ao mercado de trabalho, quanto ao processo de<br />

urbanização. Machado (1990) ressalta a relação entre esses núcleos urbanos e o<br />

mercado de trabalho.<br />

[...] Diversos autores, tem reconhecido que o núcleo urbano, em áreas<br />

de fronteira recentes e/ou atuais, se torna local de residência e<br />

mercado alternativo de trabalho para os trabalhadores agrícolas<br />

assalariados, temporários ou não, quando se organiza a produção<br />

7


agropecuária em moldes capitalistas.[...].(MACHADO, 1990, p.118).<br />

Lia Osório Machado (1990) reforça a importância que os núcleos urbanos<br />

tomam no sentido de ser um “ponto de localização e redistribuição da força de trabalho,<br />

condição de funcionamento do esquema produtivo de tipo capitalista que, por<br />

contradições que lhe são inerentes, exige a mobilidade da população”.<br />

QUADRO 1: MUNICÍPIOS SE<strong>DE</strong>S DOS GRAN<strong>DE</strong>S EMPREENDIMENTOS E SEU ENTORNO.<br />

Municipios Sedes Empreendimentos (s) Entorno<br />

Oriximiná Mineração Rio do Norte (1979)<br />

Parauapebas<br />

Marabá<br />

Barcarena<br />

Almeirim<br />

Tucuruí<br />

CVRD-ferro (1984),<br />

manganês (1985)<br />

e ouro (1990)<br />

COSIPA (1989), SIMARA (1989),<br />

USIMAR (2002),<br />

Siderúrgica Rio do Norte (2002)<br />

e Siderúrgica Ibérica (2002)<br />

Fonte: Org. pelos autores a partir COELHO, 2005, et al.<br />

O quadro 1 mostra os municípios que receberam grandes empreendimentos,<br />

assim como os municípios que compõe seu entorno e que são direta ou indiretamente<br />

afetado no âmbito territorial quanto no mundo do trabalho.<br />

Terra Santa<br />

Faro<br />

Óbidos<br />

Curuá<br />

Alenquer<br />

Curionópolis<br />

Canaã dos Carajás<br />

Água Azul do Norte<br />

Eldorado de Carajás<br />

ALBRÁS (1985), ALUNORTE (1995),<br />

Imerys Capim Caulim (1996), Abaetetuba<br />

PPSA (1996), e SOINCO (1997) Moju<br />

Acará<br />

CADAM (1977), JARI Florestal (1979)<br />

e Mineração Santa Lucrécia (1981)<br />

Hidrelétrica de Tucuruí (1984),<br />

Camargo Corrêa e Metais S.A. (1988)<br />

Prainha<br />

Monte Alegre<br />

Breu Branco<br />

Novo Repartimento<br />

Pacajá<br />

Baião<br />

Goianésia do Pará<br />

As grandes empresas que se instalam na Amazônia Oriental são marcadas pelo<br />

planejamento de núcleos urbanos dotados de infra-estrutura para atender as demandas<br />

de seu quadro técnico, as chamadas Company Towns, enquanto que os demais<br />

trabalhadores, principalmente aqueles migrantes atraídos no começo das obras do<br />

empreendimento passam a morar de forma precária o que vai se configurando em uma<br />

8


enorme franja urbana ao redor dessas cidades planejadas. Estes trabalhadores que agora<br />

residem nas periferias desses núcleos urbanos e que se empregaram somente no período<br />

das obras passam a se ocupar em quaisquer atividades que lhes garanta o mínimo para<br />

sua sobrevivência. Isso pode ser observado ao redor de todos os núcleos urbanos<br />

planejados pelos empreendimentos que se afirmam no estado do Pará.<br />

Nas últimas décadas, estes trabalhadores passam a buscar em quaisquer formas<br />

de trabalho o mínimo para sua reprodução. As transformações no mundo do trabalho<br />

nesse contexto de intensas intervenções na Amazônia oriental e de intensa urbanização<br />

estão intrinsecamente ligadas ao que Lia Osório Machado (1999) chama de “modo de<br />

produção regional” que se deu de forma diferente de outras fronteiras de povoamento do<br />

século XX no Brasil. Para a autora, na Amazônia a mobilidade da população e do<br />

trabalho no interior da região está diretamente relacionada à urbanização do território, e<br />

é o responsável pelo surgimento de novas cidades e frentes de trabalho.<br />

A urbanização do território, o mercado de trabalho e as relações<br />

entre ambos apresentam certas especificidades nas fronteiras de<br />

povoamento. Duas delas são bastante conhecidas: a forte mobilidade<br />

da população e do trabalho no interior do território, até certo ponto<br />

associada ao fluxo e refluxo de imigrantes, é o responsável pelo<br />

aparecimento de novas cidades e frentes de trabalho em curto espaço<br />

de tempo; a facilidade de implantação de novas formas de<br />

organização das atividades produtivas pela ausência de formas<br />

espaciais pretéritas e o caráter freqüentemente experimental dessas<br />

atividades provocam alterações bruscas na distribuição da população<br />

e do trabalho, sem paralelo nas áreas de povoamento consolidado.<br />

(MACHADO, 1999, p.109)<br />

Os impactos das dinâmicas engendradas nestas fronteiras urbanas (BECKER,<br />

1994; MACHADO, 1990c; 1999) principalmente na Amazônia Oriental, fez com que os<br />

núcleos urbanos emergidos destas frentes e os que já existiam passassem a comportar<br />

um mercado de trabalho cada vez mais dinâmico, “[...] tal dinâmica interferiu<br />

diretamente na organização do mercado de trabalho diversificando-o segundo setor e<br />

ramos de atividades, ocupações, qualificações, salários, [...]”, (CASTRO, 1995, p. 06).<br />

Neste contexto, a nova divisão social e territorial do trabalho reorganiza o mundo do<br />

trabalho amazônico, impactando tanto o campo quanto a cidade. Porém, não basta<br />

analisar as transformações no mundo do trabalho da região somente na perspectiva da<br />

diversificação e aumento do número de ramos e atividades de trabalho que a economia<br />

de fronteira pós-60 trouxe consigo é preciso analisá-lo na perspectiva total.<br />

9


Mesmo onde o capital não esteja plenamente estruturado, por vezes, a<br />

psicoesfera que apreende os valores sociais modernos pode anteceder em um<br />

determinado espaço a expansão do meio técnico (SANTOS, 1993). A ideologia do<br />

consumo nos países subdesenvolvidos precede o modo de produção, esta ideologia do<br />

consumo se impõe como instrumento e motor da penetração de novas formas de<br />

produção (SANTOS, 1982).<br />

No âmbito do mercado de trabalho, muitas formas tradicionais de organização<br />

do trabalho em diversas localidades na Amazônia, tanto no campo quanto na cidade, são<br />

impactados na medida em que as novas necessidades de consumo vão se estabelecendo.<br />

Em muitos casos são empiricamente observáveis, por exemplo, no campo, os<br />

trabalhadores passando a se ocuparem em atividades agrícolas e não-agrícolas<br />

(pequenos comércios ou mercadinhos, pequenas vendas na beira da estrada, etc.), isto é<br />

em parte explicado devido ao fato de estarem aumentando as necessidades de consumo<br />

de objetos (em sua maioria industrializada) e que somente os ganhos do trabalho<br />

agrícola já não são suficientes para sustentar. Estas novas necessidades de consumo são<br />

frutos da difusão desta psicoesfera inerente ao caráter extensivo dos nexos urbano-<br />

industriais sobre o território.<br />

2- Características e tendências do mercado de trabalho no estado do Pará<br />

É importante ressaltar que essa urbanização que toma a região nas últimas<br />

décadas vem na sua forma mais perversa, onde a pobreza urbana (SANTOS, 1978) se<br />

apresenta como parte constituinte desse processo. O trabalhador encontra nas formas<br />

mais precárias as condições para sua reprodução, pois a grande maioria deles é atraída<br />

pela vinda dos empreendimentos, não sendo absorvida na linha de produção dessas<br />

empresas modernas, ocupando-se apenas no período das obras de construção. Muitos<br />

não têm condições de migrar para outras frentes onde haja empregos e acabam se<br />

conformando por ali mesmo e passam a morar nas periferias dos núcleos urbanos.<br />

Impactando, também, as formas pretéritas de reprodução da população e do mundo do<br />

trabalho nos lugares onde são impressas estas novas racionalidades, a racionalidade dos<br />

grandes empreendimentos.<br />

Isso ocorre porque o espaço que se produz hoje na Amazônia introduz<br />

a mediação do mercado e da terra como mercadoria na relação do<br />

homem com a natureza, visando garantir a reprodução para o capital<br />

na sua forma mais predatória. [...] imprimindo novas formas de<br />

10


disciplinamento da produção do espaço e da organização do trabalho,<br />

modificando ou aniquilando as relações anteriormente existentes [...].<br />

(OLIVEIRA, 2000, p. 107)<br />

Esta força de trabalho acaba encontrando no trabalho por conta própria, ou no<br />

subemprego, ou em ajuda a membros da família, a saída para sua reprodução, ou seja, é<br />

no “circuito inferior da economia urbana” (SANTOS, 1979) que a maioria da população<br />

trabalhadora, que está inserida neste contexto, encontra o meio para sua reprodução,<br />

quase sempre, subempregado em condições precárias e sem carteira assinada ou<br />

exercendo quaisquer atividades que lhes garanta o mínimo para a sua sobrevivência e<br />

alimentando ainda perspectivas de trabalharem de alguma forma nestas empresas.<br />

Nesse sentido, as tabelas 03 e 04 a seguir permitem analises do perfil do<br />

pessoal ocupado por mesorregião paraense segundo os dados do IBGE de 1991 e de<br />

2000.<br />

TABELA 03: PESSOAL OCUPADO NO PARÁ POR MESORREGIÕES A PARTIR DO CENSO <strong>DE</strong><br />

Pessoal<br />

Ocupado<br />

(POC) por<br />

Mesorregião<br />

Paraense<br />

Estado<br />

do Pará<br />

Baixo<br />

Amazonas<br />

Marajó<br />

1991<br />

1991<br />

Metropolitana<br />

de Belém<br />

Nordeste<br />

Paraense<br />

Sudoeste<br />

Paraense<br />

Sudeste<br />

Paraense<br />

Total POC<br />

Empregados<br />

1.387.584 153.252 54.531 502.877 324.175 66.834 285.915<br />

%<br />

Empregadores<br />

45,07 44,21 33,57 71,79 36,05 32,24 52,61<br />

%<br />

Conta própria<br />

2,69 2,03 1,83 3,25 2,06 2,85 4,10<br />

%<br />

Não<br />

Remunerado<br />

45,30 43,14 59,28 24,07 47,85 57,92 39,52<br />

em ajuda a<br />

membro do<br />

Domicilio %<br />

Trabalho na<br />

produção para<br />

o próprio<br />

6,94 10,62 5,32 0,89 14,05 6,99 3,77<br />

consumo % - - - - - - -<br />

Fonte: IBGE/SEPOF 2008 (org. pelos autores)<br />

11


TABELA 04: PESSOAL OCUPADO NO PARÁ POR MESORREGIÕES A PARTIR DO CENSO <strong>DE</strong><br />

2000<br />

Pessoal Ocupado<br />

(POC)<br />

por Mesorregião<br />

Paraense<br />

Total POC<br />

Estado<br />

do Pará<br />

Baixo<br />

Amazonas<br />

Fonte: IBGE/SEPOF. 2008 (org. pelos autores)<br />

*Os dados do pessoal ocupado com carteira assinada; Militares e funcionarios público e Sem carteira<br />

assinada equivalem aos que se declararam empregados.<br />

Analisando o censo de 1991 e 2000, constata-se um grande percentual de<br />

pessoas trabalhando por conta própria em todas as mesorregiões paraenses, ou seja, em<br />

atividades de comércio, ambulantes, etc., trata-se da presença do “circuito inferior da<br />

economia urbana” (SANTOS, 1979), manifestando-se como alternativa nas formas de<br />

ocupação desses trabalhadores.<br />

Constata-se também no censo de 2000 que em todas as mesorregiões, há um<br />

significativo número de pessoas vinculadas ao mercado de trabalho sem a carteira<br />

assinada. No Baixo Amazonas são 54,47%, Marajó 58,80%, Metropolitana de Belém<br />

40,66, Nordeste Paraense 64,35%, Sudoeste Paraense 68,25% e Sudeste Paraense<br />

61,15%, este expressivo quantitativo de pessoas empregadas sem carteira assinada no<br />

estado do Pará nos dá indicativos de que a ausência de garantias trabalhistas a esses<br />

trabalhadores é uma das manifestações das formas precarizadas de trabalho, que é uma<br />

das marcas do atual cenário da configuração do mercado de trabalho no estado.<br />

A década de 1990 marcou o processo de reestruturação produtiva,<br />

caracterizado pela abertura comercial e financeira, e pelas mudanças no processo<br />

produtivo (novas formas de produção, gestão do trabalho, racionalizadoras e poupadoras<br />

2000<br />

Marajó Metropolitana<br />

de Belém<br />

Nordeste<br />

Paraense<br />

Sudoeste<br />

Paraense<br />

Sudeste<br />

Paraense<br />

2.074.76<br />

1 209.027 110.090 730.225 474.846 149.553 401.020<br />

Empregados % 48,74 42,28 % 39,27 % 67,85 % 38,25 % 45,32 % 59,45 %<br />

Com/ cart.<br />

Assinada % 26,95 30,36 20,47 46,50 19,82 18,27 26,33<br />

Milit. e Func.<br />

Púb. % 15,10 15,17 20,73 12,84 15,83 13,48 12,52<br />

S/ cart. Assinada<br />

% 57,95 54,47 58,80 40,66 64,35 68,25 61,15<br />

Empregadores % 1,83 1,33 1,18 1,96 1,43 2,60 2,47<br />

Conta própria % 34,30 36,01 42,28 27,46 37,07 35,41 27,60<br />

Não<br />

Remunerado em<br />

ajuda a membro<br />

do<br />

Domicilio % 8,55 11,60 9,35 2,15 14,70 8,55 4,93<br />

Trabalho na<br />

produção para o<br />

próprio consumo<br />

% 6,58 8,78 7,92 0,58 8,53 8,12 5,55<br />

12


de mão de obra). Dentro desta nova racionalidade empresarial o trabalhador se vê diante<br />

de novos desafios, pois diminuem os postos de trabalho nas empresas (que já eram<br />

escassos), dado os avanços tecnológicos e a crescente transferência de responsabilidades<br />

para empresas subcontratadas. Esta racionalidade nas novas formas de organização da<br />

produção e do trabalho, que marca a década de 90, trouxe consigo o aumento da<br />

terceirização e da terciarização (ANTUNES, 2009; SPOSITO, 2006).<br />

Esta terceirização, realizada pela nova racionalidade dos empreendimentos, que<br />

culminam nessa transferência de responsabilidade de serviços para empresas<br />

subcontratadas e que estão diretamente ligadas às novas formas de gestão por parte das<br />

grandes empresas, passam a se tornar outro grande empecilho na entrada dos<br />

trabalhadores na linha de produção das grandes empresas. Esta prática também é<br />

adotada pelo Estado que passa, cada vez mais, a contratar empresas terceirizadas,<br />

ampliando, por conseguinte, o número do pessoal ocupado neste setor de serviços.<br />

Em várias mesorregiões o emprego no funcionalismo público passa a ser uma<br />

das poucas opções de entrada no mundo do trabalho com garantias trabalhistas. Isso<br />

ocorre devido ao pouco (ou nenhum) dinamismo econômico e comercial de vários<br />

municípios que se encontram estagnados economicamente e passam a depender da<br />

prefeitura na oferta de empregos públicos.<br />

Dentre as mesorregiões, Marajó é a que apresenta o maior percentual do<br />

pessoal ocupado no serviço público com 20,73%, segundo os dados da tabela 04, do<br />

censo de 2000. Essa mesorregião não teve papel importante na transformação no mundo<br />

do trabalho da Amazônia Oriental por não ser um lócus de grandes investimentos e<br />

entrada de empresas, mantendo-se estagnada economicamente. Porém, mesmo as<br />

mesorregiões que fizeram parte desta economia de fronteira a partir da década de 1960,<br />

apresentam vários municípios dependentes do emprego público por se encontrarem<br />

abandonados na medida em que o capital transita e migra em busca de novas<br />

possibilidades de investimentos.<br />

As tabelas 05 e 06 mostram as características do mercado de trabalho no estado<br />

do Pará segundo o pessoal ocupado por setor da economia. Pode-se apreender<br />

analisando as figuras a seguir uma crescente perda de importância de Belém frente ao<br />

crescimento de pequenas e médias cidades face à expansão da economia de fronteira nas<br />

décadas anteriores em diversas regiões no interior do estado. Apesar da tabela 05<br />

apresentar a maior parte do pessoal da mesorregião metropolitana de Belém ocupada no<br />

setor secundário da economia com 45,51%, o principal município que é a capital Belém<br />

13


não sofreu estímulo de crescimento pautado no setor industrial, diferentemente de<br />

Manaus que se encontra na parte ocidental da Amazônia.<br />

Na mesorregião metropolitana de Belém há a presença de algumas indústrias,<br />

porém, o setor secundário não representa o perfil econômico da mesma, que se destaca<br />

pelo forte setor de comércio e serviços. Em 1991 era ela que absorvia a maior<br />

percentagem do pessoal ocupado no setor terciário com 33 %. Em 2000, o setor terciário<br />

na mesorregião metropolitana apresenta 77,17% do pessoal ocupado, reforçando, assim,<br />

essa mesorregião como a que mais ocupa no setor terciário.<br />

TABELA 05: PESSOAL OCUPADO NO PARÁ POR SETOR DA ECONOMIA A PARTIR DO<br />

CENSO <strong>DE</strong> 1991<br />

Pessoal ocupado nas<br />

Mesorregiões Paraenses<br />

por setor da economia<br />

1991<br />

Nome Total Primário % Secundário % Terciário %<br />

Estado do Pará 838.597 511.590 61,01 203.505 24,26 123.502 14,73<br />

Baixo Amazonas 103.756 76.593 73.82 16.117 15.53 11.046 10.65<br />

Marajó 42.342 32.949 77.81 6.751 15.95 2.642 6.24<br />

Metropolitana de Belém 214.265 43.901 20.49 97.522 45.51 72.842 33.00<br />

Nordeste Paraense 263.358 209.839 79,68 35.557 13,5 17.962 6,82<br />

Sudoeste Paraense 41.991 35.478 84.49 3.369 8.02 3.144 7.49<br />

Sudeste Paraense 172.885 112.830 65.26 44.189 25.56 15.866 9.18<br />

FONTE: IBGE/SEPOF, 2008. (Org. pelos autores)<br />

TABELA 06: PESSOAL OCUPADO NO PARÁ POR SETOR DA ECONOMIA A PARTIR DO<br />

CENSO <strong>DE</strong> 2000<br />

Pessoal ocupado nas<br />

Mesorregiões<br />

Paraenses por setor<br />

da economia<br />

2000<br />

Nome Total Primário % Secundário % Terciário %<br />

Estado do Pará 2.043.689 565.065 27,65 362.957 17,76 1.115.667 54,59<br />

Baixo Amazonas 209.038 88.488 42.33 33.488 16.02 87.062 41.65<br />

Marajó<br />

Metropolitana de<br />

110.876 50.792 45.80 19.631 17.70 40.453 36.50<br />

Belém 720.908 33.848 4.70 130.734 18.13 556.326 77.17<br />

Nordeste Paraense 479.451 216.629 45,18 83.837 17,49 178.985 37,33<br />

Sudoeste Paraense 149.804 67.711 45.20 25.357 16.93 56.736 37.87<br />

Sudeste Paraense 373.612 107.597 28.80 69.910 18.71 196.105 52.49<br />

FONTE: IBGE/SEPOF, 2008. (Org. pelos autores)<br />

A mesorregião do Marajó nunca se constituiu como região de atração<br />

migratória, pelo seu pouco dinamismo econômico. Neste contexto de intervenção<br />

14


político-econômica na região essa mesorregião manteve sua população ocupada<br />

majoritariamente no setor primário da economia, em 1991 77,81% e em 2000 45,80%.<br />

A mesorregião do Marajó, do Nordeste e do Sudoeste paraense apresentam<br />

significativas parcelas da população trabalhadora ocupada no setor primário da<br />

economia. Não obstante à redução relativa dos dados em 1991 e 2000 nesse setor.<br />

Apesar de todas as transformações com a entrada dos vetores da modernização na<br />

Amazônia oriental, essa modernização se fez presentes com menos intensidade nessas<br />

mesorregiões. Muitas das formas tradicionais de trabalho e de relação com a natureza<br />

permanecem sendo fundamentais para a reprodução de ribeirinhos, agricultores,<br />

quilombolas, indígenas e outros (CASTRO, 1999). Para Tomas Hurtienne (2001) o<br />

campesinato não só permanece como se fortalece no nordeste do Pará, dessa forma, ao<br />

lado das tendências de transformações no mundo do trabalho há significativos<br />

elementos de permanências das relações de trabalho tradicionais.<br />

Analisando as tabelas 05 e 06 acima dos censos de 1991 e de 2000 do IBGE do<br />

pessoal ocupado por setor da economia, constata-se a crescente predominância do setor<br />

de comércio de serviços em relação aos demais setores no estado do Pará, em 1991 em<br />

todo no Pará 18,35% do pessoal ocupado se encontrava nesse setor, enquanto que em<br />

2000 cresce para 59,88%. Como analisado anteriormente, o fortalecimento deste setor<br />

da economia e a dinâmica dos demais setores acompanham as tendências conjunturais,<br />

por exemplo, do processo de intensa urbanização e reorganização no mundo do trabalho<br />

em todo o país, principalmente a partir de 1991 no processo de reestruturação produtiva.<br />

A mesorregião do Sudeste paraense que teve impacto direto desta dinâmica de<br />

fronteira passa a comportar um forte dinamismo econômico, por conseguinte, um forte<br />

dinamismo no mercado de trabalho, e um fortalecimento no setor secundário da<br />

economia com 25,56% do pessoal ocupado em 1991, e com uma relativa baixa em 2000<br />

para 18,71%. Em números absolutos, em 1991 eram 44.189 pessoas ocupadas no setor<br />

secundário e em 2000, o pessoal ocupado neste setor era de 69.910.<br />

Em relação ao dinamismo do setor secundário no estado do Pará, pode-se<br />

analisar a importância da abertura de várias estradas que foram construídas,<br />

principalmente, para darem suportes às grandes empresas de extração de minério, e<br />

siderúrgicas, que se instalaram em Marabá, e em Parauapebas no Sudeste do estado, o<br />

que alavancou também, por exemplo, a indústria madeireira. Desta forma, em diversos<br />

municípios, os empregos nestas indústrias madeireiras, que são em sua maioria ilegais e<br />

sem fiscalização, se apresentam como outra possibilidade de saída do desemprego para<br />

15


a massa de trabalhadores que buscam o mínimo para sua reprodução, mesmo que nas<br />

formas de trabalho mais precárias.<br />

O estado do Pará é o maior pólo madeireiro da Amazônia Legal, representando<br />

45% da madeira produzida e concentra 51% das empresas madeireiras na região<br />

(IMAZON, 2005). O sudeste do estado é onde se encontra a maior parte dos municípios<br />

pólos madeireiros (Breu Branco, Dom Eliseu, Goianésia, Jacundá, Novo Repartimento,<br />

Paragominas, Rondon, Itupiranga, Marabá, Redenção, São Félix do Xingu).<br />

A dinamização desses setores da economia no estado do Pará tem diretas<br />

relações com as altas taxas de urbanização apresentadas pelo estado, em 1991 a taxa é<br />

de 52,45% e em 2010 a taxa é de 68,49%, essa urbanização não vem acompanhada de<br />

uma significativa industrialização pelo estado, no entanto, a partir de 1960 os diversos<br />

programas como o de colonização, mineração e a entrada de grandes projetos na<br />

Amazônia oriental, tiveram nos núcleos urbanos sua base de sustentação.<br />

Na medida em que o urbano vai se configurando na Amazônia os setores da<br />

economia, principalmente o setor de comércio e serviços, ganha grandes impulsos.<br />

Desta forma, a dinâmica do mercado de trabalho na região se apresenta, em parte, a<br />

partir das transformações nas formas de organização do trabalho, divisão social e<br />

territorial do trabalho e expansão da urbanização.<br />

Esta urbanização que se encontra em voga na Amazônia entra em choque<br />

constante com as formas pretéritas de reprodução e organização do trabalho tanto no<br />

campo quanto na cidade. Esta urbanização do mercado de trabalho na Amazônia<br />

Oriental, não esgota as formas tradicionais de organização do trabalho que não estão<br />

diretamente ligadas às atividades eminentemente urbanas, mas passam, em muitos<br />

casos, a conviver de forma conflitiva, com as atividades urbanas, sendo visto em muitos<br />

casos o trabalhador rural ocupado em mais de uma atividade, atividades agrícolas e não-<br />

agrícolas.<br />

A partir da década de 1960 o processo de modernização produziu a<br />

reestruturação sócio-espacial (COELHO, 1997) da Amazônia Oriental. A intervenção do<br />

Estado na região, a entrada de grandes projetos de mineração e agropecuários, de infra-<br />

estrutura, de energia e transporte, são alguns dos fatores dessa modernização que<br />

passam a impactar profundamente o mundo do trabalho tanto do campo, quanto da<br />

cidade, difundindo novos nexos, principalmente urbanos, novas ideologias de consumo,<br />

novas relações de trabalho agora sendo mediadas pelo mercado (re) orientando e/ou<br />

impactando as formas tradicionais de organização do trabalho.<br />

16


Entre 1960 e 2000 a modernização da região teve como sustentáculos a<br />

urbanização da fronteira (BECKER, 1994) e a constituição do mercado de trabalho<br />

(MACHADO, 1999) em nível nacional. A intensa migração inter-regional para a região,<br />

nesse contexto de modernização, contribuiu significativamente para a consolidação de<br />

uma fronteira urbana na Amazônia Oriental, uma vez que, a mobilidade da população<br />

trabalhadora tinha nos núcleos urbanos sua base de organização.<br />

3- Considerações finais<br />

Essa reestruturação sócio-espacial impactou de forma profunda o mercado de<br />

trabalho na Amazônia oriental e principalmente no estado do Pará. Uma primeira<br />

manifestação dessas transformações no mundo do trabalho é a progressiva terciarização<br />

das atividades ocupacionais no âmbito da economia estadual, com intensas implicações<br />

para o espaço rural e urbano.<br />

No que diz respeito ao espaço rural e às ocupações agrícolas, observa-se uma<br />

redução relativa tanto da população rural quanto das ocupações consideradas agrícolas.<br />

A crescente concentração da propriedade da terra associada à precarização das<br />

condições de vida e de acesso a bens e serviços no campo, contribui para explicar a<br />

redução da população rural e logo das ocupações primárias. Esse processo é mais<br />

evidente nas mesorregiões mais afetadas pela modernização como o Sudeste do Pará e<br />

Metropolitana de Belém. Talvez a população rural no Pará esteja caindo em ritmo mais<br />

lento do que a população ocupada em atividades agrícolas ou as atividades terciárias<br />

estejam cada vez mais presentes no espaço rural. Nesse caso, pode-se pensar em novas<br />

interações entre campo e cidade fundamentadas na progressiva integração do mercado<br />

de trabalho rural e urbano.<br />

No âmbito das cidades, a intensa migração e expansão urbana tiveram como<br />

suporte o rápido crescimento do setor de comércio e serviços, mesmo que baseado na<br />

precarização e no circuito inferior da economia urbana (SANTOS, 1979). A<br />

terciarização da economia urbana é uma macrotendência observada praticamente em<br />

todas as cidades das mesorregiões paraenses.<br />

No espaço interno das pequenas, médias e grandes cidades a rápida expansão<br />

da mancha urbana está baseada, principalmente, na periferização, na segregação<br />

residencial e nas ocupações espontâneas da terra. A informalidade, a precarização e a<br />

instabilidade do mercado de trabalho se refletem claramente no mercado de terras, de<br />

moradia e nas condições de vida na periferia das cidades, seja, na metrópole paraense,<br />

17


Belém, ou em uma cidade local.<br />

No âmbito da rede urbana, a modernização da economia paraense criou a<br />

diversificação da divisão territorial do trabalho e certa diferenciação econômico-<br />

funcional e hierárquica na rede urbana, com fortes impactos sobre a estrutura do<br />

mercado de trabalho. Centros de comércio e serviços como Santarém e Marabá, pólos<br />

madeireiros como São Félix do Xingú, pólos mineradores como Parauapebas e pólos<br />

pecuaristas como Xinguara, materializam a nova divisão territorial do trabalho no Pará e<br />

conformam uma nova hierarquização da rede urbana configurada, principalmente, com<br />

a emergência de cidades médias ou de porte médio como Marabá, Santarém e<br />

Castanhal.<br />

Outra manifestação da transformação no mercado de trabalho no Pará é a<br />

precarização das condições de trabalho acompanhada pela crescente informalização das<br />

relações trabalhistas. Por um lado, a falta de regulação do Estado acentua a precarização<br />

dessas relações de trabalho, uma vez que, o próprio Estado atua como agente de<br />

reprodução da informalidade. Por outro lado, a forma como o capital se apropria da<br />

força de trabalho (inclusive reproduzindo relações de trabalho não-capitalistas)<br />

contribui para o aumento da precariedade e informalidade das relações de trabalho no<br />

campo e nas cidades.<br />

Essa dinâmica de precarização e informalização das relações de trabalho é<br />

observada em todas as mesorregiões, tanto nas que foram atingidas pelo processo de<br />

modernização como a metropolitana de Belém, o Sudeste e Sudoeste paraense, quanto<br />

nas que foram menos atingidas como a do Marajó, o Baixo-Amazonas e o Nordeste<br />

Paraense. O mercado de trabalho na fronteira nunca foi organizado com base no<br />

emprego formal, a questão é que a crescente urbanização torna a reprodução da força de<br />

trabalho dramática, pois, a modernização torna-se sinônimo de crescimento da pobreza<br />

urbana, da violência, da segregação e etc.<br />

O mercado de trabalho no Pará foi fortemente impactado pela modernização<br />

ocorrida na Amazônia após 1960, comandada pelo Estado e pelo capital estrangeiro.<br />

Nesse processo a produção e a apropriação do espaço e da terra (urbana e rural)<br />

assumiram um papel fundamental. Dessa forma, o mercado do trabalho reflete a<br />

natureza e as contradições do avanço da economia capitalista na Amazônia. A<br />

urbanização, a terciarização, a informalização e a precarização do mercado de trabalho<br />

no Pará são macrotendências que estão inscritas no contexto de novas interações entre<br />

campo e cidade, da modernização seletiva do território, da globalização das relações<br />

18


econômicas e, ao mesmo tempo, da resistência e permanência de relações de trabalho<br />

tradicionais.<br />

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19


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