12 viárias alteram completamente o Parque do Anhangabaú. No segundo período analisado, pode-se observar que as intervenções na <strong>cidade</strong> se deram em “pedaços” do município, trechos das várzeas dentro da área que se urbanizava, com o objetivo de sanear e modernizar a <strong>cidade</strong>. Já neste terceiro período, destacaramse planos de urbanização destas várzeas contidos em planos mais amplos de construção da <strong>cidade</strong>, baseados no novo ideário que se estabelecia, cujos motes eram o rodoviarismo, o expansionismo e a verticalização. O Plano de Avenidas, projeto apresentado por Prestes Maia em 1930, foi representativo dessa nova maneira de pensar e estruturar o espaço urbano. A circulação eficiente dos automóveis foi a base desse projeto, sendo praticamente todas as demais questões urbanas subordinadas à questão viária. As soluções de “tamponamento” dos córregos da <strong>cidade</strong>, ocupando até os últimos espaços disponíveis de toda a área da calha fluvial, se intensificaram na gestão de Prestes Maia como prefeito de São Paulo, entre 1938 e 1945. As construções das avenidas de fundo de vale ocorreram e ainda ocorrem por toda a <strong>cidade</strong>, transformando praticamente toda a rede original de drenagem do município em um sistema de galerias subterrâneas. Ao mesmo tempo em que ocorriam as obras de implantação do Plano de Avenidas, também estavam em andamento obras de retificação do rio Tietê. Embora, alguns momentos, tenham sido elaborados projetos de embelezamento e melhoramento para as várzeas desse rio próximas à <strong>cidade</strong>, as intervenções estiveram sempre subordinadas a sua utilização como recurso natural, sobretudo para a produção de energia, como também para o afastamento dos esgotos e para a navegação. A expansão da <strong>cidade</strong> sobre suas várzeas, a partir da década de 1920, redirecionou a atenção do município para o Tietê que passou, então, a ser alvo de diversos projetos, com diversos objetivos. Parece possível afirmar que, por trás das diversas finalidades propostas, sempre esteve a obtenção de terras das várzeas inundáveis para usos urbanos como o objetivo mais importante de todos. De todos os projetos apresentados, destaca-se o realizado pela Comissão de Melhoramentos do Rio Tietê (1924), sob chefia do engenheiro Saturnino de Brito. A proposta de Brito previa a navegabilidade e mantinha certa sinuosidade do rio, eliminado apenas os meandros mais acentuados. Aumentava a seção de vazão e propunha avenidas e parques para as margens. A proposta contemplava também dois grandes lagos na altura da Ponte Grande (Ponte das Bandeiras). Esse projeto também objetivava a obtenção das várzeas de inundação do Rio Tietê para usos urbanos, assim como o efetivamente implantado, chefiado por Ulhoa Cintra. Em comparação ao de Saturnino de Brito, o projeto de Ulhoa Cintra diminuiu consideravelmente a área destinada a acomodação das águas desse rio. Essas obras de retificação se iniciaram em 1937 e se estenderam até 1967. “Na década de 1960 ampliava-se a percepção de que os problemas de inundação tinham como agravante o crescimento urbano e de que a solução deveria ser pensada em um novo âmbito, de toda a área de drenagem do Tietê à montante de Parnaíba, pois apesar de 85% dos trabalhos de retificação no Tietê estarem concluídos à época, não se observava uma diminuição do problema. Assim, em 1963, estes trabalhos, até então a cargo da Prefeitura Municipal de São Paulo, que os administrava diretamente e com recursos próprios, passaram a ser de competência do Departamento de Águas e Energia Elétrica, o DAEE, que como autarquia estadual poderia receber recursos da União, do Estado e dos municípios envolvidos para a consecução das obras nos rios e nas várzeas paulistanas” 6 . A partir da década de 1970, com o crescimento exponencial da mancha urbana, o impacto da urbanização na drenagem se exacerbou, e se intensificaram também as demandas por novos espaços, os espaços dos rios e de suas várzeas. As obras de tamponamento dos rios e córregos proliferaram, distanciaram-se dos planos gerais e tornaram-se simples programas de obras, atreladas às obras de saneamento. Foi a partir dessa década que os problemas de drenagem atingiram maiores dimensões, gerando também a necessidade de intervenções em inúmeros córregos do município, visando o saneamento dos vales em urbanização. No quarto período, a partir da década de 1980, o recrudesci- mento de ocorrências de enchentes evidenciou a insuficiência do modelo tecnológico adotado até então. A década de 1990 é marcada pela proposição de soluções alternativas em drenagem urbana, culminando com a elaboração do Plano Diretor de Macro-drenagem da Bacia do Alto Tietê em 1998 (que será melhor caracterizado no capítulo 4). Algumas novas idéias foram colocadas em prática, mas, de maneira geral, parece que continuamos executando canalizações tradicionais de nossos rios e córregos. 6 TRAVASSOS, 2004. Página 37.
A várzea original e o projeto de melhoramentos do Tietê entre Osasco e Penha. fonte: MATTES, 2001. 13