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Marcus Tulius Franco Morais O FASCÍNIO DA FILICIDA - PGET ...

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se ajuste mais aos questionamentos da busca do teatro contemporâneo<br />

do espectador ativo (versus passivo) na esteira das pesquisas de Bertolt<br />

Brecht e Antonin Artaud. Em Jahnn, a tríplice condição da mulher, de<br />

mãe e de pessoa negra de Medeia se eleva à posição de luta não pelo<br />

leito ou pelo orgulho ultrajado, mas pela voz que pode finalmente ser<br />

ouvida pelo traidor Jasão. Além disso, Jahnn faz falar os filhos. Se em<br />

Eurípedes eles são quase mudos (quando falam, o fazem apenas para<br />

sinalizar quase jornalisticamente ao espectador que estão sendo mortos),<br />

em Jahnn são eles os primeiros a falar e adquirem, quando sua<br />

linguagem é assim libertada, condição ativa e política no drama. Os<br />

filhos, por fim, se fazem ouvir um ao outro e pelos demais personagens,<br />

mesmo que a ação dominante do texto em nada seja modificada por sua<br />

fala. Parece ser essa exatamente uma das qualidades do texto de Jahnn,<br />

para além da propalada estética do excedente de realismo expressionista<br />

do Fleisch und Blut enfática e violentamente atirados na cara do leitor: a<br />

ação originalmente grega se mantém, mas aquilo que faz agir muda<br />

radicalmente de sentido ao absolver a rejeição do sujeito moderno a um<br />

mundo que, de resto, não parece apresentar saída e nem mesmo consolo<br />

algum, desde a Antiguidade; portanto, Medeia segue falando como no<br />

original de Eurípedes, mas recebe de Jahnn uma inteligência distinta que<br />

a coloca em espaço equilibrado de debate com Jasão. Isso, para além da<br />

recepção feminista, é o que parece outorgar real cidadania à estrangeira<br />

africana na percepção do leitor contemporâneo. Refletir sobre isso me<br />

parece apropriado às especificidades da Medeia expressionista de Jahnn<br />

em sua solicitação de uma experiência cultural e de um teatro de cultura.<br />

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