Marcus Tulius Franco Morais O FASCÍNIO DA FILICIDA - PGET ...
Marcus Tulius Franco Morais O FASCÍNIO DA FILICIDA - PGET ...
Marcus Tulius Franco Morais O FASCÍNIO DA FILICIDA - PGET ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
essas palavras.” (“Schweig Du! Das war mein Sang.”) (Jahnn, 1988:<br />
832). Estas palavras indicam um sinal para seu plano de vingança contra<br />
Jasão, lembrando que ela não procura o culto na companhia do coro.<br />
Medeia não se encontra presente no palco durante os três hinos do coro<br />
precedentes.<br />
Nos relatos que vão acontecendo com o desenvolvimento da<br />
trama, os atos de violência (o esquartejamento do irmão de Medeia, os<br />
olhos arrancados do mensageiro, o assassinato do rei Creonte e sua filha,<br />
o filicídio) são descritos detalhadamente. Jasão fala de um “quadro”<br />
(“Bild”) (Jahnn, 1988: 837); a ama, de um “espetáculo horrível”<br />
(grässlich[em] Schaustück) (Jahnn, 1988: 841). Em Medeia, os horrores<br />
não se dão na concretização cênica; a violência é transformada em<br />
descrições dessas imagens, como mencionamos anteriormente,<br />
interrompendo, de certa forma, a concretude e continuidade dessas ações<br />
e gestos.<br />
Como na tragédia grega, o coro está presente durante toda a peça;<br />
no entanto, aqui não são mulheres de Corinto que entram em cena, são<br />
escravos que, como Medeia, são provenientes da África negra,<br />
formando um contraste marcante com a atuação dos gregos em primeiro<br />
plano, não só pela cor de sua pele escura. O coro não tem a função de<br />
comentar, sua função é a de celebrar e louvar, na primeira e segunda<br />
partes do drama, com três hinos ou orações ao deus do sol Hélio, de cuja<br />
genealogia Medeia é proveniente. “Na obra, há orações proferidas por<br />
um homem com porte de sacerdote [o mensageiro] que vão sendo<br />
repetidas por um coro. Elas nos fazem lembrar que, apesar do aparente<br />
abandono de nossas vidas e experiências, emoções e gestos, não é só. O<br />
grito dos atormentados deveria ser uma alegoria para nossas muitas<br />
horas de tristeza.” 84 Para a tradução desses hinos, opto pelo critério da<br />
invariância a nível formal e do conteúdo informativo, preservando o<br />
caráter sequencial e enumerativo, através da operação da tradução da<br />
letra, levando em conta a mesma concisão e economia de palavras<br />
84<br />
“Es stehen Gebete in dem Werk, die ein priesterhafter Mann spricht, und die<br />
ein Chor wiederholt. Sie erinnern daran, dass trotz scheinbarer Verlassenheit<br />
unser Erleben und Handeln, innen und aussen, nicht allein ist. Das Geschrei der<br />
Gequälten sollte ein starkes Gleichnis für viele unserer wehmütigen Stunden<br />
sein.” In: Jahnn, Hans Henny. Werke in Einzelbänden, Hamburger Ausgabe,<br />
Dramen I. 1917-1929: Dramen, dramatische Versuche, Fragmente (Fragmente<br />
einer Offensive). Öffentlichkeit – Theater – Dramatiker. Ulrich Bitz (Hrsg.).<br />
Hamburg: Hoffmann und Campe, 1988, p. 902.<br />
87