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Marcus Tulius Franco Morais O FASCÍNIO DA FILICIDA - PGET ...

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isso rima, e quem ama de todo coração<br />

pode muito bem confundir uma coisa com a outra.<br />

O filho caçula também faz analogia à relação entre as obras,<br />

quando diz: Eu deveria te odiar com dentes. (Dich hassen müsst ich mit<br />

meinen Zähnen) (Jahnn, 1988: 773) 81 . Há uma expressão em português<br />

que se adequa ao contexto e tem um sentido equivalente à expressão<br />

alemã. O primeiro registro da expressão “com unhas e dentes” (com um<br />

empenho enorme) está no texto para teatro Auto da barca do purgatório,<br />

escrito em 1518 pelo dramaturgo Gil Vicente. Nesse sentido, propomos<br />

como tradução “Eu deveria te odiar com unhas e dentes.”<br />

No final, Jahnn toma de empréstimo a didascália da vigésima<br />

quarta cena de Penthesilea, onde o cadáver de Aquiles jaz coberto com<br />

um tapete vermelho (Die Leiche des Achills, mit einem roten Teppich<br />

bedeckt) 82 . Na tragédia de Jahnn, os filhos de Jasão e Medeia estão<br />

igualmente cobertos com um tapete: Ela [Medeia] sai, retorna pouco<br />

depois ofegante com os cadáveres dos filhos cobertos com um tapete.<br />

(Ab [Medeia], erscheint bald wieder, keuchend, mit den Leichen der<br />

Kinder, die ein Teppich bedeckt.) (Jahnn, 1988: 848)<br />

Tanto em Medeia, de Jahnn, como em Penthesilea, de Kleist,<br />

surge uma mulher, cujo desejo, despertado pelo olhar, motiva um<br />

conflito trágico. Embora os textos tenham sido escritos por dois homens,<br />

a figura feminina compõe o foco do acontecimento: ela é a figura do<br />

título; a ação é experienciada sob sua perspectiva, o leitor conhece seu<br />

universo particular e social; de seu adversário, muito pouco. Os<br />

acontecimentos, na obra de Jahnn, podem ser observados como<br />

consequência do deslumbramento (“Blendung”) de Medeia. Esse<br />

momento é deslocado – do mesmo modo que os homicídios – para fora<br />

dos acontecimentos. Ele é apresentado apenas indiretamente através de<br />

relatos, da teicoscopia 83 e das descrições (écfrases) dos mensageiros.<br />

81<br />

Essa réplica não aparece na versão de Medeia, de 1924 (Cf. p. 590, onde<br />

lemos “[...] Dich hassen müsst ich. Ich lieb dich.”), o que indica que Jahnn leu<br />

Penthesilea, de Kleist, possivelmente entre 1924 e 1926, enquanto reescrevia a<br />

versão em prosa de Medeia.<br />

82<br />

Kleist, Heinrich von. Penthesilea. In: Sämtliche Werke. Berlin . Darmstadt .<br />

Wien: Deutsche Buch-Gemeinschaft, 1952, p. 494.<br />

83<br />

Teicoscopia é uma expressão grega que significa “visão através da parede”.<br />

Segundo a definição de Patrice Pavis, é utilizada no teatro “como um recurso<br />

85

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