Marcus Tulius Franco Morais O FASCÍNIO DA FILICIDA - PGET ...
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As palavras do rapazinho refletem um sentimento de desilusão e<br />
melancolia. Obedecendo à norma culta do português, evito a inversão de<br />
regras semânticas, sem perder o conteúdo informativo.<br />
O caçula atenta para a falta de sensibilidade do irmão, chamandoo<br />
de “desamoroso, insensível” (Liebloser) (Jahnn, 1988: 772), “traidor”<br />
(Verräter) (Jahnn, 1988: 772), afirmando que seu irmão deixou de sê-lo:<br />
“gewesener Bruder” (Jahnn, 1988: 772). Caracterizando o irmão caçula,<br />
o primogênito emprega adjetivos tal como “obstinado, teimoso”<br />
(“beharrlich”) (Jahnn, 1988: 775).<br />
DER ÄLTERE KNABE: Kleiner Tor,<br />
willst du mich hören und nicht weinen? (Jahnn, 1988: 768)<br />
O IRMÃO MAIS VELHO: Pequeno louco,<br />
podes parar de chorar e me escutar?<br />
O substantivo “Tor” (tolo, doido, louco), precedido do adjetivo<br />
“klein”, remete, de fato, para a ideia de um tratamento afetivo, fraterno;<br />
nesse sentido, propomos como possíveis traduções “pequeno louco” ou<br />
“maluquinho”.<br />
Aqui, em Medeia, a ação se dá no momento em que os filhos<br />
beiram a idade de se tornarem adultos. Como já mencionamos<br />
anteriormente, na sequência das réplicas iniciais, Jahnn descreve os<br />
acontecimentos apresentando o laço afetivo dos irmãos; posteriormente,<br />
o de Medeia e seu irmão (Jahnn, 1988, 826-28). Jahnn busca histórias<br />
nos tempos antigos; aqui, nas narrativas sobre os gêmeos Ísis e Osíris,<br />
da mitologia egípcia, os quais, segundo o mito, eram apaixonados<br />
quando ainda se encontravam no ventre materno. Sobre o tema, Jahnn<br />
tece o seguinte comentário:<br />
Conhecemos essa história da lenda de Ísis e<br />
Osiris, o mito das divindades eleitas,<br />
incompreensível para a maioria dos europeus, até<br />
mesmo para os gregos. O deus e a deusa eram<br />
gêmeos que, no colo materno, já se relacionavam.<br />
(Jahnn, 1988) 56<br />
56<br />
Jahnn: “Die Sagen um Medea und ihr Leben”. Jahnn/Dramen I, p. 935: Das<br />
Motiv ist uns deutlicher bekannt aus der Isis und Osiris-Legende, jenem<br />
vorerwählten Göttermythos, der den meisten Europäern, ja selbst jenen<br />
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