Marcus Tulius Franco Morais O FASCÍNIO DA FILICIDA - PGET ...
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Mensch und Tier), que só foi publicado depois da Segunda Guerra<br />
Mundial, em 1948, marco inicial dos dramas tardios de Jahnn. Em 1953,<br />
é a vez de Thomas Chatterton, um conflito entre a soberania artística e a<br />
repressão social homogeneizante. Um jovem poeta, que doravante pode<br />
publicar seus escritos como simulação de documentos históricos e sob a<br />
perda de sua autoria, desgasta-se entre a pobreza, a política e os<br />
negócios jornalísticos. Chatterton vê sua fantasia transgressora, sua<br />
linguagem e, por fim, seus escritos, tão conspurcados e vampirizados<br />
pelas leis do mercado, que a ele, vazio e espoliado, resta-lhe unicamente<br />
o caminho do suicídio.<br />
Em seu último drama, O arco-íris empoeirado ou As ruínas da<br />
consciência (Der staubige Regenbogen / Die Trümmer des Gewissens,<br />
1961), que estava praticamente concluído quando Jahnn morreu em<br />
1959, traz uma virada no campo da experiência. O arco-íris empoeirado<br />
serve para marcar a soberba da razão instrumental (energia atômica,<br />
genética). O drama aborda a perversão dos experimentos científicos,<br />
utilizando animais como cobaias para testes com o uso de radioatividade<br />
e energia atômica. A essa altura, Jahnn vê sua própria estética<br />
germinando num solo de ideologia autodestrutiva, racista e militarizada.<br />
Em 1957, Jahnn publica suas Teses contra o armamento atômico<br />
(Thesen gegen Atomrüstung). No ano seguinte, o pacifista faz uma<br />
palestra na praça da prefeitura de Hamburgo, por ocasião de uma<br />
manifestação com a palavra de ordem: Combata a morte atômica<br />
(Kampf dem Atomtod), com a presença de 150.000 participantes.<br />
Participa ativamente do congresso estudantil na Universidade Livre de<br />
Berlim (FU-Berlin) contra o armamento atômico. O título da palestra<br />
feita por Jahnn soa como uma profecia em relação aos dias de hoje.<br />
O projeto literário de Hans Henny Jahnn traz uma esperança<br />
crítica. Sua obra é uma tentativa de refletir e também formular conceitos<br />
novos que acompanhem os problemas sociais e políticos, assaltando<br />
com seus questionamentos o passo hesitante da crítica, em detrimento<br />
dos julgamentos do senso comum. Com seu protesto e contravenção, a<br />
obra de Hans Henny Jahnn é revolucionária e evolucionária;<br />
revolucionária contra as normas caducas, e evolucionária porque aponta<br />
um conteúdo de renovação humana.<br />
O destino de sua obra é um dos exemplos mais firmes de<br />
resistência contra o poder massacrante e sufocante, e serve também para<br />
ilustrar a forma de inserção dos escritores no bojo de um poder<br />
alienador.<br />
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