Marcus Tulius Franco Morais O FASCÍNIO DA FILICIDA - PGET ...
Marcus Tulius Franco Morais O FASCÍNIO DA FILICIDA - PGET ...
Marcus Tulius Franco Morais O FASCÍNIO DA FILICIDA - PGET ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
perpassado pelas forças que a regem. Assim, o homem não está acima<br />
dos animais, apenas se arrojou uma pretensa superioridade explorando<br />
as outras criaturas. Sua obra apresenta uma inabalável fraternidade no<br />
que toca aos humilhados e às vítimas, uma complacência ampla e<br />
generosa. Ele é imbuído de uma fraternidade real, de um encontro com<br />
as outras criaturas, não de uma atitude condescendente. A escritura de<br />
Hans Henny Jahnn reflete uma visão de um universo harmônico, em que<br />
o ser humano é parte de uma cadeia infinita conectada ao passado,<br />
através do legado dos nossos ancestrais e ao futuro, por meio dos<br />
processos cíclicos naturais.<br />
O teatro de Jahnn surgiu na primeira década do século XX, numa<br />
época que trouxe consigo muitos traços revolucionários. A guerra, com<br />
todas as suas consequências, deixou marcas profundas em todos os<br />
jovens escritores do começo deste século. A terra órfã transtornada e<br />
humilhada gerou uma República impetuosa e expressiva, que viu nascer<br />
os sonhos de homens e mulheres, lutando para lançar as bases de uma<br />
nova ordem de liberdade. Entre o Front e o exílio, muitos perderam suas<br />
vidas. Jahnn preferiu o desterro; outros, a morte, o suicídio. 54<br />
A publicação da primeira obra dramática de Hans Henny Jahnn,<br />
Pastor Ephraim Magnus, datada de 1919, suscitou na Alemanha uma<br />
verdadeira polêmica. O público ficou estupefato, ainda mais quando<br />
Bertolt Brecht e Arnold Bronnen levaram o Pastor para o palco<br />
berlinense em 1923, escandalizando o público e a imprensa<br />
especializada da época. A crítica reagiu indignada. Julius Bab, crítico de<br />
teatro e dramaturgo, ficou aturdido e perplexo com a obra. O crítico de<br />
54<br />
Ernst Toller apresentou-se como voluntário de guerra, tornou-se recruta,<br />
soldado no Front. De maneira semelhante reagiu a maioria dos escritores e<br />
artistas de sua geração. Escritores mais velhos mostraram-se também<br />
entusiasmados: Richard Dehmel, com seus cinquenta e um anos de idade,<br />
apresentou-se no Front; Hermann Bahr, Rudolf Borchardt, Friedrich Gundolf,<br />
Max Halbe, escreveram ensaios e artigos patrióticos; Hugo von Hofmannsthal,<br />
em razão de suas atividades jornalísticas sobre a guerra, foi liberado do serviço<br />
militar, e descobriu um sentido totalmente novo de viver: welches beständige<br />
,Näher, mein Gott, zu Dir!; welche unbewußte Heilung und Wiedergeburt.<br />
Optando pelas armas, a Intelligentsia literária, artística e científica dos países<br />
beligerantes, foi acompanhada por expoentes do lado alemão, principalmente<br />
Gerhart Hauptmann e Thomas Mann. Frank Wedekind, intragável para a<br />
sociedade dos Guilhermes, perseguido por sua censura, expressou publicamente<br />
sua convicção sobre a superioridade da Alemanha.<br />
49