Marcus Tulius Franco Morais O FASCÍNIO DA FILICIDA - PGET ...
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se vai conseguir alterar essas fórmulas de<br />
percepção que estão dadas. 49<br />
Nessa busca política, Jahnn preferiu, desde cedo, se afastar das<br />
filas de recrutamento. No início da Primeira Guerra Mundial, o jovem<br />
foge para a Noruega, empreendendo inúmeras mudanças de residência,<br />
driblando a perseguição das comissões de alistamento para as frentes de<br />
batalha.<br />
Fugindo do tipo de justiça, contra a qual se insurgiu durante toda<br />
a vida, Jahnn diagnosticou o dilema básico do teatro, de que o mesmo<br />
deveria oferecer uma experiência cultural: “Todo poeta escreve [ele pelo<br />
menos deveria imaginar fazê-lo] para um teatro de cultura.” 50 Com seu<br />
teatro, Jahnn foge das regras de efeito ou de finalidade. Para ele, o teatro<br />
é representação e sensibilização de uma unidade abrangente. Em sua<br />
obra, o teatro é serviço de cultura. A exigência de Jahnn pelo “teatro de<br />
cultura” 51 é tirá-lo de seu estado cataléptico, ou da morte, ou seja, um<br />
teatro adaptado aos desejos primordiais do público e aos “seus<br />
sentimentos pequeno-burgueses, [...] já bastante conhecidos” 52 . O teatro<br />
para Jahnn é “palco de discussão” 53 .<br />
O dramaturgo encontra uma situação teatral singular, cuja<br />
qualidade é a comunicação de todos os participantes, ou seja, não um<br />
teatro frontal, mas um tablado como lugar da realidade, onde o texto<br />
penetre nos espectadores, um processo que se aproxima de uma união de<br />
posicionamento político de escritura e teatro integrado. Em sua obra, há<br />
uma sensível nostalgia por conta da organização humana que, para ele, é<br />
uma máquina que produz manipulação, vício, sofrimento e injustiça,<br />
sobretudo contra a sorte das criaturas. Jahnn foi um grande defensor dos<br />
animais, das paisagens, dos elementos naturais, que são insubstituíveis.<br />
Para ele o mundo não é apenas a sociedade humana, é a natureza,<br />
o universo. O homem faz parte da natureza. Ele é, como todos os seres,<br />
49 Trecho de depoimento publicado na revista Sala Preta n. 3, 2003, e reeditado<br />
em Teatro Pós-dramático e Teatro Político, J. Guinsburg; S. Fernandes (orgs.),<br />
O Pós-dramático, São Paulo: Perspectiva, 2009.<br />
50 Jahnn, apud: Lehmann, Hans-Thies. Escritura política no texto teatral. Trad.<br />
de Werner S. Rothschild e Priscila Nascimento. São Paulo: Perspectiva, 2009, p.<br />
181-2.<br />
51 Jahnn, Hans Henny. Werke und Tagebücher, v. 6, p. 896.<br />
52 Idem.<br />
53 Idem, p. 915.<br />
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