Marcus Tulius Franco Morais O FASCÍNIO DA FILICIDA - PGET ...
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o que me liga a este lugar e me arrasta para a sepultura.<br />
A ti, a meus próprios filhos, a casa,<br />
a todos os seres vivos que se<br />
entregam à volúpia. Se tu não me amas,<br />
se amas unicamente teus filhos, e não lhes desejas<br />
morte prematura, pensa em mim!<br />
Viver sem jamais te ver,<br />
eu não posso. Nem mesmo meus filhos<br />
são minha propriedade e alegria.<br />
Então, quem me ama?<br />
JASÃO<br />
Espera-me<br />
esta noite!<br />
MEDEIA<br />
Tenho vertigem. Ama!<br />
Minha última estrela ainda não se apagou. E meu<br />
pressentimento me enganou, todos os sinais nefastos estavam enganados.<br />
Os deuses zombaram gravemente de mim. Jasão<br />
me prometeu vir. Vem, acompanha-me de volta,<br />
pois, de felicidade, meus olhos choram.<br />
AMA<br />
Então teu furor era sem fundamento.<br />
Um temor infundado é pior que uma infelicidade.<br />
A incerteza pior do que a dor.<br />
O pressentimento, que os deuses enviam,<br />
a pior maldição, que atinge nossa alma.<br />
Medeia sai.<br />
JASÃO<br />
Espera mais um pouco, ama, e responde-me.<br />
Desde há uma meia-lua Medeia foge da luz do dia,<br />
tranca-se em seus aposentos.<br />
Ela não vê a terra e, à noite, mal respira o ar fresco,<br />
que se banha na luz das estrelas.<br />
Um fogo fumega em sua sala,<br />
diante do qual ela se acocora e lhe consagra<br />
os desejos que, obscurecidos, medram ainda nela.<br />
O que ela vê é a imagem desse mundo<br />
oscilante e carbonizado.<br />
Pouco amável com todos<br />
que se aproximam dela. Não saúda,<br />
não responde nem mesmo as perguntas prementes.<br />
O alimento e as bebidas lhe desagradam.<br />
Ela menospreza o filho mais velho;<br />
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