novo presidente, velha miséria - Centro de Documentação e ...
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Pág.4 Dezembro/89 - Janeiro/90 Jornal Maioria Falante<br />
NÃCiSEtem com precisão<br />
o ano em que os primeiros<br />
prisioneiros <strong>de</strong> guerra afri-<br />
canos chegaram ao Brasil<br />
(1531/1542), mas em fins<br />
do século XVI, numa ação<br />
espetacular, um grupo <strong>de</strong><br />
negros se rebelou numa fa-<br />
zenda <strong>de</strong> engenho em Per-<br />
nambuco, dominando os<br />
escravocratas e seus lacaios.<br />
SABIAM CONTUDO, 9<br />
exemplo <strong>de</strong> acontecimentos<br />
anteriores, que se ficassem<br />
na fazenda, ou nos seus ar-<br />
redores, seriam violenta-<br />
mente reprimidos pelos cri-<br />
minosos brancos, inclusive<br />
com torturas políticas, co-<br />
mo as que aconteciam com<br />
o pessoal da esquerda du-<br />
rante a ditadura e que<br />
ainda hoje acontece com os<br />
negros e com os pobres<br />
que são aprisionados pelo<br />
po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> polícia do sis-<br />
tema dos ricos vigente no<br />
país. Diante disto, a úni-<br />
ca possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> não re-<br />
tornarem ao trabalho es-<br />
cravo era a <strong>de</strong> evadirem-se<br />
para as regiões distantesdos<br />
povoados. Rumaram pois,<br />
em direção a selva bravia,<br />
sem saberem o que o <strong>de</strong>s-<br />
conhecido po<strong>de</strong>ria ofere-<br />
cer, mas é certo que eram<br />
movidos por um sentido <strong>de</strong><br />
liberda<strong>de</strong> que jamais aban-<br />
donariam.<br />
DELINEAVA-SE então<br />
os Quilombos dos Palmares,<br />
que viria a ser o mais longo<br />
e belo confronto <strong>de</strong> resis-<br />
tência do povo contra a fú-<br />
ria assassina do sistema -dos<br />
ricos, da sua elite e do seu<br />
Estado. Quilombos dos Pal-<br />
mares é tão importante para<br />
o povo brasileiro que "eles"<br />
escon<strong>de</strong>ram esta página da<br />
História até mesmo quando,<br />
ainda em plena escravidão.<br />
<strong>de</strong>clararam o Brasil in<strong>de</strong>pen-<br />
<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Portugal.<br />
O GOSTOSO <strong>de</strong>ssa His-<br />
tória é observar que com<br />
menos <strong>de</strong> 100 anos sob o<br />
domínio avassalador dos in-<br />
vasores, criminosos brancos,<br />
os negros africanos funda-<br />
ram a República dos Pal-<br />
mares, caracterizada pela<br />
proprieda<strong>de</strong> coletiva, .on<strong>de</strong><br />
habitavam com direitos<br />
iguais, inclusive <strong>de</strong> voto,<br />
negros, índios e brancos<br />
pobres.<br />
O SURGIMENTO dos<br />
Quilombos dos Palmares<br />
muito mas que um con-<br />
fronto com o Estado Co-<br />
lonial e com o Império,<br />
foi sob certo aspecto, uma<br />
antecipação do perfil cul-<br />
tural da nação brasileira,<br />
perfil este até hoje negado<br />
pelas elites, pela burguesia<br />
e pela Igreja, que são os<br />
principais "ingredientes" do<br />
sistema dos ricos adminis-<br />
SE LIGUE...<br />
SindícQte dos Publicitários<br />
do Município do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
BASE TERRITORIAL NOS ESTADOS 00 RIO DE JANEIRO E ESPÍRITO SANTO<br />
*y Betn Mu, 216 gr 801 TH : 2(24411<br />
DELEGACIA EM VITÓRIAES - CAIXA POSTAL 1848 - CEP. 29 000<br />
trado pelos criminosos bran-<br />
cos.<br />
REPÚBLICA DOS PAL-<br />
MARES, organizada como<br />
Estado habitado por povo<br />
livre, durou pelo menos um<br />
século. Segundo os poucos<br />
registros e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da<br />
interpretação dos historia-<br />
dores, alguns traços da di-<br />
nâmica da nação palmarina<br />
são os seguintes: existia<br />
um Conselho que adminis-<br />
trava o Estado obe<strong>de</strong>cendo<br />
as <strong>de</strong>cisões tomadas por vo-<br />
to, através <strong>de</strong> assembléia ge-<br />
ral; as terras para cultivo<br />
eram distribuídas segundo o<br />
tamanho <strong>de</strong> cada família;<br />
como existiam poucas mu-<br />
lheres, cada família, nos<br />
primeiros anos da Repú-<br />
blica, era composta por uma<br />
mulher que tinha mais <strong>de</strong><br />
um companheiro (até cinco<br />
homens), pelos quais ela res-<br />
pondia perante a socieda<strong>de</strong>;<br />
parte da produção das famí-<br />
lias era doada, para ser uti-<br />
lizada <strong>de</strong> forma comum,<br />
nos casos <strong>de</strong> catástrofe<br />
climática, ou <strong>de</strong> agressão<br />
pelos criminosos brancos,<br />
que arregimentavam bandi-<br />
dos negros e índios.<br />
A HISTÓRIA da liber-<br />
tação do povo brasileiro<br />
é uma trajetória que cons-<br />
trói heróis moldados sob a<br />
hipocrisia dos traidores. Foi<br />
assim na Revolta dos Males,<br />
foi assim com Tira<strong>de</strong>ntes,<br />
foi assim na Proclamação<br />
da República quando os<br />
escravocratas que per<strong>de</strong>ram<br />
seus escravos resolveram<br />
<strong>de</strong>rrubar o Império, quando<br />
perceberam que não rece-<br />
beriam in<strong>de</strong>nizações pelos<br />
negros que a lei libertava<br />
e ao mesmo tempo joga-<br />
va-os na marginalida<strong>de</strong>. Os<br />
traidores são execráveis nas<br />
suas imensas e sobrenatu-<br />
rais covardias, pois conspi-<br />
ram e apunhalam pelas cos-<br />
tas. Se aproveitam da sim-<br />
plicida<strong>de</strong> inoperante do po-<br />
vo para construir imensos<br />
e perniciosos canceres, que<br />
se propagam na forma <strong>de</strong><br />
organizações corporativis-<br />
tas, no culto a personali-<br />
da<strong>de</strong>, na ganância e na dis-<br />
puta como elementos fun-<br />
damentais do caráter.<br />
A TRAIÇÃO é uma,<br />
manifestação individual do<br />
medo, quando o sujeito não<br />
consegue respon<strong>de</strong>r as exi-<br />
gências e aos rigores ca vida.<br />
Agora imagine! Você lá em<br />
Palmares, vivendo num da-<br />
queles quilombos da Serra<br />
da Barriga, vai que chega<br />
um safado fingindo que<br />
fugiu da opressão dos cri-<br />
minosos brancos, pedindo<br />
acolhida. Recebe terra,<br />
direitos, família, trabalho e<br />
ganhos. Tudo que qual-<br />
quer brasileiro <strong>de</strong> hoje gos-<br />
taria <strong>de</strong> receber. Passados<br />
três meses ele foge para<br />
consumar a sua traição, en-<br />
tregando <strong>de</strong> mão beijada a<br />
sorte <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> vida.<br />
Ainda bem que em Palma-<br />
res foram poucos os safa-<br />
dos assim. Digo isto por-<br />
que se fossem muitos o<br />
Sistema Social Palmares não<br />
teria resistido durante 100<br />
anos, pois aquelas pessoas<br />
que lá viveram, só tinham<br />
o corpo como argumento e<br />
a natureza como coberta,<br />
o resto foi invenção da li-<br />
berda<strong>de</strong>.<br />
HOJE ESTÁ tudo mo<strong>de</strong>r-<br />
no. O criminoso branco<br />
esta legalizado pelo sistema<br />
dos ricos. Dizem que não<br />
o<strong>de</strong>iam o negro e o índio<br />
e o pobre, mas só fazem<br />
fome, doenças, <strong>miséria</strong>, po-<br />
lícias e leis. Os Quilombos<br />
dos Palmares morreram, se<br />
<strong>de</strong>smaterializaram, mas a<br />
utopia permanece chama<br />
alimentando os que lutam.<br />
E preciso falar sempre sobre<br />
Palmares para os seus ami-<br />
gos, para os seus filhos.<br />
Diga todos os dias que Pal-<br />
mares é a senha para o no-<br />
vo mundo. Invente histó-<br />
rias e heróis, invente Zum-<br />
bis, milhões <strong>de</strong> Zumbis,<br />
pois isto significa construir<br />
com os mesmos motivos<br />
em todos os lugares.