novo presidente, velha miséria - Centro de Documentação e ...

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Pág.2 Dczembro/89 - Janeiro/90 Jornal Maioria Falante Demôniocracia Capitalista Em fevereiro de 1987. o Jornal * Maioria Falante " publicava o "Truque da Constituinte". Uma critica ao euforismo da esquerda, diante das articulações reformistas com que o Estado brasileiro, de tempo em tempo, procura rever as disparidades do sistema de sustentação das oligarquias. Como se sabe, a Constituinte ' tomou-se um ganho só no varejo, para os povos marginalizados pelos dominantes. 0 MAIORIA FALANTE, preconizando o ■ futuro da onda Constituinte, alertou sobre este fato. Mais tarde, o JORNAL DO BRASIL, desinformava a opinião pública, dando uma barrigada, ao enunciar a morte do operário João Lopes de Souza, o "Santa" primeiro comunista negro a chegar à presidência de um estado brasileiro, em 1935, no Rio Grande do Norte. É bom esclarecer que presidente era o termo dado ao que atualmente conhecemos qFAUMMllE como governador. Por isso, o JMFfez publicar em maio/ junho de 1987, uma resposta ao JB, fazendo uma reportagem com "Santa", vivo e lúcido - apesar dos seus 100 anos, naquela ocasião. Era o^Maioria Falante"se impondo como imprensa bem informada, em um furo histórico. Infelizmente, o velho militante morreu logo depois. Mais recentemente, na edição de outubro-novembro de 1989, dois exilados chilenos apontavam no JMF que as eleições de dezembro no Chile, seriam ganhas por Patrício Aylwin. Como se sabe agora, de fato. Patrício Aylwin foi o grande vencedor, após 16 anos de Pinochet. Esta ousadia do JMF é coerente com o novo jornalismo, implantado pelo JMF, engajado na cultura ' paralela e com a seriedade dos jornalistas e dos militantes do movimento negro e social que constituem o respaldo do jomafMaioria Falante"!à nível nacional. E Diretor Responsável: Bebei Nepomuceno Conselho Editorial: lúlia Theodoro, Éle Semog e Togo lomba. Coordenação de Textos e Edição: Togo loruba, Ele Semog e Beth SIíVü Santos. Cúkhoradores: Uelinton Farias Alves, Valdete Lima, Ligia 0abul, Luís Carlos Vieira, Luiz Carlos de Almeida, Nely Cabral, Suely Fontes, Maitc Barros, Silvania de Oliveira, José Roberto Lopes de Almeida, João Morais e Jorge Barros (RJ); Juan Chalimin, Abílio IV -KJ, Arnaldo Xavier, Lilia Ladislau, Miriam Braz (SP); Dora Ikriuuw de Lima (MT); Sônia Aparecida Pereira, Agostinho Benedito (PRj: Vera Dayse Barcellos, Paulo Ricardo Moraes, íone* Lopi", Júlio César Camisolão (RS); Walmir Trindade (PB); ' laria das Dores Silva (MA). Cuncspondentes: Mônica Russo, Miki Willis (EUA); Adriano Botelho de Vasconcelos (Portugal). Administração: Júüa Theodoro. Secretária: Mareia Amâncio (Aicram). Circulação: J. Ayrton Martins Distribuição: Renato Moreira Santos Fotografia: Zé Roberto Ilustração: Togo loruba, Zé Roberto, Manei Revisão; Valdete lima, Beth Silva Santos, Éle Semog Produção: José Ayrton Martins Diagramaçêo e Arte-Final: Miro. Mônica Zager e Wilson Cravo Composição: Mário Jorge Santos e Edson Alcântara Impressão: Tribuna da Imprensa. MAIORIA EDUCAÇÃO: Eli Gomes, Azoilda Louretto da Trindade Maria José Lopes da Silva e Eliane Souza (Coordenação). Agências: AGEN e ANGOP Apoio: Coordenadoria Ecumênica de Serviços (CESE), Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP), Núcleo de Estudos do Negro (NEM), Movimento Quilombista/RS e Comitê Contra a Discriminação Racial e Social (RACISO). As matérias assinadas são de inteira responsabilidade dos autores. Endereço: Rua da Lapa, 200, Sala 808 - LAPA - Rio de Janeiro/RJ BRASIL-CEP 20.021 -Telefone: (021) 252-2302 é por esta orientação jornalística que tem-se podido publicar com isenção erfanguarda, a cosmovisão da maioria. A conseqüência do trabalho desenvolvido, tem produzido a credibilidade junto ao movimento organizado, conquistando-o e auto-fortalecendo-se como um instrumento ideológico para as transformações reclamadas pelos segmentos politizados da periferia do poder. E é, neste exato momento, quando a direita recauchutada é eleita, resultando no aumento de poderio dos oligopólios e na centraalização dos monopólios de Comunicações, que ganha em importância política e ideológico, o papel social do Jornal "Maioria Falante"tanto no contexto das reivindicações, como também para mhimizar a lavagem cerebral que os filhotes da ditadura, com certeza, preparam com suas garras de demôniocracia. Convite ■"s A Câmara Municipal de Curitiba, Capital do Estado do Paraná, tem a honra de conTÍdá-lo(a) e sua Exce- lentíssima Família, para a Sessão Solene em que será outorgado o Título de "CIDADE IRMÃ DE CURITIBA Ã CIDADE DE SANTA CRUZ DE LA SIERRA - BOLIVIA, a ser realizada no dia 11 de outubro, às 20h30min, no plenário do Palácio Rio Branco - Rua Barão do Rio Branco, S/N? - Centro. Curitiba, outubro de 1989 (a) Jorge Bernardi — Presidente FATO É FATO 0 Centro Cultural Cândido Men- des, do Rio de Janeiro, promo- veu na semana de 21 a 26 de novembro a exposição de foto- grafias 0 OLHAR NEGRO, com trabalhos em preto e branco dos fotógrafos Vantoen Júnior e Ja- nuário Garcia. Durante o even- to foram realizadas duas mesas redondas cujos temas foram "Fotografia e Estética Negra" e a "Imagem do Negro na Mídia". • Para quem gosta de uma leitura intimista sobre o cotidiano de uma vida simples, é bom dar uma lida no livro EU, SEM RE- TOQUES, da escritora Hizabeth Santos. Quase um diário, a au- tora expõe o seu olhar sobre o mundo e sobre si própria com uma minúcia angustiada, sem contudo perder a certeza de que busca e encontrará um cami- nho. 0 livro pode ser pedido pelo telefone (021) 258-5999. • Está em plena atividade o CEN- TRO INTERNACIONAL DE CI- VILIZAÇÕES BANTU CICEBA. Fundado em 1983 por iniciati- va de dez estados da África CARTAS "Em 1992, estaremos comemo- rando os 500 anos da descoberta da América. Esta data representa para todos os latino-americanos um motivo para, desde já, iniciarmos um programa de interiorizaçao da latinidade, através da constituição de um fórum permanente, com a temática central "AMERICA-LATINA NOS ANOS 90". Deverão participar deste fórum, as entidades que, por sua vocação natural, têm interesses em desenvol- ver atividsdes voltadas à integração econômica, política, educacional e cultural da América Latina. Nos dias 12 e 13 de outubro, foram lançadas as bases para o início da programação que deverá exten- der-se até 1992, em solenidade da qual participaram os Embaixadores latino-americanos e representantes da O £
Jornal Maioria Falante Dezembro/89 Janeiro/90 PALMARES: êxtase da utopia por Éle Semog É HISTÓRICA a resistên- cia do povo brasileiro às pressões sociais e políticas que a classe dos ricos im- põe à nação desde os tem- pos da Colônia até os dias de hoje. Histórica também, é a contínua luta dos negros, que chegaram ao Brasil como prisioneiros de guerra, e foram submetidos ao trabalho escravo por quase quatro séculos seguidos, produzindo o que hoje representa um formidável sistema de riqueza capitalista. SABEMOS QUE os negros trazidos da África eram provenientes de diversas na- ções e viviam sob um leque cultural exuberante, com múltiplos sistemas de orga- nização social, bastante avançados em relação à Eu- ropa, desde as bases de natureza familiar e de inte- gridade espiritual, até os sistemas de produção e mo- delos econômicos. É IMPORTANTE relacio- nar as invasões da África e das Américas com a fa- lência moral e econômica dos europeus, que saiam de uma guerra religiosa que durou mais de 100 anos, culminando com uma peste bulbônica, doença transmitida por ratos, re- sultado da falta de higiene daquele povo, com uma ta- xa de mortalidade de 60% a 100% sobre os contami- nados e que matou milhões e milhões de pessoas. CONDENADOS A su- cumbir, o encontro dos europeus com os povos dos continentes africanos e americanos deveria ser o reen- contro com a vida. Mas como se sabe a miséria de- forma o homem, faz a usu- ra, e os recentes anos de penúria porque passaram os transformara numa gen- te bestial, maligna e per- versa. Tanto isto é verda- de que em todos os lugares do mundo onde o sistema dos brancos chegou, espalhou a morte, as doen- ças, as torturas, a destrui- ção da família e da cultura. .Inclusive no iní- cio deste século existiam lugares públicos na China que o europeu proibia a en- trada de cachorros e de chi- neses... É muita petulância! OS NEGROS, prisioneiros de guerra, subjugados pelo ódio e pelas armas dos criminosos brancos, sempre resistiram de todas as for- mas imagináveis. Queiman- do lavouras, sabotando en- genhos, expropiando ouro, atacando e matando os opressores, até mesmo bus- cando no suicídio a de- monstração extrema de dig- ESTA' SBIW> nidade em relação ao escra- vismo. POR MAIS que estas ações não fossem suficien- tes para acabar com a es- cravidão e não caracterizas- sem um procedimento pla- nejado por parte dos prisioneiros de guerra escravi- zados, sem dúvidas que esses primeiros ataques re- presentaram um salto na di- reção de uma nova formu- lação cultural, visto que viviam em ambiente hostil, falando línguas diferentes e sem nenhuma sustentação empírica de ancestralidade, fosse na relação gestual com os elementos da natureza — o tônus existencial do negro —, fossem nas relações que ^AflOÍA VE^ Endereço: caixa postal 15023 80531 - Curitiba - Brasil Assine o jornal "Marcha Verde". Um jornal em defesa dos povos do Terceiro Mundo. Contra o im- perialismo, o racismo, o sionismo, o fascismo e o reacionarismo. caracterizam o homem como um ente social. O pri- sioneiro de guerra, com tan- tas ausências e frustrações, foi obrigado a recodificar o Universo e daí, então, reconstruir-se como ser para buscar a sobrevivência, ten- do que adaptar a vida à e^ravidão e não a escravi- dão à vida, como os brancos costumam falar e escrever sobre os negros. EXISTEM EVIDÊNCIAS de que os criminosos brancos não deixavam que negros da mesma matriz cultural convivessem, pois era ló- gico a reação àquela situa- ção humilhante de escravo. Não foram poucas as revol- tas e motins nos navios eu- Pág.3 ropeus que transportavam africanos. A mistura de matrizes culturais é, ainda hoje, uma das principais causas da dificuldade de or- ganização e de ações plane- jadas do negro brasileiro no sentido de luta para destruir o racismo e a demo- cracia racial. Por um lado estão impregnados pela lógi- ca social judaico-cristã, por outro não conseguem reto- mar a perspectiva de mundo que materialize o "sonho de ser africano", hoje expresso somente no que resta de al- gumas manifestações culturais. COM O PASSAR dos anos, a Colônia se revelou um poço sem fundo de ri- quezas. Era necessário su- gar cada vez mais a nova terra, para que Portugal cumprisse os seus compro- missos. O olho grande do europeu invasor só conse- guiu ver na intensificação do trabalho escravo a úni- ca alternativa de suprir as demandas portuguesas. Exa- tamente como hoje, naquela época uma minoria se apro- veitava do trabalho da maioria e mandavam quase tudo para o estrangeiro. OS ÍNDIOS, por domi- narem a geografia local, se transformaram em inimigos naturais para os brancos que tentavam lhes impingir uma relação de força. Neste sentido, os religiosos através da violência da catequese, tiveram, papel preponderan- te no início do processo de extermínio do povo in- dígena, que culmina nos dias atuais com assassinatos terrificantes; única forma que o sistema dos ricos encontrou para justificar a legalidade do branco se in- titular dono das terras. Assinatura anual: enviar NCz$ 4.00 em selos; Assinatura semestral: enviar NCz$ 2,00 em selos. SEGUE Nome: Endereço: Cidade: Estado: CEP: Profissão: Idade Assinatura:
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