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novo presidente, velha miséria - Centro de Documentação e ...

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Jornal Maioria Falante Dezennbro/89 - Janeiro/90 Pág. 15<br />

QUEM é esse Dragão?<br />

É o negro marinheiro<br />

JOÃO CÂNDIDO, nas-<br />

cido no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, em<br />

24 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1890. No Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro, tomou-se o lí<strong>de</strong>r das<br />

mais importantes revoltas popu-<br />

lares.<br />

Na manhã <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong> novem-<br />

bro <strong>de</strong> 1910, o marinheiro Mar-<br />

celino Rodrigues Menezes rece-<br />

beu 250 chibatadas. Os mari-<br />

nheiros, cerca <strong>de</strong> 2.400, se re-<br />

voltaram. João Cândido tinha<br />

apenas 30 anos. Apontando os<br />

canhões dos navios para a cida-<br />

<strong>de</strong>, os marinheiros exigiam: abo-<br />

lição da chibata, aumento <strong>de</strong> sa-<br />

lário, melhor alimentação, me-<br />

nor jornada <strong>de</strong> trabalho e anis-<br />

tia para todos os amotinados.<br />

O Senado e a Câmara apro-<br />

varam todas as reivindicações<br />

e o Presi<strong>de</strong>nte Marechal Her-<br />

mes da Fonseca as sancionou.<br />

Retornando à terra, os mari-<br />

nheiros, com o povo, começa-<br />

ram a festejar a vitória. No en-<br />

tanto, todos os marinheiros fo-<br />

ram perseguidos através <strong>de</strong> dis-<br />

pensas e prisões.<br />

João Cândido e 17 outros<br />

companheiros foram encerrados<br />

na masmorra e torturados com<br />

cal virgem e água. Somente o<br />

gigante negro João Cândido e<br />

um outro companheiro resisti-<br />

ram. Retirado da masmorra,<br />

João foi internado como louco<br />

num hospital.<br />

por Beatriz Nascimento<br />

O dia da consciência negra<br />

neste ano foi comemo-<br />

rado <strong>de</strong> forma singular.<br />

Os eventos no território nacio-<br />

nal limitaram-se a pequenas reu-<br />

niões internas do Movimento<br />

Negro. Isto <strong>de</strong>veu-se ao primeiro<br />

turno das eleições presi<strong>de</strong>nciais.<br />

Na verda<strong>de</strong> a gran<strong>de</strong> home-<br />

nagem a Zumbi dos Palmares<br />

foram as eleições pelo voto di-<br />

reto após três décadas. Este<br />

acontecimento nos diz respeito,<br />

não só por sermos brasileiros,<br />

mas principalmente por terem si-<br />

do nós os primeiros a lutarmos<br />

na década <strong>de</strong> 70 pelo direito à<br />

cidadania plena. Salve Zâmbi-ê,<br />

organizador da <strong>de</strong>mocracia pal-<br />

mariana!<br />

A seguir algumas notas sobre<br />

o evento da Consciência Negra<br />

organizado pelo MNU <strong>de</strong> Goiâ-<br />

nia e a UCG em Goiás: No dia<br />

18 concentraram-se dois eventos.<br />

Pela manhã no Auditório <strong>de</strong> Ar-<br />

quitetura da UCG, palestra do<br />

Psicólogo e jornalista pernambu-<br />

cano Severino Lepê, e pela tar<strong>de</strong><br />

exibição do documentário Ori <strong>de</strong><br />

Raquel Gerber e Beatriz Nasci-<br />

mento, com a presença da úl-<br />

O Negro Dragão<br />

Comissão <strong>de</strong> Religiosos, Padres e Seminaristas Negros<br />

Diante <strong>de</strong> algumas visitas, ele<br />

<strong>de</strong>sabafou: "Neste mundo nem<br />

todas as promessas se cumprem.<br />

Acreditei na palavra do Mare-<br />

chal Hermes da Fonseca e estou<br />

preso nesta <strong>de</strong>sgraça".<br />

Saindo do Hospital, o Almi-<br />

rante Negro foi expulso dos qua-<br />

dros da Marinha, sem nenhum<br />

direito. Foi viver com a família<br />

na Baixada Fluminense, em São<br />

João <strong>de</strong> Meriti. Passou os anos<br />

na <strong>miséria</strong>, até morrer, no dia 6<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1969. Foi en-<br />

terrado no cemitério São Fran-<br />

cisco Xavier, Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

túmulo 9.807<br />

H^RIA^EÇONTADA<br />

A Revolta da Chibata<br />

por Ayrton Martins<br />

No início do Século XX, a<br />

Marinha Brasileira conservava<br />

um costume regulamentar,<br />

proveniente dos tempos do<br />

Império, a CHIBATADA<br />

Uma chibatada consistia<br />

num <strong>de</strong>terminado número <strong>de</strong><br />

flagelos com a chibata, que<br />

era uma corda <strong>de</strong> linho mo-<br />

lhado, atravessada por agulhas<br />

<strong>de</strong> aço e com a qual se gol-<br />

peavam as costas dos "in-<br />

disciplinados" ao som <strong>de</strong> tam-<br />

bores e na presença da tro-<br />

Acontecer Negro<br />

tima, ambos seguidos <strong>de</strong> <strong>de</strong>ba-<br />

tes. Estavam presentes, além da<br />

Reitora da UCG, lí<strong>de</strong>res comuni-<br />

tários. Sacerdotes afro-brasileiros<br />

<strong>de</strong> Candomblé e Umbanda, mem-<br />

bros da Pastoral do Negro, es-<br />

tudantes e público em geral. Fo-<br />

ram levantados principalmente<br />

temas relacionados á i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>,<br />

à resistência e novas estratégias<br />

das religiões afro-brasileiras fren-<br />

te às dificulda<strong>de</strong>s atuais para o<br />

enfrentamento do econômico e<br />

das campanhas caluniosas veicu-<br />

ladas pelos "templos eletrôni-<br />

cos". Discutiram-se também as-<br />

suntos gerais relacionados aos<br />

problemas comunitários e do<br />

movimento.<br />

No dia seguinte a agenda foi<br />

;ompletada pelo ato público <strong>de</strong><br />

lenúncia contra a eventual ex-<br />

pulsão dos habitantes <strong>de</strong> um<br />

dos últimos ex-quilombos habi-<br />

tados da região centro-oeste, o<br />

Calunga, pela construção <strong>de</strong> uma<br />

usina hidrelétrica. O Calunga é<br />

uma comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cinco mil<br />

negros com economia própria,<br />

que ali vivem há duzentos anos.<br />

Fica localizado nos vãos da<br />

pa formada.<br />

Essa tortura se originou do<br />

caráter eletista da Marinha.<br />

Enquanto no Exército<br />

existia a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pro-<br />

moção nos escalões da hierar-<br />

quia, inclusive para soldados<br />

negros e pobres, essa possi-<br />

bilida<strong>de</strong> não existia na Mari-<br />

nha, que manteve <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as<br />

suas origens um caráter alta-<br />

mente eletista, não permitin-<br />

do nem pobres nem gente <strong>de</strong><br />

cor, nos seus quadros.<br />

Serra Geral (Município <strong>de</strong> Monte<br />

Alegre <strong>de</strong> Goiás e Cavalcante.<br />

O ato público <strong>de</strong>sdobrou-se<br />

pela tar<strong>de</strong> em ativida<strong>de</strong>s cultu-<br />

rais na Associação <strong>de</strong> Morado-<br />

res <strong>de</strong> Vila Emílio Póvoa, na pe-<br />

riferia <strong>de</strong> Goiânia. E estes úl-<br />

timos também ameaçados <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>slojamento <strong>de</strong> suas terras.<br />

Nota: Em relação aos proce-<br />

dimentos para salvar o Calunga,<br />

os militantes do MNU pe<strong>de</strong>m<br />

que sejam enviadas cartas em so-<br />

lidarieda<strong>de</strong> aos calunguenses pa-<br />

ra o Governador do Estado <strong>de</strong><br />

Goiás - Henrique Santillo - Pa-<br />

lácio das Esmeraldas, Praça Lu-<br />

dovico Teixeira, Goiânia — GO.<br />

Em Santos, São Paulo o<br />

Conselho da Comunida<strong>de</strong> Negra<br />

programou <strong>de</strong> 13 a 20 <strong>de</strong> novem-<br />

bro último a Semana <strong>de</strong> Cultura<br />

Afro-Brasileira, constando <strong>de</strong><br />

shows, <strong>de</strong>bates, poesia da ver-<br />

tente negra da literatura e ex-<br />

posições. No Rio <strong>de</strong> Janeiro o<br />

acontecimento principal <strong>de</strong>u-se<br />

na lavagem do monumento a<br />

Zumbi na Praça Onze. Foi na<br />

verda<strong>de</strong> um <strong>de</strong>sagravo à parali-<br />

zação da marcha <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> maio<br />

<strong>de</strong> 1988.<br />

Repinique<br />

A TV Comunida<strong>de</strong>, núcleo <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o do CAMPO -<br />

<strong>Centro</strong> <strong>de</strong> Assessoria ao Meio Popular - subsidiou <strong>de</strong>ba-<br />

tes pré-eleitorais nas Comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Base, Movimentos<br />

Populares, Sindicatos, Escolas e <strong>de</strong>mais interessados.<br />

Eram personagens os bonecos Simão e seu amigo Tonho<br />

que, num balcão <strong>de</strong> bar intervinham, discutiam e co-<br />

mentavam assuntos relativos às eleições. As cópias dos<br />

programas estão disponíveis na se<strong>de</strong> da entida<strong>de</strong> na<br />

Rua Professora Sebastiana da Silva Minhoto, 31 Tatuapé<br />

São Paulo - SP CEP: 03318. Telefone (011) 293-1193.<br />

O QUE É O CAMPO<br />

O CAMPO - <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> Assessoria ao Meio Popular<br />

é uma associação <strong>de</strong> profissionais e estudantes cristãos<br />

sem fins lucrativos, que produz diversos materiais", pro-<br />

move cursos e ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> formação a fim <strong>de</strong> que o<br />

próprio povo disponha <strong>de</strong> instrumentos para transformar<br />

a socieda<strong>de</strong> - conforme as Diretrizes Gerais da Ação<br />

Pastoral da Igreja no Brasil traçadas pela CNBB.<br />

A entida<strong>de</strong> existe <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1985 c já produziu ví<strong>de</strong>os<br />

com a UCBC - União Cristã Brasileira <strong>de</strong> Comunica-<br />

ção Social -, prestou serviços à Comissão <strong>de</strong> Justiça<br />

e Paz, produções próprias - documentação dos prin-<br />

cipais eventos da Igreja <strong>de</strong> São Paulo. Além disso o<br />

CAMPO tem oferecido cursos <strong>de</strong> Leitura Crítica da<br />

Comunicação e da Propaganda Política na TV em várias<br />

comunida<strong>de</strong>s da Arquidiocese <strong>de</strong> São Paulo e <strong>de</strong> outras<br />

dioceses.<br />

FOLHETOS BELEZA<br />

O <strong>Centro</strong> Cultural São Paulo, através da Biblioteca<br />

Sérgio MiUiet, divulgou durante o mês <strong>de</strong> novembro raras<br />

preciosida<strong>de</strong>s para os amantes da música e da Uterutuia.<br />

São dois boletins, sendo o primeiro "Literatura Brasileira:<br />

Escritores Negros Contemporâneos" (Série Bibliografia,<br />

n9 26, nov. 1988) com uma vasta relação <strong>de</strong> títulos <strong>de</strong><br />

todos os gêneros literários. O segundo refere-se à Musi-<br />

cografia: "O Negro na Evolução Temática da Música<br />

Popular Brasileira' (Série Musicografia, n9 36, nov.<br />

1989), contém uma seleção das letras em que os com-<br />

positores abordam vários aspectos da vida do povo negro<br />

no Brasil.<br />

SE AJUSTE NEGÀO<br />

A direção do 1PCN, parece que com bastante remor-<br />

so, proce<strong>de</strong>u ao reajuste da mensalida<strong>de</strong> dos sócios, que<br />

era <strong>de</strong> NCz$ 0,04 (quatro centavos) para 2 BTN. Tem<br />

um monte <strong>de</strong> associados reclamando do aumento, enquan-<br />

to pe<strong>de</strong>m para "<strong>de</strong>scer mais um" nos bares da Qnelandia<br />

e nos ensaios dos blocos afro. EM TEMPO: - O Institu-<br />

to das Pesquisas das Culturas Negra - 1PCN, fica no Rio<br />

<strong>de</strong> Janciro/RJ.<br />

NO RÁDIO<br />

Todos os domingos, às 18 horas, com direção e apre-<br />

sentação <strong>de</strong> Ogã Moreno, vai ao ar pela Rádio Metropo-<br />

litana (AM 1090 Khs) o programa cultural Ao Som dos<br />

Atabaques. Rola prêmios, entrevistas, dicas para cursos<br />

e empregos. Participe pelo telefone; 594-9595.<br />

ZUMBI DO BOM<br />

Tem uma turminha no Rio <strong>de</strong> Janeiro que Insiste em<br />

vincular ZUMBI DOS PALMARES à ações <strong>de</strong> partidos<br />

políticos com fins eleitoreiros. Foi o que aconteceu na<br />

manifestação realizada no dia 1? <strong>de</strong> novembro, 14 dias<br />

antes das eleições (19 turno) no monumento da Praça<br />

XI. Já é hora <strong>de</strong>sse pessoal se tocar e num esforço só<br />

com a cor da pele, nem precisa usar a consciência, perce-<br />

ber que em Palmares não existia partido político, a to-<br />

mada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão era através <strong>de</strong> processos coletivos, e o<br />

que é mais importante; o socialismo era do bom.<br />

ENCONTRO DO INTERIOR<br />

O IX Encontro <strong>de</strong> Entida<strong>de</strong>s do Interior do Estado<br />

do Rio <strong>de</strong> Janeiro, vai acontecer durante o mês <strong>de</strong> fe-<br />

vereiro <strong>de</strong> 1990 na cida<strong>de</strong> serrana <strong>de</strong> Petrópolis. O En-<br />

contro promete ser quente, pois além <strong>de</strong> estar surgindo<br />

um "<strong>novo</strong>" segmento do Movimento Negro na cida<strong>de</strong>,<br />

que já se manifestara no Encontro anterior, realizado<br />

cm Cabo Frio, os jovens reclamam e prometem ocupar<br />

mais espaços c atuar <strong>de</strong> forma mais intensa. Mas o tititi<br />

mesmo, vai eclodir em conseqüência do pragmatismo<br />

sobre um tema que constará da programação, li esperar<br />

para ver.<br />

CONSCIÊNCIA E LIBERDADE<br />

A Secretaria <strong>de</strong> Estado <strong>de</strong> Cultura (SP), através do Pro-<br />

jeto Consciência e Liberda<strong>de</strong>, promoveu entre 21 e 28<br />

<strong>de</strong> novembro o 19 Encontro Nacional <strong>de</strong> Arte Negra.<br />

Com exposições <strong>de</strong> trajes típicos africanos, fotografias,<br />

<strong>de</strong> posters, show <strong>de</strong> musica e uma seqüência <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates<br />

e mesa redonda, foi possível um rico painel sobre o mo-<br />

mento atual da comunida<strong>de</strong> negra.<br />

ÁFRICA DO SUL, ARRÊGO:<br />

Do jeito e pela quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> negro e não-brancos<br />

que as Polícias Militar e Civil, <strong>de</strong> todos os estudos, ma-<br />

taram durante o ano <strong>de</strong> 1989, está chegando a hora<strong>de</strong> se<br />

iniciar os esforços para que o governo racista da África<br />

do Sul corte relações diplomáticas com o governo <strong>de</strong>mo-<br />

crático do Brasil.<br />

ANTENAS<br />

Ninguém fala, ou comunica alguma coisa sobre as An-<br />

tenas. O povo negro, e é um monte <strong>de</strong> povo negro, que<br />

não é político, ou intelectual e que certamente teve an-<br />

cestrais que passaram pela ILHA, gostaria <strong>de</strong> saber a<br />

quantas andam as Antenas. O Jornal MAIORIA FALAN-<br />

TE promete que <strong>de</strong>svenda este mistério para os seus<br />

leitores.<br />

COLETIVO DE ESCRITORES NEGROS<br />

... Férias. Parece até piada.

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