novo presidente, velha miséria - Centro de Documentação e ...
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MO-<br />
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Cí;.U <strong>de</strong> t ; ü!siíi Kí^I^I<br />
1 S JAN 1990<br />
SVt N DOCaMIWTAÇAO<br />
■ ■ I ■ II ■<br />
Um serviço <strong>de</strong> combate ao racismo e à discriminarão<br />
NOVO PRESIDENTE,<br />
VELHA MISÉRIA !<br />
Demôniocraciü capitalista Foto: Jota Morais<br />
A ESQUERDA QUE<br />
O NEGRO QUER.<br />
Pág 6 e 7<br />
GUIDACCI: RUMOR<br />
NA POLÍTICA<br />
Pág 10<br />
O QUE ROLA NA<br />
EDUCAÇÃO.<br />
Pág 11,12 e 13
Pág.2 Dczembro/89 - Janeiro/90 Jornal Maioria Falante<br />
Demôniocracia Capitalista<br />
Em fevereiro <strong>de</strong><br />
1987. o Jornal<br />
* Maioria Falante "<br />
publicava o "Truque da<br />
Constituinte". Uma critica<br />
ao euforismo da esquerda,<br />
diante das articulações<br />
reformistas com que o<br />
Estado brasileiro, <strong>de</strong> tempo<br />
em tempo, procura rever as<br />
disparida<strong>de</strong>s do sistema <strong>de</strong><br />
sustentação das oligarquias.<br />
Como se sabe, a Constituinte '<br />
tomou-se um ganho só no<br />
varejo, para os povos<br />
marginalizados pelos<br />
dominantes. 0 MAIORIA<br />
FALANTE, preconizando o ■<br />
futuro da onda Constituinte,<br />
alertou sobre este fato.<br />
Mais tar<strong>de</strong>, o JORNAL DO<br />
BRASIL, <strong>de</strong>sinformava a<br />
opinião pública, dando uma<br />
barrigada, ao enunciar a<br />
morte do operário João<br />
Lopes <strong>de</strong> Souza, o "Santa"<br />
primeiro comunista negro a<br />
chegar à presidência <strong>de</strong> um<br />
estado brasileiro, em 1935,<br />
no Rio Gran<strong>de</strong> do Norte. É<br />
bom esclarecer que <strong>presi<strong>de</strong>nte</strong><br />
era o termo dado ao que<br />
atualmente conhecemos<br />
qFAUMMllE<br />
como governador. Por isso,<br />
o JMFfez publicar em maio/<br />
junho <strong>de</strong> 1987, uma resposta<br />
ao JB, fazendo uma<br />
reportagem com "Santa",<br />
vivo e lúcido - apesar dos<br />
seus 100 anos, naquela<br />
ocasião. Era o^Maioria<br />
Falante"se impondo como<br />
imprensa bem informada, em<br />
um furo histórico.<br />
Infelizmente, o velho<br />
militante morreu logo <strong>de</strong>pois.<br />
Mais recentemente, na edição<br />
<strong>de</strong> outubro-novembro <strong>de</strong><br />
1989, dois exilados chilenos<br />
apontavam no JMF que as<br />
eleições <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro no<br />
Chile, seriam ganhas por<br />
Patrício Aylwin. Como se<br />
sabe agora, <strong>de</strong> fato. Patrício<br />
Aylwin foi o gran<strong>de</strong> vencedor,<br />
após 16 anos <strong>de</strong> Pinochet.<br />
Esta ousadia do JMF é<br />
coerente com o <strong>novo</strong><br />
jornalismo, implantado pelo<br />
JMF, engajado na cultura '<br />
paralela e com a serieda<strong>de</strong><br />
dos jornalistas e dos<br />
militantes do movimento<br />
negro e social que constituem<br />
o respaldo do jomafMaioria<br />
Falante"!à nível nacional. E<br />
Diretor Responsável: Bebei Nepomuceno<br />
Conselho Editorial: lúlia Theodoro, Éle Semog e Togo lomba.<br />
Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Textos e Edição: Togo loruba, Ele Semog e Beth<br />
SIíVü Santos.<br />
Cúkhoradores: Uelinton Farias Alves, Val<strong>de</strong>te Lima, Ligia 0abul,<br />
Luís Carlos Vieira, Luiz Carlos <strong>de</strong> Almeida, Nely Cabral, Suely<br />
Fontes, Maitc Barros, Silvania <strong>de</strong> Oliveira, José Roberto Lopes<br />
<strong>de</strong> Almeida, João Morais e Jorge Barros (RJ); Juan Chalimin,<br />
Abílio IV -KJ, Arnaldo Xavier, Lilia Ladislau, Miriam Braz (SP);<br />
Dora Ikriuuw <strong>de</strong> Lima (MT); Sônia Aparecida Pereira, Agostinho<br />
Benedito (PRj: Vera Dayse Barcellos, Paulo Ricardo Moraes,<br />
íone* Lopi", Júlio César Camisolão (RS); Walmir Trinda<strong>de</strong> (PB);<br />
' laria das Dores Silva (MA).<br />
Cuncspon<strong>de</strong>ntes: Mônica Russo, Miki Willis (EUA); Adriano Botelho<br />
<strong>de</strong> Vasconcelos (Portugal).<br />
Administração: Júüa Theodoro.<br />
Secretária: Mareia Amâncio (Aicram).<br />
Circulação: J. Ayrton Martins<br />
Distribuição: Renato Moreira Santos<br />
Fotografia: Zé Roberto<br />
Ilustração: Togo loruba, Zé Roberto, Manei<br />
Revisão; Val<strong>de</strong>te lima, Beth Silva Santos, Éle Semog<br />
Produção: José Ayrton Martins<br />
Diagramaçêo e Arte-Final: Miro. Mônica Zager e Wilson Cravo<br />
Composição: Mário Jorge Santos e Edson Alcântara<br />
Impressão: Tribuna da Imprensa.<br />
MAIORIA EDUCAÇÃO: Eli Gomes, Azoilda Louretto da Trinda<strong>de</strong><br />
Maria José Lopes da Silva e Eliane Souza (Coor<strong>de</strong>nação).<br />
Agências: AGEN e ANGOP<br />
Apoio: Coor<strong>de</strong>nadoria Ecumênica <strong>de</strong> Serviços (CESE), <strong>Centro</strong> <strong>de</strong><br />
Articulação <strong>de</strong> Populações Marginalizadas (CEAP), Núcleo <strong>de</strong><br />
Estudos do Negro (NEM), Movimento Quilombista/RS e Comitê<br />
Contra a Discriminação Racial e Social (RACISO).<br />
As matérias assinadas são <strong>de</strong> inteira responsabilida<strong>de</strong> dos autores.<br />
En<strong>de</strong>reço: Rua da Lapa, 200, Sala 808 - LAPA - Rio <strong>de</strong> Janeiro/RJ<br />
BRASIL-CEP 20.021 -Telefone: (021) 252-2302<br />
é por esta orientação<br />
jornalística que tem-se<br />
podido publicar com isenção<br />
erfanguarda, a cosmovisão da<br />
maioria.<br />
A conseqüência do<br />
trabalho <strong>de</strong>senvolvido, tem<br />
produzido a credibilida<strong>de</strong><br />
junto ao movimento<br />
organizado, conquistando-o e<br />
auto-fortalecendo-se como<br />
um instrumento i<strong>de</strong>ológico<br />
para as transformações<br />
reclamadas pelos segmentos<br />
politizados da periferia do<br />
po<strong>de</strong>r. E é, neste exato<br />
momento, quando a direita<br />
recauchutada é eleita,<br />
resultando no aumento <strong>de</strong><br />
po<strong>de</strong>rio dos oligopólios e na<br />
centraalização dos<br />
monopólios <strong>de</strong> Comunicações,<br />
que ganha em importância<br />
política e i<strong>de</strong>ológico, o<br />
papel social do Jornal<br />
"Maioria Falante"tanto no<br />
contexto das reivindicações,<br />
como também para<br />
mhimizar a lavagem cerebral<br />
que os filhotes da ditadura,<br />
com certeza, preparam com<br />
suas garras <strong>de</strong> <strong>de</strong>môniocracia.<br />
Convite<br />
■"s<br />
A Câmara Municipal <strong>de</strong> Curitiba,<br />
Capital do Estado do Paraná, tem a<br />
honra <strong>de</strong> conTÍdá-lo(a) e sua Exce-<br />
lentíssima Família, para a Sessão<br />
Solene em que será outorgado o<br />
Título <strong>de</strong> "CIDADE IRMÃ DE<br />
CURITIBA Ã CIDADE DE SANTA<br />
CRUZ DE LA SIERRA - BOLIVIA,<br />
a ser realizada no dia 11 <strong>de</strong> outubro,<br />
às 20h30min, no plenário do Palácio<br />
Rio Branco - Rua Barão do Rio<br />
Branco, S/N? - <strong>Centro</strong>.<br />
Curitiba, outubro <strong>de</strong> 1989<br />
(a) Jorge Bernardi —<br />
Presi<strong>de</strong>nte<br />
FATO É FATO<br />
0 <strong>Centro</strong> Cultural Cândido Men-<br />
<strong>de</strong>s, do Rio <strong>de</strong> Janeiro, promo-<br />
veu na semana <strong>de</strong> 21 a 26 <strong>de</strong><br />
novembro a exposição <strong>de</strong> foto-<br />
grafias 0 OLHAR NEGRO, com<br />
trabalhos em preto e branco dos<br />
fotógrafos Vantoen Júnior e Ja-<br />
nuário Garcia. Durante o even-<br />
to foram realizadas duas mesas<br />
redondas cujos temas foram<br />
"Fotografia e Estética Negra" e<br />
a "Imagem do Negro na Mídia".<br />
•<br />
Para quem gosta <strong>de</strong> uma leitura<br />
intimista sobre o cotidiano <strong>de</strong><br />
uma vida simples, é bom dar<br />
uma lida no livro EU, SEM RE-<br />
TOQUES, da escritora Hizabeth<br />
Santos. Quase um diário, a au-<br />
tora expõe o seu olhar sobre o<br />
mundo e sobre si própria com<br />
uma minúcia angustiada, sem<br />
contudo per<strong>de</strong>r a certeza <strong>de</strong> que<br />
busca e encontrará um cami-<br />
nho. 0 livro po<strong>de</strong> ser pedido pe-<br />
lo telefone (021) 258-5999.<br />
•<br />
Está em plena ativida<strong>de</strong> o CEN-<br />
TRO INTERNACIONAL DE CI-<br />
VILIZAÇÕES BANTU CICEBA.<br />
Fundado em 1983 por iniciati-<br />
va <strong>de</strong> <strong>de</strong>z estados da África<br />
CARTAS<br />
"Em 1992, estaremos comemo-<br />
rando os 500 anos da <strong>de</strong>scoberta da<br />
América.<br />
Esta data representa para todos<br />
os latino-americanos um motivo<br />
para, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já, iniciarmos um progra-<br />
ma <strong>de</strong> interiorizaçao da latinida<strong>de</strong>,<br />
através da constituição <strong>de</strong> um fórum<br />
permanente, com a temática central<br />
"AMERICA-LATINA NOS ANOS<br />
90".<br />
Deverão participar <strong>de</strong>ste fórum,<br />
as entida<strong>de</strong>s que, por sua vocação<br />
natural, têm interesses em <strong>de</strong>senvol-<br />
ver ativids<strong>de</strong>s voltadas à integração<br />
econômica, política, educacional e<br />
cultural da América Latina.<br />
Nos dias 12 e 13 <strong>de</strong> outubro,<br />
foram lançadas as bases para o início<br />
da programação que <strong>de</strong>verá exten-<br />
<strong>de</strong>r-se até 1992, em solenida<strong>de</strong> da<br />
qual participaram os Embaixadores<br />
latino-americanos e representantes<br />
da O £
Jornal Maioria Falante<br />
Dezembro/89 Janeiro/90<br />
PALMARES: êxtase da utopia<br />
por Éle Semog<br />
É HISTÓRICA a resistên-<br />
cia do povo brasileiro às<br />
pressões sociais e políticas<br />
que a classe dos ricos im-<br />
põe à nação <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os tem-<br />
pos da Colônia até os dias<br />
<strong>de</strong> hoje. Histórica também,<br />
é a contínua luta dos ne-<br />
gros, que chegaram ao Brasil<br />
como prisioneiros <strong>de</strong> guerra,<br />
e foram submetidos ao tra-<br />
balho escravo por quase<br />
quatro séculos seguidos,<br />
produzindo o que hoje re-<br />
presenta um formidável sis-<br />
tema <strong>de</strong> riqueza capitalista.<br />
SABEMOS QUE os ne-<br />
gros trazidos da África eram<br />
provenientes <strong>de</strong> diversas na-<br />
ções e viviam sob um leque<br />
cultural exuberante, com<br />
múltiplos sistemas <strong>de</strong> orga-<br />
nização social, bastante<br />
avançados em relação à Eu-<br />
ropa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as bases <strong>de</strong> na-<br />
tureza familiar e <strong>de</strong> inte-<br />
grida<strong>de</strong> espiritual, até os<br />
sistemas <strong>de</strong> produção e mo-<br />
<strong>de</strong>los econômicos.<br />
É IMPORTANTE relacio-<br />
nar as invasões da África<br />
e das Américas com a fa-<br />
lência moral e econômica<br />
dos europeus, que saiam<br />
<strong>de</strong> uma guerra religiosa<br />
que durou mais <strong>de</strong> 100<br />
anos, culminando com uma<br />
peste bulbônica, doença<br />
transmitida por ratos, re-<br />
sultado da falta <strong>de</strong> higiene<br />
daquele povo, com uma ta-<br />
xa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 60%<br />
a 100% sobre os contami-<br />
nados e que matou milhões<br />
e milhões <strong>de</strong> pessoas.<br />
CONDENADOS A su-<br />
cumbir, o encontro dos eu-<br />
ropeus com os povos dos<br />
continentes africanos e ame-<br />
ricanos <strong>de</strong>veria ser o reen-<br />
contro com a vida. Mas<br />
como se sabe a <strong>miséria</strong> <strong>de</strong>-<br />
forma o homem, faz a usu-<br />
ra, e os recentes anos <strong>de</strong><br />
penúria porque passaram<br />
os transformara numa gen-<br />
te bestial, maligna e per-<br />
versa. Tanto isto é verda-<br />
<strong>de</strong> que em todos os luga-<br />
res do mundo on<strong>de</strong> o sis-<br />
tema dos brancos chegou,<br />
espalhou a morte, as doen-<br />
ças, as torturas, a <strong>de</strong>strui-<br />
ção da família e da cul-<br />
tura. .Inclusive no iní-<br />
cio <strong>de</strong>ste século existiam<br />
lugares públicos na China<br />
que o europeu proibia a en-<br />
trada <strong>de</strong> cachorros e <strong>de</strong> chi-<br />
neses... É muita petulância!<br />
OS NEGROS, prisionei-<br />
ros <strong>de</strong> guerra, subjugados<br />
pelo ódio e pelas armas dos<br />
criminosos brancos, sempre<br />
resistiram <strong>de</strong> todas as for-<br />
mas imagináveis. Queiman-<br />
do lavouras, sabotando en-<br />
genhos, expropiando ouro,<br />
atacando e matando os<br />
opressores, até mesmo bus-<br />
cando no suicídio a <strong>de</strong>-<br />
monstração extrema <strong>de</strong> dig-<br />
ESTA' SBIW><br />
nida<strong>de</strong> em relação ao escra-<br />
vismo.<br />
POR MAIS que estas<br />
ações não fossem suficien-<br />
tes para acabar com a es-<br />
cravidão e não caracterizas-<br />
sem um procedimento pla-<br />
nejado por parte dos pri-<br />
sioneiros <strong>de</strong> guerra escravi-<br />
zados, sem dúvidas que<br />
esses primeiros ataques re-<br />
presentaram um salto na di-<br />
reção <strong>de</strong> uma nova formu-<br />
lação cultural, visto que vi-<br />
viam em ambiente hostil,<br />
falando línguas diferentes<br />
e sem nenhuma sustentação<br />
empírica <strong>de</strong> ancestralida<strong>de</strong>,<br />
fosse na relação gestual com<br />
os elementos da natureza —<br />
o tônus existencial do negro<br />
—, fossem nas relações que<br />
^AflOÍA VE^ En<strong>de</strong>reço: caixa postal 15023<br />
80531 - Curitiba - Brasil<br />
Assine o jornal "Marcha Ver<strong>de</strong>".<br />
Um jornal em <strong>de</strong>fesa dos povos do Terceiro Mundo. Contra o im-<br />
perialismo, o racismo, o sionismo, o fascismo e o reacionarismo.<br />
caracterizam o homem co-<br />
mo um ente social. O pri-<br />
sioneiro <strong>de</strong> guerra, com tan-<br />
tas ausências e frustrações,<br />
foi obrigado a recodificar<br />
o Universo e daí, então,<br />
reconstruir-se como ser para<br />
buscar a sobrevivência, ten-<br />
do que adaptar a vida à<br />
e^ravidão e não a escravi-<br />
dão à vida, como os brancos<br />
costumam falar e escrever<br />
sobre os negros.<br />
EXISTEM EVIDÊNCIAS<br />
<strong>de</strong> que os criminosos bran-<br />
cos não <strong>de</strong>ixavam que ne-<br />
gros da mesma matriz cultu-<br />
ral convivessem, pois era ló-<br />
gico a reação àquela situa-<br />
ção humilhante <strong>de</strong> escravo.<br />
Não foram poucas as revol-<br />
tas e motins nos navios eu-<br />
Pág.3<br />
ropeus que transportavam<br />
africanos. A mistura <strong>de</strong><br />
matrizes culturais é, ainda<br />
hoje, uma das principais<br />
causas da dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> or-<br />
ganização e <strong>de</strong> ações plane-<br />
jadas do negro brasileiro<br />
no sentido <strong>de</strong> luta para<br />
<strong>de</strong>struir o racismo e a <strong>de</strong>mo-<br />
cracia racial. Por um lado<br />
estão impregnados pela lógi-<br />
ca social judaico-cristã, por<br />
outro não conseguem reto-<br />
mar a perspectiva <strong>de</strong> mundo<br />
que materialize o "sonho <strong>de</strong><br />
ser africano", hoje expresso<br />
somente no que resta <strong>de</strong> al-<br />
gumas manifestações cultu-<br />
rais.<br />
COM O PASSAR dos<br />
anos, a Colônia se revelou<br />
um poço sem fundo <strong>de</strong> ri-<br />
quezas. Era necessário su-<br />
gar cada vez mais a nova<br />
terra, para que Portugal<br />
cumprisse os seus compro-<br />
missos. O olho gran<strong>de</strong> do<br />
europeu invasor só conse-<br />
guiu ver na intensificação<br />
do trabalho escravo a úni-<br />
ca alternativa <strong>de</strong> suprir as<br />
<strong>de</strong>mandas portuguesas. Exa-<br />
tamente como hoje, naquela<br />
época uma minoria se apro-<br />
veitava do trabalho da maio-<br />
ria e mandavam quase tudo<br />
para o estrangeiro.<br />
OS ÍNDIOS, por domi-<br />
narem a geografia local, se<br />
transformaram em inimigos<br />
naturais para os brancos que<br />
tentavam lhes impingir uma<br />
relação <strong>de</strong> força. Neste sen-<br />
tido, os religiosos através<br />
da violência da catequese,<br />
tiveram, papel prepon<strong>de</strong>ran-<br />
te no início do processo<br />
<strong>de</strong> extermínio do povo in-<br />
dígena, que culmina nos<br />
dias atuais com assassinatos<br />
terrificantes; única forma<br />
que o sistema dos ricos<br />
encontrou para justificar a<br />
legalida<strong>de</strong> do branco se in-<br />
titular dono das terras.<br />
Assinatura anual: enviar NCz$ 4.00 em selos;<br />
Assinatura semestral: enviar NCz$ 2,00 em selos.<br />
SEGUE<br />
Nome:<br />
En<strong>de</strong>reço:<br />
Cida<strong>de</strong>: Estado: CEP:<br />
Profissão: Ida<strong>de</strong><br />
Assinatura:
Pág.4 Dezembro/89 - Janeiro/90 Jornal Maioria Falante<br />
NÃCiSEtem com precisão<br />
o ano em que os primeiros<br />
prisioneiros <strong>de</strong> guerra afri-<br />
canos chegaram ao Brasil<br />
(1531/1542), mas em fins<br />
do século XVI, numa ação<br />
espetacular, um grupo <strong>de</strong><br />
negros se rebelou numa fa-<br />
zenda <strong>de</strong> engenho em Per-<br />
nambuco, dominando os<br />
escravocratas e seus lacaios.<br />
SABIAM CONTUDO, 9<br />
exemplo <strong>de</strong> acontecimentos<br />
anteriores, que se ficassem<br />
na fazenda, ou nos seus ar-<br />
redores, seriam violenta-<br />
mente reprimidos pelos cri-<br />
minosos brancos, inclusive<br />
com torturas políticas, co-<br />
mo as que aconteciam com<br />
o pessoal da esquerda du-<br />
rante a ditadura e que<br />
ainda hoje acontece com os<br />
negros e com os pobres<br />
que são aprisionados pelo<br />
po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> polícia do sis-<br />
tema dos ricos vigente no<br />
país. Diante disto, a úni-<br />
ca possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> não re-<br />
tornarem ao trabalho es-<br />
cravo era a <strong>de</strong> evadirem-se<br />
para as regiões distantesdos<br />
povoados. Rumaram pois,<br />
em direção a selva bravia,<br />
sem saberem o que o <strong>de</strong>s-<br />
conhecido po<strong>de</strong>ria ofere-<br />
cer, mas é certo que eram<br />
movidos por um sentido <strong>de</strong><br />
liberda<strong>de</strong> que jamais aban-<br />
donariam.<br />
DELINEAVA-SE então<br />
os Quilombos dos Palmares,<br />
que viria a ser o mais longo<br />
e belo confronto <strong>de</strong> resis-<br />
tência do povo contra a fú-<br />
ria assassina do sistema -dos<br />
ricos, da sua elite e do seu<br />
Estado. Quilombos dos Pal-<br />
mares é tão importante para<br />
o povo brasileiro que "eles"<br />
escon<strong>de</strong>ram esta página da<br />
História até mesmo quando,<br />
ainda em plena escravidão.<br />
<strong>de</strong>clararam o Brasil in<strong>de</strong>pen-<br />
<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Portugal.<br />
O GOSTOSO <strong>de</strong>ssa His-<br />
tória é observar que com<br />
menos <strong>de</strong> 100 anos sob o<br />
domínio avassalador dos in-<br />
vasores, criminosos brancos,<br />
os negros africanos funda-<br />
ram a República dos Pal-<br />
mares, caracterizada pela<br />
proprieda<strong>de</strong> coletiva, .on<strong>de</strong><br />
habitavam com direitos<br />
iguais, inclusive <strong>de</strong> voto,<br />
negros, índios e brancos<br />
pobres.<br />
O SURGIMENTO dos<br />
Quilombos dos Palmares<br />
muito mas que um con-<br />
fronto com o Estado Co-<br />
lonial e com o Império,<br />
foi sob certo aspecto, uma<br />
antecipação do perfil cul-<br />
tural da nação brasileira,<br />
perfil este até hoje negado<br />
pelas elites, pela burguesia<br />
e pela Igreja, que são os<br />
principais "ingredientes" do<br />
sistema dos ricos adminis-<br />
SE LIGUE...<br />
SindícQte dos Publicitários<br />
do Município do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
BASE TERRITORIAL NOS ESTADOS 00 RIO DE JANEIRO E ESPÍRITO SANTO<br />
*y Betn Mu, 216 gr 801 TH : 2(24411<br />
DELEGACIA EM VITÓRIAES - CAIXA POSTAL 1848 - CEP. 29 000<br />
trado pelos criminosos bran-<br />
cos.<br />
REPÚBLICA DOS PAL-<br />
MARES, organizada como<br />
Estado habitado por povo<br />
livre, durou pelo menos um<br />
século. Segundo os poucos<br />
registros e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da<br />
interpretação dos historia-<br />
dores, alguns traços da di-<br />
nâmica da nação palmarina<br />
são os seguintes: existia<br />
um Conselho que adminis-<br />
trava o Estado obe<strong>de</strong>cendo<br />
as <strong>de</strong>cisões tomadas por vo-<br />
to, através <strong>de</strong> assembléia ge-<br />
ral; as terras para cultivo<br />
eram distribuídas segundo o<br />
tamanho <strong>de</strong> cada família;<br />
como existiam poucas mu-<br />
lheres, cada família, nos<br />
primeiros anos da Repú-<br />
blica, era composta por uma<br />
mulher que tinha mais <strong>de</strong><br />
um companheiro (até cinco<br />
homens), pelos quais ela res-<br />
pondia perante a socieda<strong>de</strong>;<br />
parte da produção das famí-<br />
lias era doada, para ser uti-<br />
lizada <strong>de</strong> forma comum,<br />
nos casos <strong>de</strong> catástrofe<br />
climática, ou <strong>de</strong> agressão<br />
pelos criminosos brancos,<br />
que arregimentavam bandi-<br />
dos negros e índios.<br />
A HISTÓRIA da liber-<br />
tação do povo brasileiro<br />
é uma trajetória que cons-<br />
trói heróis moldados sob a<br />
hipocrisia dos traidores. Foi<br />
assim na Revolta dos Males,<br />
foi assim com Tira<strong>de</strong>ntes,<br />
foi assim na Proclamação<br />
da República quando os<br />
escravocratas que per<strong>de</strong>ram<br />
seus escravos resolveram<br />
<strong>de</strong>rrubar o Império, quando<br />
perceberam que não rece-<br />
beriam in<strong>de</strong>nizações pelos<br />
negros que a lei libertava<br />
e ao mesmo tempo joga-<br />
va-os na marginalida<strong>de</strong>. Os<br />
traidores são execráveis nas<br />
suas imensas e sobrenatu-<br />
rais covardias, pois conspi-<br />
ram e apunhalam pelas cos-<br />
tas. Se aproveitam da sim-<br />
plicida<strong>de</strong> inoperante do po-<br />
vo para construir imensos<br />
e perniciosos canceres, que<br />
se propagam na forma <strong>de</strong><br />
organizações corporativis-<br />
tas, no culto a personali-<br />
da<strong>de</strong>, na ganância e na dis-<br />
puta como elementos fun-<br />
damentais do caráter.<br />
A TRAIÇÃO é uma,<br />
manifestação individual do<br />
medo, quando o sujeito não<br />
consegue respon<strong>de</strong>r as exi-<br />
gências e aos rigores ca vida.<br />
Agora imagine! Você lá em<br />
Palmares, vivendo num da-<br />
queles quilombos da Serra<br />
da Barriga, vai que chega<br />
um safado fingindo que<br />
fugiu da opressão dos cri-<br />
minosos brancos, pedindo<br />
acolhida. Recebe terra,<br />
direitos, família, trabalho e<br />
ganhos. Tudo que qual-<br />
quer brasileiro <strong>de</strong> hoje gos-<br />
taria <strong>de</strong> receber. Passados<br />
três meses ele foge para<br />
consumar a sua traição, en-<br />
tregando <strong>de</strong> mão beijada a<br />
sorte <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> vida.<br />
Ainda bem que em Palma-<br />
res foram poucos os safa-<br />
dos assim. Digo isto por-<br />
que se fossem muitos o<br />
Sistema Social Palmares não<br />
teria resistido durante 100<br />
anos, pois aquelas pessoas<br />
que lá viveram, só tinham<br />
o corpo como argumento e<br />
a natureza como coberta,<br />
o resto foi invenção da li-<br />
berda<strong>de</strong>.<br />
HOJE ESTÁ tudo mo<strong>de</strong>r-<br />
no. O criminoso branco<br />
esta legalizado pelo sistema<br />
dos ricos. Dizem que não<br />
o<strong>de</strong>iam o negro e o índio<br />
e o pobre, mas só fazem<br />
fome, doenças, <strong>miséria</strong>, po-<br />
lícias e leis. Os Quilombos<br />
dos Palmares morreram, se<br />
<strong>de</strong>smaterializaram, mas a<br />
utopia permanece chama<br />
alimentando os que lutam.<br />
E preciso falar sempre sobre<br />
Palmares para os seus ami-<br />
gos, para os seus filhos.<br />
Diga todos os dias que Pal-<br />
mares é a senha para o no-<br />
vo mundo. Invente histó-<br />
rias e heróis, invente Zum-<br />
bis, milhões <strong>de</strong> Zumbis,<br />
pois isto significa construir<br />
com os mesmos motivos<br />
em todos os lugares.
Jornal Maioria Falante Dezembro/89 - Janeiro/90 Pág.5<br />
LITERALMENTE NEGRO<br />
As gran<strong>de</strong>s editoras industriais<br />
e comerciais S/A não nos publi-<br />
cam porque somos inéditos. E<br />
continuamos inéditos porque não nos<br />
<strong>de</strong>ixam publicar justamente por sermos<br />
inéditos. Nossa "mercadoria não foi tes-<br />
tada no mercado editorial, não garante<br />
lucro certo." Melhor, e mais seguro, edi-<br />
tar Adélia, Drummond e outros autores<br />
<strong>de</strong> "poemas-consumo" já provado e<br />
aprovados pelos comedores <strong>de</strong> literatura<br />
e poesia facilmente digeríveis e diri.qíveis.<br />
Isso sem falar no já clássico "não ter/ios<br />
parâmetros estéticos para avaliar a qua-<br />
lida<strong>de</strong> da sua literatura negra".<br />
Daí que o escritor negro opta pela<br />
edição in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. Mas para se edi-<br />
tar um livro é preciso ter um po<strong>de</strong>r<br />
aquisitivo financeiro que permita fazê-lo.<br />
A não ser uma meia dúzia <strong>de</strong> escritores<br />
negros <strong>de</strong> classe média, que mesmo assim,<br />
com enorme sacrifício, conseguem se au-<br />
to-editarem. A maioria dos escritores<br />
negros que estão na classe pobre, <strong>de</strong>sem-<br />
pregados ou subempregados, têm muito<br />
pouca oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se editar. Con-<br />
seguirá fazê-lo, talvez, se abandonar a<br />
literatura por um tempo e se <strong>de</strong>dicar<br />
a ascen<strong>de</strong>r socialmente, para <strong>de</strong>pois<br />
voltar a ela, quando for <strong>de</strong> uma classe<br />
média negra mais favorecida. Ou talvez<br />
encontre nas <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> jornais alter-<br />
nativos do Movimento Negro, não "pou-<br />
cas chances" <strong>de</strong> ser editado, mas todas as<br />
chances para ver pelo menos alguns <strong>de</strong><br />
seus poemas publicados. Isso sem ter<br />
que pedir, ou mendigar essa "pouca<br />
chance" ao inédito nessa Imprensa<br />
Negra; pois que, historicamente, foi<br />
Na matéria Literalmente Negro (i-er<br />
acima nesta página ) o escritor Deley<br />
<strong>de</strong> Acary acusa que só os escritores<br />
negros <strong>de</strong> classe média conseguem<br />
editar seus livros in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. E se-<br />
gue <strong>de</strong>sfiando um monte <strong>de</strong> não-<br />
verda<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> apologias à <strong>miséria</strong>, com<br />
o velho discurso <strong>de</strong> que a pobreza in-<br />
viabiliza o homem, amparado pelo<br />
chororô do "ai meu <strong>de</strong>us eu sou um<br />
negro coitadinho", empacado, já há<br />
algumas <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> anos, na culpa<br />
dos racistas que nos fecham todos os<br />
caminhos. Depois questiona a postura<br />
do Jornal MAIORIA FALANTE, com<br />
graves insinuações quanto a solidarie-<br />
da<strong>de</strong>, retidão <strong>de</strong> caráter e firmeza<br />
i<strong>de</strong>ológica, que norteiam a linha edi-<br />
torial do Jornal.<br />
Sou amigo do Deley <strong>de</strong> Acary há<br />
pelo menos 15 anos; inclusive fize-<br />
mos parte do grupo que fundou o<br />
JMF, mas quando o bicho pegou<br />
fele caiu fora, fato que não ocorrera<br />
quando a ditadura andava na nossa<br />
cola, nos subúrbios do Rio. Eu e<br />
Deley construímos e participamos<br />
<strong>de</strong> toda a história recente da Lite-<br />
ratura Negra do Brasil, e nós dois<br />
sabemos que não é bem como ele<br />
está contando no seu artigo. Como<br />
prova disso, selecionei dois poetas<br />
negros, que não se submeteram ao<br />
papel <strong>de</strong> vítimas, mas lutaram, cada<br />
um poeta negro inédito, em meados<br />
do século passado e início <strong>de</strong>ste, que<br />
pioneiramente criou essa mesma Im-<br />
prensa Negra In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, por não ter<br />
nenhuma chance na imprensa branca da<br />
época, que tal como a <strong>de</strong> hoje e agora,<br />
a imprensa negra que ajudou a criar,<br />
lhe veda espaços literários como o JMF,<br />
que ao criar a seção Uterária (a partir<br />
do n9 15) avisa que "os inéditos terão<br />
poucas chances pois é muito difícil<br />
publicar um livro".<br />
Ninguém mais do que o escritor<br />
negro <strong>de</strong> classe pobre sabe como é di-<br />
fícil publicar um livro. Mais que o es-<br />
critor negro <strong>de</strong> classe média e muito<br />
mais ainda que os três autores que ti-<br />
veram seus poemas publicados no últi-<br />
mo número do JMF, extraídos <strong>de</strong> livros<br />
editados por editoras.<br />
Daí que ao adotar essa linha editorial<br />
com relação à poesia negra, um jornal<br />
alternativo do Movimento Negro está<br />
assumindo, publicamente, uma postura<br />
política e i<strong>de</strong>ológica <strong>de</strong> não reconheci-<br />
mento do poeta negro na história do<br />
seu próprio surgimento, enquanto ins-<br />
trumento <strong>de</strong> resistência cultural, luta<br />
anti-racista e libertária. E sobretudo<br />
<strong>de</strong>ixa claro, que ao Movimento Negro<br />
(do qual essa imprensa negra é porta-<br />
voz) não interessa hoje, como jamais<br />
interessou, qualquer cooperação ou diá-<br />
logo com esses poetas negros.<br />
E como sempre tem um último daí,<br />
daí que o poeta negro pobre, que não<br />
LITERALMENTE ASSIM<br />
um do seu jeito, durante 10 anos,<br />
para publicarem os seus livros.<br />
SENTENÇA<br />
Salgado Maranhão<br />
faz muito tempo que eu venho<br />
nos currais <strong>de</strong>ste comício,<br />
dando mingau <strong>de</strong> farinha<br />
pra mesma dor que me alinha<br />
ao lamaçal do hospício,<br />
e quem me cansa as canelas<br />
é que me rouba a ca<strong>de</strong>ira,<br />
eu sou quem pula a traseira<br />
e ainda paga a passagem,<br />
eu sou o número ímpar<br />
só para sobrar na contagem.<br />
por outro lado, em meu corpo,<br />
há uma parte que insiste,<br />
feito um caju que apodrece<br />
mas a castanha resiste,<br />
eu tenho os olhos na espreita<br />
e os bolsos cheios <strong>de</strong> pedras,<br />
eu sou quem não se conforma<br />
com a sentença ou <strong>de</strong>sfeita,<br />
eu sou quem bagunça a norma,<br />
eu sou quem morre e não <strong>de</strong>ita.<br />
(livro "Punhos Da Serpente", 1989,<br />
Achiame', *\3)<br />
ESTÓRIA NO TELESPELHO<br />
Abilio Ferreira<br />
Falemos <strong>de</strong> nós agora<br />
tem condições financeiras <strong>de</strong> se auto-<br />
editar, <strong>de</strong>ve abandonar toda tentativa<br />
<strong>de</strong> publicação junto a essa imprensa<br />
negra, que tal como a imprensa branca,<br />
mercantilista e racista, "lhe fecha as<br />
páginas", e se organizar buscando meios<br />
para publicar o seu próprio jornal. Um<br />
jornal específico e unicamente literário<br />
negro in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte (inclusive da impren-<br />
sa negra in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte). Um jornal li-<br />
terário negro, com espaço e com "todas<br />
as chances", sem nenhum favor, para ou-<br />
tras artes negras impressas como fotogra-<br />
fias, cartuns, quadrinhos, etc.<br />
Já que o "Literalmente Sim" da Im-<br />
prensa do Movimento Negro é na ver-<br />
da<strong>de</strong> um "Literalmente Não" para o<br />
poeta negro, inédito na sua maioria.<br />
Mas ele per<strong>de</strong>rá muito tempo, e não<br />
avançará na luta, sua luta (que como<br />
agora está <strong>de</strong>finitivamente evi<strong>de</strong>nciado,<br />
não é a mesma do Movimento Negro)<br />
se se <strong>de</strong>sgastar em tentar "revanchinhas".<br />
0 poeta negro <strong>de</strong>ve se unir, não contra<br />
um suposto inimigo, mas sim se unir<br />
em favor <strong>de</strong> si mesmo. H invés <strong>de</strong> dizer<br />
"Literalmente Não" pensando estar di-<br />
zendo um "Literalmente Sim" para o<br />
autor negro (seja ele inédito, ou não),<br />
seu jornal literário negro <strong>de</strong>ve ser so-<br />
bretudo, não um Literalmente Sim ou<br />
Não, mas um belo, fraterno e perene<br />
Literalmente Negro! Pois como dizia<br />
o gran<strong>de</strong> poeta negro caribenho Frantz<br />
Fanon, "O negro não é não, o negro é<br />
um sim ao Mundo!"<br />
Deley <strong>de</strong> Acary é poeta e fiecionista negro<br />
brasileiro, inédito.<br />
Contemos nos <strong>de</strong>dos o que tomos nos<br />
Lembra da inocência!<br />
Pra on<strong>de</strong> foram aqueles meninos<br />
danados?<br />
Nossas fantasias ficaram nas<br />
calças curtas<br />
Nos pés <strong>de</strong>scalços, na bola <strong>de</strong> capotão<br />
Éramos perfeitos atores, às vezes<br />
representando uma realida<strong>de</strong> que<br />
víamos<br />
com a consciência lambusada <strong>de</strong><br />
doces e autorejeição<br />
Lembra dos planos!<br />
Pra on<strong>de</strong> foram aqueles rapazes e<br />
garotas?<br />
Nossas fantasias ficaram nas esquinas<br />
Nas idas ao cinema, nos papos <strong>de</strong><br />
madrugada<br />
Éramos personagens inexpressivos,<br />
às vezes vivendo uma realida<strong>de</strong><br />
que víamos com a consciência<br />
inscrustada <strong>de</strong> chicletes e<br />
pastas <strong>de</strong> alisar cabelo<br />
Lembra das <strong>de</strong>cepções!<br />
On<strong>de</strong> estão os nossos velhos<br />
amigos agora?<br />
Nossas fantasias estão nas cabeças<br />
No dia-a-dia, nas visões <strong>de</strong> futuro<br />
Somos protagonistas vulneráveis<br />
a espera <strong>de</strong> um perfil<br />
(Livro Fogo do OIhar-1989 - Ed. Qui-<br />
lombhoje Literatura)<br />
B<br />
O<br />
N<br />
E<br />
C<br />
A<br />
.\cnhiiniat Cansou <strong>de</strong> tanto andar,<br />
fcrgiíiuara muito. Ouvira respostas <strong>de</strong><br />
todo tipo. Algumas vezes reagira a gros-<br />
scirias dos ven<strong>de</strong>dores e mesmo às ironias<br />
cáusticas, i.m outros momentos, jora ueo-<br />
metido <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> auto-comiseração dkinte<br />
do lamentar profundo <strong>de</strong> alguns balconistas.<br />
- Sinto muito!...<br />
Ou:<br />
- Queira nos <strong>de</strong>scupar! A fábrica<br />
não fornece...?<br />
Desanimar? Não, não podia. Afinal,<br />
atrás <strong>de</strong> si havia alguém muito importan-<br />
te: uma linda menina que pronunciava-lhe,<br />
com o maior carinho do mundo, a palavra<br />
pai. Embora ausente, era como se a peque-<br />
na empurrasse-o, <strong>de</strong> forma lúdica, pelas<br />
ruas. Sua gran<strong>de</strong> razão <strong>de</strong> viver, o ser<br />
através do qual tornar-se-ia eterno, pois<br />
em muitos momentos sentia o futuro co-<br />
chichar-lhe nos ouvidos, com uma voz<br />
ioce:<br />
- "Vovô"...<br />
Tinha apenas 33 anos. Não havia por-<br />
quê <strong>de</strong>sistir <strong>de</strong> encontrar o presente <strong>de</strong><br />
Natal para a filha. Estava em plena forma<br />
física. Continuar a procura, mesmo piso-<br />
teando o cansaço, era uma missão. Com<br />
entusiasmo, entrou na loja seguinte. Cheia!<br />
Aguardou pacientemente. Uma mocinha<br />
loira, com ar meigo e aspecto <strong>de</strong> subnutri-<br />
da, indagou:<br />
- O senhor já foi atendido?<br />
- Não - sorriu e acrescentou - Estou<br />
procurando uma boneca.<br />
- Temos várias. Olha aqui a Barby.<br />
a Xuxinha... - e a loirinha foi apanhando<br />
inúmeras bonecas e colocando-as sobre o<br />
balcão, como se escolhesse para si - Olha<br />
que gracinha esta aqui <strong>de</strong> olhos azuis! E<br />
novida<strong>de</strong>. Chegou ontem e já ven<strong>de</strong>u<br />
quase tudo. Chora, tem chupeta, faz pipi...<br />
E essa outra aqui? Não é uma graça? - e<br />
levou ao colo uma ruivinha <strong>de</strong> "pele" num<br />
tom amarelo bem claro. Mexeu-lhe os bra-<br />
cinhos e as perninhas e indagou - Não<br />
f&stau <strong>de</strong> nenhuma!<br />
- E que eu estou procurando uma<br />
boneca negra... Parecida com minha filha...<br />
Meia hora <strong>de</strong> espera!<br />
Tem sim!... - disse o dono da loja -<br />
Procura melhor, na prateleira <strong>de</strong> baixo, lá<br />
cm cima, perto da pia -ca mocinha subiu<br />
<strong>de</strong> <strong>novo</strong> a escada, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> sorrir um doce<br />
constrangimento <strong>de</strong> tfuem eslava numa aven-<br />
mra amorosa, com medo <strong>de</strong> errar. Desceu<br />
umas três vezes, recebeu novas instruções e<br />
tornou a sorrir.<br />
Já na rua, o pai, segurando o pacote<br />
<strong>de</strong> presente, pensava nas palavras do pro-<br />
prietário do estabelecimento:<br />
- O senhor <strong>de</strong>sculpe a <strong>de</strong>mora, viu,<br />
é que está em falta. Eles não entregam.<br />
Essa é a última. Eu mesmo pedi pra o re-<br />
presentante da firma, e o senhor sabe o que<br />
ele me disse? Fclor que a firma está expor-<br />
tando para a África. Tá certo, mas aqui<br />
também tem freguês que procura, não é?!...<br />
Pensava também, entre tantas outras<br />
coisas - algumas <strong>de</strong>sagradáveis - no re-<br />
pouso merecido, após a suada expectati-<br />
va daquela manhã <strong>de</strong> verão. Afinal, conse-<br />
guira realizar o seu intento. Estava ali,<br />
em suas mãos: Caminhou mais ler. lamen-<br />
te e parou na lanchonete, a primeira que<br />
encontrou. Pediu um chope escuro. Foi<br />
atendido imediatamente. Tirou o livro<br />
Ca<strong>de</strong>rnos Negros, uma antologia <strong>de</strong> poetas,<br />
e releu:<br />
"Se o Papai Noel<br />
não trouxer boneca preta<br />
neste Natal<br />
meta-lhe o pé no saco!"<br />
Sorriu. Bebeu o primeiro gole e sentiu-<br />
se profundamente aliviado e feliz.<br />
CUT1 (Luiz Silva) poeta, contista e ensaísta,<br />
faz parte do Grupo Quilombhoje Literatura<br />
<strong>de</strong> Sâo Paulo.
Pág.6 De2embro/89 - Janeiro/90 Jornal Maioria Falante<br />
A Esquerda que o Negro quer<br />
/\ concepção <strong>de</strong> alguns sociólogos, a partir <strong>de</strong> um distanciamento brecthianiano<br />
é a <strong>de</strong> ser o Brasil, a "Belíndia", ou seja, uma mistura <strong>de</strong> "Bélgica" e "índia", on<strong>de</strong><br />
uma parte é branca e rica e a outra, não branca e miserável. Logo, po<strong>de</strong>-se afirmar que<br />
o escravocrata, mesmo <strong>de</strong>stituído pelo liberalismo industrial, orientou a realida<strong>de</strong> da<br />
"fndia", pelo simples fato <strong>de</strong> que tanto o escravocrata quanto o liberalismo industrial,<br />
discriminavam os não brancos.<br />
por Togo lomba<br />
A esquerda atual é bisneta do libera-<br />
lismo, mentor do projeto racial-econômi-<br />
co que privilegiou a mão-<strong>de</strong>-obra branca<br />
operariado importado — em <strong>de</strong>trimento<br />
<strong>de</strong> um projeto social mais amplo, capaz<br />
<strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r também a população negra,<br />
saída da escravidão.<br />
O movimento negro daquela éjKKa,<br />
teve projetado alguns nomes como José<br />
do Patrocínio, Luiz Gama, enquanto a<br />
maioria continuou comprimida nos saco-<br />
lões da <strong>miséria</strong>. Como se po<strong>de</strong> ver, na<br />
confrontação entre escravocratas e libe-<br />
rais quem saiu per<strong>de</strong>ndo foram os negros,<br />
índios, mestiços e os brancos pobres,<br />
na época uma espécie <strong>de</strong> "inocentes<br />
úteis" do expansionismo europeu.<br />
Agora, 100 anos <strong>de</strong>pois da Proclamação<br />
da República, após o jejum presi<strong>de</strong>ncial<br />
pelo voto direto <strong>de</strong> 29 anos, tivemos<br />
mais um confronto: Luís Inácio Lula<br />
da Silva (esquerda) versus Collor <strong>de</strong><br />
Mello (direita) ou ainda, o branco nor-<br />
<strong>de</strong>stino, filho da "fndia", contra o<br />
branco carioca, filho da "Bélgica". De<br />
um lado, o branco pobre, torneiro me-<br />
cânico, garantindo o sucesso do instru-<br />
mento i<strong>de</strong>ológico do industrialismo, (sin-<br />
dicato) contando com o apoio das forças<br />
liberals-progressistas, inclusive da igreja<br />
daTeologia da Libertação. Do outro lado,<br />
o branco rico, nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> su-<br />
perior, apoiado pelos ex-escravocratas e<br />
com o respaldo da igreja da teologia da<br />
dominação. Neste embate, a propaganda<br />
capitalista, faturou a ocasião <strong>de</strong>mocrá-<br />
tica, resgatando o discurso da revolução<br />
do operariado, não por conta do socia-<br />
lismo europeu, mas por obra das matrei-<br />
rices do capitalismo. Paralelo à isso,<br />
como se fosse uma oferta <strong>de</strong> verão, o<br />
noticiário da mídia dos megabanqueiros<br />
internacionais, divulgaram com estarda-<br />
lhaço os resultados eleitorais da elite<br />
negra americana, ganhando prefeituras<br />
e governos estaduais nos E.U.A., ou pro-<br />
palando a capitulação dos países socia-<br />
listas, diante da vitória do capitalismo<br />
mundial. Isso é que é. Junto a tudo<br />
isso, se constata que apesar das idéias <strong>de</strong><br />
Leonardo Boff, ou Frei Beto, o Vaticano,<br />
continuará contabilizando o lucro polí-<br />
tico, <strong>de</strong>monstrando que a Igreja Católiica<br />
Apostólica Romana é tão <strong>de</strong>mocrática<br />
que convive com o antagonismo daTeo-<br />
logia da Libertação. Na verda<strong>de</strong>, a sis-<br />
temática da cultura dominante, tem asse-<br />
gurado a centralização da renda, da pro-<br />
dução, do consumo a da proprieda<strong>de</strong><br />
privada, em prejuízo das necessida<strong>de</strong>s<br />
vitais dos povos da "índia". À esta, cabe<br />
e nem sempre - apenas votar nas <strong>de</strong>cisões<br />
elaboradas pela "Bélgica", amenizadas<br />
pela representação <strong>de</strong> seus filhos mais<br />
prósperos, recém entrados nas regras do<br />
jogo da "Bélgica", ou contentar-se com<br />
o contrato social, dos assalariados, ter-<br />
mômetro ainda eficiente para subverter<br />
a <strong>de</strong>sobediência civil dos habitantes da<br />
"fndia".<br />
Como consolo a guerra entre Esquer-<br />
da X Direita, recuperou as perdas da<br />
mão-<strong>de</strong>-obra branca e barata, trazida no<br />
início do capitalismo, projetará novas<br />
elites, saídas da "índia", agora contando<br />
com a participação <strong>de</strong> índios, negros e<br />
mestiços, fortalecendo assim, as leis dos<br />
dominantes.<br />
O maquiavelismo da dominação i<strong>de</strong>o-<br />
lógica, arma outra cilada contra o incon-<br />
formismo da esquerda e do movimento<br />
negro, <strong>de</strong> tal maneira, que já se permite<br />
aos po<strong>de</strong>res judicial, legislativo e executi-<br />
vo, receberem até não brancos ou qual-<br />
quer outro <strong>de</strong>scontente, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que não<br />
se mu<strong>de</strong> as regras da peleja. Quem so-<br />
breviver verá.<br />
SOCIALISMO AFRO-INDfcENA<br />
O crime <strong>de</strong> Zumbi e <strong>de</strong> todos os<br />
quilombolas, foi o <strong>de</strong> tentarem criar<br />
estados in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e com outras<br />
regras, que não as do mo<strong>de</strong>lo da cul-<br />
tura dominante.<br />
renda.<br />
O comuniano afro-<br />
A formulação das culturas<br />
afro-indígenas, ainda não mereceram o<br />
<strong>de</strong>vido respeito pelos intelectuais, tan-<br />
to da direita quanto da esquerda.<br />
O motivo é o puro preconceito<br />
etnocentrista, uma seqüela do expan-<br />
sionismo europeu dos séculos XIV<br />
XV... XXI(?)<br />
Por isso, ainda não foi possível<br />
pensar e elaborar um projeto social,<br />
on<strong>de</strong> a experiência da comunização<br />
dos quilombos, permitisse a socializa-<br />
ção dq bem estar comtemporâneo.<br />
Os afro-indigenas sabem que o dis-<br />
curso sobre a cidadania, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 26 <strong>de</strong><br />
agosto <strong>de</strong>. 1789, quando foi assinada a<br />
Declaração Universal dos Direitos <strong>de</strong><br />
Cidadania, na França, não passou <strong>de</strong><br />
Jogo <strong>de</strong> cena, beneficiando apenas a<br />
população branca. A responsabilida-<br />
<strong>de</strong> social do movimento negro, em<br />
particular é significativa porque é uma<br />
minoria organizada e politizada, com<br />
passagem comprada para o fechadís-<br />
simo clube da "Bélgica" e está éom o<br />
direito adquirido <strong>de</strong> falar em nome <strong>de</strong><br />
45% da população.<br />
Somente uma radical transforma-<br />
ção na estrutura cultural e econômica,<br />
po<strong>de</strong>ria igualar as condições da<br />
'índia", às da "Bélgica". Entretanto,<br />
seria possível a "índia" obter o mesmo<br />
estágio <strong>de</strong>senvolmcntista da "Bélgica",<br />
sem a castração sócio-econômica <strong>de</strong><br />
outros povos? Seria preciso criar filiais<br />
da "fndia", para garantir o mo<strong>de</strong>lo<br />
contemporâneo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento?<br />
Por isso, o movimento negro, poten-<br />
cialmente ao lado do movimento in-<br />
dígena e sem terras, significam a<br />
ponta <strong>de</strong> lança do oprimido.<br />
É justamente aí, on<strong>de</strong> resi<strong>de</strong> a ques-<br />
tão: o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>mocrático por represen-<br />
tação nos mol<strong>de</strong>s atuais, tem fabricado<br />
elites e provocado cada vez mais o distan-<br />
ciamento da massa. Há ainda que supe-<br />
rar os ranços conservadores na compre-<br />
ensão racial da esquerda clássica; mesmo<br />
a igreja progressista, ainda não aproxi-<br />
mou-se do movimento negro, fora <strong>de</strong> sua<br />
própria sacristia. São inúmeros os <strong>de</strong>sdo-<br />
bramentos que po<strong>de</strong>rão ser extraídos da<br />
peleja esquerda X direita.<br />
Estes questionamentos são vitais para<br />
os próximos anos e tanto os militantes<br />
partidários, como os militantes em geral,<br />
<strong>de</strong>verão respon<strong>de</strong>r: como elevar a condi-<br />
ção <strong>de</strong> vida dos povos da "índia", com<br />
os riscos previsíveis para a "Bélgica"?<br />
Um outro dado possível <strong>de</strong> ser utiliza-<br />
do pelos i<strong>de</strong>ólogos, po<strong>de</strong> ser constatado<br />
no livro "Política e Relações Raciais",<br />
da autora Ana Lúcia E.F. Valente/<br />
FFLCH/USP-SP, on<strong>de</strong> a escritora <strong>de</strong>-<br />
núncia que "o prestígio <strong>de</strong>ntro do mo-<br />
vimento negro, dá prestígio no partido e<br />
vice-versa". Por isso, como os movi-<br />
mentos tidos como específicos, vão no<br />
roldão da dinâmica da socieda<strong>de</strong>, tem<br />
levado muitos militantes, <strong>de</strong>vido ao maior<br />
apelo promocional, para a estrutura e dis-<br />
ciplina partidária. ^
Jornal Maioria Falante Dezembro/89 -Janeirb/90 Pág. 7<br />
Não se nega a importância partidária,<br />
entretanto cabe ao movimento negro<br />
i <strong>de</strong>finir-se enquanto proposta social -<br />
iou se quiser, popular, capaz <strong>de</strong> norma-<br />
tizar objetivos mínimos que possam<br />
aten<strong>de</strong>r aos seus diversos segmentos,<br />
inclusive aqueles partidários. Por outro<br />
lado, a criação dos Comitês e Secreta-<br />
rias do negro, revelam que estes espaços<br />
funcionam como o "lugar do negro",<br />
mesmo naqueles partidos progressistas.<br />
Aliás, esta foi uma compreensão comum<br />
do movimento negro, nos anos 70 que já<br />
não aten<strong>de</strong> a concepção dos militantes<br />
nos anos 80, cuja <strong>de</strong>sguetização.-, o tem<br />
• aproximado mais do movimento social,<br />
como um todo.<br />
O MN que se quer<br />
é a competência ^Jjt.<br />
programa extmdo ^ Jf Jf^ „o<br />
^<strong>de</strong>t-poS no Brasa<br />
Este <strong>de</strong>scompasso po<strong>de</strong>rá ser dimi-<br />
nuído ou não, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo dos inte-<br />
resses políticos dos militantes. É este<br />
interesse que se coloca em discussão,<br />
pois o prestígio, às vezes <strong>de</strong> uma luta<br />
tida como específica, como lembrou<br />
a escritora Ana Lúcia E.F. Valente,<br />
po<strong>de</strong> se tornar um instrumento <strong>de</strong> valo-<br />
ração pessoal ou coletiva, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo<br />
do militante, do projeto ou programa em<br />
que esteja inserido. Por ser o movimen-<br />
to negro uma instituição <strong>de</strong> domínio<br />
público — <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que politizado — a uti-<br />
lização po<strong>de</strong> tanto ser para caçar votos<br />
para o Lula quanto para o Collor. Por-<br />
tanto 20 anos após a rearticulação do<br />
MN, há que se repensar práticas, como a<br />
atitu<strong>de</strong> que impeliu alguns militantes<br />
partidários, a realizarem, às vésperas<br />
do 29 turno^um encontro feito às pressas<br />
para <strong>de</strong>finir o apoio à Frente Brasil Po-<br />
pular. É incompreensível que após<br />
tanto tempo, tendo sido realizado dois<br />
super-encontros, Norte-Nor<strong>de</strong>ste e Sul-<br />
Su<strong>de</strong>ste, os militantes partidários, e os<br />
não filiados, não tenham levantado um<br />
programa mínimo do movimento. Re-<br />
correr às Saídas <strong>de</strong> última hora, para<br />
a<strong>de</strong>sões ou programa único, lembra<br />
incompetência ou oportunismo.<br />
O movimento negro que se quer, é<br />
a competência <strong>de</strong> viabilizar a "índia";<br />
não como nação <strong>de</strong> reserva, mas como<br />
cidadãos titulares e i<strong>de</strong>ntificáveis i<strong>de</strong>o-<br />
logicamente, e não apenas cultural-<br />
mente com os gatos pingados que se<br />
acercam da Bélgica.<br />
Que resulte na participação dos povos e<br />
não apenas na mobilização <strong>de</strong> massas.. Com<br />
certeza, nos anos 90,_não se <strong>de</strong>ve falar o<br />
nome <strong>de</strong> Zumbi em vão.<br />
Togo loruba<br />
(Arte-educador-bacharel em Artes Cênicas-<br />
<strong>de</strong>senhista-C/Coord. do Projeto Jornal MAIO-<br />
RIA FALANTE e do <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> Articulação<br />
<strong>de</strong> Populações Marginalizadas).<br />
Beatriz: Atualizand<br />
t^ar^s<br />
"QUE a esquerda fosse menos livresca e mais objetiva,<br />
no sentido prático, <strong>de</strong> passar a consciência para a base.<br />
Para que assim, ela se represente grupalmente e não afigura<br />
<strong>de</strong> pessoas que se pressupõe, representa-las".<br />
(MANEI - Artista Hástico e Militante do MN)<br />
▲ ▲ A<br />
A questão racial atravessa todo o edijicio <strong>de</strong> nossa so-<br />
cieda<strong>de</strong>. A solução cada vez mais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do movimento<br />
pela instituríonalização do MN (associações <strong>de</strong> todos os<br />
tipos, entrada em partidos, igrejas e Estado).<br />
As relações intrinsecas do MN com as esquerdas estão<br />
baseadas neste mega-conflito nacional. Entre 1974 (ano do<br />
início das discussões negras) e 1977, nossos embates foram<br />
muito francos. Todos queríamos romper o arbítrio, e foi<br />
o MN, quem inaugurou a proposta do materialismo dialé-<br />
tico. Nosso discurso e reflexões sobre o real usava a baga-<br />
gem Marxista. Isto acima <strong>de</strong> tudo foi um atributo próprio<br />
<strong>de</strong> nós pretos (os mais subaltemizados dos grupos sociais).<br />
Entretanto a esquerda intelectual nos tomava como<br />
operários e que <strong>de</strong>veríamos romper o processo pelo discur-<br />
so do ódio. Nós, no entanto sabíamos <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro que não<br />
tínhamos armas para a conquista do po<strong>de</strong>r, a não ser aglu-<br />
tinando-nos. Daí o lema do quilombo: agrupamento,<br />
organização, distribuição e amor. Em 1978, o movimento<br />
ingressa na luta pela resistência dos seus bens culturais<br />
(as organizações religiosas e recreativas do nosso povo).<br />
O profundo respeito que tínhamos por nós mesmos neste<br />
processo <strong>de</strong>sembocou na abertura política e atravessamos<br />
esses anos com não-violéncia, oferecendo um exemplo <strong>de</strong><br />
comportamento esquerdista para a vida.<br />
Hoje ingressamos numa outra fase. As questões dos<br />
oprimidos, chamados genericamente <strong>de</strong> minorias: o negro,<br />
a mulher, o homossexual, a criança e o ancião, foram dis-<br />
cutidos exaustivamente por nós e assim o MN está organi-<br />
zado. Nesta nova etapa o que po<strong>de</strong>mos oferecer às esquer-<br />
das nas nossas relações é o "know-how" <strong>de</strong>sta luta que tão<br />
bem empreen<strong>de</strong>mos, pela retomada da liberda<strong>de</strong>.<br />
Axé Zumbi.<br />
Beatriz Nascimento - Historiadora e Militante do MN.
'& $
Pág. 10 Oezembro/89- Janciro/90 Jornal Maioria Falante<br />
por Zé Roberto<br />
Hoje em dia, ser <strong>de</strong> esquerda <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser i<strong>de</strong>ologia para ser<br />
modismo. A maioria dos cartunistas brasileiros, tenta passar<br />
uma falsa imagem <strong>de</strong> intelectuais <strong>de</strong> esquerda, mas basta<br />
olhar o trabalho <strong>de</strong>sses "esquerdistas" publicados anterior-<br />
mente, para concluirmos que tudo não passa <strong>de</strong> momento.<br />
Não é preciso ir a um passado muito distante. 0 próprio pla-<br />
no cruzado enganou muitos <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>senhistas, gerando in-<br />
clusive uma coletânea <strong>de</strong> cartuns reunidos no livro TEM<br />
QUE DÁ CERTO (José Olympio Editora), on<strong>de</strong> vemos uma caricatura <strong>de</strong> Leonel Bri-<br />
zola como bobo da corte, enquanto Sarney é coroado rei {talvez <strong>de</strong> Avilan). Recente-<br />
mente o autor <strong>de</strong>sta charge <strong>de</strong>clarou em uma entrevista ser brizolista. Puro modismo.<br />
O Maioria Falante edita neste número, um jornal especial sobre o crescimento da<br />
esquerda nos últimos meses. Para ilustrar, resolvemos publicar uma página inteira com<br />
os trabalhos <strong>de</strong> um verda<strong>de</strong>iro cartunista <strong>de</strong> esquerda e que são muitos. Verda<strong>de</strong>iros<br />
guerrilheiros do lápis contra a ditadura, tais como Laerte, Nássara, Jaguar, Jesus Ro-<br />
cha e tantos outros. Escolhemos Guidacci e Figueiredo, por causa <strong>de</strong> seus trabalhos<br />
publicados nos jornais 0 REPÓRTER e O PASQUIM. No primeiro turno, Guidacci<br />
votou em Brizola, no segundo votou em Lula, mas para ele o mais importante, in<strong>de</strong>-<br />
pen<strong>de</strong>nte do resultado, é que <strong>de</strong>mocraticamente, a esquerda conquistou seu espaço na<br />
política nacional.<br />
23/10/89 20/10/89 29/11/89
Maria Tereza Ni<strong>de</strong>lçoff, educadora argentina, inicia um<br />
diálogo com os mestres, educadores e professores; co-<br />
loca e distingue a questío do "mestre-policial" ou<br />
"mestre-povo" e a polêmica existente entre uma atitu<strong>de</strong> *'poli-<br />
cialesca e castradora" <strong>de</strong> ensino ou uma criativa <strong>de</strong> "engaja-<br />
mento" na cultura do educando. £ um trabalho consciente das<br />
atuais mudanças nos relacionamentos professor aluno do ensi-<br />
no <strong>de</strong> primeiro grau dos setores menos privilegiados. Livro diri-<br />
gido principalmente àqueles que atuam em favelas, bairros ope-<br />
rários e periferia, questiona os.métodos do ensino vigentes.<br />
Fala-se muito sobre a necessi-<br />
da<strong>de</strong> <strong>de</strong> cooperação entre pais e<br />
mestres. Na prática, no entanto,<br />
as relaçOes muitas vezes estSo<br />
freqüentemente longe <strong>de</strong> serem<br />
harmônicas.<br />
Muitos professores se quei-<br />
xam da incompreensão dos pais.<br />
E muitos pais emitem juízos<br />
pouco favoráveis em relaçío aos<br />
.mestres <strong>de</strong> seus filhos.<br />
Quais sío os motivos <strong>de</strong>ssa<br />
falta <strong>de</strong> entendimento?<br />
Além das razOes que po<strong>de</strong>ría-<br />
mos chamar <strong>de</strong> psicológicas - li-<br />
gadas aos distintos papéis que<br />
pais c mestres têm diante das<br />
crianças e as maneiras diferentes<br />
<strong>de</strong> vc-las —. existem também ra-<br />
zões <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m sócio-cultural li-<br />
gadas à forma <strong>de</strong> interpretar a<br />
realida<strong>de</strong> social c histórica.<br />
Muitos dos atritos provem da;<br />
atitu<strong>de</strong>s que os mestres adotan<br />
diante dos pais. nos bairros ondi<br />
trabalham. Detrás <strong>de</strong>ssas atitu<strong>de</strong>;<br />
encontra-se uma tomada <strong>de</strong> pusi<br />
çfo diante da realida<strong>de</strong>, uma ma<br />
neira <strong>de</strong> ver a socieda<strong>de</strong> c sua:<br />
classes. Às vezes, trata-se <strong>de</strong> pos<br />
tura nío conscientemente assu<br />
midas; mas <strong>de</strong> fato, existe um:<br />
<strong>de</strong>finição implícita em suas cx<br />
pressões e atos.<br />
Quais sío as <strong>de</strong>finições i<strong>de</strong>c<br />
lógicas que caracterizam o qu<br />
po<strong>de</strong>mos chamar <strong>de</strong> um "pre<br />
fessor policial"?<br />
"— Mudaram a fulana par<br />
a escola tal..."<br />
"— Coitada. ... Essa escol<br />
tem uma fama."<br />
As expressões típicas "esce<br />
Ias <strong>de</strong> boa fama" e "escolas d<br />
má fama", conforme sejam es-<br />
colas <strong>de</strong> classe média ou mais<br />
(on<strong>de</strong> os professores preferem<br />
trabalhar) ou <strong>de</strong> classe baixa<br />
(on<strong>de</strong> eles lamentam ter que le-<br />
cionar), tudo isso supõe uma<br />
postura i<strong>de</strong>ológica: a i<strong>de</strong>ntifica-<br />
ção com as classes e a cultura<br />
dominantes.<br />
Essa opção costuma estar<br />
camuflada, <strong>de</strong> forma que não<br />
seja advertida em toda a sua<br />
crueza: trabalhar nas escolas<br />
<strong>de</strong> "má fama" é "<strong>de</strong>salentador",<br />
os pais são "ignorantes", "não<br />
se preocupam", "não colabo-<br />
ram", etc...<br />
Além disso, po<strong>de</strong> haver com-<br />
paixão pelas condições <strong>de</strong> vida<br />
das crianças.<br />
Mas a opção pelo dominador<br />
ou — o que dá ao mesme — o<br />
ato <strong>de</strong> encolher os ombros ante<br />
a sorte do oprimido, <strong>de</strong> fato res-<br />
pon<strong>de</strong>m a outras atitu<strong>de</strong>s: não se<br />
vai até as raízes <strong>de</strong> situação; não<br />
se trabalha <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro da escola<br />
Dezembro/89 - Janeiro/90<br />
Nossas relações com<br />
os pais <strong>de</strong> alunos<br />
para ajudar a tomar consciência<br />
<strong>de</strong> tal situação e suas causas;<br />
conünua-se acreditando que a<br />
solução é assimilar essas crianças<br />
às condições e à i<strong>de</strong>ologia da es-<br />
cola.<br />
Consi<strong>de</strong>ra-se a escola como<br />
algo apolítico, quer dizer, não se<br />
vêem as «onotações políticas <strong>de</strong><br />
seus conteúdos e <strong>de</strong>. sua organi-<br />
zação.<br />
Tal postura acrítica, frente a<br />
i<strong>de</strong>ologia que a escola transmite,<br />
converte o professor — ainda que<br />
ele não queira — num instrumen-<br />
to do opressor para manter a do-<br />
minação sobre os setores mais<br />
pobres, já que se transformou<br />
num dos principais difusores da<br />
i<strong>de</strong>ologia da classe dominante.<br />
— Sua mentalida<strong>de</strong> classe mé-<br />
dia impe<strong>de</strong>-o <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar os<br />
pais dos alunos como compa-<br />
nheiros trabalhadores. Também<br />
lhe é difícil sentir-se a si mesmo<br />
como trabalhador. No geral, ten-<br />
<strong>de</strong> a supervalorizar seu papel <strong>de</strong><br />
"apóstolo", mas um apóstolo<br />
"incompreendido".<br />
Sente que seu trabalho é mui-<br />
to sacrificado, e que esse sacrifí-<br />
cio não é valorizado pelos pais<br />
<strong>de</strong> seus alunos - e se esquece<br />
que essas pessoas trabalham em<br />
condições e horários excessiva-<br />
mente duros, sem serem reco-<br />
nhecidas.<br />
Também se sente injustiçado<br />
quanto à responsabilida<strong>de</strong> que<br />
seu trabalho supõe - mas na prá-<br />
tica, essa responsabilida<strong>de</strong> não é<br />
assumida com profundida<strong>de</strong><br />
diante dos alunos, na medida em<br />
que ele se limita a fazer o míni-<br />
mo exigido.<br />
O fato <strong>de</strong> não se consi<strong>de</strong>rar<br />
como um trabalhador a mais da-<br />
lhe um ar <strong>de</strong> superiorida<strong>de</strong> dian-<br />
te dos pais.<br />
Mais do que no trato indivi-<br />
dual <strong>de</strong> professor a pai, a rela-<br />
ção mais plena entre o professor<br />
e os pais trabalhadores dar-se-á<br />
na relação professor-classe ope-<br />
rária em luta pela libertação dos<br />
oprimidos, através <strong>de</strong> dois ca-<br />
minhos: o mestre cidadão e -o<br />
mestre sindicalista.<br />
Aqui seria necessário per-<br />
guntar ao professor se, em seu<br />
compromisso político, está jun-<br />
to ao povo, se está trabalhando<br />
para construir a socieda<strong>de</strong> nova<br />
e liberada, se está possibilitando<br />
— fora das ativida<strong>de</strong>s escolares<br />
- o surgimento da nova escola<br />
com que sonha.<br />
É claro que tal postura con-<br />
tradiz o apoliticismo que al-<br />
guns querem dar à profissão<br />
<strong>de</strong> professor:<br />
- porque, perceber que a<br />
socieda<strong>de</strong> impe<strong>de</strong> o pleno <strong>de</strong>-<br />
senvolvimento humano <strong>de</strong> seus<br />
alunos e não trabalhar para<br />
mudar as circunstâncias <strong>de</strong>ssa<br />
socieda<strong>de</strong>, seria prova <strong>de</strong> muito<br />
pouco amor aos alunos:<br />
— porque as melhores inten-<br />
ções <strong>de</strong> renovar a escola se cho-<br />
cam contra as barreiras da sub-<br />
alimentação, da habitação pre-<br />
cária, da falta <strong>de</strong> material para<br />
trabalhar, etc...<br />
— porque — c isso é muito<br />
importante — o apoliticismo do<br />
professor toma-se anti-educati-<br />
vo, se consi<strong>de</strong>rarmos a impor-<br />
tância <strong>de</strong> um mestre como ima-<br />
gem do homem, na gestação das<br />
atitu<strong>de</strong>s dos alunos.<br />
No nível <strong>de</strong> professor sindica-<br />
lista, ele será "professor-povo"<br />
na medida em que não se isole<br />
nas reivindicações meramente<br />
salariais, e não apenas entre edu-<br />
cadores; antes dos salários <strong>de</strong>ve<br />
reivindicar a escola do povo e<br />
integrar sua ação nas lutas da<br />
classe trabalhadora.<br />
Texto do livro "UMA ESCOLA<br />
PARA O POVO" - Maria<br />
Teresa Nidclcoff - (pág. 96)<br />
Editora Brasilicnsc - 16. a Ed -<br />
1983.<br />
As esquerdas e a<br />
<strong>de</strong>mocracia<br />
por Carlos Emilio Viegas<br />
Fica evi<strong>de</strong>nte que as<br />
esquerdas, hoje no<br />
Brasil, ainda pous-<br />
suem uma gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong><br />
em lidar com a <strong>de</strong>mocracia.<br />
Isto se dá em função do pró-<br />
prio processo histórico e a<br />
puerilida<strong>de</strong> que se refletem na<br />
ação das esquerdas além, é<br />
claro, <strong>de</strong>las se sentirem como<br />
um estranho num ninho que é<br />
este complexo sistema cons-<br />
truído pelos nossos quatro<br />
séculos <strong>de</strong> vida e aprofundado<br />
pela ditadura militar nas últi-<br />
mas décadas.<br />
Terminadas as apurações<br />
do I. 0 turno po<strong>de</strong>mos tirar<br />
algumas conclusões tais como<br />
o fato do discurso revolucio-<br />
nário, <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados seto-<br />
res das esquerdas, ter ficado<br />
trancado nas gavetas dos<br />
"aparelhos".<br />
É claro também que o Leo-<br />
nel Brizola <strong>de</strong>sponta como a<br />
gran<strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança nacional (pe-<br />
la esquerda) e que o Partido^<br />
dos Trabalhadores indubita-<br />
velmente prima pela organiza-<br />
ção, até porque oi. 0 turno<br />
possibilitou um mapeamento<br />
Pág. 11<br />
Enfim, coloca-se diante<br />
das esquerdas uma esfinge:<br />
"Ou se <strong>de</strong>cifra este enigma<br />
(a questão da UNIDADE) ou<br />
seremos todos <strong>de</strong>vorados".<br />
Quanto aos revolucionários,<br />
po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já pensar na or-<br />
ganização do seu próximo<br />
evento: "Uma guerra <strong>de</strong> ma-<br />
mona com seus bodoques".<br />
E, se ficarem zangados, nos<br />
encontraremos no próximo<br />
Congresso da CUT para o<br />
enterro dos ditos grupelhos<br />
i<strong>de</strong>ológico-eleitoral do país.<br />
Vença ou perca, a candidatu-<br />
ra LULA, o qge po<strong>de</strong> ficar <strong>de</strong><br />
mais importante nestas elei-<br />
ções é o MARCO ZERO DA<br />
CONSTRUÇÃO DA UNIDA-<br />
DE DAS ESQUERDAS. Po-<br />
<strong>de</strong>rão então as esquerdas<br />
"palmar <strong>de</strong>mocraticamente"<br />
a nação, a partir das eleições<br />
<strong>de</strong> 1990, "tomando" os prin-<br />
cipais estados brasileiros e se<br />
fortalecendo no Legislativo,<br />
isto se a serieda<strong>de</strong> se sobrepu-<br />
ser ao sectarismo.<br />
- CARLOS EMÍLIO DE<br />
NAZARÉ GÓES VIEGAS<br />
Professor <strong>de</strong> Matemática<br />
e Músico.<br />
Reflexões quilombolas<br />
em um estado <strong>de</strong><br />
calamida<strong>de</strong> pública<br />
por Togo lomba<br />
O acúmulo <strong>de</strong> renda, o<br />
controle da produção<br />
e o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> consumo,<br />
contribuíram para a formação<br />
<strong>de</strong> uma oligarquia hereditária,<br />
branca, cristã e proprietária. Es-<br />
ta minoria dominante, <strong>de</strong>termi-<br />
na há quatrocentos anos a cons<br />
trução <strong>de</strong> dois brasis: Um, ex-<br />
presso por um estado que se<br />
confun<strong>de</strong> com uma aristocracia<br />
etnocêntrica. O outro, represen-<br />
tado por uma pluralida<strong>de</strong> cultu-<br />
ral — <strong>de</strong> maioria afro-brasileira —<br />
significando povos, cujo traço<br />
comum é a exploração secular a<br />
que estão submetidos os não<br />
brancos, pelos proprietários da<br />
oitava economia mundial.<br />
Deste modo, os discursos do<br />
tipo "comunida<strong>de</strong> nacional" ou<br />
"<strong>de</strong>mocracia racial" não bastam<br />
para abafar a realida<strong>de</strong> dos ex-<br />
clu<strong>de</strong>ntes dos direitos <strong>de</strong> cidada-<br />
nia. Po<strong>de</strong>-se dizer que o sonho li-<br />
beral nascido em 26 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong><br />
1779, na Assembléia dos Estados<br />
Gerais da França, com a Declara-<br />
ção Universal dos Direitos do Ci-<br />
dadão, quando invadiu a Casa<br />
Gran<strong>de</strong> e a Senzala, não foi sufi-<br />
ciente para evitar que hoje, 101<br />
anos após a Abolição, ainda o<br />
povo negro continue em luta pa-<br />
ra ter os seus direitos garantidos.<br />
Os eventos da liberda<strong>de</strong>, igual-<br />
da<strong>de</strong> e fraternida<strong>de</strong>, entraram<br />
em calmaria, diante do genocí-<br />
dio das nações indígenas, <strong>de</strong>ixan-<br />
do duzentos e vinte mil índios a<br />
questionarem a tutela do Estado<br />
com direito a folclorização, ou a<br />
ren<strong>de</strong>r-se à or<strong>de</strong>m e ao progres-<br />
so, assumindo o papel social <strong>de</strong><br />
cidadãos, mas <strong>de</strong> terceira catego-<br />
ria.<br />
Estas questões não se esgota-<br />
rão, enquanto o lidar com a coi-<br />
sa pública se resumir na fabrica-<br />
ção <strong>de</strong> um exército cultural <strong>de</strong><br />
reserva, atenuado por represen-<br />
tações do oprimido, legitimando<br />
apenas a estrutura coercitiva dos<br />
donos dos negócios e <strong>de</strong> algumas<br />
almas.
por Selma Chvidchenko<br />
Neste artigo <strong>de</strong> Selma Chvid-<br />
chenko, po<strong>de</strong>mos eonstatar uma<br />
importante razão para se priori-<br />
zar a Educação <strong>de</strong> 0 a 6 anos.<br />
COMO A CRIANÇA APRENDE<br />
Até Piaget, supunha-se que o<br />
bebe já nascia com uma <strong>de</strong>termi-<br />
nada cota <strong>de</strong> inteligência, pouco<br />
se po<strong>de</strong>ndo fazer para melhorar<br />
sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r. Pia-<br />
get mostrou que a inteligência se<br />
constrói e que, não for estimula-<br />
da, po<strong>de</strong> ficar a meio caminho.<br />
Para ele, o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
intelectual eqüivale aos proces-<br />
sos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um<br />
embriío, ou aos da transforma-<br />
ção <strong>de</strong> uma semente numa plan-<br />
ta. Ou seja, a capacida<strong>de</strong> para<br />
pensar <strong>de</strong> maneira lógica já está<br />
codificada nos genes do ser hu-<br />
mano. Mas são as estimulações<br />
que a criança recebe, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />
berço, que irão <strong>de</strong>terminar até<br />
que nível sua inteligência irá <strong>de</strong>-<br />
senvolver-se.<br />
Jean Piaget propõe que cada<br />
criança, a partir do nascimento,<br />
constrói seu p.óprio mo<strong>de</strong>lo do<br />
mundo que o cerca. Ela faz isto<br />
através <strong>de</strong> uma infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ex-<br />
periências diretas com pessoas e<br />
objetos, e, na assimilação <strong>de</strong> no-<br />
vos fatos, suas próprias auto<strong>de</strong>s-<br />
cobertas são revisadas, ten<strong>de</strong>ndo<br />
a eliminar erros dos conceitos<br />
anteriores.<br />
No <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> suas pesqui-<br />
sas, ele chegou à conclusão <strong>de</strong><br />
que a criança apren<strong>de</strong> em fases<br />
distintas, relacionadas com a ida-<br />
<strong>de</strong>. Assim como Freud <strong>de</strong>scobriu<br />
que as escorrega<strong>de</strong>las da palavra<br />
CRECHE<br />
COMUNITÁRIA<br />
'porque é importante a educação <strong>de</strong> 0 a 6 anos"<br />
são caminhos para o inconscien-<br />
te. Piaget <strong>de</strong>scobriu que os erros<br />
mentais que as crianças cometem<br />
são pistas para os processos inte-<br />
lectuais precursores do pensa-<br />
mento dos adultos.<br />
A partir <strong>de</strong>sta constatação,<br />
ele estudou profundamente o <strong>de</strong>-<br />
senvolvimento intelectual infan-<br />
til, dividindo-os em estágios ou<br />
etapas, caracterizadas pela suces-<br />
siva complexida<strong>de</strong> e maior inte-<br />
gração dos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> pensa-<br />
mento.<br />
Assim, os dois primeiros anos<br />
<strong>de</strong> vida são chamados período<br />
sensoriomotor, quando a criança<br />
se preocupa, principalmente, em<br />
conseguir um domínio sobre os<br />
objetos. Nos períodos pré-opera-<br />
cional e intuitivo, respectivamen-<br />
te <strong>de</strong> dois a quatro anos e <strong>de</strong><br />
quatro a sete anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, sua<br />
preocupação maior é com sím-<br />
bolos, como os da linguagem, da<br />
fantasia, dos sonhos e das brinca-<br />
<strong>de</strong>iras. Nesta fase, é muito natu-<br />
ral que a criança pense tudo em<br />
termos <strong>de</strong> sua própria pessoa e<br />
ativida<strong>de</strong>.<br />
Se ela acha que a lua anda<br />
atrás <strong>de</strong>la, por exemplo, ou que<br />
os sonhos entram voando~pela<br />
janela, isto significa apenas que,<br />
<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> suas possibilida<strong>de</strong>s, es-<br />
tá estabelecendo uma importan-<br />
te relação <strong>de</strong> causa e efeito. Não<br />
é, pois, um egocentrismo por es-<br />
colha, e sim por necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
aprendizagem <strong>de</strong> viver.<br />
Dos sete aos doze anos <strong>de</strong> ida-<br />
<strong>de</strong>, situa-se a etapa operacional-<br />
concreta, quando a criança apren-<br />
<strong>de</strong> a lidar com números, com<br />
relações e classes, e com a me-<br />
lhor maneira <strong>de</strong> raciocinar a res-<br />
peito disto tudo. Finalmente,<br />
Dczembro/89 Janeiro/90 Jornal Maioria Falante<br />
nos três anos seguintes, ela en-<br />
tra na fase operacional-abstrata,<br />
quando ela se ocupa com o do-<br />
mínio do raciocínio puramente<br />
lógico, e é capaz <strong>de</strong> pensar a res-<br />
peito <strong>de</strong> seu próprio pensamen-<br />
tos ou <strong>de</strong> outras pessoas. É mui-<br />
to possível que a fascinação dos<br />
adolescentes pela sua facilida<strong>de</strong><br />
em visualizar alternativas - pen-<br />
samento abstrato — seja o que<br />
os torna ansiosos por experimen-<br />
tar <strong>novo</strong>s estilos <strong>de</strong> vida e i<strong>de</strong>ais<br />
utópicos.<br />
Segundo Piaget, todas as<br />
crianças passam por »estágios<br />
que se suce<strong>de</strong>m numa seqüência<br />
invariável e universal. O que não<br />
há, porém, é uma ida<strong>de</strong> rígida<br />
para cada um <strong>de</strong>sses estágios. O<br />
interesse do educador <strong>de</strong>ve ser<br />
sempre o <strong>de</strong> acompanhar a evo-<br />
lução do pensamento da criança,<br />
a maneira como ela acomoda seu<br />
organismo ao meio ambiente ou<br />
como, com novas soluções, ela<br />
modifica uma estrutura que já<br />
encontra preparada; ê a teoria da<br />
assimilação.<br />
Esta ênfase <strong>de</strong> Jean Piaget na<br />
interação das funções biológicas<br />
e <strong>de</strong> estrutura do ambiente, ela-<br />
borada no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> mais <strong>de</strong><br />
60 anos <strong>de</strong> pesquisas, foi tão re-<br />
volucionária e libertadora quan-<br />
to as teorias <strong>de</strong> Freud a respeito<br />
do <strong>de</strong>senvolvimento em estágios<br />
da vida emocional.<br />
O impacto <strong>de</strong>stas teorias so-<br />
bre a maneira <strong>de</strong> se encarar as<br />
crianças foi enorme em todo o<br />
mundo, trazendo profundas mu-<br />
danças pedagógicas. Suas pes-<br />
quisas alteraram basicamente a<br />
percepção do homem em relação<br />
ao mecanismo e ao funciona-<br />
mento da própria inteligência.<br />
A importância da Ilustração<br />
Qual a importância da ilustra-<br />
ção na Literatura Infantil e Ju-<br />
venil? A essa pergunta cabe a<br />
resposta "muito importante". A<br />
imageni é uma das formas <strong>de</strong> lin-<br />
guagem e este final <strong>de</strong> século po-<br />
<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado como o do<br />
boom'da comunicação visual,<br />
cujo carro-cí^efe é a televisão,<br />
através <strong>de</strong> uma linguagem massi-<br />
ficada e esteriotipada da cultura.<br />
E é essa discussão que a Fun-<br />
dação Nacional do Livro Infantil<br />
e Juvenil - FNLIJ tem mantido<br />
em todos os seus trabalhos. E já<br />
se tem resultados. Está claro que<br />
a imagem, no caso da LU, é utili-<br />
zada ainda com pouca dose <strong>de</strong><br />
criativida<strong>de</strong>. A mentalida<strong>de</strong> está<br />
mudando, até mesmo entre os<br />
editores. Hoje vemos bons livros<br />
com excelentes ilustrações.<br />
Por que as ilustrações <strong>de</strong>vem<br />
ser <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong>, não só téc-<br />
nica? Assim como se distingue<br />
texto <strong>de</strong> boa e má qualida<strong>de</strong>,<br />
também a ilustração precisa ser<br />
envolvida na qualificação da<br />
obra.<br />
Ao se <strong>de</strong>finir uma ilustração<br />
como <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong>, precisa-<br />
mos ter os parâmetros semelhan-<br />
tes ao do texto. Ele é bom quan-<br />
do sua narrativa permite ao lei-<br />
tor "viajar" na leitura, por exem<br />
pio. A ilustração é boa, portai<br />
to, quando ela propõe outras lei-<br />
turas, sem <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ^r narrati-»<br />
va; é boa quando r ilustrador<br />
não apenas interpreta o texto,<br />
mas inclui a sua própria leitura<br />
do texto e permite que também<br />
o leitor crie a sua ou suas leitu-<br />
ras.<br />
A linguagem visual é funda-<br />
mental na formação <strong>de</strong> leitores.<br />
Os livros sem texto, ao mesmo<br />
tempo em que dão ás crianças<br />
que não sabem ler a possibilida-<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong> criarem sua narrativa, são<br />
extremamente importantes para<br />
a formação do hábito e do con-<br />
tato com o objeto livro.<br />
Esse contato não se restringe<br />
às crianças menores. No Brasil<br />
on<strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> adultos não sa-<br />
bem ler, a linguagem visual - e<br />
aí está a televisão para compro-<br />
var isso - tem um enorme po<strong>de</strong>r<br />
<strong>de</strong> interação com o meio.<br />
Além <strong>de</strong>ssas questões, tam-<br />
bém o compromisso <strong>de</strong> co-auto-<br />
ria é consi<strong>de</strong>rado primordial. No<br />
último congresso da FNLIJ, rea-<br />
lizado cm julho, Ziraldo ressal-<br />
tou a importância <strong>de</strong> o ilusttaoor<br />
ser também co-autor da obra.<br />
.embrou que a mentalida<strong>de</strong> dos<br />
editores está mudando e poucos<br />
são os que ainda pensam que<br />
ilustração é apenas <strong>de</strong>senhar para<br />
uma história. É muito mais. É, a.<br />
seu ver, escrever pela imagem<br />
uma história sem que seja uma<br />
outra história, mas que ao mes-<br />
mo tempo representa uma outra<br />
leitura que dá origem a várias ou-<br />
tras leituras. Sem, no entanto,<br />
fugir da narrativa.<br />
Não é fácil. Mas já temos no<br />
Brasil ilustradores com essa preo-<br />
cupação. E são muitos. E é im-<br />
portante, também, que o maior<br />
número <strong>de</strong> ilustradores brasilei-<br />
ros participem <strong>de</strong> eventos nacio-<br />
nais e internacionais, que incen-<br />
tivam o criador <strong>de</strong> imagem <strong>de</strong><br />
qualida<strong>de</strong>, responsável por uma<br />
leitura imediata e sem fronteiras<br />
<strong>de</strong> idioma.<br />
As boas imagens são, antes <strong>de</strong><br />
tudo, reflexo do^espeito que se<br />
tem com os pequenos e jovens<br />
leitores. E ao olhar atento <strong>de</strong>s-<br />
ses pequenos leitores <strong>de</strong>vem se<br />
juntar nossos educadores, críti-<br />
cos e editores. (Notícias 11 -<br />
FNLIJ)<br />
tf^Uv*<br />
r GUERRA<br />
NAS I<br />
ENTRANHAS<br />
0 Fimço<br />
8ALfiÍ><br />
Livros Infanto -Juvenis<br />
I - NA PISTA DO PERIGO<br />
Virgínia e Maura<br />
Ed. Antares<br />
• Motiva os escolares a co-<br />
nhecerem melhor alguns problemas<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> comuns a gran<strong>de</strong> número<br />
<strong>de</strong> crianças brasileiras.<br />
II - GUERRA NAS ENTRANHAS<br />
Ana Clara Ribeiro<br />
Antares - Unilivros<br />
• Há mundos <strong>de</strong>ntro dos<br />
mundo, precisa tomar cuidado.<br />
III- O FEITIÇO DA LAGOA<br />
Virgínia Schall<br />
Antares — Unilivros<br />
• Não era feitiço, era uma<br />
doença conhecida e que atinge mui-<br />
tas crianças.<br />
IV- QUITA, a mesquita<br />
Carlos Pimentel<br />
Antares — Unilivros<br />
• A luta continua, e em cer-<br />
tos casos uma mosquita é mais pe-<br />
rigosa que uma onça.<br />
V - BALAS, BOMBONS,<br />
CARAMELOS<br />
Ana Maria Machado<br />
• PIPO - Um gran<strong>de</strong> sujeito,<br />
mas tinha <strong>de</strong>ntes só prá comer ba-<br />
las.<br />
Um dia...<br />
- Indicação <strong>de</strong> LUÍS - Ani-<br />
mador cultural e Coor<strong>de</strong>nador do<br />
Projeto <strong>de</strong> Defesa do Meio-Ambien-<br />
íe"VERDEJAR".<br />
FATO É FATO<br />
O INTERNATIONAL<br />
BOARD BOOKS FOR<br />
YOUNG PEOPLE (IBBY)<br />
convoca os Chefes <strong>de</strong> Estado<br />
<strong>de</strong> todo o mundo para faze-<br />
rem ,<strong>de</strong> 1990 - o ANO IN-<br />
TERNACIONAL DA ALFA-<br />
BETIZAÇÃO - o ano em<br />
que todas as crianças terão a<br />
oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r a<br />
ler.<br />
"É hora <strong>de</strong> parar <strong>de</strong> falar so-<br />
bre o analfabetismo e seus<br />
efeitos, no presente e no futu-<br />
ro, e tonru uma atitu<strong>de</strong>.<br />
Crianças e livros <strong>de</strong>vem an-<br />
dar juntos. Nenhuma Nação é<br />
forte se suas crianças não co-<br />
nhecerem sua história e seus<br />
costumes, se não pu<strong>de</strong>rem es-<br />
crever sobre suas experiências<br />
K-ILCI i :<br />
e não enten<strong>de</strong>rem os princí-<br />
pios básicos da ciência e da.<br />
matemática.<br />
A leitura é o único meio<br />
através do qual a criança po-<br />
<strong>de</strong> adquirir opiniões vitais<br />
para se tornar um adulto ma-<br />
duro e responsável, capaz <strong>de</strong><br />
levar avante o trabalho do fu-<br />
turo.<br />
Encorajamos os governos,<br />
em todos os seus escalões, a<br />
darem às crianças as ferra-<br />
mentas necessárias para que<br />
sejam alfabetizadas: escolas,<br />
bibliotecas, professores, bi-<br />
bliotecários e livros <strong>de</strong>vem ser<br />
a nossa priorida<strong>de</strong> máxima.<br />
No mundo <strong>de</strong> hoje, formar<br />
e educar uma criança, corre-<br />
tamente, significa "ensina-la a<br />
ler". (Unosco)
Jornal Maioria Falante<br />
FAZER ARTE COM 0 QUE<br />
A VIDA OFERECE<br />
O nosso povo (brasileiro) é<br />
negro ou <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> negro<br />
(em sua maioria).<br />
As bonecas que nossas crian-<br />
ças brincam (quando têm para<br />
brincar) sáo brancas.<br />
O lixo que produzimos nSo<br />
sabemos o que fazer com ele.<br />
Reciclar coisas inúteis, recriar<br />
os traços <strong>de</strong> nossa cultura e fazer<br />
arte com o que a vida oferece.<br />
O artesanato a arte necessária<br />
surge através das bonecas negras<br />
ABAYOMI como instrumento<br />
<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação cultural, mos-<br />
trando em sua expressão a digni-<br />
da<strong>de</strong> <strong>de</strong> nossos ancestrais num<br />
processo <strong>de</strong> fortalecimento da<br />
auto-estima do povo brasileiro,<br />
re<strong>de</strong>scobrindo suas origens na<br />
busca <strong>de</strong> sua libertação.<br />
ABAYOMI, boneca negra sem<br />
cola e sem costura, utilizando-se<br />
como ferramenta apenas a tesou-<br />
ra. A matéria prima <strong>de</strong>ste artesa-<br />
nato são as sobras <strong>de</strong> fábrica <strong>de</strong><br />
roupa, malharias, restos <strong>de</strong> car-<br />
naval (o lixo do luxo).<br />
Esta técnica é uma criação <strong>de</strong><br />
Lena Martins, que vem <strong>de</strong>senvol-<br />
vendo e aprimorando <strong>de</strong>s<strong>de</strong> ju-<br />
nho <strong>de</strong> 1987 <strong>de</strong>ntro dos CIEPs,<br />
através da Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Ani-<br />
mação Cultural e do Grupo Anô-<br />
nimo <strong>de</strong> Cultura.<br />
Eis algumas participações <strong>de</strong><br />
Lena Martins e ABAYOMI:<br />
- I Encontro <strong>de</strong> Mulheres<br />
Negras RJ<br />
- I Feira do livro-Afro - RJ<br />
- vamos Brincar <strong>de</strong><br />
Quilombo - RJ<br />
- II Festival Latino<br />
Americano <strong>de</strong> Arte e<br />
Cultura - DF<br />
En<strong>de</strong>reço para contatos - LENA<br />
Rua dos Biólogos 1.040 -<br />
Jardim Boiúna - TAQUARA -<br />
JACAREPAGUÂ - RIO DE<br />
JANEIRO - RJ - CEP 22.700<br />
Telefone (021) 342.9853<br />
(somente às quartas feiras 08/<br />
12hs).<br />
XXX<br />
OFICINA DA PALAVRA.<br />
ELEIÇÕES<br />
Foi emocionante a participa-<br />
ção das crianças durante a cam-<br />
panha eleitoral.<br />
No meio <strong>de</strong> muita discussão e<br />
<strong>de</strong> materiais bonitos e bem ela-<br />
borados, o aluno da Classe <strong>de</strong> Al-<br />
fabetização não se inibiu.<br />
Aproveitando o tema, lançou<br />
na "OFICINA DA PALAVRA"<br />
sua tendência partidária, numa<br />
tentativa <strong>de</strong> subverter o voto da<br />
professora no 1. 0 turno...<br />
"Tia Elierte,Brizola é corrupto.<br />
Temos que ir com Lula."<br />
...E como reforço para garan-<br />
tir a unida<strong>de</strong> no 2.° turno:<br />
"13 LULA<br />
É no Lula mesmo".<br />
Gilberto Rodrigues Boca Jr. -<br />
6 anos.<br />
COLfiGIO ANGELORUM -<br />
CA- Prof.a ELIERTE<br />
XXX<br />
III ENCONTRO DE<br />
COMUNIDADES NEGRAS<br />
RURAIS DO MARANHÃO<br />
Promoção: Grupo Negro Pal-<br />
mares Renascendo<br />
Local: Colégio N. Sra. dos<br />
Anjos - BACABAL - MA<br />
Em julho <strong>de</strong> 1989, no Mara-<br />
nhão, 35 povoados <strong>de</strong>nominados<br />
"terras <strong>de</strong> preto" <strong>de</strong> 21 municí-<br />
pios maranhenses discutiram e<br />
avaliaram a situação educacional<br />
na zona rural e o momento polí-<br />
tico.<br />
As observações feitas revelam<br />
que a educação escolar não exis-<br />
te ou se realiza precariamente.<br />
As escolinhas geralmente pos-<br />
suem <strong>de</strong> l.a a 3. a série, sendo<br />
que é na área inicial que se con-<br />
' centfa um número maior <strong>de</strong> alu-<br />
Dezembro/89 - Janeiro/90<br />
O que rola na<br />
Comunida<strong>de</strong> Escolar<br />
nos, uma vez que a lavoura ab-<br />
sorve o braço.infantil, causando<br />
o abandono da escola. São raros<br />
os que chegam até a 4. a série.<br />
O Tema do Encontro - "O<br />
Negro e a Educação do Meio<br />
Rural" - foi bastante discutido<br />
e somou-se à evasão escolar,<br />
uma série <strong>de</strong> entraves para o<br />
não funcionamento da educa-<br />
ção escolar na zona rural.<br />
Entre os problemas aponta-<br />
das, além dos baixíssimos salá-<br />
rios das professoras, condições<br />
precárias, falta <strong>de</strong> espaço nos<br />
prédios, e as gran<strong>de</strong>s distâncias<br />
entre a escola e a moradia dos<br />
alunos, constatou-se que a me-<br />
renda escolar é usada com fins<br />
eleitorais, isto é, se um <strong>de</strong>termi-<br />
nado povoado não expressou<br />
nas umas sua opção pelo Prefei-<br />
to eleito, há um corte no envio<br />
da alimentação para a escola da-<br />
quela localida<strong>de</strong>.<br />
Quanto á discussão do sub-te<br />
ma Momento Político na Zona<br />
Rural, os trabalhadores (homens<br />
e mulheres) que participaram do<br />
III ECNRMA, estavam favoráveis<br />
a uma candidatura <strong>de</strong> esquerda,<br />
sendo LULA o preferido, com<br />
90% das intenções dos votos. Foi<br />
duramente rechaçado e criticado<br />
o Candidato da "REDE GLO-<br />
BO" e "dos po<strong>de</strong>rosos", e consi-<br />
<strong>de</strong>rou-se que nos povoados, a<br />
maioria dos prefeitos eleitos não<br />
cumpriu suas promessas <strong>de</strong> cam-<br />
panha, em especial com a ques-<br />
tão da Educação.<br />
Dentre as propostas apresen-<br />
tadas para encaminharem solu-<br />
ções para os graves problemas<br />
apontados, <strong>de</strong>stacamos as se-<br />
guintes: reivindicar junto às au-<br />
torida<strong>de</strong>s governamentais e aos<br />
nolíticos, a construção e/ou me-<br />
lhoria <strong>de</strong> escolas; exigir a mudan-<br />
ça do calendário escolar, para<br />
evitar o afastamento das crian-<br />
ças da escola durante as ativida-<br />
<strong>de</strong>s agrícolas <strong>de</strong> cada povoado,<br />
<strong>de</strong>nunciar as irregularida<strong>de</strong>s e^<br />
corrupção; discutir a questão das<br />
eleições presi<strong>de</strong>nciais e <strong>de</strong>smas-<br />
carar nos seus respectivos povoa-<br />
dos a tarsa "COLLOR DE MEL-<br />
LO".<br />
(Fonte: - Pequena Síntese<br />
do III Encontro <strong>de</strong> Comunida<strong>de</strong>s<br />
Negras Rurais do Maranhão; Jor-<br />
nal ZUMBIDO, do <strong>Centro</strong> <strong>de</strong><br />
Cultura Negra do Maranhão/<br />
Edição Especial - Agosto/89).<br />
XXX<br />
TH AIS MOTTA, da 4.a Série<br />
do Colégio Santa Rosa <strong>de</strong> Lima,<br />
em seu livro "CRIANÇA CRIAN-<br />
DO" comunica:<br />
TV POLÍTICA<br />
Quando se liga a TV<br />
E ela fala sem parar<br />
O assunto é política<br />
Eles não param <strong>de</strong> falar.<br />
Um acusa o outro<br />
E fica sempre assim<br />
Esse lenga-lenga<br />
Parece não ter fim<br />
E a TV se cansa<br />
Cansa tanto até que pifa<br />
Melhor o telespectador<br />
Fazer logo a sua rifa.<br />
Então acaba a política<br />
Tudo volta ao normal<br />
Crianças dormindo<br />
quietinhas<br />
Ou brincando no quintal.<br />
XXX<br />
A estudante Adriana <strong>de</strong> Oli-<br />
veira, 13 anos, da 4. a Serie da<br />
E. M. Emiliano Galdino, cm San-<br />
ta Cruz, Rio <strong>de</strong> Janeiro, venceu<br />
Pág. 13<br />
com esta redação o Concurso<br />
"CIDADANIA - Como Admi-<br />
nistrador e sua Cida<strong>de</strong>", o que<br />
lhe <strong>de</strong>u o direito a exercer, por<br />
uma semana, o cargo <strong>de</strong> Coor<strong>de</strong>-<br />
nadora-Mirim das RegiOes Admi-<br />
nistrativas.<br />
ADRIANA DE OLIVEIRA<br />
"Cidadão, para mim, é a pes-<br />
soa que ajuda o Brasil. É aquele*<br />
que não pensa só em si. O verda-<br />
<strong>de</strong>iro cidadão pensa como se fos-<br />
se um conjunto.<br />
A maioria dos governantes<br />
não é verda<strong>de</strong>iro cidadão, pois<br />
não ligam para o povo. Eles só<br />
querem votos, <strong>de</strong>pois esquecem<br />
tudo que prometem.<br />
Eu sou criança, mas se pu<strong>de</strong>s-<br />
se administrar o meu bairro por<br />
alguns dias faria muitas coisas.<br />
Mandaria asfaltar as ruas e dra-<br />
gar os rios <strong>de</strong> várias partes <strong>de</strong><br />
Santa Cruz para evitar as lamas e<br />
as enchentes que causam muitas<br />
doenças e <strong>de</strong>sgraças. Daria aten-<br />
ção às escolas pois é aí que nós<br />
crianças apren<strong>de</strong>mos a ser cida-<br />
dãos.<br />
Visitaria os vários lugares <strong>de</strong><br />
Santa Cruz para falar com as<br />
pessoas que querem fazer <strong>de</strong><br />
Santa Cruz um lugar bom para<br />
se viver. Eu e todo o povo que<br />
vive aqui lutaríamos até sermos<br />
ouvidos e conseguirmos realizar<br />
a nossa vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> viver como<br />
gente.<br />
Mas como eu não sou uma<br />
autorida<strong>de</strong>, eu só posso torcer<br />
para que os governantes façam<br />
algo pelo povo <strong>de</strong> Santa Cruz".<br />
(DüNotícias <strong>de</strong> 06 12 89 - p. 323)<br />
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Sábados a partir das 16,00 hs.
Pág. 14<br />
por Wilson Pru<strong>de</strong>nte<br />
Os analistas políticos <strong>de</strong><br />
todos os matizes i<strong>de</strong>o-<br />
lógicos, estão perplexos<br />
diante da performance do candi-<br />
dato Fernando Collor no primei-<br />
ro turno das eleições presi<strong>de</strong>n-<br />
ciais. Pois sem nenhuma estru-<br />
tura partidária, seu PRN e na<br />
melhor das hipóteses uma legen-<br />
da <strong>de</strong> aluguel, Collor chegou a<br />
momentos <strong>de</strong> conquistar quase a<br />
maioria absoluta das inteções <strong>de</strong><br />
voto na aferição <strong>de</strong> diferentes<br />
institutos <strong>de</strong> opinião pública.<br />
Atribuir a avalanche <strong>de</strong> votos<br />
<strong>de</strong> Collor no primeiro turno à<br />
sua não bem explicada campa-<br />
nha <strong>de</strong> "caça aos marajás" é<br />
no mínimo um equívoco. Isto<br />
seria o mesmo que acreditar na<br />
farsa dos marajás alagoanos.<br />
Se a bem divulgada farsa dos<br />
marajás, pu<strong>de</strong>sse resultar num<br />
sucesso eleitoral tão absoluto,<br />
teríamos que acreditar também<br />
que i Delegado Romeu Tuma,<br />
este sim na atribuição <strong>de</strong> seu<br />
cargo, ganharia estas eleições já<br />
no primeiro turno com maioria<br />
absoluta <strong>de</strong> votos. Talvez nin-<br />
guém mais que ele tenha tido<br />
sua imagem tão veiculada na mí-<br />
dia na caça a tudo quanto é fora<br />
da Lei.<br />
O fenômeno Collor precisa<br />
ser estudado na contextualização<br />
<strong>de</strong> um <strong>novo</strong> tipo <strong>de</strong> populismo,<br />
o populismo eletrônico. A ima-<br />
gem <strong>de</strong> Collor estava previamen-<br />
te vendida. O seu rostínho é<br />
muito parecido com o dos ga-<br />
lãs <strong>de</strong> telenovela e apresenta-<br />
Dezembro/89 Janeiro/9ü<br />
Populísmo Eletrônico<br />
dores <strong>de</strong> tele-jomais, que dia-<br />
riamente entram nas nossas ca-<br />
sas e fazem o <strong>de</strong>lírio das donas-<br />
<strong>de</strong>-casa frustradas socialmente e<br />
sexualmente. Aquele trabalha-<br />
dor simples, que nunca foi sócio<br />
<strong>de</strong> qualquer sindicato, e jamais<br />
compareceu a qualquer assem-<br />
bléia da sua categoria, na ver-<br />
da<strong>de</strong> gostaria <strong>de</strong> ser um Fábio<br />
Júnior ou Toni Ramos, para<br />
causar <strong>de</strong>lírio na sua esposa e<br />
nas <strong>de</strong>mais mulheres. Quando<br />
olha no espelho este trabalha-<br />
dor simples e "alienado" per-<br />
cebe que ele se parece mais<br />
com Lula do que com o Col-<br />
lor. Mas ele se auto-rejeita<br />
profundamente.<br />
O trabalhador simples ç. mau<br />
pago é tudo o que não gostaria<br />
<strong>de</strong> ser. Ele está F. . . e vê uma<br />
outra pessoa como êle, que tam-<br />
bém chegou a São Paulo <strong>de</strong><br />
"Pau-<strong>de</strong>-arara", que como ele<br />
também não tem estudos supe-<br />
riores, querendo ser o Presi<strong>de</strong>n-<br />
@®<br />
te da República, para ele é qua-<br />
se um <strong>de</strong>saforo.<br />
O Collor para ele é mais com-<br />
preensível, pois ele já nasceu ri-<br />
co, e tem a cara que ele já se<br />
acostumou a ver no po<strong>de</strong>r. O<br />
rosto das classes dominantes.<br />
A socieda<strong>de</strong> burguesa, criou<br />
um mo<strong>de</strong>lo i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> ser humano,<br />
que está baseado na imagem eu-<br />
ropéia ou europeizada e numa<br />
posição elevada na hierarquia<br />
social. O casal Xuxa e Aírton<br />
Senna, são os exemplos típicos<br />
<strong>de</strong> sucesso financeiro, associado<br />
a uma imagem jovem e sedutora.<br />
Pele e Milton Nascimento por<br />
melhores sucedidos que tenham<br />
sido em suas respectivas pro-<br />
fissões, não <strong>de</strong>sempenham o<br />
papel do mo<strong>de</strong>lo i<strong>de</strong>al, pelo<br />
caráter essencialmente europeu<br />
: <strong>de</strong>ste mo<strong>de</strong>lo.<br />
Em outras palavras, o concei-<br />
to implícito do mo<strong>de</strong>lo i<strong>de</strong>al é<br />
um conceito profundamente disr<br />
criminatório. Estão excluídos<br />
<strong>de</strong>ste mo<strong>de</strong>lo, os negros, os po-<br />
bres em geral, os gordos e gor-<br />
dinhas, os baixinhos e baixinhas<br />
e também os trabalhadores ma-<br />
nuais como Lula. O mo<strong>de</strong>lo<br />
i<strong>de</strong>al privilegia o trabalho inte-<br />
lectual e artístico em <strong>de</strong>tri-<br />
mento do trabalho manual ope-<br />
racional.<br />
Lula não é branquinho ao<br />
gosto das nossas elites, não é<br />
magrinho, não é alto e não<br />
tem os olhos claros. Parado-<br />
xalmente a rejeição <strong>de</strong> Lula é<br />
maior entre os seus iguais, e<br />
porquê? Além do sentimento<br />
<strong>de</strong> auto-rejeição que já expli-<br />
camos anteriormente, existe o<br />
problema <strong>de</strong> que justamente<br />
os mais pobres, são os que<br />
tiveram menos acesso a edu-<br />
cação e a informação que no<br />
Brasil constituem mercadoria<br />
das mais caras. Sem educação<br />
política e sem informação é jus-<br />
tamente nas classes "D" e "E"<br />
que as eleições ten<strong>de</strong>m a se tor-<br />
nar um concurso <strong>de</strong> beleza, <strong>de</strong><br />
retórica, e <strong>de</strong> tantas outras<br />
coisas. Apenas os setores mais<br />
organizados enten<strong>de</strong>m as elei-<br />
ções como um concurso <strong>de</strong> in-<br />
teresses <strong>de</strong> classes e <strong>de</strong> grupos<br />
sociais e econômicos em dis-<br />
puta. Lula, o PT e as esquer-<br />
das em geral, precisam urgente-<br />
mente apren<strong>de</strong>r a falar para os<br />
setores <strong>de</strong>sorganizados, pois eles<br />
são os fiéis da balança <strong>de</strong> qual-<br />
quer eleição majoritária no Bra-<br />
sil, pois são a gran<strong>de</strong> maioria.<br />
Sem opinião sedimentada so-<br />
Jornal Maioria Falante<br />
bre quase nada, estes setores<br />
formam o que po<strong>de</strong>mos cha-<br />
mar <strong>de</strong> "senso comum" ou<br />
ainda que entre aspas <strong>de</strong> "opi-<br />
nião pública"<br />
Os setores organizados po<strong>de</strong>-<br />
riam ser chamados <strong>de</strong> i<strong>de</strong>oló-<br />
gicos, pois formam suas opi-<br />
niões a partir <strong>de</strong> parâmetros e<br />
valores mais elaborados intelec-<br />
tualmente.<br />
Collor durante toda a sua<br />
campanha se preocupou em falar<br />
para os setores <strong>de</strong>sorganizados,<br />
uma vez que não tinha sóüdos<br />
canais <strong>de</strong> interlocação com os<br />
setores organizados da socieda<strong>de</strong><br />
civil. A sua ligação política é<br />
frágil mesmo com o empresa-<br />
riado sindicalizado, que acabou<br />
tendo nele uma opção <strong>de</strong> voto<br />
útil contra o Partido dos Traba-<br />
lhadores e a candidatura <strong>de</strong> Lula.<br />
O populismo eletrônico <strong>de</strong> Col-<br />
lor é muito mais a venda direta<br />
<strong>de</strong> sua imagem européia e ju-<br />
venil com o charme discreto<br />
e bem pela imprensa burguesa <strong>de</strong><br />
perguição impiedosa ao funcio-<br />
nalismo público. Esta categoria<br />
<strong>de</strong> trabalhadores que só com a<br />
Nova Constituição está po<strong>de</strong>ndo<br />
organizar sindicatos para repre-<br />
sentar seus interesses diante do<br />
Estado patrão. Populismo ele-<br />
trônico e mentira <strong>de</strong> massas<br />
são sinônimos <strong>de</strong> tecnicollor.<br />
WILSON PRUDENTE é diretor<br />
do Sindicato dos Servidores das<br />
Justiças Fe<strong>de</strong>rais.<br />
PERESTRÓIKA Já, no Movimento Social Brasileiro<br />
A "Nova República" representou uma retomada, pelas elites<br />
progressistas, do caminho bloqueado em 1964.<br />
Só que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 20 anos, a sucessão <strong>de</strong> governos militares,<br />
com a cumplicida<strong>de</strong> das elites conservadoras, havia mexido muito<br />
no país. Com base num tremendo arrocho salarial, na repressão sis-<br />
temática a quaisquer reivindicações, e numa 'lenta e gradual" en-<br />
trega da soberania nacional, tornaram o Brasil a 8? economia do<br />
mundo, mas 94? nação em indicadores sociais (fome, analfabetis-<br />
mo, doenças, falta <strong>de</strong> moradia, <strong>de</strong>semprego, marginalida<strong>de</strong>, etc).<br />
Quer dizer, quando as elites progressistas - o amplo leque da-<br />
queles que pelos mais variados motivos e das mais diferentes formas,<br />
combateram o regime militar - pegaram o pirulito, ele estava muito<br />
maior que a sua boca. Salgado. (E ainda tiveram que dividi-lo com<br />
uma parte dos cúmplices do regime militar que mudaram <strong>de</strong> barco,<br />
quando perceberam que o seu ia afundar).<br />
Foi uma ilusão pensar que a história ficara parada, e que agora<br />
era a sua vez!!<br />
Ilusão também, daqueles que - com o po<strong>de</strong>r durante mais <strong>de</strong> 20<br />
anos imaginaram que barrando o caminho das elites progressistas,<br />
barrariam o processo <strong>de</strong> lutas pela conquista <strong>de</strong> justiça social. En-<br />
quanto eles barravam um caminho o povo estava construindo outros.<br />
A eleição presi<strong>de</strong>ncial <strong>de</strong>ste<br />
ano é o momento culminante<br />
da "nova república". Quem<br />
quer que ganhe (LULA LÁ!!)<br />
vai ter que enfrentar o cresci-<br />
mento irreprimível <strong>de</strong> uma for-<br />
ça política fora dos padrões<br />
convencionais.<br />
OS MOVIMENTOS SOCIAIS<br />
incrementados a partir da década<br />
<strong>de</strong> 70 - apezar das influências<br />
que ainda recebem da "política<br />
tradicional", e da insegurança<br />
natural <strong>de</strong> um corpo que vai <strong>de</strong>-<br />
por Amauri Men<strong>de</strong>s Pereira<br />
finindo aos poucos os seus con-<br />
tornos — serão um <strong>novo</strong> e <strong>de</strong>ci-<br />
siva componente político na<br />
conjuntura que vai emergir <strong>de</strong>-<br />
pois das eleições.<br />
O Sindicalismo combativo, o<br />
Movimento Comunitário, O Mo-<br />
vimento <strong>de</strong> Mulheres, o Movi-<br />
mento pela reforma agrária, o<br />
Movimento Negro, possuem, cer-<br />
tamente, diferenças entre si;<br />
mas possuem algo fundamental<br />
em comum:<br />
- Não é possível alcançarem<br />
plenamente seus objetivos<br />
<strong>de</strong>ntro do atual sistema <strong>de</strong><br />
po<strong>de</strong>r e <strong>de</strong> valores dominan-<br />
tes na socieda<strong>de</strong> brasileira.<br />
E quais são as perspectivas<br />
<strong>de</strong>ste imenso potencial trans-<br />
formador, quanto às suas es-<br />
pecificida<strong>de</strong>s, e quanto as in-<br />
fluências da política partidá-<br />
ria? No que toca ao Movimento<br />
Negro, é o que mais <strong>de</strong>monstra<br />
a inevitável ligação entre polí-<br />
tica e cultura. .Dadas as carac-<br />
terísticas da nossa formação<br />
história, é ele também o que<br />
mais sensivelmente "mexe" com<br />
a questão da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacio-<br />
nal. E esta questão da i<strong>de</strong>nti-<br />
,da<strong>de</strong> é crudal para o <strong>de</strong>senvol-<br />
vimento <strong>de</strong> todo o Movimento<br />
Social, seu enraizamento na<br />
massa da população, seu forta-<br />
lecimento orgânico, o surgimento<br />
<strong>de</strong> verda<strong>de</strong>iras li<strong>de</strong>ranças, <strong>de</strong> sua<br />
eficácia na mobilização e ação<br />
E organização <strong>de</strong> massa é a úni-<br />
ca coisa que nos garante a longo<br />
prazo contra as "man 1 .o" das<br />
elites tradicionais, represcmantes<br />
brasileiros dos interesses do sis-<br />
tema financeiro internacional.<br />
Por outro lado, <strong>de</strong>vido ao<br />
acelerado agravamento da crise<br />
brasileira, os paitidos <strong>de</strong> esquer-<br />
da estão alcançando êxitos com<br />
rapi<strong>de</strong>z inesperada.<br />
Pois bem, como <strong>de</strong>ve ser a<br />
atuação <strong>de</strong>stes setores partidá-<br />
rios, por exemplo, no Movi-<br />
mento Negro, cujo sentido his-<br />
tórico »e complexida<strong>de</strong> ainda<br />
estão, aos poucos, sendo <strong>de</strong>s-<br />
vendados pela "práxis" <strong>de</strong> seus<br />
agentes mais <strong>de</strong>dicados e <strong>de</strong> seus<br />
intelectuais orgânicos?<br />
É, sem dúvida, uma discussão<br />
necessária. E que precisa <strong>de</strong> es-<br />
paço suficiente e a<strong>de</strong>quado. Na<br />
prática para ser travada. Há que<br />
se abandonar os dogmas e sec-<br />
tarismos, e se buscar sincerida-<br />
<strong>de</strong> e boa vonta<strong>de</strong> para aprofun-<br />
darmos nossos conhecimentos<br />
e análises, encaminharmos estra-<br />
tégias e táticas mais eficazes.<br />
Os mais no entanto, afoitos<br />
po<strong>de</strong>m se tornar um problema<br />
ao tentarem encaminhar sua<br />
atuação no Movimento Negro<br />
(e em outros Movimentos So-<br />
ciais?), com uma orientação<br />
teórica e operacional <strong>de</strong> fora<br />
para <strong>de</strong>ntro.<br />
Isto seria uma prática incon-<br />
seqüente e autoritária porque<br />
atropelaria os processos internos<br />
dos Movimentos Sociais, enca-<br />
minhando mo<strong>de</strong>los e concepções<br />
<strong>de</strong> organização alheios a sua his-<br />
tória e que seriam fatalmente<br />
rejeitados pela maioria dos mi-<br />
litantes, criando-se um terreno<br />
fértil para a dispersão e o atraso;<br />
seria também uma prática extre-<br />
mamente inoportuna, porque<br />
não ajuda em nada a conslidação<br />
da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> entre o Movimen-<br />
to Social e a massa que ele<br />
abrange.<br />
O MOVIMENTO NEGRO em<br />
conjunto com outros setores do<br />
Movimento Social têm que ga-<br />
nhar mais consistência e legiti-<br />
mida<strong>de</strong>. Só <strong>de</strong>sta maneira,<br />
claramente i<strong>de</strong>ntificados, con-<br />
quistando maior participação,<br />
alcançaremos o nível <strong>de</strong> organi-<br />
zação capaz <strong>de</strong> garantir verda-<br />
<strong>de</strong>iras transformações na estru-<br />
tura <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e <strong>de</strong> valores domi-<br />
nantes na socieda<strong>de</strong> brasileira.<br />
Não <strong>de</strong>vemos <strong>de</strong>ixar para o<br />
século XXI, porém com "pa-<br />
ciência revolucionária", é ne-<br />
cessário embutir a nossa "PE-<br />
RESTRÓIKA" nas urgentes<br />
transformações políticas e eco-<br />
nômicas pelas quais lutamos.
Jornal Maioria Falante Dezennbro/89 - Janeiro/90 Pág. 15<br />
QUEM é esse Dragão?<br />
É o negro marinheiro<br />
JOÃO CÂNDIDO, nas-<br />
cido no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, em<br />
24 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1890. No Rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro, tomou-se o lí<strong>de</strong>r das<br />
mais importantes revoltas popu-<br />
lares.<br />
Na manhã <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong> novem-<br />
bro <strong>de</strong> 1910, o marinheiro Mar-<br />
celino Rodrigues Menezes rece-<br />
beu 250 chibatadas. Os mari-<br />
nheiros, cerca <strong>de</strong> 2.400, se re-<br />
voltaram. João Cândido tinha<br />
apenas 30 anos. Apontando os<br />
canhões dos navios para a cida-<br />
<strong>de</strong>, os marinheiros exigiam: abo-<br />
lição da chibata, aumento <strong>de</strong> sa-<br />
lário, melhor alimentação, me-<br />
nor jornada <strong>de</strong> trabalho e anis-<br />
tia para todos os amotinados.<br />
O Senado e a Câmara apro-<br />
varam todas as reivindicações<br />
e o Presi<strong>de</strong>nte Marechal Her-<br />
mes da Fonseca as sancionou.<br />
Retornando à terra, os mari-<br />
nheiros, com o povo, começa-<br />
ram a festejar a vitória. No en-<br />
tanto, todos os marinheiros fo-<br />
ram perseguidos através <strong>de</strong> dis-<br />
pensas e prisões.<br />
João Cândido e 17 outros<br />
companheiros foram encerrados<br />
na masmorra e torturados com<br />
cal virgem e água. Somente o<br />
gigante negro João Cândido e<br />
um outro companheiro resisti-<br />
ram. Retirado da masmorra,<br />
João foi internado como louco<br />
num hospital.<br />
por Beatriz Nascimento<br />
O dia da consciência negra<br />
neste ano foi comemo-<br />
rado <strong>de</strong> forma singular.<br />
Os eventos no território nacio-<br />
nal limitaram-se a pequenas reu-<br />
niões internas do Movimento<br />
Negro. Isto <strong>de</strong>veu-se ao primeiro<br />
turno das eleições presi<strong>de</strong>nciais.<br />
Na verda<strong>de</strong> a gran<strong>de</strong> home-<br />
nagem a Zumbi dos Palmares<br />
foram as eleições pelo voto di-<br />
reto após três décadas. Este<br />
acontecimento nos diz respeito,<br />
não só por sermos brasileiros,<br />
mas principalmente por terem si-<br />
do nós os primeiros a lutarmos<br />
na década <strong>de</strong> 70 pelo direito à<br />
cidadania plena. Salve Zâmbi-ê,<br />
organizador da <strong>de</strong>mocracia pal-<br />
mariana!<br />
A seguir algumas notas sobre<br />
o evento da Consciência Negra<br />
organizado pelo MNU <strong>de</strong> Goiâ-<br />
nia e a UCG em Goiás: No dia<br />
18 concentraram-se dois eventos.<br />
Pela manhã no Auditório <strong>de</strong> Ar-<br />
quitetura da UCG, palestra do<br />
Psicólogo e jornalista pernambu-<br />
cano Severino Lepê, e pela tar<strong>de</strong><br />
exibição do documentário Ori <strong>de</strong><br />
Raquel Gerber e Beatriz Nasci-<br />
mento, com a presença da úl-<br />
O Negro Dragão<br />
Comissão <strong>de</strong> Religiosos, Padres e Seminaristas Negros<br />
Diante <strong>de</strong> algumas visitas, ele<br />
<strong>de</strong>sabafou: "Neste mundo nem<br />
todas as promessas se cumprem.<br />
Acreditei na palavra do Mare-<br />
chal Hermes da Fonseca e estou<br />
preso nesta <strong>de</strong>sgraça".<br />
Saindo do Hospital, o Almi-<br />
rante Negro foi expulso dos qua-<br />
dros da Marinha, sem nenhum<br />
direito. Foi viver com a família<br />
na Baixada Fluminense, em São<br />
João <strong>de</strong> Meriti. Passou os anos<br />
na <strong>miséria</strong>, até morrer, no dia 6<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1969. Foi en-<br />
terrado no cemitério São Fran-<br />
cisco Xavier, Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />
túmulo 9.807<br />
H^RIA^EÇONTADA<br />
A Revolta da Chibata<br />
por Ayrton Martins<br />
No início do Século XX, a<br />
Marinha Brasileira conservava<br />
um costume regulamentar,<br />
proveniente dos tempos do<br />
Império, a CHIBATADA<br />
Uma chibatada consistia<br />
num <strong>de</strong>terminado número <strong>de</strong><br />
flagelos com a chibata, que<br />
era uma corda <strong>de</strong> linho mo-<br />
lhado, atravessada por agulhas<br />
<strong>de</strong> aço e com a qual se gol-<br />
peavam as costas dos "in-<br />
disciplinados" ao som <strong>de</strong> tam-<br />
bores e na presença da tro-<br />
Acontecer Negro<br />
tima, ambos seguidos <strong>de</strong> <strong>de</strong>ba-<br />
tes. Estavam presentes, além da<br />
Reitora da UCG, lí<strong>de</strong>res comuni-<br />
tários. Sacerdotes afro-brasileiros<br />
<strong>de</strong> Candomblé e Umbanda, mem-<br />
bros da Pastoral do Negro, es-<br />
tudantes e público em geral. Fo-<br />
ram levantados principalmente<br />
temas relacionados á i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>,<br />
à resistência e novas estratégias<br />
das religiões afro-brasileiras fren-<br />
te às dificulda<strong>de</strong>s atuais para o<br />
enfrentamento do econômico e<br />
das campanhas caluniosas veicu-<br />
ladas pelos "templos eletrôni-<br />
cos". Discutiram-se também as-<br />
suntos gerais relacionados aos<br />
problemas comunitários e do<br />
movimento.<br />
No dia seguinte a agenda foi<br />
;ompletada pelo ato público <strong>de</strong><br />
lenúncia contra a eventual ex-<br />
pulsão dos habitantes <strong>de</strong> um<br />
dos últimos ex-quilombos habi-<br />
tados da região centro-oeste, o<br />
Calunga, pela construção <strong>de</strong> uma<br />
usina hidrelétrica. O Calunga é<br />
uma comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cinco mil<br />
negros com economia própria,<br />
que ali vivem há duzentos anos.<br />
Fica localizado nos vãos da<br />
pa formada.<br />
Essa tortura se originou do<br />
caráter eletista da Marinha.<br />
Enquanto no Exército<br />
existia a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pro-<br />
moção nos escalões da hierar-<br />
quia, inclusive para soldados<br />
negros e pobres, essa possi-<br />
bilida<strong>de</strong> não existia na Mari-<br />
nha, que manteve <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as<br />
suas origens um caráter alta-<br />
mente eletista, não permitin-<br />
do nem pobres nem gente <strong>de</strong><br />
cor, nos seus quadros.<br />
Serra Geral (Município <strong>de</strong> Monte<br />
Alegre <strong>de</strong> Goiás e Cavalcante.<br />
O ato público <strong>de</strong>sdobrou-se<br />
pela tar<strong>de</strong> em ativida<strong>de</strong>s cultu-<br />
rais na Associação <strong>de</strong> Morado-<br />
res <strong>de</strong> Vila Emílio Póvoa, na pe-<br />
riferia <strong>de</strong> Goiânia. E estes úl-<br />
timos também ameaçados <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>slojamento <strong>de</strong> suas terras.<br />
Nota: Em relação aos proce-<br />
dimentos para salvar o Calunga,<br />
os militantes do MNU pe<strong>de</strong>m<br />
que sejam enviadas cartas em so-<br />
lidarieda<strong>de</strong> aos calunguenses pa-<br />
ra o Governador do Estado <strong>de</strong><br />
Goiás - Henrique Santillo - Pa-<br />
lácio das Esmeraldas, Praça Lu-<br />
dovico Teixeira, Goiânia — GO.<br />
Em Santos, São Paulo o<br />
Conselho da Comunida<strong>de</strong> Negra<br />
programou <strong>de</strong> 13 a 20 <strong>de</strong> novem-<br />
bro último a Semana <strong>de</strong> Cultura<br />
Afro-Brasileira, constando <strong>de</strong><br />
shows, <strong>de</strong>bates, poesia da ver-<br />
tente negra da literatura e ex-<br />
posições. No Rio <strong>de</strong> Janeiro o<br />
acontecimento principal <strong>de</strong>u-se<br />
na lavagem do monumento a<br />
Zumbi na Praça Onze. Foi na<br />
verda<strong>de</strong> um <strong>de</strong>sagravo à parali-<br />
zação da marcha <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> maio<br />
<strong>de</strong> 1988.<br />
Repinique<br />
A TV Comunida<strong>de</strong>, núcleo <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o do CAMPO -<br />
<strong>Centro</strong> <strong>de</strong> Assessoria ao Meio Popular - subsidiou <strong>de</strong>ba-<br />
tes pré-eleitorais nas Comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Base, Movimentos<br />
Populares, Sindicatos, Escolas e <strong>de</strong>mais interessados.<br />
Eram personagens os bonecos Simão e seu amigo Tonho<br />
que, num balcão <strong>de</strong> bar intervinham, discutiam e co-<br />
mentavam assuntos relativos às eleições. As cópias dos<br />
programas estão disponíveis na se<strong>de</strong> da entida<strong>de</strong> na<br />
Rua Professora Sebastiana da Silva Minhoto, 31 Tatuapé<br />
São Paulo - SP CEP: 03318. Telefone (011) 293-1193.<br />
O QUE É O CAMPO<br />
O CAMPO - <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> Assessoria ao Meio Popular<br />
é uma associação <strong>de</strong> profissionais e estudantes cristãos<br />
sem fins lucrativos, que produz diversos materiais", pro-<br />
move cursos e ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> formação a fim <strong>de</strong> que o<br />
próprio povo disponha <strong>de</strong> instrumentos para transformar<br />
a socieda<strong>de</strong> - conforme as Diretrizes Gerais da Ação<br />
Pastoral da Igreja no Brasil traçadas pela CNBB.<br />
A entida<strong>de</strong> existe <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1985 c já produziu ví<strong>de</strong>os<br />
com a UCBC - União Cristã Brasileira <strong>de</strong> Comunica-<br />
ção Social -, prestou serviços à Comissão <strong>de</strong> Justiça<br />
e Paz, produções próprias - documentação dos prin-<br />
cipais eventos da Igreja <strong>de</strong> São Paulo. Além disso o<br />
CAMPO tem oferecido cursos <strong>de</strong> Leitura Crítica da<br />
Comunicação e da Propaganda Política na TV em várias<br />
comunida<strong>de</strong>s da Arquidiocese <strong>de</strong> São Paulo e <strong>de</strong> outras<br />
dioceses.<br />
FOLHETOS BELEZA<br />
O <strong>Centro</strong> Cultural São Paulo, através da Biblioteca<br />
Sérgio MiUiet, divulgou durante o mês <strong>de</strong> novembro raras<br />
preciosida<strong>de</strong>s para os amantes da música e da Uterutuia.<br />
São dois boletins, sendo o primeiro "Literatura Brasileira:<br />
Escritores Negros Contemporâneos" (Série Bibliografia,<br />
n9 26, nov. 1988) com uma vasta relação <strong>de</strong> títulos <strong>de</strong><br />
todos os gêneros literários. O segundo refere-se à Musi-<br />
cografia: "O Negro na Evolução Temática da Música<br />
Popular Brasileira' (Série Musicografia, n9 36, nov.<br />
1989), contém uma seleção das letras em que os com-<br />
positores abordam vários aspectos da vida do povo negro<br />
no Brasil.<br />
SE AJUSTE NEGÀO<br />
A direção do 1PCN, parece que com bastante remor-<br />
so, proce<strong>de</strong>u ao reajuste da mensalida<strong>de</strong> dos sócios, que<br />
era <strong>de</strong> NCz$ 0,04 (quatro centavos) para 2 BTN. Tem<br />
um monte <strong>de</strong> associados reclamando do aumento, enquan-<br />
to pe<strong>de</strong>m para "<strong>de</strong>scer mais um" nos bares da Qnelandia<br />
e nos ensaios dos blocos afro. EM TEMPO: - O Institu-<br />
to das Pesquisas das Culturas Negra - 1PCN, fica no Rio<br />
<strong>de</strong> Janciro/RJ.<br />
NO RÁDIO<br />
Todos os domingos, às 18 horas, com direção e apre-<br />
sentação <strong>de</strong> Ogã Moreno, vai ao ar pela Rádio Metropo-<br />
litana (AM 1090 Khs) o programa cultural Ao Som dos<br />
Atabaques. Rola prêmios, entrevistas, dicas para cursos<br />
e empregos. Participe pelo telefone; 594-9595.<br />
ZUMBI DO BOM<br />
Tem uma turminha no Rio <strong>de</strong> Janeiro que Insiste em<br />
vincular ZUMBI DOS PALMARES à ações <strong>de</strong> partidos<br />
políticos com fins eleitoreiros. Foi o que aconteceu na<br />
manifestação realizada no dia 1? <strong>de</strong> novembro, 14 dias<br />
antes das eleições (19 turno) no monumento da Praça<br />
XI. Já é hora <strong>de</strong>sse pessoal se tocar e num esforço só<br />
com a cor da pele, nem precisa usar a consciência, perce-<br />
ber que em Palmares não existia partido político, a to-<br />
mada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão era através <strong>de</strong> processos coletivos, e o<br />
que é mais importante; o socialismo era do bom.<br />
ENCONTRO DO INTERIOR<br />
O IX Encontro <strong>de</strong> Entida<strong>de</strong>s do Interior do Estado<br />
do Rio <strong>de</strong> Janeiro, vai acontecer durante o mês <strong>de</strong> fe-<br />
vereiro <strong>de</strong> 1990 na cida<strong>de</strong> serrana <strong>de</strong> Petrópolis. O En-<br />
contro promete ser quente, pois além <strong>de</strong> estar surgindo<br />
um "<strong>novo</strong>" segmento do Movimento Negro na cida<strong>de</strong>,<br />
que já se manifestara no Encontro anterior, realizado<br />
cm Cabo Frio, os jovens reclamam e prometem ocupar<br />
mais espaços c atuar <strong>de</strong> forma mais intensa. Mas o tititi<br />
mesmo, vai eclodir em conseqüência do pragmatismo<br />
sobre um tema que constará da programação, li esperar<br />
para ver.<br />
CONSCIÊNCIA E LIBERDADE<br />
A Secretaria <strong>de</strong> Estado <strong>de</strong> Cultura (SP), através do Pro-<br />
jeto Consciência e Liberda<strong>de</strong>, promoveu entre 21 e 28<br />
<strong>de</strong> novembro o 19 Encontro Nacional <strong>de</strong> Arte Negra.<br />
Com exposições <strong>de</strong> trajes típicos africanos, fotografias,<br />
<strong>de</strong> posters, show <strong>de</strong> musica e uma seqüência <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates<br />
e mesa redonda, foi possível um rico painel sobre o mo-<br />
mento atual da comunida<strong>de</strong> negra.<br />
ÁFRICA DO SUL, ARRÊGO:<br />
Do jeito e pela quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> negro e não-brancos<br />
que as Polícias Militar e Civil, <strong>de</strong> todos os estudos, ma-<br />
taram durante o ano <strong>de</strong> 1989, está chegando a hora<strong>de</strong> se<br />
iniciar os esforços para que o governo racista da África<br />
do Sul corte relações diplomáticas com o governo <strong>de</strong>mo-<br />
crático do Brasil.<br />
ANTENAS<br />
Ninguém fala, ou comunica alguma coisa sobre as An-<br />
tenas. O povo negro, e é um monte <strong>de</strong> povo negro, que<br />
não é político, ou intelectual e que certamente teve an-<br />
cestrais que passaram pela ILHA, gostaria <strong>de</strong> saber a<br />
quantas andam as Antenas. O Jornal MAIORIA FALAN-<br />
TE promete que <strong>de</strong>svenda este mistério para os seus<br />
leitores.<br />
COLETIVO DE ESCRITORES NEGROS<br />
... Férias. Parece até piada.
por Togo lomba<br />
CV om os países <strong>de</strong><br />
leste europeu,<br />
realizando a pe-<br />
restróika, <strong>de</strong> o-<br />
Ihos gran<strong>de</strong>s<br />
nas economias e <strong>de</strong>mocra-<br />
cias oci<strong>de</strong>ntais.<br />
Os países africanos quase<br />
ficaram sem interlocutores<br />
disponíveis. Assim, Havana,<br />
tornou-se <strong>de</strong> repente, um<br />
<strong>de</strong>stino e um ponto <strong>de</strong> con-<br />
vergência".<br />
0 Presi<strong>de</strong>nte Angolano<br />
José Eduardo dos Santos,<br />
no início <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, che-<br />
gou à Cuba para uma visite<br />
oficial on<strong>de</strong> po<strong>de</strong> reavaliar a<br />
atual situação mundial, com<br />
o seu mais antigo aliado Fi-<br />
<strong>de</strong>l Castro.<br />
Nesta Tiesma época, o<br />
militante do Movimento Ne-<br />
gro Brasileiro e animador<br />
cultural, Lorival Ma<strong>de</strong>ira,<br />
esteve em Havana, <strong>de</strong>slan-<br />
chando contatos culturais<br />
com aquele país. A convite<br />
do Governo <strong>de</strong> Cuba, a<br />
Banda "Afro-Contemporâ-<br />
nea", formada por onze in-<br />
tegrantes e tendo como lí-<br />
<strong>de</strong>r Lorival Ma<strong>de</strong>ira, estará,<br />
segundo ele, animando em<br />
26 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1990, o ani<br />
versário da Tomada <strong>de</strong> Mon<br />
cada.<br />
Tomara que com estes<br />
contatos o movimento po-<br />
pular e no particular o Mo-<br />
vimento Negro, iniciem um<br />
<strong>novo</strong> ciclo nas relações bila-<br />
terais com o Socialismo in-<br />
tercontinental.<br />
(Adaptação <strong>de</strong> matéria<br />
publicada no Jornal<br />
África, n.o 134/89).<br />
é ê e<br />
Encontros em Cuba<br />
Aos amigos Ma<strong>de</strong>ira, To<br />
goe Semog:<br />
"Estimados amigos, para<br />
nós, constituiu-se em um<br />
gran<strong>de</strong> prazer e <strong>de</strong> felicida-<br />
<strong>de</strong> infinita, o encontro ocor-<br />
rido em Havana, quando co-<br />
nhecemos o amigo Ma<strong>de</strong>ira.<br />
Neste encontro, pu<strong>de</strong>mos<br />
Lídia Gonzalcz Piet - Artista Plástica.<br />
As artes plásticas cubana po<strong>de</strong>rão ser<br />
conhecidas, agora, dos brasileiros. .<br />
Lourival Ma<strong>de</strong>ira, 2:° à direita, junto a companheiros cubanos, em Havana, abriu espaço inédito para<br />
o movimento popular, antes limitado apenas à uma elite da esquerda brasileira. —<br />
constatar a gran<strong>de</strong> possibili<br />
da<strong>de</strong> <strong>de</strong> intercâmbio cultu-<br />
ral, etc, entre o povo bra-<br />
sileiro e o cubano, povos<br />
estes, tão comuns em sua<br />
cultura e história. Temos<br />
realmente interesse em co-<br />
nhecer a luta do povo ne-<br />
gro brasileiro, suas inquie-<br />
tu<strong>de</strong>s e seus sonhos.<br />
De um ou outro modo,<br />
somos irmãos <strong>de</strong> causa. Por-<br />
tanto, contem com nossa<br />
eterna e firme colaboração<br />
e como forma <strong>de</strong> materiali-<br />
zarmos esta amiza<strong>de</strong>, cons-<br />
tituímos uma equipe <strong>de</strong> tra-"<br />
balho com objetivo <strong>de</strong> co-<br />
laborarmos com o Jornal<br />
MAIORIA FALANTE, com<br />
informações sobre as dife-<br />
rentes instituições e outros<br />
temas sobre a cultura cuba-<br />
na, entre outros..."<br />
Daisy Dias Moca - Dire-<br />
tora Artística, Escritora, Es-<br />
pecialista <strong>de</strong> Espetáculos no<br />
Instituto Cubano <strong>de</strong> Música.<br />
Juan Bencomo Pedro - Coreógrafo,<br />
Artesão e músico também aberto ao<br />
intercâmbio com o Brasil.<br />
Prof. Guilhermo Cué Her-<br />
nan<strong>de</strong>z — Folclorologo. Di-<br />
retor Artístico e Musical.<br />
Produtor <strong>de</strong> Discos. Artista<br />
popular. Especialista, cria-<br />
dor e construtor <strong>de</strong> instru-<br />
mentos afros <strong>de</strong> percussão.<br />
É Diretor Geral do "Cuba-<br />
Cué" Rafael Diaz .<br />
Maria Luisa Martinez Ro-<br />
drigues: - Mo<strong>de</strong>lo da CON-<br />
TEX.<br />
Lúcia Meyazia Garcia Ro-<br />
mero — Corretor <strong>de</strong> estilo<br />
na Editora <strong>de</strong> Cuba.<br />
Maria <strong>de</strong> Ias Merce<strong>de</strong>s<br />
Gonzales Herrera — Tradu-<br />
tora Musical.<br />
Lázaro Alberto Miranda<br />
Vero - Fotógrafo,<br />
REPIIMIQUE - REPINIQUE - REPIIMIQUE - REPINI<br />
TEATRO COM DEBATE<br />
O grupo vl Ator doado"<strong>de</strong> teatro<br />
apresentará no Sesc <strong>de</strong><br />
Madureira, rua Ewbanck da<br />
Câmara, 90. De 05 a 28 <strong>de</strong><br />
janeiro sempre as sexta e sábado<br />
21 h e domingo 20 h. A peça<br />
"Vidas" criada pelo grupo,<br />
havendo após <strong>de</strong>bate soure temas<br />
abordados: Aborto, prostituição,<br />
igreja, discriminação social, etc...<br />
PARTICIPE!!! ingresso NCz$<br />
20,00. Informações: JMF -<br />
Tel.: 252-2302.<br />
TRIBUNAL DOS POVOS<br />
A reunião prevista <strong>de</strong> 8 a 10<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro em Quito —<br />
Equador — foi adiada em virtu<strong>de</strong><br />
da não confirmação <strong>de</strong> alguns<br />
dos países participantes.<br />
A Comissão Provisória para<br />
o Tribunal dos Povos, relativa<br />
ao Movimento Negro,<br />
constituída pelo Jornal<br />
Maioria Falante, <strong>Centro</strong> <strong>de</strong><br />
Articulação <strong>de</strong> Popujações<br />
Marginalizadas, Comitê Contra a<br />
Discriminação Racial e Social<br />
(Raciso), Coletivo <strong>de</strong> Escritores<br />
Negros do RJ e Instituto <strong>de</strong><br />
Pesquisas das Culturas Negras —<br />
confirmarão em breve, com<br />
maiores dados, o <strong>novo</strong> encontro<br />
marcado para abril, no Brasil.