os efeitos do turismo estrangeiro na praia de ponta negra em natal-rn
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Unesp UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA<br />
“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”<br />
CAMPUS EXPERIMENTAL DE ROSANA<br />
NAYARA TEODORO FERRIGATTO<br />
OS EFEITOS DO TURISMO ESTRANGEIRO NA<br />
PRAIA DE PONTA NEGRA EM NATAL-RN:<br />
PROSTITUIÇÃO, DROGAS E EXPLORAÇÃO.<br />
ROSANA - SP<br />
2008
NAYARA TEODORO FERRIGATTO<br />
OS EFEITOS DO TURISMO ESTRANGEIRO NA<br />
PRAIA DE PONTA NEGRA EM NATAL-RN:<br />
PROSTITUIÇÃO, DROGAS E EXPLORAÇÃO.<br />
Trabalho <strong>de</strong> Conclusão <strong>de</strong> Curso apresenta<strong>do</strong> ao<br />
Curso <strong>de</strong> Turismo - UNESP/R<strong>os</strong>a<strong>na</strong>, como<br />
requisito parcial para obtenção <strong>do</strong> título <strong>de</strong><br />
Bacharel <strong>em</strong> Turismo.<br />
Orienta<strong>do</strong>r: Rodrigo Gomes Guimarães.<br />
ROSANA – SÃO PAULO<br />
2008<br />
2
NAYARA TEODORO FERRIGATTO<br />
OS EFEITOS DO TURISMO ESTRANGEIRO NA<br />
PRAIA DE PONTA NEGRA EM NATAL-RN:<br />
PROSTITUIÇÃO, DROGAS E EXPLORAÇÃO.<br />
Data: _____/_____/______<br />
Trabalho <strong>de</strong> Conclusão <strong>de</strong> Curso Apresenta<strong>do</strong> ao<br />
Curso <strong>de</strong> Turismo – UNESP/ R<strong>os</strong>a<strong>na</strong>, como<br />
requisito parcial para a obtenção <strong>do</strong> título <strong>de</strong><br />
Bacharel <strong>em</strong> Turismo.<br />
Orienta<strong>do</strong>r: Rodrigo Gomes Guimarães<br />
___________________________________________________________________________<br />
Presi<strong>de</strong>nte e Orienta<strong>do</strong>r: Rodrigo Gomes Guimarães. Professor Mestre.<br />
Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista “Julio <strong>de</strong> Mesquita Filho”<br />
___________________________________________________________________________<br />
M<strong>em</strong>bro Titular: Patrícia T<strong>os</strong>qui Lucks. Professor Mestre.<br />
Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista “Julio <strong>de</strong> Mesquita Filho”<br />
M<strong>em</strong>bro Titular: Eduar<strong>do</strong> Martins. Professor Doutor.<br />
Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista “Julio <strong>de</strong> Mesquita Filho”<br />
Local: Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista “Júlio <strong>de</strong> Mesquita Filho”<br />
UNESP-Campus Experimental <strong>de</strong> R<strong>os</strong>a<strong>na</strong><br />
3
RESUMO<br />
A existência <strong>do</strong> <strong>turismo</strong> sexual se justifica a partir <strong>de</strong> inúmer<strong>os</strong> probl<strong>em</strong>as sociais, que<br />
principalmente no nor<strong>de</strong>ste, têm feito com que o dinheiro <strong>estrangeiro</strong> viole <strong>os</strong> princípi<strong>os</strong><br />
étic<strong>os</strong> e human<strong>os</strong>. Com isso, <strong>os</strong> estabeleciment<strong>os</strong> turístic<strong>os</strong>, o histórico <strong>de</strong> pobreza <strong>do</strong><br />
nor<strong>de</strong>ste, o mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> vida, a entrada <strong>de</strong> estrangeir<strong>os</strong> e seu dinheiro têm si<strong>do</strong> fatores <strong>de</strong> repulsa<br />
e que <strong>de</strong>nigre a imag<strong>em</strong> <strong>do</strong> Brasil. Isto n<strong>os</strong> faz refletir <strong>de</strong> que mo<strong>do</strong> a divulgação realizada<br />
pela Embratur, há an<strong>os</strong> reflete até hoje <strong>na</strong> população. Mas a exploração <strong>de</strong> menores feita por<br />
estrangeir<strong>os</strong>, muitas vezes permitida pel<strong>os</strong> própri<strong>os</strong> brasileir<strong>os</strong>, não po<strong>de</strong> ser responsabilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> ape<strong>na</strong>s um órgão, instituição ou a falta <strong>de</strong>stes, já que o probl<strong>em</strong>a abrange também questões<br />
culturais, on<strong>de</strong> estão inserid<strong>os</strong> <strong>os</strong> turistas estrangeir<strong>os</strong> que encontram oferta <strong>de</strong> sexo <strong>em</strong><br />
gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong>, como também <strong>os</strong> trabalha<strong>do</strong>res <strong>de</strong>sta “indústria” que adquir<strong>em</strong> cada vez<br />
mais lucr<strong>os</strong>, junto às mulheres que se permit<strong>em</strong> ser exploradas e as crianças que acabam no<br />
merca<strong>do</strong> <strong>do</strong> sexo como vítimas da família e muito mais da facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> obtenção <strong>de</strong> dinheiro<br />
que consegu<strong>em</strong> com a venda <strong>de</strong> seus corp<strong>os</strong>.<br />
Palavras-Chave: <strong>turismo</strong> sexual, pr<strong>os</strong>tituição infantil, <strong>praia</strong> <strong>de</strong> Ponta Negra.<br />
4
ABSTRACT<br />
The existence of sexual tourism is justified in line with of many social probl<strong>em</strong>s, which<br />
mainly in the northeast, the money of foreigners gl<strong>os</strong>ses over ethical and human principles.<br />
Thus, the tourist establishments, the history of poverty in the northeast, lifestyles, the entry of<br />
foreigners and their money, have been factors of avoidance and they are <strong>de</strong>nigrating the image<br />
of Brazil. This makes us reflect how the discl<strong>os</strong>ure held by Embratur; many years ago until<br />
today reflect upon the population. But the exploitation of children by foreigners, allowed by<br />
the Brazilians, we can not blame on one body only, to institutions or to a lack thereof.<br />
Because the probl<strong>em</strong> also covers cultural matters, where foreign tourists are inserted, who are<br />
offering sex in large quantities, the workers in this "industry" acquiring ever more profits,<br />
women who un<strong>de</strong>rgo it and the children who end up in market of sex victims of family and<br />
more of facility of getting of money that they get with the selling of their bodies.<br />
Palavras-Chave: sex tourism, children exploitation, Ponta Negra beach.<br />
5
Dedico este trabalho às<br />
a<strong>do</strong>lescentes que entrevistei <strong>na</strong><br />
Praia <strong>de</strong> Ponta Negra.<br />
6
AGRADECIMENTOS<br />
Agra<strong>de</strong>ço a Deus que me permitiu chegar até o fim <strong>de</strong>sta pesquisa e me proporcionou uma<br />
diferente visão da existência huma<strong>na</strong>, seus princípi<strong>os</strong> e valores.<br />
7
LISTA DE ILUSTRAÇÕES<br />
Figura 1- Mapa da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Natal ......................................................................................28<br />
Figura 2 - Código <strong>de</strong> Ética e Conduta no Turismo...................................................................36<br />
Figura 3 - Estatuto da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente......................................................................40<br />
Figura 4 - Stop Sex Tourism/ Pare o <strong>turismo</strong> sexual................................................................50<br />
Figura 5 - Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> fol<strong>de</strong>r, campanha contra <strong>turismo</strong> sexual 2008.......................................54<br />
Figura 6 - Logo e abertura <strong>do</strong> site da ONG RESPOSTA.........................................................60<br />
Figura 7 - Fol<strong>de</strong>r <strong>de</strong> incentivo ao disque <strong>de</strong>núncia..................................................................63<br />
8
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS<br />
ABAV - Associação Brasileira <strong>de</strong> Agência <strong>de</strong> Viagens.<br />
ABH - Associação Brasileira <strong>de</strong> Hotéis.<br />
DCA - Delegacia Especializada <strong>na</strong> Defesa da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente.<br />
ECA - Estatuto da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente.<br />
ONG - Organização não gover<strong>na</strong>mental.<br />
RESPOSTA - Responsabilida<strong>de</strong> Social P<strong>os</strong>ta <strong>em</strong> Prática.<br />
SETUR - Secretaria <strong>de</strong> Turismo <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Norte.<br />
UFRN - Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Norte.<br />
UNP - Universida<strong>de</strong> Potiguar.<br />
9
SUMÁRIO<br />
I. Introdução..............................................................................................11<br />
II. Justificativa...........................................................................................15<br />
III. Objetiv<strong>os</strong>..............................................................................................16<br />
3.1Objetivo Geral......................................................................................16<br />
3.2Objetiv<strong>os</strong> Específic<strong>os</strong>...........................................................................16<br />
IV. Meto<strong>do</strong>logia.........................................................................................17<br />
V. Revisão Bibliográfica............................................................................20<br />
CAPÍTULO I.............................................................................................26<br />
1.1 A Praia <strong>de</strong> Ponta Negra......................................................................27<br />
1.2 Turismo, drogas e pr<strong>os</strong>tituição...........................................................31<br />
1.3 A<strong>do</strong>lescentes <strong>na</strong> pr<strong>os</strong>tituição..............................................................37<br />
CAPÍTULO II ...........................................................................................42<br />
2.1 Trabalha<strong>do</strong>res da indústria turística.................................................42<br />
2.2 Taxistas: agencia<strong>do</strong>res da pr<strong>os</strong>tituição..............................................51<br />
CAPÍTULO III .........................................................................................53<br />
3.1 Reação da Socieda<strong>de</strong>...........................................................................53<br />
3.2 Casa Re<strong>na</strong>scer......................................................................................57<br />
3.3 Responsabilida<strong>de</strong> Social P<strong>os</strong>ta <strong>em</strong> Prática........................................59<br />
3.4 Delegacia da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente.............................................62<br />
Consi<strong>de</strong>rações fi<strong>na</strong>is..................................................................................65<br />
REFERÊNCIAS........................................................................................69<br />
ANEXOS....................................................................................................72<br />
10
I. Introdução<br />
Turismo é movimento <strong>de</strong> pessoas, é um fenômeno que envolve, antes <strong>de</strong><br />
mais <strong>na</strong>da, gente. É um ramo das ciências sociais e não das ciências<br />
econômicas, e transcen<strong>de</strong> a esfera das meras relações da balança<br />
comercial.A tendência da humanida<strong>de</strong> é a <strong>de</strong> se concentrar <strong>na</strong>s gran<strong>de</strong>s<br />
cida<strong>de</strong>s, o que tor<strong>na</strong> esses núcle<strong>os</strong> human<strong>os</strong> muitas vezes fonte <strong>de</strong> violência<br />
e neur<strong>os</strong>es urba<strong>na</strong>s (BARRETO. apud: BEM, 2005, p.2).<br />
O <strong>turismo</strong> sexual <strong>em</strong>bora existente e consolida<strong>do</strong> <strong>na</strong>s socieda<strong>de</strong>s cont<strong>em</strong>porâneas,<br />
configura-se por uma vertente pe<strong>rn</strong>ici<strong>os</strong>a <strong>do</strong> <strong>turismo</strong>. Subenten<strong>de</strong>-se nele a existência <strong>de</strong><br />
probl<strong>em</strong>as profund<strong>os</strong>, tanto <strong>na</strong>s comunida<strong>de</strong>s receptoras como as <strong>em</strong>issoras, esses po<strong>de</strong>m ser<br />
<strong>de</strong> fun<strong>do</strong> econômico, formações socioeconômicas e históricas.<br />
É um fenômeno que não po<strong>de</strong> ser visto isola<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>turismo</strong>, pois está diretamente<br />
liga<strong>do</strong> ao <strong>de</strong>senvolvimento da ativida<strong>de</strong>, ocorre com o único objetivo da prática <strong>do</strong> sexo, mas<br />
isso não quer dizer que <strong>os</strong> turistas queiram se envolver com pr<strong>os</strong>titutas.<br />
Há qu<strong>em</strong> pratique o <strong>turismo</strong> sexual e ofereça esse serviço, para obtenção <strong>de</strong> uma renda<br />
muitas vezes maior que a mensal num perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> um fi<strong>na</strong>l <strong>de</strong> s<strong>em</strong>a<strong>na</strong>. As mulheres têm um<br />
tratamento diferencia<strong>do</strong> pel<strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong>, são tratadas como <strong>na</strong>moradas e levadas a locais<br />
on<strong>de</strong> não c<strong>os</strong>tumam frequentar, por falta <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s por conta da classe social a que<br />
pertenc<strong>em</strong>.<br />
Outra vertente da pr<strong>os</strong>tituição é a realizada por universitárias, estudantes e<br />
profissio<strong>na</strong>is liberais, que praticam “sexo <strong>de</strong>scompromissa<strong>do</strong>” <strong>em</strong> locais sofisticad<strong>os</strong>, com<br />
perspectiva <strong>de</strong> obter renda para estabilida<strong>de</strong> futura.<br />
A exploração sexual infantil é um crime e ocorre <strong>em</strong> inúmeras cida<strong>de</strong>s e <strong>praia</strong>s <strong>do</strong><br />
nor<strong>de</strong>ste brasileiro. Fatores combi<strong>na</strong>d<strong>os</strong> como relacio<strong>na</strong>mento familiar, pobreza, violência<br />
<strong>do</strong>méstica, falta <strong>de</strong> assistência, explicam a inserção <strong>de</strong> tant<strong>os</strong> menores neste merca<strong>do</strong>.<br />
A exclusão social potencializa a existência <strong>do</strong> <strong>turismo</strong> sexual, assim no Brasil t<strong>em</strong><strong>os</strong><br />
condições favoráveis para o acontecimento <strong>de</strong>ste. Mas cada grupo social, as condições <strong>em</strong> que<br />
se encontra, estão sujeit<strong>os</strong> a participar <strong>de</strong>sse merca<strong>do</strong>, incentiva<strong>do</strong> pela ativida<strong>de</strong> turística, <strong>na</strong><br />
tentativa <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> social.<br />
As famílias que se encontram muitas vezes <strong>de</strong>sestruturadas e <strong>em</strong> condições miseráveis<br />
<strong>de</strong> vida vê<strong>em</strong> no <strong>turismo</strong> sexual, principalmente liga<strong>do</strong> ao fluxo <strong>estrangeiro</strong>, uma alter<strong>na</strong>tiva<br />
11
<strong>de</strong> renda e melhoria <strong>de</strong> vida, o que <strong>em</strong> parte explicaria a inclusão e incentivo da prática <strong>em</strong><br />
suas vidas.<br />
O Brasil é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> um d<strong>os</strong> países mais probl<strong>em</strong>átic<strong>os</strong> com relação ao <strong>turismo</strong><br />
sexual <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com estud<strong>os</strong> da OMT. Turistas estrangeir<strong>os</strong> <strong>em</strong> busca da ativida<strong>de</strong> v<strong>em</strong> para<br />
o país principalmente para a prática <strong>de</strong> <strong>turismo</strong> sexual infanto-juvenil, caso que <strong>de</strong>nigre a<br />
imag<strong>em</strong> <strong>do</strong> país no exterior, s<strong>em</strong> contar dan<strong>os</strong> e flagelação social que permanec<strong>em</strong>.<br />
Na década <strong>de</strong> 90 a EMBRATUR reconhece a gravida<strong>de</strong> <strong>do</strong> probl<strong>em</strong>a, <strong>do</strong> qual o órgão<br />
tinha participação, com seus mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> divulgação <strong>do</strong> país no exterior, com fot<strong>os</strong> apelativas <strong>de</strong><br />
mulheres brasileiras, visan<strong>do</strong> atrair mais visitantes, estas fot<strong>os</strong> cain<strong>do</strong> <strong>em</strong> <strong>de</strong>suso<br />
p<strong>os</strong>teriormente.<br />
É nesta década que o <strong>turismo</strong> inicia seu <strong>de</strong>senvolvimento <strong>na</strong> Praia <strong>de</strong> Ponta Negra,<br />
localizada <strong>em</strong> Natal, capital <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Norte, um bairro que se exten<strong>de</strong> <strong>em</strong> 4 km , no<br />
extr<strong>em</strong>o sul, que abriga o Morro <strong>do</strong> Careca, que hoje é o ponto turístico mais fam<strong>os</strong>o da<br />
capital.<br />
No Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Norte, as práticas mais visíveis <strong>de</strong> <strong>turismo</strong> sexual se iniciaram no<br />
bairro <strong>do</strong> Ribeira, <strong>na</strong> Praia d<strong>os</strong> Artistas e hoje a Praia <strong>de</strong> Ponta Negra é o local com maior<br />
incidência d<strong>os</strong> cas<strong>os</strong>.<br />
Ponta Negra era antes ape<strong>na</strong>s local <strong>de</strong> lazer d<strong>os</strong> <strong>na</strong>talenses e <strong>de</strong> trabalho d<strong>os</strong><br />
pesca<strong>do</strong>res, <strong>na</strong> época a Praia <strong>do</strong> Meio p<strong>os</strong>suía o <strong>turismo</strong> <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>. Mas, n<strong>os</strong> an<strong>os</strong> 90, essa<br />
<strong>praia</strong> passa a ser o foco <strong>de</strong> visitação turística e atualmente abriga muit<strong>os</strong> <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>mint<strong>os</strong><br />
turístic<strong>os</strong> que se encontram <strong>em</strong> expansão.<br />
Concentra mora<strong>do</strong>res <strong>de</strong> todas as classes sociais e <strong>em</strong>preendiment<strong>os</strong>, pel<strong>os</strong> quais<br />
muit<strong>os</strong> investi<strong>do</strong>res estrangeir<strong>os</strong> <strong>de</strong>monstram interesse, levan<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento econômico<br />
para a região.<br />
Mas, além <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>senvolvimento, outro fato que cresce <strong>na</strong> Praia <strong>de</strong> Ponta Negra é o<br />
<strong>turismo</strong> e exploração sexual, que acontece <strong>de</strong> maneira nítida diariamente e é <strong>de</strong> conhecimento<br />
<strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>s que pouco têm feito para solucio<strong>na</strong>r o probl<strong>em</strong>a.<br />
Des<strong>de</strong> <strong>os</strong> catorze an<strong>os</strong> uma garota diz estar <strong>na</strong>s ruas <strong>de</strong> Natal, <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> cliente,<br />
“turistas sexuais”. Hoje com <strong>de</strong>zessete an<strong>os</strong>, trabalha <strong>na</strong> Praia <strong>de</strong> Ponta Negra, com maior<br />
número <strong>de</strong> turistas, <strong>em</strong> bares, restaurantes e boates, que à noite funcio<strong>na</strong>m como vitrine <strong>de</strong><br />
pr<strong>os</strong>tituição, ali preç<strong>os</strong> <strong>de</strong> até duzent<strong>os</strong> reais são cobrad<strong>os</strong> pelo serviço.<br />
Em Natal, Ponta Negra faz parte <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> 29 locais, que foram i<strong>de</strong>ntificad<strong>os</strong><br />
pela Polícia Civil com a existência <strong>do</strong> <strong>turismo</strong> sexual no Esta<strong>do</strong>, que continua <strong>em</strong><br />
funcio<strong>na</strong>mento.<br />
12
As campanhas <strong>na</strong>s cida<strong>de</strong>s <strong>em</strong> que há maior incidência da prática estão sen<strong>do</strong><br />
realizadas, como conscientização <strong>em</strong> hotéis, aeroport<strong>os</strong>, fi<strong>na</strong>nciadas pelo gove<strong>rn</strong>o d<strong>os</strong><br />
Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong> e a ONG Visão Mundial, com foco principal volta<strong>do</strong> ao turista<br />
<strong>estrangeiro</strong> com frases <strong>do</strong> tipo: "Explore sexualmente uma criança e vá para a ca<strong>de</strong>ia.<br />
Aqui ou <strong>em</strong> seu país”.<br />
A prefeitura <strong>de</strong> Natal espalha cartazes com a frase “Stop Sex Tourism” 1 , um<br />
filme <strong>de</strong>ssa campanha também é exibi<strong>do</strong> no <strong>de</strong>s<strong>em</strong>barque inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l n<strong>os</strong> períod<strong>os</strong> da<br />
alta t<strong>em</strong>porada e dirigid<strong>os</strong> a turistas estrangeir<strong>os</strong>, clientes <strong>de</strong>sse obscuro merca<strong>do</strong>.<br />
Os trabalh<strong>os</strong> <strong>de</strong> repressão como telefones para <strong>de</strong>núncias têm aumenta<strong>do</strong> no<br />
Esta<strong>do</strong>, que já obtiveram informações relacio<strong>na</strong>das a crimes <strong>de</strong> exploração sexual e<br />
favorecimento <strong>de</strong> pr<strong>os</strong>tituição.<br />
A Polícia Fe<strong>de</strong>ral t<strong>em</strong> realiza<strong>do</strong> parcerias com as Secretarias <strong>de</strong> Turismo,<br />
realizan<strong>do</strong> ações como a ocorrida <strong>na</strong> <strong>praia</strong> <strong>de</strong> Ponta Negra no ano <strong>de</strong> 2006 <strong>na</strong> qual cento<br />
e <strong>de</strong>z estrangeir<strong>os</strong> foram pres<strong>os</strong> s<strong>em</strong> passaporte numa boate, mas pagaram uma multa <strong>de</strong><br />
cento e sessenta e cinco reais e foram liberad<strong>os</strong>. Já que ninguém po<strong>de</strong> ser preso por sair<br />
com pr<strong>os</strong>titutas ou por frequentar essas boates, as blitz têm o objetivo <strong>de</strong> inibir as ações<br />
<strong>de</strong>sses turistas.<br />
Mas a polícia encontra um probl<strong>em</strong>a pontual, que é a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> renda gerada<br />
por esses estrangeir<strong>os</strong>, resultan<strong>do</strong> <strong>na</strong> falta <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> e apoio no combate ao <strong>turismo</strong><br />
sexual, por parte <strong>do</strong> setor hoteleiro, que obtém gran<strong>de</strong>s lucr<strong>os</strong>. Há exceções, como<br />
<strong>em</strong>presas como a Atlantica Hotels, que dá um trei<strong>na</strong>mento que não permite o incentivo<br />
da prática <strong>do</strong> <strong>turismo</strong> sexual e se recusa a h<strong>os</strong>pedar menores acompanhad<strong>os</strong> s<strong>em</strong><br />
<strong>do</strong>cument<strong>os</strong>.<br />
Os turistas estrangeir<strong>os</strong> já chegam no Brasil com local <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> para<br />
h<strong>os</strong>pedag<strong>em</strong> e po<strong>de</strong>m encontrar até mesmo <strong>em</strong> sites especializad<strong>os</strong> as garotas que<br />
“permit<strong>em</strong>-se” pagar por seus serviç<strong>os</strong> sexuais. Muit<strong>os</strong> viajantes p<strong>os</strong>su<strong>em</strong> <strong>na</strong> imag<strong>em</strong><br />
<strong>do</strong> país a referência <strong>de</strong> este ser o “paraíso da pr<strong>os</strong>tituição”.<br />
Há sites al<strong>em</strong>ães <strong>em</strong> que o cliente t<strong>em</strong> a p<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolher todas as<br />
características da mulher, com qu<strong>em</strong> po<strong>de</strong> passar até s<strong>em</strong>a<strong>na</strong>s, ele v<strong>em</strong> <strong>em</strong> busca <strong>de</strong><br />
sexo e aqui o encontra, assim como uma infra-estrutura turística receptiva,<br />
principalmente no Nor<strong>de</strong>ste.<br />
1 Pare o <strong>turismo</strong> sexual<br />
13
Lá chegam tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> dias da alta t<strong>em</strong>porada, vô<strong>os</strong> fretad<strong>os</strong> com homens solteir<strong>os</strong><br />
<strong>do</strong> norte da Europa e n<strong>os</strong> períod<strong>os</strong> <strong>de</strong> julho e set<strong>em</strong>bro há maior incidência <strong>de</strong> italian<strong>os</strong>,<br />
espanhóis e portugueses.<br />
Não há como negar a existência <strong>de</strong>ssa oferta, que po<strong>de</strong> ser encontrada <strong>na</strong>s ruas<br />
<strong>de</strong>ssas <strong>praia</strong>s, junto a ambulantes que também ven<strong>de</strong>m balas e cigarr<strong>os</strong> e exig<strong>em</strong> uma<br />
gorjeta pela intermediação, que são realizadas por taxistas que informam o preço com<br />
quart<strong>os</strong> <strong>de</strong> motel inclus<strong>os</strong> no serviço (são realizadas “parcerias” entre as garotas e <strong>os</strong><br />
taxistas, que indicam prováveis clientes).<br />
Em Natal alguns hotéis não impõ<strong>em</strong> barreiras para a prática <strong>do</strong> <strong>turismo</strong> sexual.<br />
Nesses hotéis, não se exige o registro <strong>do</strong> hóspe<strong>de</strong> <strong>na</strong> recepção (registram a entrada das<br />
moças como “<strong>na</strong>moradas”), não proib<strong>em</strong> a entrada <strong>de</strong> menores e muit<strong>os</strong> n<strong>em</strong> solicitam<br />
apresentação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. As garotas <strong>de</strong> programa afirmam que <strong>os</strong> “gring<strong>os</strong>” têm total<br />
controle da situação, pois eles t<strong>em</strong> dinheiro.<br />
Nesse caso o sentimento <strong>de</strong> h<strong>os</strong>pitalida<strong>de</strong> faz com que se percam <strong>os</strong> princípi<strong>os</strong><br />
étic<strong>os</strong>, geran<strong>do</strong> certa h<strong>os</strong>tilida<strong>de</strong> à população, isto <strong>em</strong> função da satisfação econômica<br />
causada pelo dinheiro <strong>estrangeiro</strong>.<br />
Os brasileir<strong>os</strong> <strong>do</strong>n<strong>os</strong> <strong>de</strong> serviç<strong>os</strong> no setor <strong>de</strong> h<strong>os</strong>pedag<strong>em</strong> e comunida<strong>de</strong>s<br />
receptivas, acabam sen<strong>do</strong> influenciad<strong>os</strong> por sua situação econômica e o preço<br />
diferencia<strong>do</strong> que pagam <strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong> por esse tipo <strong>de</strong> serviço.<br />
O que t<strong>em</strong><strong>os</strong> então por parte d<strong>os</strong> <strong>do</strong>n<strong>os</strong> <strong>de</strong> estabelecimento ligad<strong>os</strong> ao <strong>turismo</strong>, é<br />
uma confusão <strong>de</strong> valores sociais contrap<strong>os</strong>t<strong>os</strong> a<strong>os</strong> econômic<strong>os</strong>, que traz um benefício<br />
direto e individual, fazen<strong>do</strong> com que não consi<strong>de</strong>r<strong>em</strong> a interferência que proporcio<strong>na</strong>m<br />
<strong>na</strong> vida da socieda<strong>de</strong> on<strong>de</strong> estão inserid<strong>os</strong>.<br />
Há cas<strong>os</strong> <strong>de</strong> grup<strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong>, ligad<strong>os</strong> a hotéis, que t<strong>em</strong> <strong>do</strong>mínio total sobre as<br />
<strong>praia</strong>s, garotas e boates, permitin<strong>do</strong> e incentivan<strong>do</strong> participação <strong>de</strong> crianças e<br />
a<strong>do</strong>lescentes.<br />
O <strong>em</strong>presário e <strong>do</strong>no <strong>de</strong> restaurante, Ézio Eduar<strong>do</strong> Pereira, que luta contra o<br />
<strong>turismo</strong> sexual, está sen<strong>do</strong> processa<strong>do</strong> pelas garotas <strong>de</strong> programa por discrimi<strong>na</strong>ção, elas<br />
foram proibidas <strong>de</strong> entrar <strong>em</strong> seu estabelecimento, para obter<strong>em</strong> seus clientes.<br />
O gove<strong>rn</strong>o <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e prefeitura, <strong>na</strong>da estão realizan<strong>do</strong> atualmente contra a<br />
existência e a favor da abolição <strong>de</strong>ssa prática. A prefeitura <strong>de</strong> Natal não consi<strong>de</strong>rava o<br />
tamanho e a gravida<strong>de</strong> <strong>do</strong> probl<strong>em</strong>a, até ser informada <strong>do</strong> contrário <strong>na</strong> entrevista<br />
realizada pela produção da série <strong>de</strong> reportagens “Aqui se ven<strong>de</strong> sexo”, <strong>do</strong> Jor<strong>na</strong>l da<br />
Globo <strong>em</strong> 8 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2006.<br />
14
Mas o prefeito Carl<strong>os</strong> Eduar<strong>do</strong> Alves muda sua p<strong>os</strong>ição após ser informa<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
flagrantes registrad<strong>os</strong> <strong>na</strong> <strong>praia</strong>, mesmo com a presença <strong>de</strong> policias, <strong>de</strong>clara:<br />
15<br />
À noite a situação ali <strong>em</strong> Ponta Negra é realmente uma situação que<br />
m<strong>os</strong>tra visibilida<strong>de</strong> a este probl<strong>em</strong>a. Creio que se você m<strong>os</strong>trou isso,<br />
então está mais <strong>do</strong> que <strong>na</strong> hora, ao invés <strong>de</strong> ficar aqui, não quero ficar<br />
teiman<strong>do</strong> com a informação, eu vou reunir e vam<strong>os</strong> tomar as<br />
provi<strong>de</strong>ncias (JORNAL DA GLOBO, 2006).<br />
Segun<strong>do</strong> o prefeito, no dia seguinte providências foram tomadas, como a criação<br />
<strong>de</strong> grup<strong>os</strong> <strong>de</strong> discussão para o probl<strong>em</strong>a, instalação <strong>de</strong> câmeras n<strong>os</strong> aeroport<strong>os</strong> e<br />
corre<strong>do</strong>res turístic<strong>os</strong> da cida<strong>de</strong> e <strong>em</strong> Ponta Negra.<br />
II. Justificativa<br />
El hecho <strong>de</strong> que el <strong>turismo</strong> se convierta <strong>em</strong> la preocupación <strong>de</strong> un<br />
número cada vez mayor <strong>de</strong> dirigentes sociales, polític<strong>os</strong> y culturales,<br />
<strong>de</strong> hombres <strong>de</strong> negóci<strong>os</strong> y <strong>de</strong> pensa<strong>do</strong>res, n<strong>os</strong> lle<strong>na</strong> <strong>de</strong> alegria.<br />
(HAULOT, 1991, p.131).<br />
A realização <strong>de</strong>ssa pesquisa buscou permitir o levantamento das causas e<br />
influências da pr<strong>os</strong>tituição adulta e infantil, <strong>na</strong> <strong>praia</strong> <strong>de</strong> Ponta Negra <strong>em</strong> Natal (RN),<br />
b<strong>em</strong> como a p<strong>os</strong>ição da socieda<strong>de</strong> local com relação à existência nítida <strong>de</strong>sta. Também<br />
estudar o vínculo existente entre estabeleciment<strong>os</strong> comerciais ligad<strong>os</strong> ao <strong>turismo</strong>, que<br />
t<strong>em</strong> por long<strong>os</strong> an<strong>os</strong>, feito “vista gr<strong>os</strong>sa” a<strong>os</strong> probl<strong>em</strong>as, b<strong>em</strong> como estudar a procura<br />
estrangeira por este, e as conseqüências que o incentivo e permissão da prática causam.<br />
Tal processo ocorre, e é intermedia<strong>do</strong> por pr<strong>os</strong>titutas adultas, taxistas, <strong>do</strong>n<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />
estabeleciment<strong>os</strong> (ligad<strong>os</strong> ao <strong>turismo</strong> ou à pr<strong>os</strong>tituição), entre outr<strong>os</strong> facilita<strong>do</strong>res. No<br />
caso da Praia <strong>de</strong> Ponta Negra-RN, a realização <strong>de</strong>ssa pesquisa permite o levantamento<br />
<strong>de</strong> informações e dad<strong>os</strong> a respeito e tentará contribuir para a compreensão <strong>do</strong> probl<strong>em</strong>a,<br />
visan<strong>do</strong> auxiliar futuras ações <strong>na</strong> direção <strong>de</strong> soluções.<br />
Em set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2007, iniciei a procura por um estágio <strong>na</strong> Praia <strong>de</strong> Ponta Negra,<br />
e soube da existência da prática da pr<strong>os</strong>tituição todas as noites, principalmente no fi<strong>na</strong>l<br />
<strong>do</strong> ano. Esta informação e muitas outras me fizeram ter gran<strong>de</strong> interesse pelo local.<br />
Assim procurei uma maneira <strong>de</strong> estagiar, neste local, pois estaria inserida no foco da<br />
minha pesquisa e po<strong>de</strong>ria conhecer e enten<strong>de</strong>r melhor o objeto <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>, então a
negociação <strong>de</strong> quase três meses, resultou-me a contratação <strong>do</strong> estágio no restaurante<br />
Galo <strong>do</strong> Alto, no alto da Ponta Negra.<br />
Realizei também um levantamento prévio, sobre a existência <strong>de</strong> ONGs e seus<br />
en<strong>de</strong>reç<strong>os</strong>, além <strong>de</strong> estud<strong>os</strong> p<strong>os</strong>síveis <strong>na</strong> UFRN. Assim pu<strong>de</strong> me comunicar<br />
antecipadamente com a ONG, RESPOSTA, que realiza um trabalho relacio<strong>na</strong><strong>do</strong> à<br />
pr<strong>os</strong>tituição e com o professor <strong>do</strong>utor Carl<strong>os</strong> Guilherme <strong>do</strong> Valle, que trabalha no<br />
Programa <strong>de</strong> Pós Graduação <strong>em</strong> Antropologia Social.<br />
Chegan<strong>do</strong> lá, conheci o restaurante, on<strong>de</strong> iria estagiar e que por um feliz acaso,<br />
localizava-se no “centro” d<strong>os</strong> aconteciment<strong>os</strong>, <strong>na</strong> rua que abriga <strong>em</strong> Ponta Negra, uma<br />
das maiores movimentações comerciais, ligada as profissio<strong>na</strong>is <strong>do</strong> sexo, estrangeir<strong>os</strong> a<br />
sua procura, além <strong>de</strong> bebidas alcoólicas, casas notur<strong>na</strong>s e vendas <strong>de</strong> inúmer<strong>os</strong> tip<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />
drogas, <strong>em</strong> frente a<strong>os</strong> bares, restaurantes e casas notur<strong>na</strong>s, fato que me proporcionou<br />
uma ótima visão <strong>do</strong> que acontecia <strong>na</strong>quela rua, que só era viva e movimentada durante<br />
as noites.<br />
III. Objetiv<strong>os</strong><br />
3.1 Objetivo geral<br />
A<strong>na</strong>lisar a influência e abertura d<strong>os</strong> estabeleciment<strong>os</strong> comerciais turístic<strong>os</strong> para a<br />
pr<strong>os</strong>tituição sexual infantil e a existência <strong>de</strong> <strong>turismo</strong> sexual pela procura estrangeira, <strong>em</strong><br />
<strong>de</strong>corrência <strong>do</strong> “comportamento <strong>em</strong>presarial” <strong>na</strong> Praia <strong>de</strong> Ponta Negra, <strong>de</strong> Natal (RN).<br />
3.2 Objetiv<strong>os</strong> específic<strong>os</strong><br />
I) Levantar as condições <strong>de</strong> p<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> <strong>turismo</strong> sexual <strong>em</strong> Natal também com<br />
menores <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a cooperações <strong>de</strong> comérci<strong>os</strong>, serviç<strong>os</strong> e mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> h<strong>os</strong>pedag<strong>em</strong> locais<br />
e da pr<strong>os</strong>tituição infantil.<br />
II) Verificar as ações que t<strong>em</strong> si<strong>do</strong> realizadas para diminuir o probl<strong>em</strong>a <strong>do</strong> <strong>turismo</strong><br />
sexual <strong>em</strong> Natal.<br />
III) A<strong>na</strong>lisar junto a ONGs e instituições <strong>de</strong> pesquisa, motiv<strong>os</strong> que levam esses menores<br />
a se pr<strong>os</strong>tituír<strong>em</strong>.<br />
IV) A<strong>na</strong>lisar a questão das drogas como vetor <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as sociais.<br />
16
IV. Meto<strong>do</strong>logia<br />
Iniciei <strong>na</strong> <strong>praia</strong> <strong>de</strong> Ponta Negra <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o mês <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2007, observações<br />
<strong>de</strong> campo, durante as madrugadas, durante <strong>os</strong> três meses <strong>em</strong> que realizei a pesquisa.<br />
Conversei com garçons, barten<strong>de</strong>rs e mora<strong>do</strong>res, com objetivo <strong>de</strong> investigar <strong>os</strong><br />
principais locais <strong>em</strong> que po<strong>de</strong>ria encontrar crianças e a<strong>do</strong>lescentes ou adult<strong>os</strong><br />
envolvid<strong>os</strong> com pr<strong>os</strong>tituição.<br />
Des<strong>de</strong> o começo, após o expediente, por volta das duas da manhã eu encerrava<br />
as ativida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> estágio e permanecia no restaurante, para observar quais eram <strong>os</strong><br />
envolvid<strong>os</strong>, como agiam, on<strong>de</strong> ficavam, para que pu<strong>de</strong>sse realizar p<strong>os</strong>teriormente uma<br />
abordag<strong>em</strong> para conversas formais ou informais e até mesmo análises e a<strong>ponta</strong>ment<strong>os</strong><br />
para a pesquisa.<br />
Procurei orientação e material bibliográfico, <strong>na</strong> Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Rio<br />
Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Norte - UFRN e <strong>na</strong> Universida<strong>de</strong> Potiguar - UNP, e encontrei seis<br />
monografias relacio<strong>na</strong>das com o t<strong>em</strong>a, das quais duas p<strong>os</strong>suíam t<strong>em</strong>as parecid<strong>os</strong>, das<br />
quais ape<strong>na</strong>s uma recente apresentada no ano <strong>de</strong> 2006.<br />
Fui também muitas vezes ao centro da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Natal <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> informações<br />
e horári<strong>os</strong> <strong>de</strong> entrevistas <strong>em</strong> órgã<strong>os</strong> públic<strong>os</strong>, secretarias, ONGs, inclusive das que já<br />
haviam si<strong>do</strong> localizadas. No fi<strong>na</strong>l <strong>do</strong> mês <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro elaborei um questionário sócio-<br />
econômico <strong>de</strong> base, para levantar o perfil d<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>, como suas profissões,<br />
ida<strong>de</strong>s, sexo, orig<strong>em</strong>, conforme Anexo 1.<br />
No primeiro mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> entrevista s<strong>em</strong>i-estruturada, elaborei para que pu<strong>de</strong>sse<br />
realizar junto a uma representante <strong>de</strong> cada uma das ONGs que havia localiza<strong>do</strong>; a Casa<br />
Re<strong>na</strong>scer e a ONG RESPOSTA e a coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>ra <strong>do</strong> Conselho Tutelar da Zo<strong>na</strong> Sul.<br />
As entrevistas continham 13 perguntas sobre <strong>os</strong> motiv<strong>os</strong> e necessida<strong>de</strong>s da<br />
criação <strong>do</strong> órgão, como é o trabalho realiza<strong>do</strong>, sua área <strong>de</strong> atuação, <strong>os</strong> motiv<strong>os</strong> que as<br />
crianças chegam até lá, existência <strong>de</strong> explora<strong>do</strong>res e seus víncul<strong>os</strong> com <strong>os</strong> explorad<strong>os</strong>,<br />
quais as atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> órgã<strong>os</strong> públic<strong>os</strong>, como funcio<strong>na</strong>vam <strong>os</strong> projet<strong>os</strong> <strong>em</strong> andamento,<br />
entre outras, conforme Anexo 2.<br />
Também foram elaboradas e estruturadas 9 perguntas, aplicadas juntamente com<br />
as sócio-econômicas aplicadas às representantes <strong>de</strong> órgã<strong>os</strong> públic<strong>os</strong>, como a chefe <strong>de</strong><br />
informações turísticas da SETUR-RN e <strong>na</strong> central <strong>do</strong> cidadão localizada no shopping <strong>de</strong><br />
Ponta Negra, com a funcionária <strong>do</strong> balcão <strong>de</strong> informações turísticas, subordi<strong>na</strong>da ao<br />
município, Anexo 3.<br />
17
No segun<strong>do</strong> mês, me senti preparada para abordag<strong>em</strong> <strong>na</strong>s ruas ou <strong>em</strong><br />
estabeleciment<strong>os</strong> e no fi<strong>na</strong>l <strong>do</strong> mês <strong>de</strong> janeiro, elaborei o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> entrevistas s<strong>em</strong>i-<br />
estruturadas, Anexo 4, que iria utilizar com tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> trabalha<strong>do</strong>res da indústria turística,<br />
entre eles as entrevistas foram aplicadas à catorze trabalha<strong>do</strong>res <strong>do</strong> segmento turístico e<br />
sete pessoas ligadas direta ou indiretamente à pr<strong>os</strong>tituição, <strong>na</strong>s ruas.<br />
Essas entrevistas continham 17 perguntas como opinião <strong>do</strong> <strong>turismo</strong> sexual,<br />
proximida<strong>de</strong> com garotas <strong>de</strong> programa e menores <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, conhecimento sobre<br />
existência <strong>de</strong> explora<strong>do</strong>res e seus motiv<strong>os</strong>, perspectivas das meni<strong>na</strong>s que conheciam e<br />
sua renda mensal.<br />
Ao to<strong>do</strong> foram realizadas 27 entrevistas diretas, com pessoas envolvidas <strong>em</strong><br />
tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> setores <strong>do</strong> <strong>turismo</strong> e muitas outras indiretas, através <strong>de</strong> conversas informais,<br />
que contribuíram <strong>de</strong> alguma forma com a questão <strong>do</strong> <strong>turismo</strong> e exploração sexual <strong>de</strong><br />
crianças e a<strong>do</strong>lescentes, m<strong>os</strong>tran<strong>do</strong> como a comunida<strong>de</strong> absorve <strong>os</strong> efeit<strong>os</strong> <strong>do</strong> fluxo<br />
intenso <strong>de</strong> turistas.<br />
Também realizei muitas conversas informais com; mora<strong>do</strong>res, trabalha<strong>do</strong>res<br />
ligad<strong>os</strong> ao <strong>turismo</strong>, funcionári<strong>os</strong> das ONGs, policiais, taxistas, crianças e a<strong>do</strong>lescentes,<br />
essas que durante <strong>os</strong> três meses <strong>de</strong> observação, permaneciam <strong>na</strong>s ruas <strong>de</strong> Ponta Negra a<br />
maioria ven<strong>de</strong>n<strong>do</strong> drogas e algumas se pr<strong>os</strong>tituin<strong>do</strong>.<br />
Procurei manter tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> dias observações, buscas, análises <strong>em</strong> toda a Praia <strong>de</strong><br />
Ponta Negra e Natal, foi p<strong>os</strong>sível elaborar a bases <strong>de</strong> entrevistas, <strong>em</strong> anexo. Após algum<br />
t<strong>em</strong>po, percebi que muitas pessoas não queriam falar e ficavam com me<strong>do</strong> e receio <strong>do</strong><br />
assunto a ser trata<strong>do</strong> “o <strong>turismo</strong> sexual”.<br />
Pu<strong>de</strong> notar que <strong>em</strong> abordagens que realizava <strong>na</strong> <strong>praia</strong>, com o público notu<strong>rn</strong>o<br />
freqüenta<strong>do</strong>r, trabalha<strong>do</strong>res e taxistas (<strong>em</strong> sua maioria), o receio <strong>de</strong> revelar alguma<br />
informação ou conhecimento <strong>do</strong> assunto. Isto porque muit<strong>os</strong> d<strong>os</strong> taxistas, conforme<br />
análise das duas únicas entrevistas formais que aceitaram conce<strong>de</strong>r, o assunto tor<strong>na</strong>va-se<br />
para muit<strong>os</strong>, compromete<strong>do</strong>r, já que <strong>os</strong> trabalha<strong>do</strong>res notu<strong>rn</strong><strong>os</strong> estão envolvid<strong>os</strong><br />
diretamente neste merca<strong>do</strong>.<br />
O assunto “<strong>turismo</strong> sexual”, exp<strong>os</strong>to a<strong>os</strong> p<strong>os</strong>síveis entrevistad<strong>os</strong>, causou espanto<br />
e foi relevante para que muitas pessoas se negass<strong>em</strong> a colaborar ou ocultass<strong>em</strong><br />
informações úteis a este estu<strong>do</strong>, das quais tinham conhecimento.<br />
As entrevistas continham perguntas sobre o conhecimento das pessoas sobre o<br />
<strong>turismo</strong> sexual e a existência <strong>de</strong> menores <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> envolvid<strong>os</strong>. Também perguntei se<br />
haviam explora<strong>do</strong>res, qual o envolvimento <strong>de</strong> estrangeir<strong>os</strong>, quais <strong>os</strong> motiv<strong>os</strong> que<br />
18
incentivam a ocorrência <strong>de</strong>ssa pr<strong>os</strong>tituição, porque tantas garotas <strong>em</strong> Natal se<br />
pr<strong>os</strong>tituíam e qual a p<strong>os</strong>ição das famílias das garotas <strong>de</strong> programa, qual o preço cobra<strong>do</strong><br />
pel<strong>os</strong> programas, qu<strong>em</strong> <strong>de</strong>pendia <strong>de</strong>ssa renda, entre outras.<br />
Assim elaborei todas as bases <strong>de</strong> entrevistas conten<strong>do</strong> perguntas cautel<strong>os</strong>as e<br />
indiretas, para que ao apresentar o assunto e as questões utilizadas, <strong>na</strong> tentativa <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ixar <strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> men<strong>os</strong> inibid<strong>os</strong>. Então perguntava se conheciam alguém<br />
envolvi<strong>do</strong> com pr<strong>os</strong>tituição, se sabiam quais <strong>os</strong> preç<strong>os</strong> que as garotas cobravam, s<strong>em</strong>pre<br />
<strong>em</strong> terceira pessoa, como se estivesse me referin<strong>do</strong> a outr<strong>os</strong>, mas <strong>em</strong> muitas das<br />
entrevistas era da própria vida que falavam.<br />
Algumas pessoas solicitadas para as entrevistas, não compareceram no dia<br />
combi<strong>na</strong><strong>do</strong>, algumas ocultaram informações relevantes, confirmadas por conhecid<strong>os</strong>, as<br />
instituições da cida<strong>de</strong> não p<strong>os</strong>suíam muita organização e aten<strong>de</strong>ram <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> quase<br />
<strong>do</strong>is meses <strong>de</strong> procura, sen<strong>do</strong> que algumas não acrescentaram nenhuma informação<br />
nova, o contrário <strong>do</strong> que era espera<strong>do</strong>.<br />
19
V. Revisão Bibliográfica<br />
O <strong>turismo</strong>, além da p<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gerar renda e <strong>em</strong>prego, também traz muitas<br />
vezes consigo impact<strong>os</strong> socioculturais negativ<strong>os</strong>, e neste caso <strong>de</strong>ve ser leva<strong>do</strong> <strong>em</strong> conta<br />
que <strong>os</strong> locais turístic<strong>os</strong> são afetad<strong>os</strong> por forças exteriores e maiores que o <strong>turismo</strong>, como<br />
a televisão, o merca<strong>do</strong>, entre outras. Ainda assim não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>scartar <strong>os</strong> efeit<strong>os</strong> que o<br />
<strong>turismo</strong> também ocasio<strong>na</strong>. (DIAS, 2003).<br />
Segun<strong>do</strong> o mesmo autor (p.126), consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> as inter-relações <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong><br />
<strong>turismo</strong>, t<strong>em</strong><strong>os</strong> três categorias <strong>de</strong>ssas: 1) a <strong>do</strong> turista que busca aten<strong>de</strong>r suas expectativas<br />
por intermédio d<strong>os</strong> serviç<strong>os</strong> turístic<strong>os</strong>, 2) o resi<strong>de</strong>nte que assume p<strong>os</strong>tura <strong>de</strong> organiza<strong>do</strong>r<br />
<strong>do</strong> local e 3) a interação d<strong>os</strong> anteriores relacio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> seu contato e as conseqüências <strong>em</strong><br />
<strong>de</strong>corrência <strong>de</strong>stes.<br />
Segun<strong>do</strong> DIAS (2003, p. 127) um d<strong>os</strong> fatores que aumentam <strong>os</strong> impact<strong>os</strong> entre<br />
comunida<strong>de</strong>s receptivas e visitantes são divergências econômicas e culturais que estes<br />
p<strong>os</strong>su<strong>em</strong>. Quanto maior for<strong>em</strong> estas, mais impact<strong>os</strong> causam. Se o turista, por ex<strong>em</strong>plo,<br />
não tiver consciência <strong>de</strong> valores existentes no <strong>de</strong>stino, estes po<strong>de</strong>m ser quebrad<strong>os</strong><br />
ocasio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> graves probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> relacio<strong>na</strong>mento, como <strong>os</strong> <strong>de</strong> cunho social.<br />
Se no caso o turista se utilizar das próprias férias e no local <strong>em</strong> que visita,<br />
<strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> <strong>de</strong> la<strong>do</strong> seus princípi<strong>os</strong> morais, e ainda encontrar ambiente favorável ao invés<br />
<strong>de</strong> repreensão, acaba junto com o receptivo (<strong>em</strong>preendiment<strong>os</strong> hoteleir<strong>os</strong>, <strong>de</strong> transporte,<br />
cultura, associad<strong>os</strong> ao local), a responsabilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> envolvid<strong>os</strong>.<br />
Isso faz com que a cida<strong>de</strong> vá se <strong>de</strong>gradan<strong>do</strong>, <strong>em</strong> imag<strong>em</strong> e principalmente<br />
aspect<strong>os</strong> sociais transforman<strong>do</strong> o algo benéfico, como a ativida<strong>de</strong> turística intensa, <strong>em</strong><br />
impact<strong>os</strong> sociais irreversíveis, ocasio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> probl<strong>em</strong>as graves à comunida<strong>de</strong> <strong>na</strong>tiva, que<br />
por inconsciência ou necessida<strong>de</strong> também sofre.<br />
E <strong>os</strong> princípi<strong>os</strong> levad<strong>os</strong> <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração para fazer <strong>turismo</strong> e utilizar o t<strong>em</strong>po<br />
livre para o lazer, <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> prevalecer, dan<strong>do</strong> lugar a ativida<strong>de</strong>s ilegais, que geram<br />
lucr<strong>os</strong>, interesse <strong>de</strong> muit<strong>os</strong>, sen<strong>do</strong> da comunida<strong>de</strong> ou não.<br />
20<br />
Quienes tienen la responsabilidad <strong>de</strong> las realida<strong>de</strong>s sociales saben que<br />
no es mediante mit<strong>os</strong> aberrantes (y se<strong>do</strong>ctores) que <strong>de</strong>be encontrarse<br />
la solución <strong>de</strong>l probl<strong>em</strong>a que plante ala <strong>de</strong>shumanización mo<strong>de</strong>r<strong>na</strong> <strong>de</strong>l<br />
trabajo. No es en “el viaje huida”, las vacaciones “r<strong>em</strong>édio para la<br />
amargura” ni <strong>em</strong> la mentira <strong>de</strong> uma civilización basada <strong>em</strong> el trabajo,<br />
<strong>em</strong> la no-producción, que nuestr<strong>os</strong> cont<strong>em</strong>porâne<strong>os</strong> encontrarán la<br />
reconciliación <strong>de</strong>l hombre y <strong>de</strong> su ti<strong>em</strong>po (HAULOT, 1991,p.132).
Com relação à <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> econômica o autor afirma que geralmente <strong>em</strong><br />
regiões com menor índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, <strong>os</strong> turistas são provenientes <strong>de</strong> padrões<br />
<strong>de</strong> consumo diferentes da realida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>de</strong>stino, isso faz com que a população,<br />
principalmente jovens seja influenciada e queira mudar seus hábit<strong>os</strong> usuais; causan<strong>do</strong> a<br />
chamada “tensão” social e até étnica.<br />
Esses choques culturais prejudicam <strong>os</strong> <strong>do</strong>is lad<strong>os</strong> envolvid<strong>os</strong>, causan<strong>do</strong> a repulsa<br />
<strong>do</strong> turista por parte <strong>do</strong> lugar e vice-versa. Acontece também a modificação <strong>de</strong> valores<br />
sociais, alteran<strong>do</strong> comportament<strong>os</strong> e entran<strong>do</strong> <strong>em</strong> choque com códig<strong>os</strong> e valores morais<br />
<strong>do</strong> local.<br />
Os aspect<strong>os</strong> que são relacio<strong>na</strong>d<strong>os</strong> e reproduzid<strong>os</strong> por esse comportamento são: o<br />
jogo, crimes <strong>em</strong> larga escala e a pr<strong>os</strong>tituição, que já ocorr<strong>em</strong> <strong>na</strong>s socieda<strong>de</strong>s com<br />
existência <strong>de</strong> <strong>turismo</strong> ou não. Mas vale a ressalva <strong>de</strong> que o <strong>turismo</strong> <strong>em</strong> muitas ocasiões<br />
propicia um ambiente (com eleva<strong>do</strong> número <strong>de</strong> pessoas e fluxo <strong>de</strong> dinheiro), favorável a<br />
práticas negativas e imorais <strong>de</strong>ntro das comunida<strong>de</strong>s.<br />
Para Mathieson (1990, p.190) um d<strong>os</strong> produt<strong>os</strong> mais significativ<strong>os</strong> <strong>do</strong> <strong>turismo</strong>,<br />
talvez um d<strong>os</strong> men<strong>os</strong> <strong>de</strong>sejáveis, sejam <strong>os</strong> efeit<strong>os</strong> que ele causa <strong>na</strong>s populações anfitriãs,<br />
como o crescimento da pr<strong>os</strong>tituição, um d<strong>os</strong> aspect<strong>os</strong> negativ<strong>os</strong> da prática da ativida<strong>de</strong>.<br />
A pr<strong>os</strong>tituição, consi<strong>de</strong>rada uma das profissões mais antigas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, se<br />
formou <strong>na</strong> antiguida<strong>de</strong> com auxílio daqueles que viajavam, muito antes da existência <strong>do</strong><br />
<strong>turismo</strong> <strong>de</strong> massa. Não po<strong>de</strong>m<strong>os</strong> dizer que o <strong>turismo</strong> é o total responsável por essa<br />
prática, porém certamente t<strong>em</strong> si<strong>do</strong> um el<strong>em</strong>ento propulsor <strong>de</strong> seu aumento.<br />
A prática <strong>do</strong> <strong>turismo</strong> <strong>estrangeiro</strong> <strong>em</strong> larga escala no Brasil, principalmente <strong>na</strong>s<br />
<strong>praia</strong>s <strong>do</strong> nor<strong>de</strong>ste, t<strong>em</strong> proporcio<strong>na</strong><strong>do</strong> a existência <strong>de</strong> divers<strong>os</strong> impact<strong>os</strong> <strong>na</strong>s<br />
comunida<strong>de</strong>s receptoras. Fato que t<strong>em</strong> influencia<strong>do</strong> diretamente <strong>na</strong> conduta moral e<br />
ética <strong>de</strong> <strong>em</strong>preendiment<strong>os</strong> hoteleir<strong>os</strong>, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à vantag<strong>em</strong> econômica trazida com capital<br />
<strong>estrangeiro</strong>, que está há algum t<strong>em</strong>po inserin<strong>do</strong> e incentivan<strong>do</strong> uma “nova prática” <strong>de</strong><br />
<strong>turismo</strong>, o sexual.<br />
21<br />
Na década <strong>de</strong> 1990, a pr<strong>os</strong>tituição – especialmente f<strong>em</strong>ini<strong>na</strong> – assumiu<br />
também a forma <strong>do</strong> que ficou conheci<strong>do</strong> como “<strong>turismo</strong> sexual”,<br />
principalmente no Rio <strong>de</strong> Janeiro e no Nor<strong>de</strong>ste. Pr<strong>os</strong>tituição infantojuvenil,<br />
pr<strong>os</strong>tituição inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, tráfico <strong>de</strong> mulheres foram matéria<br />
para a mídia e para a aca<strong>de</strong>mia. (CITELI, 2005, p.52).<br />
Um <strong>de</strong>stes impact<strong>os</strong> negativ<strong>os</strong> são a exploração e pr<strong>os</strong>tituição sexual infantil que<br />
essa vertente pe<strong>rn</strong>ici<strong>os</strong>a <strong>do</strong> <strong>turismo</strong> insere <strong>na</strong> comunida<strong>de</strong> receptora. No caso <strong>do</strong> Brasil,
as imagens <strong>do</strong> car<strong>na</strong>val, divulgadas e associadas à beleza e nu<strong>de</strong>z das mulheres<br />
exp<strong>os</strong>tas, pela Embratur, <strong>de</strong>ram forte impulso a vonta<strong>de</strong> e procura d<strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong>, há<br />
mais <strong>de</strong> trinta an<strong>os</strong>.<br />
Assim acontece <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que <strong>em</strong> 1966, surge a Embratur, cujas campanhas<br />
publicitárias, incentivavam quase que exclusivamente a nu<strong>de</strong>z e o car<strong>na</strong>val, com isso as<br />
imagens que cativam traz<strong>em</strong> consigo gran<strong>de</strong>s probl<strong>em</strong>as como roteir<strong>os</strong> <strong>de</strong> <strong>turismo</strong><br />
sexual envolven<strong>do</strong> a busca d<strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong> por pr<strong>os</strong>tituição incluin<strong>do</strong> a infantil.<br />
(CAMPAGNARO apud MININI, 2004).<br />
B<strong>em</strong> (2005, p.59) afirma que “tais imagens se tor<strong>na</strong>m funcio<strong>na</strong>is para <strong>os</strong><br />
contat<strong>os</strong> travad<strong>os</strong> <strong>na</strong> esfera <strong>do</strong> <strong>turismo</strong>, estimulan<strong>do</strong> mesmo o surgimento e o<br />
estabelecimento <strong>do</strong> <strong>turismo</strong> sexual <strong>em</strong> várias regiões <strong>do</strong> Brasil, como no Nor<strong>de</strong>ste (...)”.<br />
Os motiv<strong>os</strong> segun<strong>do</strong> Pereira (1976, p.15) que explicam as causas da pr<strong>os</strong>tituição<br />
se baseiam no quadro social <strong>de</strong> seus própri<strong>os</strong> fat<strong>os</strong>, <strong>de</strong>ntre esses: qu<strong>em</strong> se pr<strong>os</strong>titui po<strong>de</strong><br />
ser vítima da falta <strong>de</strong> amor familiar e se mantêm no meio para obter a subsistência,<br />
pratican<strong>do</strong> assim o comércio sexual.<br />
Outr<strong>os</strong> agentes condicio<strong>na</strong>ntes são “taras psíquicas” (que pre<strong>de</strong>sti<strong>na</strong>riam a<br />
pr<strong>os</strong>tituta), condições <strong>do</strong> meio e <strong>os</strong> fatores exógen<strong>os</strong> como educação, ex<strong>em</strong>plo familiar,<br />
moral <strong>de</strong> seu ambiente <strong>de</strong> convívio. E numa análise endóge<strong>na</strong> seria uma questão das<br />
circunstâncias econômicas, levan<strong>do</strong> inevitavelmente à pr<strong>os</strong>tituição, <strong>em</strong>bora este não seja<br />
motivo para que as mulheres busqu<strong>em</strong> a pr<strong>os</strong>tituição como única saída.<br />
Há inúmer<strong>os</strong> motiv<strong>os</strong> que levam crianças a se pr<strong>os</strong>tituír<strong>em</strong>, <strong>de</strong>ntre esses t<strong>em</strong><strong>os</strong><br />
fat<strong>os</strong> comprovad<strong>os</strong> como um daqueles que ultrapassa <strong>os</strong> limites da interferência <strong>do</strong><br />
<strong>turismo</strong>, como a fome. Segun<strong>do</strong> Lei<strong>rn</strong>er (2007, p.72-83), uma <strong>de</strong>ssas menores <strong>de</strong>clara<br />
que se pr<strong>os</strong>tituía porque tinha fome, filha <strong>de</strong> pais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> drogas, se iniciou com<br />
nove an<strong>os</strong>, fumava crack e foi parar num abrigo após uma <strong>de</strong>núncia da tia.<br />
Dentre <strong>os</strong> fatores necessári<strong>os</strong> para que ocorra o <strong>turismo</strong> sexual, B<strong>em</strong> (2005,<br />
p.78) consi<strong>de</strong>ra a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> e exclusão social como um fator importante, que po<strong>de</strong><br />
ampliar ou diminuir o fenômeno. Assim grup<strong>os</strong> sociais <strong>em</strong> suas condições específicas<br />
estão propens<strong>os</strong> a participar da oferta no “merca<strong>do</strong> das trocas sexuais” objetivan<strong>do</strong><br />
mobilida<strong>de</strong> social.<br />
As condições <strong>em</strong> que estão inseridas essas crianças, a falta <strong>de</strong> orientação, por<br />
parte <strong>do</strong> adulto responsável, pais que passam pela mesma precarieda<strong>de</strong>, acabam<br />
<strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> <strong>de</strong> la<strong>do</strong>, <strong>de</strong>scuidan<strong>do</strong>-se <strong>do</strong> menor, por muit<strong>os</strong> motiv<strong>os</strong>, trabalho, <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego,<br />
víci<strong>os</strong>, mate<strong>rn</strong>ida<strong>de</strong> precoce, enfim a exclusão e indiferença social.<br />
22
Com isso as crianças estão alheias à educação, boas condições e vão sen<strong>do</strong><br />
induzidas a lutar contra essa margi<strong>na</strong>lida<strong>de</strong>, mas <strong>na</strong> maioria a se inserir nesta. Segu<strong>em</strong><br />
um caminho mais fácil, que vê<strong>em</strong> <strong>na</strong>s ruas qu<strong>em</strong> viv<strong>em</strong> iludin<strong>do</strong>-se, <strong>na</strong> busca <strong>de</strong><br />
melhores condições alivio ou da busca por felicida<strong>de</strong>, pratican<strong>do</strong> ativida<strong>de</strong>s como a<br />
pr<strong>os</strong>tituição, consumo <strong>de</strong> drogas, bebidas n<strong>os</strong> lugares mais i<strong>na</strong><strong>de</strong>quad<strong>os</strong> às crianças.<br />
23<br />
É importante assi<strong>na</strong>larm<strong>os</strong> que <strong>os</strong> diferentes impact<strong>os</strong>-econômic<strong>os</strong>,<br />
ambientais, socioculturais-não ocorr<strong>em</strong> <strong>de</strong> forma isolada, ao contrário,<br />
<strong>na</strong> maior parte das vezes estão intimamente relacio<strong>na</strong>d<strong>os</strong> um com o<br />
outro. O que <strong>de</strong>v<strong>em</strong><strong>os</strong> resgatar é que o <strong>turismo</strong> não é uma ativida<strong>de</strong><br />
“inocente”, como faziam supor muit<strong>os</strong> autores no início da história <strong>do</strong><br />
<strong>turismo</strong>. Ao contrário é uma ativida<strong>de</strong> que, se não b<strong>em</strong> dimensio<strong>na</strong>da,<br />
não planejada rigor<strong>os</strong>amente, po<strong>de</strong> produzir um efeito contrário ao<br />
que se pretendia. Em vez <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento social, po<strong>de</strong> haver um<br />
recru<strong>de</strong>scimento das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s, a <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> valores e<br />
c<strong>os</strong>tumes estabelecid<strong>os</strong> (DIAS, 2003, p.150).<br />
Incluídas <strong>na</strong> transformação <strong>de</strong> valores e conduta moral estão à existência e<br />
crescimento da pr<strong>os</strong>tituição n<strong>os</strong> centr<strong>os</strong> turístic<strong>os</strong>, que se explicam para Mathieson<br />
(1990, p. 191, tradução n<strong>os</strong>sa), pel<strong>os</strong> seguintes motiv<strong>os</strong>:<br />
a) O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> <strong>turismo</strong> t<strong>em</strong> cria<strong>do</strong> localida<strong>de</strong>s e<br />
ambientes atrativ<strong>os</strong> <strong>de</strong> pr<strong>os</strong>titutas e clientes.<br />
b) O <strong>turismo</strong> por <strong>na</strong>tureza significa que as pessoas se abstêm d<strong>os</strong><br />
víncul<strong>os</strong> puritan<strong>os</strong> da vida normal, e o anonimato que se t<strong>em</strong> fora <strong>de</strong><br />
casa e o dinheiro <strong>de</strong> que se dispõe para gastar he<strong>do</strong>nistamente. Estas<br />
circunstâncias conduz<strong>em</strong> a supervivência e expansão da pr<strong>os</strong>tituição.<br />
c) O <strong>turismo</strong> po<strong>de</strong> ser utiliza<strong>do</strong> como “bo<strong>de</strong> espiatório” para a<br />
perda total da moral.<br />
Numa visão já existente há muito t<strong>em</strong>po da psicologia, as mulheres acabam<br />
toman<strong>do</strong> a pr<strong>os</strong>tituição como uma profissão <strong>na</strong> justificativa <strong>de</strong> que realizam talvez o que<br />
seja a única solução <strong>de</strong> sobrevivência e não como algo proibi<strong>do</strong> e imoral, a<strong>os</strong> olh<strong>os</strong> da<br />
socieda<strong>de</strong>, que para elas Pereira (1976, p.18) afirma, com relação às causas que levam à<br />
prática:<br />
T<strong>em</strong> comenta<strong>do</strong> <strong>os</strong> a<strong>na</strong>listas, <strong>em</strong> muitas oportunida<strong>de</strong>s, que é quase<br />
imp<strong>os</strong>sível conseguir-se história ver<strong>os</strong>símeis das meretrizes. Elas<br />
ten<strong>de</strong>m a uma <strong>de</strong>formação da realida<strong>de</strong> e uma inconsciente<br />
justificação <strong>de</strong> seus at<strong>os</strong>... Na ausência <strong>de</strong> outr<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />
subsistência mais rend<strong>os</strong><strong>os</strong>, ela elege a pr<strong>os</strong>tituição como uma<br />
profissão.
Tal comportamento causa um impacto direto <strong>na</strong>s expectativas sexuais <strong>de</strong> homens<br />
e mulheres, segun<strong>do</strong> Dias (2003, p.137-138), há uma <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> que:<br />
24<br />
[...] b) a pr<strong>os</strong>tituição e o <strong>turismo</strong> sexual po<strong>de</strong>m ser encorajad<strong>os</strong> pel<strong>os</strong><br />
turistas, com o envolvimento <strong>de</strong> menores <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Muit<strong>os</strong> jovens, e<br />
inclusive crianças, são atraíd<strong>os</strong> para a comercialização <strong>de</strong> seus corp<strong>os</strong>,<br />
<strong>em</strong> troca <strong>de</strong> roupas e objet<strong>os</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sej<strong>os</strong>, <strong>em</strong> função <strong>do</strong> efeito <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>monstração causa<strong>do</strong> pelo alto consumo e padrão <strong>de</strong> vida d<strong>os</strong><br />
visitantes. Muitas <strong>de</strong>sti<strong>na</strong>ções turísticas têm-se tor<strong>na</strong><strong>do</strong> centr<strong>os</strong> <strong>de</strong>sse<br />
comércio ilegal, com a conivência <strong>de</strong> motoristas <strong>de</strong> táxi, funcionári<strong>os</strong><br />
<strong>de</strong> hotéis, opera<strong>do</strong>res turístic<strong>os</strong> que organizam pacotes <strong>de</strong> <strong>turismo</strong><br />
sexual [...] h) a exploração <strong>do</strong> trabalho infantil surge como<br />
conseqüência da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social <strong>em</strong> muitas localida<strong>de</strong>s turísticas.<br />
Crianças são levadas ao trabalho informal para melhorar a renda das<br />
famílias aproveitan<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> alta t<strong>em</strong>porada [...].<br />
Um d<strong>os</strong> fat<strong>os</strong> que faz com que a “prática turística” colabore com essa quebra <strong>de</strong><br />
conduta ética e moral é a inserção d<strong>os</strong> <strong>em</strong>preendiment<strong>os</strong> e serviç<strong>os</strong> ligad<strong>os</strong> ao <strong>turismo</strong>,<br />
como mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> transporte, boates, flats, hotéis, que estejam cooperan<strong>do</strong>, agin<strong>do</strong> como<br />
facilita<strong>do</strong>res das ativida<strong>de</strong>s ilegais, envolven<strong>do</strong> pr<strong>os</strong>tituição <strong>de</strong> menores, fi<strong>na</strong>nciadas por<br />
estrangeir<strong>os</strong> que chegam ao Brasil com esse objetivo certo.<br />
Lei<strong>rn</strong>er (2007, p.72-83), <strong>em</strong> reportag<strong>em</strong> da revista Marie Claire, comprova esses<br />
indicativ<strong>os</strong> <strong>de</strong> que o <strong>turismo</strong> está diretamente liga<strong>do</strong> com a prática, sen<strong>do</strong> um d<strong>os</strong><br />
agentes colabora<strong>do</strong>res da pr<strong>os</strong>tituição e exploração sexual.<br />
O probl<strong>em</strong>a é que, no rastro <strong>do</strong> sexo pago, forma-se um esqu<strong>em</strong>a que movimenta<br />
o tráfico <strong>de</strong> drogas, o tráfico <strong>de</strong> mulheres, a falsificação <strong>de</strong> <strong>do</strong>cument<strong>os</strong> e, pior, a<br />
exploração sexual <strong>de</strong> crianças e a<strong>do</strong>lescentes.<br />
O crescimento <strong>do</strong> <strong>turismo</strong> inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l tor<strong>na</strong> ainda mais visível a<br />
probl<strong>em</strong>ática e, po<strong>de</strong>-se mesmo dizer, impulsio<strong>na</strong> tal fenômeno,<br />
universalizan<strong>do</strong> <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>das práticas e inscreven<strong>do</strong> várias regiões no<br />
sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> exploração <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l e inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. Surg<strong>em</strong> várias<br />
agências <strong>de</strong> “matrimônio” e agências <strong>de</strong> viagens especializadas <strong>em</strong><br />
oferecer pacotes complet<strong>os</strong>, incluin<strong>do</strong> acompanhantes permanentes<br />
durante as férias d<strong>os</strong> turistas. As rotas inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is consolidam-se<br />
com a presença <strong>de</strong> turistas europeus n<strong>os</strong> pól<strong>os</strong> receptiv<strong>os</strong>,<br />
principalmente Bahia, Ceará, Per<strong>na</strong>mbuco e Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Norte,<br />
on<strong>de</strong> é gran<strong>de</strong> a visitação <strong>de</strong> suíç<strong>os</strong>, italian<strong>os</strong> e al<strong>em</strong>ães. (BEM, 2005,<br />
p. 33).<br />
As agências que combi<strong>na</strong>m viagens e mulheres operam principalmente pela<br />
inte<strong>rn</strong>et. Sites traz<strong>em</strong> fot<strong>os</strong> <strong>de</strong> mulheres s<strong>em</strong>inuas <strong>em</strong> p<strong>os</strong>es eróticas, preç<strong>os</strong> <strong>de</strong> p<strong>os</strong>síveis<br />
diversões sexuais e um catálogo <strong>de</strong> garotas disponíveis para a t<strong>em</strong>porada. Oferece
pacotes “no Brasil com garotas e sexo a partir <strong>de</strong> 2300 eur<strong>os</strong>”. Só não diz on<strong>de</strong> fica o<br />
hotel.<br />
Além <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, Fortaleza, Natal e Recife entraram para a rota <strong>do</strong><br />
<strong>turismo</strong> sexual, <strong>em</strong> boa parte, por <strong>de</strong>corrência <strong>do</strong> marketing realiza<strong>do</strong> pela<br />
EMBRATUR, que durante décadas associou à imag<strong>em</strong> <strong>do</strong> Brasil as festas <strong>do</strong> car<strong>na</strong>val,<br />
<strong>praia</strong>s e mulheres s<strong>em</strong>inuas.<br />
A partir <strong>de</strong> 2000 essa estratégia foi aban<strong>do</strong><strong>na</strong>da, mas o estrago já foi feito. Elas<br />
vão para as ruas s<strong>em</strong> dinheiro nenhum, com a esperança <strong>de</strong> pendurar a corrida com um<br />
taxista conheci<strong>do</strong> - um elo forte nessa corrente difícil <strong>de</strong> romper no <strong>turismo</strong> sexual.<br />
Na <strong>praia</strong> <strong>do</strong> Futuro, <strong>em</strong> Fortaleza, tatua<strong>do</strong>res <strong>de</strong> hen<strong>na</strong> também se passam por<br />
“intermedia<strong>do</strong>res” <strong>do</strong> serviço e oferec<strong>em</strong> menores <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> pelo <strong>do</strong>bro <strong>do</strong> preço da<br />
tatuag<strong>em</strong>, vinte reais. Nas barracas à beira mar <strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong> s<strong>em</strong> o mínimo esforço<br />
são abordad<strong>os</strong> pelas garotas, <strong>em</strong> boates entram <strong>de</strong> graça e comprovam a maiorida<strong>de</strong> com<br />
<strong>do</strong>cument<strong>os</strong> fals<strong>os</strong> ou <strong>em</strong>prestad<strong>os</strong>, pois sua beleza é atrativa <strong>de</strong> clientes, um ex<strong>em</strong>plo<br />
da conivência por parte d<strong>os</strong> <strong>em</strong>preendiment<strong>os</strong>.<br />
Pouc<strong>os</strong> hotéis <strong>em</strong> Fortaleza têm dificulta<strong>do</strong> a entrada <strong>de</strong> menores, pois tais<br />
estabeleciment<strong>os</strong> são persuadid<strong>os</strong> pelo pagamento que <strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong> proporcio<strong>na</strong>m.<br />
Além disto, <strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong> também movimentam o merca<strong>do</strong> imobiliário, compran<strong>do</strong><br />
flats, nestes o controle <strong>de</strong> entrada é ainda menor.<br />
Os taxistas também se beneficiam <strong>de</strong>sse merca<strong>do</strong>, fo<strong>rn</strong>ecen<strong>do</strong> garotas a<strong>os</strong><br />
estrangeir<strong>os</strong> por no mínimo c<strong>em</strong> reais, muit<strong>os</strong> não se contrapõ<strong>em</strong> a isto, pois vê<strong>em</strong> o<br />
vínculo da pr<strong>os</strong>tituição com o dinheiro inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, como uma alter<strong>na</strong>tiva à pobreza,<br />
geran<strong>do</strong> <strong>em</strong>prego e renda. N<strong>os</strong> motéis são encontradas menores que esperam por<br />
clientes para a negociação d<strong>os</strong> preç<strong>os</strong>. Uma garota <strong>de</strong>clara que entrou para a<br />
pr<strong>os</strong>tituição encorajada pela mãe, mesmo sen<strong>do</strong> menor, consegu<strong>em</strong> um <strong>do</strong>cumento<br />
falso, além <strong>de</strong> ter clientes fix<strong>os</strong> que pagam até R$ 600 reais <strong>de</strong> mesada e afirma não<br />
querer sair <strong>de</strong>ssa condição <strong>de</strong> vida (LEIRNER, 2007, p.72-83).<br />
25
CAPÍTULO I<br />
Os resultad<strong>os</strong> abaixo se refer<strong>em</strong> à pesquisa realizada no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>zesseis <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro a <strong>de</strong>zesseis <strong>de</strong> março <strong>do</strong> ano <strong>de</strong> <strong>do</strong>is mil e oito, <strong>na</strong> capital <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio<br />
Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Norte, Natal.<br />
O local estuda<strong>do</strong> foi a <strong>praia</strong> <strong>de</strong> Ponta Negra localizada no Litoral Sul; seus<br />
<strong>em</strong>preendiment<strong>os</strong> turístic<strong>os</strong> (bares, restaurantes, hotéis); trabalha<strong>do</strong>res da indústria<br />
turística; mora<strong>do</strong>res e pessoas (incluin<strong>do</strong> crianças e a<strong>do</strong>lescentes) ligadas <strong>de</strong> alguma<br />
forma ao <strong>turismo</strong> sexual pratica<strong>do</strong> a partir <strong>de</strong> exploração e pr<strong>os</strong>tituição.<br />
Os entrevistad<strong>os</strong> trabalhavam <strong>em</strong> estabeleciment<strong>os</strong> turístic<strong>os</strong> e comerciais,<br />
hotéis, bares, restaurantes, pousadas, que se localizavam próxim<strong>os</strong> à rua <strong>de</strong> maior<br />
incidência <strong>de</strong> pr<strong>os</strong>tituição, havia taxistas <strong>de</strong>ste local, além <strong>de</strong> menin<strong>os</strong> <strong>de</strong> rua e turistas,<br />
que tinham a situação exp<strong>os</strong>ta tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> dias.<br />
Os carg<strong>os</strong> escolhid<strong>os</strong> foram mais operacio<strong>na</strong>is, que se submetiam a um<br />
chefe/gerente, isto porque estes estariam mais disp<strong>os</strong>t<strong>os</strong> a contribuir, por não p<strong>os</strong>suir<br />
nenhum vínculo maior com a <strong>em</strong>presa, assim po<strong>de</strong>riam explicitar e revelar fat<strong>os</strong> crític<strong>os</strong><br />
ocultad<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> patrões, a respeito d<strong>os</strong> aconteciment<strong>os</strong> e colaboração <strong>de</strong>les com<br />
envolven<strong>do</strong> a pr<strong>os</strong>tituição.<br />
Esses carg<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> foram <strong>os</strong> <strong>de</strong> recepcionistas, barten<strong>de</strong>rs, garçons,<br />
gerentes <strong>de</strong> bar e <strong>de</strong> pousada, segurança <strong>de</strong> boates, estes pertencentes ao setor da<br />
indústria turística. Já <strong>os</strong> que tinham contato maior com <strong>os</strong> aconteciment<strong>os</strong> da rua, foram<br />
<strong>os</strong> taxistas, e as a<strong>do</strong>lescentes <strong>na</strong> pr<strong>os</strong>tituição, menin<strong>os</strong> <strong>de</strong> rua e as garotas que vendiam<br />
drogas.<br />
Dentre <strong>os</strong> motiv<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> que essas garotas são levadas a se pr<strong>os</strong>tituír<strong>em</strong>,<br />
principalmente as a<strong>do</strong>lescentes, <strong>os</strong> cas<strong>os</strong> são inúmer<strong>os</strong>, como: 1) muitas são seduzidas<br />
principalmente pelo dinheiro que ganham fácil e rápi<strong>do</strong>, pelo incentivo <strong>de</strong> amigas que já<br />
faz<strong>em</strong> programas, as meni<strong>na</strong>s faz<strong>em</strong> a uma vez e permanec<strong>em</strong> pelo dinheiro para o<br />
consumo <strong>de</strong> drogas. 2) pela necessida<strong>de</strong>, para sustentar <strong>os</strong> filh<strong>os</strong>, algumas são<br />
exploradas por pessoas da própria família, falta <strong>de</strong> investimento <strong>em</strong> políticas públicas,<br />
facilida<strong>de</strong>s proporcio<strong>na</strong>das pelo <strong>turismo</strong>.<br />
Alguns d<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> conhec<strong>em</strong> crianças e a<strong>do</strong>lescentes que estão se<br />
submeten<strong>do</strong> à situação <strong>de</strong> exploração. Meni<strong>na</strong>s <strong>de</strong> 12 ou 13 an<strong>os</strong>, aparentan<strong>do</strong> maior<br />
ida<strong>de</strong>, que ven<strong>de</strong>m seus corp<strong>os</strong> <strong>em</strong> troca <strong>de</strong> drogas ou dinheiro para comprá-las, uma<br />
26
das entrevistadas revelou que s<strong>em</strong>pre havia um adulto responsável, que lhes garantia<br />
moradia, comida e <strong>em</strong> alguns cas<strong>os</strong> diz ser um parente.<br />
Organizações envolvidas, gover<strong>na</strong>mentais e ONGs, também foram consultadas<br />
quanto a seu ponto <strong>de</strong> vista e procuradas para entrevistas, como as Secretarias <strong>de</strong><br />
Turismo <strong>do</strong> gove<strong>rn</strong>o e município. Nestes locais, não foi p<strong>os</strong>sível escolher o<br />
entrevista<strong>do</strong>, pois a dificulda<strong>de</strong> <strong>em</strong> marcar um horário e o recesso <strong>do</strong> inicio <strong>do</strong> ano, que<br />
durou muito t<strong>em</strong>po nestes, atrapalharam a obtenção <strong>de</strong> uma “especulação” antes <strong>de</strong> ser<br />
aplicada a pesquisa.<br />
Foi utiliza<strong>do</strong> pela representante <strong>de</strong> uma das ONGs o termo “sexo <strong>turismo</strong>”,<br />
m<strong>os</strong>tran<strong>do</strong> a ênfase <strong>na</strong> preocupação e atendimento das crianças vitima <strong>de</strong> exploração,<br />
que seria o aspecto psicológico que o sexo e sua exploração causam <strong>em</strong> conseqüência<br />
<strong>do</strong> <strong>turismo</strong>, que proporcio<strong>na</strong> no local, condições para que sua ocorrência e a relação<br />
com <strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong>, já que o termo <strong>em</strong> inglês “sex tourism” é sua tradução.<br />
Essa pesquisa também traduz <strong>os</strong> resultad<strong>os</strong> obtid<strong>os</strong> <strong>em</strong> entrevistas realizadas<br />
com tod<strong>os</strong> envolvid<strong>os</strong> citad<strong>os</strong>, que objetivou enten<strong>de</strong>r motiv<strong>os</strong> que faz<strong>em</strong> com que a<br />
indústria turística seja a principal “fi<strong>na</strong>ncia<strong>do</strong>ra” <strong>do</strong> <strong>turismo</strong> sexual e da existência<br />
maciça <strong>de</strong>sta ativida<strong>de</strong>.<br />
Investigan<strong>do</strong> as p<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ocorrência da pr<strong>os</strong>tituição, comércio <strong>de</strong><br />
drogas, interesses envolvid<strong>os</strong>, a ligação d<strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong> com ativida<strong>de</strong>s relacio<strong>na</strong>das à<br />
exploração sexual e <strong>de</strong> outras envolven<strong>do</strong> crianças e a<strong>do</strong>lescentes <strong>de</strong> uma das <strong>praia</strong>s da<br />
região nor<strong>de</strong>ste <strong>do</strong> Brasil, que com seu histórico <strong>de</strong> miséria e pobreza, t<strong>em</strong> se sujeita<strong>do</strong><br />
há an<strong>os</strong> as vonta<strong>de</strong>s e imp<strong>os</strong>ições <strong>do</strong> “b<strong>em</strong> vin<strong>do</strong>” capital <strong>estrangeiro</strong>.<br />
1.1 A Praia <strong>de</strong> Ponta Negra<br />
Ponta Negra é uma das <strong>praia</strong>s mais valorizadas <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o litoral <strong>de</strong> Natal,<br />
conforme figura 1, encontra-se <strong>na</strong> Zo<strong>na</strong> Sul, foco <strong>de</strong> muit<strong>os</strong> investiment<strong>os</strong> imobiliári<strong>os</strong><br />
e investi<strong>do</strong>res estrangeir<strong>os</strong>, principalmente italian<strong>os</strong> e espanhóis.<br />
A <strong>praia</strong> p<strong>os</strong>sui um conjunto, parte nobre da <strong>praia</strong> <strong>na</strong> qual estão espalhadas<br />
inúmeras construções, algumas à venda, outras <strong>em</strong> fase <strong>de</strong> i<strong>na</strong>uguração. Abriga<br />
restaurantes renomad<strong>os</strong> da gastronomia potiguar, algo muito valoriza<strong>do</strong> <strong>na</strong> cida<strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à presença <strong>de</strong> ilustres freqüenta<strong>do</strong>res e também daqueles que p<strong>os</strong>su<strong>em</strong> boas<br />
condições fi<strong>na</strong>nceiras.<br />
27
28<br />
Figura 1 - Mapa da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Natal, verso <strong>de</strong> campanha<br />
contra exploração sexual. Fonte: Secretaria <strong>de</strong> Turismo <strong>do</strong><br />
Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Norte.<br />
O conjunto abriga mora<strong>do</strong>res id<strong>os</strong><strong>os</strong>, militares ap<strong>os</strong>entad<strong>os</strong> e trabalha<strong>do</strong>res <strong>de</strong><br />
alto po<strong>de</strong>r aquisitivo. Quase todas as casas da p<strong>os</strong>su<strong>em</strong> um carr<strong>os</strong> sofisticad<strong>os</strong>, cerca<br />
elétrica, portões fechad<strong>os</strong> e <strong>de</strong>pois das nove da noite não há movimento <strong>de</strong> pe<strong>de</strong>stres <strong>em</strong><br />
suas ruas.<br />
Pu<strong>de</strong> notar, moran<strong>do</strong> no conjunto, que à noite o movimento <strong>de</strong> táxis é intenso <strong>em</strong><br />
frente a<strong>os</strong> prédi<strong>os</strong> e pousadas, levan<strong>do</strong> e trazen<strong>do</strong> moças acompanhadas, para realização<br />
<strong>de</strong> programas. Fato interessante e que m<strong>os</strong>tra que o po<strong>de</strong>r aquisitivo <strong>de</strong>ssas garotas é<br />
alto, já que p<strong>os</strong>su<strong>em</strong> dinheiro para se manter por toda a t<strong>em</strong>porada, <strong>em</strong> residências <strong>do</strong><br />
conjunto, provavelmente estas são as que realizam mais <strong>de</strong> um programa por noite e<br />
receb<strong>em</strong> <strong>em</strong> dólares ou eur<strong>os</strong>.<br />
Já <strong>na</strong> vila <strong>de</strong> Ponta Negra, <strong>de</strong> toda sua extensão, pu<strong>de</strong> encontrar pessoas com<br />
baixa qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> serviç<strong>os</strong> públic<strong>os</strong>, como o <strong>de</strong> transporte e<br />
saú<strong>de</strong>. Abriga gran<strong>de</strong> parte da mão <strong>de</strong> obra e também <strong>de</strong> pr<strong>os</strong>titutas, que se reún<strong>em</strong> e<br />
alugam as melhores casas <strong>do</strong> local.<br />
Assim é visto pel<strong>os</strong> mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong> conjunto como uma periferia, haven<strong>do</strong><br />
margi<strong>na</strong>lida<strong>de</strong> e drogas, que sustentam <strong>os</strong> víci<strong>os</strong> e se beneficiam diretamente <strong>do</strong>
dinheiro das classes altas e estrangeiras freqüenta<strong>do</strong>ras da noite <strong>de</strong> Ponta Negra,<br />
mora<strong>do</strong>res ou turistas.<br />
A vila por ser o local que abriga, no conhecimento geral, as “obscurida<strong>de</strong>s” <strong>de</strong><br />
Ponta Negra, p<strong>os</strong>sui as pousadas citadas <strong>na</strong>s entrevistas, que mais abriga estrangeir<strong>os</strong><br />
<strong>em</strong> busca <strong>do</strong> <strong>turismo</strong> sexual, já que estas não faz<strong>em</strong> restrição alguma a um hóspe<strong>de</strong><br />
levar uma acompanhante, no caso as pr<strong>os</strong>titutas.<br />
O movimento notu<strong>rn</strong>o <strong>de</strong>ssa <strong>praia</strong> concentra-se <strong>na</strong> Rua Manoel Augusto Bezerra<br />
<strong>de</strong> Araújo, local que está localizada entre a vila e o conjunto. Portanto, <strong>em</strong>prega a mão<br />
<strong>de</strong> obra, <strong>de</strong>squalificada, s<strong>em</strong> estud<strong>os</strong>, <strong>de</strong> baixas condições, ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que<br />
presta serviç<strong>os</strong> para a classe alta, mora<strong>do</strong>ra e visitante que se h<strong>os</strong>peda <strong>em</strong> locais<br />
existentes no conjunto e toda a orla.<br />
A conhecida “Rua da Salsa” (bar que já fora duas vezes, teve seu fechamento<br />
pela terceira vez nesta t<strong>em</strong>porada sob acusações <strong>de</strong> vendas <strong>de</strong> drogas). Têm-se então a<br />
nítida visão <strong>do</strong> comércio que pre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong> <strong>em</strong> Ponta Negra, uma bela <strong>praia</strong> <strong>do</strong> litoral sul<br />
<strong>de</strong> Natal.<br />
Tal movimento po<strong>de</strong>ria existir <strong>na</strong> avenida “beira- mar”, mas foi impedi<strong>do</strong><br />
quan<strong>do</strong> a Polícia Fe<strong>de</strong>ral e outr<strong>os</strong> órgã<strong>os</strong> envolvid<strong>os</strong> realizam blitz e apreensões <strong>em</strong><br />
boates, pren<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>os</strong> <strong>do</strong>n<strong>os</strong> e outr<strong>os</strong> acusad<strong>os</strong> <strong>de</strong> envolvimento com tráfico <strong>de</strong> mulheres<br />
e exploração, além <strong>de</strong> comércio <strong>de</strong> drogas. Também estão instaladas por toda extensão<br />
da <strong>praia</strong> câmeras e uma ilumi<strong>na</strong>ção forte, tentativas <strong>de</strong> inibir ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pr<strong>os</strong>tituição,<br />
comércio <strong>de</strong> drogas e violência urba<strong>na</strong>.<br />
Há bar chama<strong>do</strong> “Coco Loco”, que funcio<strong>na</strong> nesta rua e passa a impressão <strong>de</strong> ser<br />
uma vitrine <strong>de</strong> pr<strong>os</strong>titutas,assim como a boate Azúcar, que não cobra a entrada <strong>de</strong><br />
mulheres, que ganham uma bebida. Nestas boates, as mulheres não são barradas pelo<br />
tipo <strong>de</strong> roupas que estão vestin<strong>do</strong> e o público freqüenta<strong>do</strong>r são exclusivamente<br />
estrangeir<strong>os</strong> e pr<strong>os</strong>titutas.<br />
A boate Matrix, uma das poucas que funcio<strong>na</strong> até amanhecer, on<strong>de</strong> é p<strong>os</strong>sível<br />
encontrar várias garotas <strong>de</strong> programa. As duas boates têm avis<strong>os</strong> <strong>na</strong>s portas <strong>de</strong> que não é<br />
permitida a entrada <strong>de</strong> menores <strong>de</strong> 18 an<strong>os</strong>, porém uma das garotas entrevistada<br />
conseguiu entrar com i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> falsa.<br />
Outra boate que funcio<strong>na</strong> muito próximo à rua, aon<strong>de</strong> <strong>os</strong> freqüenta<strong>do</strong>res vão<br />
exclusivamente à procura <strong>de</strong> mulheres, a “La Cucaracha”. Um d<strong>os</strong> barmans<br />
entrevistad<strong>os</strong> disse que quan<strong>do</strong> uma garota <strong>de</strong> programa é solicitada por um <strong>estrangeiro</strong>,<br />
ele indica uma garota conhecida. Em alguns cas<strong>os</strong> ele realiza uma negociação<br />
29
intermediária e antes que saiam para o programa, ganha uma “gorjeta”, <strong>do</strong> <strong>estrangeiro</strong><br />
ou da garota que conhece.<br />
Esses cas<strong>os</strong> ocorr<strong>em</strong> <strong>em</strong> inúmer<strong>os</strong> bares e foram presenciad<strong>os</strong> por muit<strong>os</strong> d<strong>os</strong><br />
entrevistad<strong>os</strong>, <strong>os</strong> garçons, barmans e presta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> serviç<strong>os</strong> turístic<strong>os</strong> <strong>em</strong> geral têm<br />
utiliza<strong>do</strong> sua língua estrangeira, para agenciar mulheres, s<strong>em</strong>pre ganhan<strong>do</strong> algo <strong>em</strong><br />
troca.<br />
Don<strong>os</strong> <strong>de</strong> pousada também foram consi<strong>de</strong>rad<strong>os</strong> explora<strong>do</strong>res, por entrevistad<strong>os</strong><br />
que já trabalharam nestes estabeleciment<strong>os</strong> e conheceram mulheres <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>sses.<br />
Em um d<strong>os</strong> cas<strong>os</strong> relatad<strong>os</strong>, um <strong>do</strong>no <strong>de</strong> pousada sustenta garotas, com aluguel, comida<br />
que <strong>em</strong> troca t<strong>em</strong> que levar seu cliente para a pousada, para que pague pela diária e seu<br />
consumo. Assim indiretamente <strong>os</strong> clientes pagam pelas <strong>de</strong>spesas das moças, que<br />
ganham <strong>em</strong> troca sua estabilida<strong>de</strong>.<br />
Outro fato que ocorre num meio <strong>de</strong> h<strong>os</strong>pedag<strong>em</strong>, é que seu <strong>do</strong>no italiano,<br />
p<strong>os</strong>suía um acor<strong>do</strong> com as garotas, segun<strong>do</strong> relat<strong>os</strong> <strong>de</strong> entrevistad<strong>os</strong> e <strong>os</strong> obtid<strong>os</strong> <strong>em</strong><br />
conversas informais, ele enviava as fot<strong>os</strong> “sensuais” das garotas a<strong>os</strong> p<strong>os</strong>síveis hóspe<strong>de</strong>s<br />
italian<strong>os</strong> e conseguia muito dinheiro com isso.<br />
Segun<strong>do</strong> o antigo recepcionista, quan<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>barcavam no Brasil, já tinham<br />
suas acompanhantes prontas para prestar seus serviç<strong>os</strong>, local on<strong>de</strong> se h<strong>os</strong>pedar com<br />
tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> serviç<strong>os</strong> <strong>de</strong> acomodação.<br />
Portanto o local virou “point 2 ” da pr<strong>os</strong>tituição, para turistas estrangeir<strong>os</strong><br />
principalmente italian<strong>os</strong> e espanhóis <strong>de</strong> baixo nível cultural, das classes mais baixas, ou<br />
<strong>em</strong>presariais da construção civil, vêm para Natal <strong>em</strong> pequen<strong>os</strong> grup<strong>os</strong> buscan<strong>do</strong><br />
diversão, durante sua estadia pela cida<strong>de</strong>. A maior parte não v<strong>em</strong> <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> crianças e<br />
a<strong>do</strong>lescentes, mas <strong>de</strong> pr<strong>os</strong>titutas adultas, que são geralmente pobres, mulatas ou <strong>negra</strong>s<br />
(as que mais atra<strong>em</strong> esse tipo <strong>de</strong> turistas) e universitárias.<br />
Dentro d<strong>os</strong> estabeleciment<strong>os</strong>, <strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong> e as pr<strong>os</strong>titutas utilizam-se d<strong>os</strong><br />
eur<strong>os</strong>, <strong>em</strong> noites luxu<strong>os</strong>as e caras noitadas enquanto <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>de</strong> fora crianças e<br />
a<strong>do</strong>lescentes estão diariamente envolvidas com a venda <strong>de</strong> drogas, sustentan<strong>do</strong> e<br />
garantin<strong>do</strong> essa diversão.<br />
O dinheiro e a busca d<strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong> por essas facilida<strong>de</strong>s, divulgadas por<br />
amig<strong>os</strong> e outr<strong>os</strong> homens que já vivenciaram essa diversão no país, po<strong>de</strong> ser um d<strong>os</strong><br />
motiv<strong>os</strong> que incentivam tanto a prática da pr<strong>os</strong>tituição e o <strong>turismo</strong> sexual. Mas um forte<br />
2 Local <strong>em</strong> que há movimento notu<strong>rn</strong>o, presença <strong>de</strong> bares, boates.<br />
30
motivo que leva essas meni<strong>na</strong>s para tal ativida<strong>de</strong> é <strong>em</strong> primeiro lugar o dinheiro fácil;<br />
po<strong>de</strong>m <strong>em</strong>briagar seu cliente e a si mesmas, ir para o motel e ganhar dinheiro por quase<br />
<strong>na</strong>da.<br />
Há muitas universitárias que se pr<strong>os</strong>titu<strong>em</strong> o que m<strong>os</strong>tra que n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre a<br />
situação <strong>de</strong> miséria e pobreza leva as meni<strong>na</strong>s a isso. Em outr<strong>os</strong> cas<strong>os</strong> relatad<strong>os</strong> pel<strong>os</strong><br />
entrevistad<strong>os</strong>, a maioria, se pr<strong>os</strong>titui por dinheiro, para manter seus víci<strong>os</strong> e se drogar, já<br />
que o merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> pr<strong>os</strong>tituição está intimamente liga<strong>do</strong> ao das drogas.<br />
A freqüência <strong>de</strong> estrangeir<strong>os</strong> faz com que <strong>os</strong> preç<strong>os</strong> d<strong>os</strong> restaurantes, bares,<br />
boates sejam exorbitantes, já que se adaptam ao nível d<strong>os</strong> “eur<strong>os</strong> e dólares” d<strong>os</strong><br />
freqüenta<strong>do</strong>res. Uma conseqüência é a <strong>de</strong> que <strong>os</strong> mora<strong>do</strong>res e famílias potiguares<br />
<strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> freqüentar <strong>os</strong> estabeleciment<strong>os</strong> da rua, já que passam por situações<br />
<strong>de</strong>srespeit<strong>os</strong>as e n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre po<strong>de</strong>m pagar o preço que lhes é cobra<strong>do</strong> nesses locais.<br />
Intrigante é saber que a socieda<strong>de</strong> potiguar sabe da presença <strong>do</strong> <strong>turismo</strong> sexual,<br />
das crianças que ven<strong>de</strong>m drogas diariamente e ape<strong>na</strong>s se afastam, não há por parte da<br />
socieda<strong>de</strong> nenhuma manifestação, <strong>de</strong>núncias, críticas a gover<strong>na</strong>ntes. Mas a prefeitura <strong>do</strong><br />
município tomou peque<strong>na</strong>s atitu<strong>de</strong>s, objetivan<strong>do</strong> a redução <strong>do</strong> <strong>turismo</strong> sexual e<br />
exploração <strong>de</strong> menores, após <strong>os</strong> escândal<strong>os</strong> e apreensões ocorrid<strong>os</strong> <strong>na</strong> <strong>praia</strong>, câmeras e<br />
ilumi<strong>na</strong>ção foram instaladas <strong>em</strong> toda a orla da <strong>praia</strong>.<br />
O fato é que quase to<strong>do</strong> o comércio existente lá, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da pr<strong>os</strong>tituição e<br />
drogas que são vendidas por lá, porque a maioria d<strong>os</strong> freqüenta<strong>do</strong>res e também <strong>os</strong> <strong>do</strong>n<strong>os</strong><br />
e trabalha<strong>do</strong>res d<strong>os</strong> estabeleciment<strong>os</strong>, utilizam drogas, ganham gorjetas por indicar uma<br />
pr<strong>os</strong>tituta a estrangeir<strong>os</strong>. Há cas<strong>os</strong> <strong>em</strong> que o barman ou o garçom que fala italiano ou<br />
inglês realiza uma espécie <strong>de</strong> agenciamento das garotas e até negocia para elas, se tor<strong>na</strong><br />
a perso<strong>na</strong>g<strong>em</strong> intermediária <strong>de</strong>ssa trama e acaba ganhan<strong>do</strong> dinheiro <strong>de</strong> algumas das<br />
partes envolvidas.<br />
1.2 Turismo, Drogas e Pr<strong>os</strong>tituição<br />
Na Secretaria <strong>de</strong> Turismo <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Norte, tive acesso ao arquivo<br />
escrito, <strong>do</strong> qual foi p<strong>os</strong>sível realizar consulta das reportagens sobre <strong>os</strong> aconteciment<strong>os</strong><br />
d<strong>os</strong> an<strong>os</strong> <strong>de</strong> 2004 a 2006; relacio<strong>na</strong>d<strong>os</strong> ao “<strong>turismo</strong> sexual”, “tráfico <strong>de</strong> drogas”,<br />
“pr<strong>os</strong>tituição”, “exploração <strong>de</strong> mulheres”.<br />
31
Também continham <strong>de</strong>núncias e informações a respeito <strong>do</strong> envolvimento d<strong>os</strong><br />
estrangeir<strong>os</strong> com tráfico e exploração <strong>de</strong> mulheres, apreensões ocorridas <strong>na</strong> época,<br />
situações <strong>de</strong> exploração sexual, a existência <strong>de</strong> beneficiári<strong>os</strong> que há muito t<strong>em</strong>po<br />
estavam <strong>em</strong> Ponta Negra, a gran<strong>de</strong> maioria envolvid<strong>os</strong> <strong>em</strong> máfias estrangeiras, o que<br />
ocasio<strong>na</strong>va a movimentação <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> reais no Esta<strong>do</strong>.<br />
Uma das reportagens citava a facilida<strong>de</strong> com que <strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong> vêm para o país<br />
e são capazes <strong>de</strong> abordar as brasileiras, como se a imag<strong>em</strong> passada a eles por campanhas<br />
<strong>de</strong> incentivo ao <strong>turismo</strong> no exterior, f<strong>os</strong>s<strong>em</strong> exclusivamente o retrato <strong>do</strong> país. Em<br />
reportag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong>, 2005, ao Jor<strong>na</strong>l Cida<strong>de</strong>s diz:<br />
32<br />
Estes vêm para o Brasil pensan<strong>do</strong> que qualquer mulher é pr<strong>os</strong>tituta,<br />
principalmente as mulatas e <strong>negra</strong>s. Se alguma moça andar sozinha<br />
<strong>na</strong> <strong>praia</strong> corre o risco <strong>de</strong> ser confundida. Foi passa<strong>do</strong> a<strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong><br />
que o Brasil é terra <strong>do</strong> sexo fácil, quan<strong>do</strong> as campanhas publicitárias<br />
levavam a imag<strong>em</strong> <strong>do</strong> país associadas a mulheres praticamente nuas,<br />
<strong>na</strong>s <strong>praia</strong>s nor<strong>de</strong>sti<strong>na</strong>s. (AZEVEDO, 2005, Cida<strong>de</strong>s).<br />
Em 29 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2004, o jor<strong>na</strong>l Tribu<strong>na</strong> <strong>do</strong> Norte, <strong>na</strong> reportag<strong>em</strong> Ponta<br />
Negra a<strong>ponta</strong> como probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> Ponta Negra, o <strong>turismo</strong> sexual, o aumento <strong>do</strong> número<br />
<strong>de</strong> pedintes, mães incentivan<strong>do</strong> <strong>os</strong> filh<strong>os</strong> a isso, com crianças <strong>de</strong> 4 a 17 an<strong>os</strong>. A<br />
reportag<strong>em</strong> fala <strong>em</strong> providências relacio<strong>na</strong>das a exploração, tráfico <strong>de</strong> drogas e<br />
pr<strong>os</strong>tituição, n<strong>os</strong> quais há muitas crianças envolvidas, o que agri<strong>de</strong> a imag<strong>em</strong> da cida<strong>de</strong>,<br />
para <strong>os</strong> turistas, afetan<strong>do</strong> o direito d<strong>os</strong> freqüenta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> estar<strong>em</strong> segur<strong>os</strong>.<br />
No dia 4 <strong>de</strong> set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2005, antropólog<strong>os</strong> portugueses estavam <strong>em</strong> Ponta<br />
Negra estudan<strong>do</strong> o <strong>turismo</strong> sexual e afirmam que o fenômeno não surgiu ao acaso, e que<br />
as imagens utilizadas há 20 an<strong>os</strong> para marketing <strong>do</strong> país no exterior, com belas<br />
mulheres, a promoção da mulata sensual, <strong>de</strong>ixou implícito a existência <strong>de</strong> <strong>de</strong>stin<strong>os</strong><br />
sexuais principalmente <strong>na</strong>s <strong>praia</strong>s da região Nor<strong>de</strong>ste (AZEVEDO, 2005, Cida<strong>de</strong>s).<br />
Outro fato que relatam, confirmam e mantêm a idéia <strong>de</strong> que as garotas que mais<br />
se pr<strong>os</strong>titu<strong>em</strong> são aquelas <strong>de</strong> pouco estu<strong>do</strong>, jovens <strong>negra</strong>s e muitas universitárias. Qu<strong>em</strong><br />
mais as procura são italian<strong>os</strong> e espanhóis, seu perfil é pareci<strong>do</strong>, vêm <strong>em</strong> grup<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />
solteir<strong>os</strong> e muit<strong>os</strong> são operári<strong>os</strong> da construção civil, técnic<strong>os</strong> e caminhoneir<strong>os</strong>.<br />
A pr<strong>os</strong>tituição é algo que questio<strong>na</strong> a socieda<strong>de</strong> e <strong>os</strong> indivídu<strong>os</strong> n<strong>os</strong><br />
mais variad<strong>os</strong> aspect<strong>os</strong>, não só <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista moral e social, mas<br />
também <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista sexual, e, portanto, consi<strong>de</strong>rou-se que<br />
existiam ainda pouc<strong>os</strong> estud<strong>os</strong> sociológic<strong>os</strong> e científic<strong>os</strong> nesse campo
social, daí n<strong>os</strong>sa motivação <strong>em</strong> estudar. Queríam<strong>os</strong> compreen<strong>de</strong>r o<br />
fenômeno. (BESSA, 2005, Cida<strong>de</strong>s).<br />
O Jor<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Hoje <strong>de</strong> 01 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2005, m<strong>os</strong>tra <strong>em</strong> nota “Imag<strong>em</strong> lá fora”<br />
que as pr<strong>os</strong>titutas <strong>de</strong> Natal, utilizam o nome <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e a fama das boates, para<br />
divulgar<strong>em</strong> suas fot<strong>os</strong> sensuais e se promover<strong>em</strong> <strong>na</strong> região.<br />
No dia 3 <strong>de</strong> nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2005, no mesmo jor<strong>na</strong>l, a serie é “Operação Coro<strong>na</strong>”,<br />
conta que <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma investigação da Polícia Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> muit<strong>os</strong> meses, mafi<strong>os</strong><strong>os</strong><br />
italian<strong>os</strong> são <strong>de</strong>scobert<strong>os</strong> e pres<strong>os</strong> pela Operação Coro<strong>na</strong>, nome da máfia que<br />
pertenciam, a Sacra Coro<strong>na</strong> Unita.<br />
Em reportag<strong>em</strong> uma das garotas <strong>de</strong>nunciou tráfico <strong>de</strong> mulheres para a Espanha,<br />
além <strong>de</strong> o que chamaram <strong>de</strong> “escravidão mo<strong>de</strong>r<strong>na</strong>”, eram recrutadas garotas <strong>de</strong> vári<strong>os</strong><br />
estad<strong>os</strong> <strong>do</strong> país, suas <strong>de</strong>spesas eram pagas, assim endividavam-se, além <strong>de</strong> ter que pagar<br />
sua estadia, alimentação e passagens, conforme a reportag<strong>em</strong> da Tribu<strong>na</strong> <strong>do</strong> Norte <strong>de</strong> 06<br />
<strong>de</strong> nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2005, “A escravidão mo<strong>de</strong>r<strong>na</strong> da máfia italia<strong>na</strong>”.<br />
Certamente a “escravidão” citada <strong>na</strong> reportag<strong>em</strong> alu<strong>de</strong>-se à boate Senzala que<br />
funcio<strong>na</strong>va e mantinha locais própri<strong>os</strong> para prática da pr<strong>os</strong>tituição e para as garotas ser<br />
retiradas da boate, <strong>os</strong> interessad<strong>os</strong> pagavam altas quantias <strong>em</strong> dinheiro “a sua alforria”.<br />
Elas ainda eram submetidas a um contrato <strong>de</strong> exclusivida<strong>de</strong> com a casa e a pagament<strong>os</strong><br />
n<strong>os</strong> dias <strong>em</strong> que não trabalhavam para a casa durante a noite.<br />
Também havia controle rígi<strong>do</strong> <strong>de</strong> horári<strong>os</strong>, controle com câmeras, circuito<br />
inte<strong>rn</strong>o <strong>de</strong> TV; as que conquistavam a confiança <strong>do</strong> patrão conseguiam ir para a Europa,<br />
a algumas conseguiam realizar cirurgias plásticas pagas pel<strong>os</strong> <strong>do</strong>n<strong>os</strong> da boate, mais uma<br />
forma <strong>de</strong> endividá-las.<br />
Na reportag<strong>em</strong> <strong>do</strong> Correio Potiguar <strong>de</strong> Wagner (2005),Giuseppe chefe <strong>do</strong> grupo<br />
mafi<strong>os</strong>o, que foi preso acusa<strong>do</strong> <strong>de</strong> tráfico inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> mulheres, exploração sexual,<br />
formação <strong>de</strong> quadrilha e lavag<strong>em</strong> <strong>de</strong> dinheiro, junto com ele mais quinze pessoas<br />
envolvidas. Seus estabeleciment<strong>os</strong>, a boate Ilha da Fantasia, a pousada Europa utilizada<br />
para <strong>os</strong> encontr<strong>os</strong> e o bar Caipifrutas (atual Coco Loco), localizad<strong>os</strong> <strong>na</strong> Rua Manoel A.<br />
Bezerra <strong>de</strong> Araújo e o Forró Café, <strong>na</strong> orla <strong>de</strong> Ponta Negra, foram fechad<strong>os</strong> durante pela<br />
mesma operação policial.<br />
Segun<strong>do</strong> investigações da época citadas por Oliveira (2005) e Carvalho (2005),<br />
<strong>em</strong> reportagens, <strong>na</strong> mesma s<strong>em</strong>a<strong>na</strong> pelo “Jor<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Hoje”, policiais militares realizavam<br />
serviç<strong>os</strong> <strong>de</strong> segurança para as boates d<strong>os</strong> mafi<strong>os</strong><strong>os</strong> italian<strong>os</strong>, o serviço ainda incluía<br />
33
transla<strong>do</strong> <strong>de</strong> pr<strong>os</strong>titutas até suas casas. Fato que acontece até hoje, policiais prestam<br />
serviço <strong>de</strong> seguranças às boates.<br />
Segun<strong>do</strong> Maia (2005) <strong>na</strong> data <strong>de</strong> 02 <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2005, <strong>em</strong> “O Jor<strong>na</strong>l <strong>de</strong><br />
Hoje”, garotas que trabalhavam para a boate Senzala 3 <strong>de</strong> Ponta Negra, <strong>em</strong> <strong>de</strong>poimento<br />
disseram que pagavam 20% <strong>de</strong> comissão à cafeti<strong>na</strong> Mir<strong>na</strong>, durante Operação <strong>de</strong><br />
Imigrantes, que objetivava combater a pr<strong>os</strong>tituição. Seis pessoas foram presas, mas a<br />
casa não po<strong>de</strong> ser fechada, pois não havia uma or<strong>de</strong>m judicial.<br />
Nessa operação taxistas acusad<strong>os</strong> <strong>de</strong> trabalhar<strong>em</strong> para a boate também foram<br />
pres<strong>os</strong>, as garotas também tinham suas <strong>de</strong>spesas pagas, portanto começavam a trabalhar,<br />
<strong>de</strong>ven<strong>do</strong> a<strong>os</strong> patrões.<br />
Após essas apreensões, prisões e fechamento <strong>de</strong> boates, toda a movimentação<br />
notur<strong>na</strong> se concentrou <strong>na</strong> Rua Manoel A. Bezerra <strong>de</strong> Araújo, e hoje <strong>em</strong> Ponta Negra um<br />
d<strong>os</strong> locais mais citad<strong>os</strong>, que se to<strong>rn</strong>ou ponto <strong>de</strong> encontro d<strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong> e as garotas <strong>de</strong><br />
programa, funcio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> tranqüilamente. Tod<strong>os</strong> esses locais foram citad<strong>os</strong> como<br />
facilita<strong>do</strong>res por tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>, que trabalham <strong>na</strong> rua.<br />
Sabe-se da existência <strong>de</strong> casas notur<strong>na</strong>s, como a “Senzala”, que enfrentou<br />
probl<strong>em</strong>as com a polícia, mesmo assim continua a funcio<strong>na</strong>r no bairro <strong>de</strong> Capim Macio,<br />
próximo a Ponta Negra, ali trabalham belas moças que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> manter sua exclusivida<strong>de</strong><br />
para a boate. Lá se cobrava uma taxa <strong>do</strong> cliente que quisesse levar uma garota para sair,<br />
estas são origi<strong>na</strong>rias <strong>de</strong> outr<strong>os</strong> estad<strong>os</strong>, tais como São Paulo, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Recife e<br />
Ceará.<br />
As garotas, falam <strong>em</strong> reportag<strong>em</strong>: “... <strong>em</strong> <strong>de</strong>poimento à polícia que a casa era<br />
usada por uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> pr<strong>os</strong>tituição. Elas informaram que pagavam 20% <strong>do</strong> que<br />
recebiam para o <strong>em</strong>presário Amy Trajano <strong>de</strong> Carvalho, proprietário da Senzala.”. Esta<br />
boate <strong>de</strong> Natal era usada por uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> pr<strong>os</strong>tituição, segun<strong>do</strong> Lima (2005).<br />
No local exist<strong>em</strong> quart<strong>os</strong> que mediante o pagamento são utilizad<strong>os</strong> para<br />
programas, e n<strong>os</strong> dias <strong>em</strong> que as garotas não trabalham, t<strong>em</strong> que pagar uma taxa para a<br />
casa, correspon<strong>de</strong>nte a uma noite trabalhada. A boate Senzala, que segue essa linha <strong>de</strong><br />
conduta já foi fechada mais <strong>de</strong> uma vez, envolvida <strong>em</strong> acusações conforme o jor<strong>na</strong>l<br />
Diário <strong>de</strong> Natal, o advoga<strong>do</strong> da boate <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>:<br />
34<br />
... a boate Senzala vai continuar funcio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> normalmente porque não<br />
há crime <strong>em</strong> manter um estabelecimento <strong>de</strong> strip tease... <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u seu<br />
3 Boate acusada <strong>de</strong> exploração sexual, continua funcio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> <strong>em</strong> bairro próximo a Ponta Negra.
35<br />
cliente afirman<strong>do</strong> que as meni<strong>na</strong>s vão à boate <strong>de</strong> iniciativa própria, e<br />
chegam lá <strong>de</strong> táxi, a pé, <strong>de</strong> caro<strong>na</strong>, para freqüentar a casa. ‘‘A faxi<strong>na</strong><br />
já terminou e o Senzala vai funcio<strong>na</strong>r normalmente. Aí <strong>de</strong> qu<strong>em</strong><br />
inventar um crime para fechar o estabelecimento que está <strong>de</strong>ntro da<br />
lei’’, <strong>de</strong>safiou o advoga<strong>do</strong>, afirman<strong>do</strong> que ele próprio iria ont<strong>em</strong> à<br />
noite à boate ao la<strong>do</strong> <strong>de</strong> um conselheiro da Or<strong>de</strong>m d<strong>os</strong> Advogad<strong>os</strong> <strong>do</strong><br />
Brasil fiscalizar o funcio<strong>na</strong>mento. (LIMA, 2005).<br />
A maioria das meni<strong>na</strong>s t<strong>em</strong> o sonho <strong>de</strong> que o casamento com um “gringo” que se<br />
apaixone, que lhes dê oportunida<strong>de</strong>s, residência no exterior e melhor condição <strong>de</strong> vida,<br />
algumas g<strong>os</strong>tariam <strong>de</strong> ajudar a família, que <strong>em</strong> muit<strong>os</strong> cas<strong>os</strong> <strong>de</strong>sconhec<strong>em</strong> a verda<strong>de</strong>ira<br />
profissão da filha e <strong>em</strong> alguns cas<strong>os</strong> não aceitam ou <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong>sse dinheiro, outras<br />
são universitárias que quer<strong>em</strong> conquistar a Europa com seu “príncipe”.<br />
Seus preç<strong>os</strong> são alt<strong>os</strong> varian<strong>do</strong> <strong>de</strong> R$100,00 a R$ 700,00 reais, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> das<br />
garotas e <strong>do</strong> cliente. Há também as que cobram qualquer preço, ape<strong>na</strong>s para consumo <strong>de</strong><br />
drogas. Segun<strong>do</strong> elas há uma paquera, conversam com o cliente (quase tod<strong>os</strong><br />
estrangeir<strong>os</strong>), combi<strong>na</strong>m o preço e a partir disso o cliente toma as providências <strong>de</strong><br />
chamar o táxi e vão ao motel.<br />
Depois <strong>do</strong> programa alguns acabam pagan<strong>do</strong> mais <strong>do</strong> que o combi<strong>na</strong><strong>do</strong>, há<br />
outr<strong>os</strong> cas<strong>os</strong> <strong>em</strong> que o cliente não quer pagar o preço combi<strong>na</strong><strong>do</strong> ou as meni<strong>na</strong>s<br />
aumentam o preço. Assim elas ameaçam chamar a polícia o que é <strong>de</strong>snecessário quan<strong>do</strong><br />
o cliente aceita pagar o preço exigi<strong>do</strong> com me<strong>do</strong> <strong>de</strong> arranjar confusão no Brasil, outr<strong>os</strong><br />
esperam a polícia chegar e acabam sen<strong>do</strong> subor<strong>na</strong><strong>do</strong> por ela, pagan<strong>do</strong> preç<strong>os</strong> maiores<br />
que alguns programas.<br />
Depoiment<strong>os</strong> <strong>de</strong> entrevistad<strong>os</strong> e comentári<strong>os</strong> da população ligada ao merca<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
sexo, levam a crer que muit<strong>os</strong> policiais conhec<strong>em</strong> essas garotas, alguns faz<strong>em</strong><br />
programas com elas e estabelec<strong>em</strong> uma espécie <strong>de</strong> pacto para conseguir mais dinheiro<br />
d<strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong>, estão cometen<strong>do</strong> um crime <strong>de</strong> extorsão. Outra provável ativida<strong>de</strong><br />
exercida <strong>na</strong> rua, conta<strong>do</strong> por um gerente e por um policial entrevistad<strong>os</strong>, é o exercício<br />
ilegal da profissão, prestan<strong>do</strong> segurança para as boates da rua.<br />
Os policiais militares se afastam <strong>de</strong> seu serviço <strong>na</strong> organização para realizar a<br />
segurança <strong>de</strong>ssas boates, andam armad<strong>os</strong> e exerc<strong>em</strong> sua autorida<strong>de</strong> <strong>em</strong> p<strong>os</strong>síveis<br />
conflit<strong>os</strong>. Há muitas pousadas <strong>em</strong> Ponta Negra que p<strong>os</strong>su<strong>em</strong> o selo 4 <strong>do</strong> Código <strong>de</strong><br />
Conduta <strong>do</strong> Turismo Contra a Exploração Sexual Infanto-Juvenil, conforme figura 2.<br />
4 Selo Paulo Freire <strong>de</strong> Ética no Turismo – <strong>em</strong>iti<strong>do</strong> pela ONG RESPOSTA, basea<strong>do</strong> n<strong>os</strong> princípi<strong>os</strong><br />
estabelecid<strong>os</strong> no código <strong>de</strong> Conduta <strong>do</strong> Turismo Contra Exploração Sexual Infanto-Juvenil. Concedi<strong>do</strong><br />
a<strong>os</strong> estabeleciment<strong>os</strong> consi<strong>de</strong>rad<strong>os</strong> a<strong>de</strong>quad<strong>os</strong> ao Código.
Os funcionári<strong>os</strong> d<strong>os</strong> estabeleciment<strong>os</strong> que p<strong>os</strong>su<strong>em</strong> o selo não souberam<br />
transmitir informações claras sobre sua procedência, causan<strong>do</strong> <strong>de</strong>sconfiança e<br />
incredibilida<strong>de</strong>, por parte d<strong>os</strong> estabeleciment<strong>os</strong> certificad<strong>os</strong> e seu órgão <strong>em</strong>issor.<br />
36<br />
Figura 2 - Código <strong>de</strong> Conduta <strong>do</strong> Turismo Contra a Exploração<br />
Sexual Infanto-Juvenil, elabora<strong>do</strong> pela ONG RESPOSTA, para<br />
orientar <strong>os</strong> estabeleciment<strong>os</strong> turístic<strong>os</strong>, com relação à conduta e<br />
combate à exploração sexual. Fonte: ONG RESPOSTA.<br />
Outr<strong>os</strong> se explicam dizen<strong>do</strong> que não permit<strong>em</strong> a entrada <strong>de</strong> “acompanhantes”<br />
com seus hóspe<strong>de</strong>s, exceto no check in 5 , pois não po<strong>de</strong>m impedir a entrada <strong>de</strong>ssas<br />
mulheres. No caso <strong>de</strong> hóspe<strong>de</strong>s que quer<strong>em</strong> levar alguém durante sua estadia, <strong>os</strong><br />
recepcionistas afirmaram que cobram diárias b<strong>em</strong> mais caras, quan<strong>do</strong> i<strong>de</strong>ntificam<br />
p<strong>os</strong>síveis pr<strong>os</strong>titutas, já que estas c<strong>os</strong>tumam causar probl<strong>em</strong>as e escândal<strong>os</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong><br />
estabelecimento.<br />
Hotéis e resorts da Via C<strong>os</strong>teira, que são <strong>os</strong> mais luxu<strong>os</strong><strong>os</strong>, não aceitam <strong>em</strong><br />
hipótese alguma a entrada <strong>de</strong> p<strong>os</strong>teriores acompanhantes. Há outr<strong>os</strong> que não p<strong>os</strong>su<strong>em</strong> o<br />
selo, e por revelação <strong>de</strong> taxistas aceitam diariamente a entrada <strong>de</strong> uma acompanhante<br />
com seus hóspe<strong>de</strong>s, s<strong>em</strong> pedir nenhum tipo <strong>de</strong> <strong>do</strong>cumento e cobrança adicio<strong>na</strong>l por isso.<br />
Houve durante o mês <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong>ste ano, 2008, uma exibição <strong>de</strong> reportagens<br />
<strong>na</strong> <strong>em</strong>issora <strong>de</strong> TV <strong>do</strong> jor<strong>na</strong>l local m<strong>os</strong>tran<strong>do</strong> a realida<strong>de</strong> da rua e fazen<strong>do</strong> críticas ao<br />
consumo e venda <strong>de</strong> drogas, associação <strong>do</strong> local com a pr<strong>os</strong>tituição. Um dia <strong>de</strong>pois o<br />
5 Na linguag<strong>em</strong> turística, nome da<strong>do</strong> à entrada <strong>de</strong> hóspe<strong>de</strong>s no hoteç.
movimento da rua diminuiu significativamente, fazen<strong>do</strong> com que <strong>em</strong>presári<strong>os</strong><br />
começass<strong>em</strong> a se articular <strong>em</strong> repúdio as notícias, prometen<strong>do</strong> tomar atitu<strong>de</strong>s e<br />
conversar diretamente com o secretário <strong>de</strong> <strong>turismo</strong> <strong>do</strong> município.<br />
Fato que m<strong>os</strong>tra o nível <strong>de</strong> consciência e preocupação por parte d<strong>os</strong> <strong>em</strong>presári<strong>os</strong>,<br />
já que a situação era m<strong>os</strong>trada nitidamente, a pr<strong>os</strong>tituição e as drogas eram <strong>os</strong> principais<br />
assunt<strong>os</strong> da reportag<strong>em</strong>. Escutei a conversa e inquietação <strong>do</strong> <strong>do</strong>no <strong>do</strong> H<strong>os</strong>tel, um d<strong>os</strong><br />
gran<strong>de</strong>s atrativ<strong>os</strong> da rua, que p<strong>os</strong>sui cartazes espalhad<strong>os</strong> <strong>em</strong> sua entrada contra a<br />
exploração sexual, este inclusive, não compareceu <strong>na</strong> entrevista por mim marcada e<br />
também não reto<strong>rn</strong>ou as ligações, como havia prometi<strong>do</strong>.<br />
1.3 A<strong>do</strong>lescentes <strong>na</strong> pr<strong>os</strong>tituição<br />
No perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> três meses foram entrevistadas muitas pessoas que tinham<br />
conhecimento indireto ou sabiam da existência <strong>do</strong> envolvimento <strong>de</strong> a<strong>do</strong>lescentes com a<br />
pr<strong>os</strong>tituição. Muit<strong>os</strong> prestam serviç<strong>os</strong> <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra para <strong>os</strong> estabeleciment<strong>os</strong>, cujo<br />
principal público é o hom<strong>em</strong> <strong>estrangeiro</strong> e as garotas <strong>de</strong> programa são as principais<br />
responsáveis por atrair tant<strong>os</strong> homens para <strong>os</strong> restaurantes e bares da rua.<br />
Quase tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>, incluin<strong>do</strong> as pr<strong>os</strong>titutas, a<strong>do</strong>lescentes e<br />
trabalha<strong>do</strong>res residiam <strong>na</strong> vila <strong>de</strong> Ponta Negra, consi<strong>de</strong>rada a periferia, o que <strong>os</strong> tor<strong>na</strong><br />
parte <strong>de</strong>ssa realida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da pr<strong>os</strong>tituição, mesmo que indiretamente, já que<br />
são <strong>em</strong>pregad<strong>os</strong> d<strong>os</strong> locais que permit<strong>em</strong> que pr<strong>os</strong>titutas freqüent<strong>em</strong>, circul<strong>em</strong><br />
livr<strong>em</strong>ente, à procura <strong>de</strong> clientes, que ocasio<strong>na</strong>m algo muito valoriza<strong>do</strong> pel<strong>os</strong> <strong>do</strong>n<strong>os</strong>,<br />
que passam por cima <strong>de</strong> qualquer comportamento responsável para obter lucr<strong>os</strong>.<br />
Ape<strong>na</strong>s vinte e sete pessoas das mais <strong>de</strong> quarenta, aceitaram realizar a entrevista,<br />
mesmo explican<strong>do</strong> <strong>os</strong> motiv<strong>os</strong> e prometen<strong>do</strong> não citar nomes, m<strong>os</strong>tran<strong>do</strong> a carteirinha<br />
da Universida<strong>de</strong> e a serieda<strong>de</strong> da pesquisa, muit<strong>os</strong> se recusaram, outr<strong>os</strong> aceitavam<br />
conversar <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> informal. Isso <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à gran<strong>de</strong> resistência encontrada, com relação<br />
ao t<strong>em</strong>a. Isso po<strong>de</strong> ser justifica<strong>do</strong> pelo comércio existente <strong>em</strong> to<strong>rn</strong>o <strong>do</strong> <strong>turismo</strong> sexual<br />
que envolve muit<strong>os</strong> mora<strong>do</strong>res e que amedronta <strong>os</strong> men<strong>os</strong> envolvid<strong>os</strong>.<br />
Após uma busca e observações, é p<strong>os</strong>sível obter entrevistas ou conversas com<br />
trabalha<strong>do</strong>res, que há muito t<strong>em</strong>po se <strong>de</strong>dicavam às noites <strong>de</strong> Ponta Negra e n<strong>os</strong> locais<br />
on<strong>de</strong> a existência <strong>de</strong>ssa pr<strong>os</strong>tituição é algo muito visível. Também se presencia por<br />
37
muitas noites algumas a<strong>do</strong>lescentes, envolvidas com venda e tráfico <strong>de</strong> drogas e que se<br />
insinuam para <strong>os</strong> homens, principalmente estrangeir<strong>os</strong>.<br />
D<strong>os</strong> sete entrevistad<strong>os</strong> <strong>na</strong>s ruas obtive histórias parecidas, outras um pouco<br />
divergentes, todas submetidas ou próximas a alguma situação <strong>de</strong> pr<strong>os</strong>tituição, com<br />
caminh<strong>os</strong> e vidas muito próximas.<br />
A primeira garota entrevistada se foi apresentada por uma colega que a conhecia<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância. Hoje ela está casada, com um italiano muito mais velho, <strong>do</strong> qual está<br />
grávida <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> filho, a<strong>os</strong> vinte an<strong>os</strong> <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Ela não revelou que se pr<strong>os</strong>tituía,<br />
preferiu contar a história <strong>de</strong> amigas, que talvez f<strong>os</strong>se sua própria. Contou que há muit<strong>os</strong><br />
cas<strong>os</strong> <strong>de</strong> violência, homens que maltratam e bat<strong>em</strong> <strong>na</strong>s garotas <strong>de</strong> programas, além <strong>de</strong><br />
não pagar pelo programa.<br />
A maioria das que conhece é maior <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, começaram a partir <strong>do</strong> incentivo <strong>de</strong><br />
amigas, utilizam drogas ou as ven<strong>de</strong>m. Reún<strong>em</strong>-se numa casa ou apartamento, divi<strong>de</strong>m<br />
as <strong>de</strong>spesas. A prática da ativida<strong>de</strong> justifica-se nesse caso pela vida e dinheiro fácil,<br />
proporcio<strong>na</strong>r boas condições a<strong>os</strong> filh<strong>os</strong>. Muitas sonham com o “príncipe <strong>estrangeiro</strong>”,<br />
este que segun<strong>do</strong> ela v<strong>em</strong> para o Brasil ape<strong>na</strong>s <strong>em</strong> busca da diversão, pela qual po<strong>de</strong>m<br />
pagar alt<strong>os</strong> valores.<br />
O segun<strong>do</strong> entrevista<strong>do</strong> era um garoto <strong>de</strong> <strong>de</strong>zessete an<strong>os</strong>, que se apresentou com<br />
traje, comportamento e nome <strong>de</strong> mulher, Helen. Uma garota a<strong>os</strong> olh<strong>os</strong> <strong>de</strong> qualquer um,<br />
cabelo arruma<strong>do</strong>, unhas feitas, vesti<strong>do</strong> <strong>de</strong> short e tomara que caia. Andinho, como é<br />
conheci<strong>do</strong> pel<strong>os</strong> mora<strong>do</strong>res da vila, não quis contar, talvez por me<strong>do</strong>, tu<strong>do</strong> o que fazia<br />
<strong>na</strong>s noites <strong>de</strong> Ponta Negra. Segun<strong>do</strong> mora<strong>do</strong>res, o garoto fazia ponto próximo à rua<br />
quase todas as noites, on<strong>de</strong> já fora proibi<strong>do</strong> <strong>de</strong> circular e também entrar <strong>na</strong>s casas<br />
notur<strong>na</strong>s, que disse freqüentar livr<strong>em</strong>ente.<br />
Ele disse <strong>de</strong>sconhecer cas<strong>os</strong> <strong>de</strong> exploração, o que sabe é a existência <strong>de</strong> anúnci<strong>os</strong><br />
n<strong>os</strong> jor<strong>na</strong>is, trocas <strong>de</strong> telefones ou olhares <strong>na</strong> noite, que resultam n<strong>os</strong> programas. Sabe<br />
que as mulheres que se pr<strong>os</strong>titu<strong>em</strong> principalmente pelo dinheiro, porque não p<strong>os</strong>su<strong>em</strong><br />
outras oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego e precisam sustentar <strong>os</strong> filh<strong>os</strong>, pagar as contas, muitas<br />
chegaram <strong>do</strong> interior e suas famílias acabam aceitan<strong>do</strong> a situação porque <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>do</strong><br />
dinheiro.<br />
Foi entrevistada outra a<strong>do</strong>lescente, que antes <strong>de</strong> ser maior <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> já<br />
freqüentava a noite <strong>de</strong> Ponta Negra e <strong>de</strong>sfrutava da presença <strong>de</strong> estrangeir<strong>os</strong>. Ela<br />
começou a “sair” com estrangeir<strong>os</strong> por incentivo <strong>de</strong> amigas e diz que quan<strong>do</strong> aconteceu<br />
com ela não foi com um moço jov<strong>em</strong>, bonito, afirmou não sair com velh<strong>os</strong> e <strong>de</strong>clara que<br />
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muitas faz<strong>em</strong> por necessida<strong>de</strong>. Disse que a abordag<strong>em</strong> <strong>na</strong> rua ou <strong>em</strong> bares é muito<br />
gran<strong>de</strong> e que as garotas é que se oferec<strong>em</strong> a<strong>os</strong> “gring<strong>os</strong>”.<br />
Está começan<strong>do</strong> a ativida<strong>de</strong> e afirma fazer por diversão, que muit<strong>os</strong> d<strong>os</strong><br />
estrangeir<strong>os</strong> com qu<strong>em</strong> sai, pagam as bebidas e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ir<strong>em</strong> para o motel eles dão<br />
algum dinheiro, pois disse que não impõe um preço ou pe<strong>de</strong> dinheiro a eles, disse: “se<br />
ele g<strong>os</strong>tar ele paga”.<br />
Fato interessante que aconteceu com essa garota, que conta quan<strong>do</strong> chegou e<br />
começou a freqüentar a rua, foi instruída por uma mulher, a cobrar pelas saídas que<br />
realizava com <strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong>, pois segun<strong>do</strong> ela se as profissio<strong>na</strong>is <strong>de</strong>scobriss<strong>em</strong> que ela<br />
fazia <strong>de</strong> graça, po<strong>de</strong>ria ser linchada, e assim ela começou a instituir seu preço.<br />
A quarta entrevistada com vinte e um an<strong>os</strong>, aparentan<strong>do</strong> mais ida<strong>de</strong>, disse não<br />
achar <strong>na</strong>da sobre a pr<strong>os</strong>tituição, é algo comum <strong>em</strong> seu cotidiano. Disse conhecer várias<br />
pr<strong>os</strong>titutas, uma <strong>de</strong>las com catorze an<strong>os</strong>, outra havia <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong> o mari<strong>do</strong>, mas <strong>de</strong>clarou<br />
não exercer essa ativida<strong>de</strong>. Sabia da existência <strong>de</strong> uma casa chamada Fazendinha, on<strong>de</strong><br />
as garotas podiam fazer programas e receber comissão.<br />
Esta moça foi vista por vári<strong>os</strong> dias <strong>na</strong> rua, pegan<strong>do</strong> drogas d<strong>os</strong> garot<strong>os</strong> que as<br />
acompanhavam e passan<strong>do</strong> a<strong>os</strong> turistas, manipulan<strong>do</strong> muito dinheiro. Segun<strong>do</strong> o vigia<br />
notu<strong>rn</strong>o que apresentou a entrevistada, ela também se pr<strong>os</strong>tituía por qualquer dinheiro<br />
para obtenção <strong>de</strong> drogas, era uma das garotas com o pior aspecto, talvez agredida pelas<br />
condições que estava viven<strong>do</strong>.<br />
Uma <strong>de</strong> suas amigas, com <strong>de</strong>zesseis an<strong>os</strong> <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, também entrevistada,<br />
afirmou conhecer muitas meni<strong>na</strong>s menores <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> que se pr<strong>os</strong>tituíam, por vonta<strong>de</strong><br />
própria. Diz achar feia a existência <strong>de</strong> pr<strong>os</strong>tituição e o que as meni<strong>na</strong>s faz<strong>em</strong> para atrair<br />
e disputar <strong>os</strong> clientes, que po<strong>de</strong>m ser até policiais, conforme presenciou.<br />
Ela também foi a<strong>ponta</strong>da pelo vigia como freqüenta<strong>do</strong>ra da rua e garota <strong>de</strong><br />
programa, o que não duvi<strong>do</strong> é que este e muit<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> tenham utiliza<strong>do</strong> ali mesmo n<strong>os</strong><br />
estabeleciment<strong>os</strong> que cuidavam, <strong>os</strong> serviç<strong>os</strong> <strong>de</strong>ssas garotas, s<strong>em</strong> se importar ou ter<br />
consciência da situação.<br />
Um garoto <strong>de</strong> rua, o sexto entrevista<strong>do</strong>, com vinte e cinco an<strong>os</strong> <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, com<br />
um corpo <strong>de</strong> criança, muito magro no seu r<strong>os</strong>to um aspecto <strong>de</strong> muito sofrimento.<br />
Cuidava <strong>de</strong> carr<strong>os</strong> e também aceitou dar a entrevista, s<strong>em</strong> revelar seu nome e <strong>de</strong> tod<strong>os</strong><br />
<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>, o único, que pediu algo <strong>em</strong> troca, já que viu que trabalhava <strong>em</strong> um<br />
restaurante, quis após a entrevista <strong>do</strong>is prat<strong>os</strong> <strong>de</strong> comida, um pra ele e outro para seu<br />
amigo.<br />
39
Ele <strong>de</strong>clarou conhecer menores <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, envolvidas com pr<strong>os</strong>tituição, cuj<strong>os</strong> pais<br />
tinham condições muito precárias. Definiu <strong>os</strong> ambientes que seriam mais familiares e <strong>os</strong><br />
que eram exclusivamente freqüentad<strong>os</strong> por pr<strong>os</strong>titutas e <strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong>, esses que lhes<br />
solicitavam diariamente informações sobre <strong>os</strong> melhores lugares para encontrar uma<br />
garota para <strong>na</strong>morar, como eles diziam.<br />
Sua entrevista serviu <strong>de</strong> confirmação das <strong>de</strong>clarações <strong>de</strong> tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> que<br />
freqüentavam aquela rua, on<strong>de</strong> a pr<strong>os</strong>tituição e comércio <strong>de</strong> drogas <strong>de</strong>senvolvidas pelas<br />
crianças p<strong>os</strong>suíam maior niti<strong>de</strong>z <strong>em</strong> to<strong>do</strong> o contexto da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Natal.<br />
A Convenção sobre <strong>os</strong> direit<strong>os</strong> da criança também prevê um artigo, no ECA, cita<br />
exploração sexual e quais são as obrigações <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> neste caso, com o da sétima<br />
entrevistada, menor <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, que se pr<strong>os</strong>titui e continuara por muito t<strong>em</strong>po, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à<br />
impunida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e a não aplicação das leis. Conforme:<br />
40<br />
Art. 19. 1- Os Estad<strong>os</strong> Partes a<strong>do</strong>tarão todas as medidas legislativas,<br />
administrativas, sociais e educativas apropriadas para proteger a<br />
criança contra todas as formas <strong>de</strong> violência física e mental, abuso ou<br />
tratamento negligente, maus-trat<strong>os</strong> ou exploração, inclusive abuso<br />
sexual, enquanto a criança estiver sob custodia d<strong>os</strong> pais, <strong>do</strong><br />
representante legal ou <strong>de</strong> qualquer outra pessoa responsável por ela.<br />
(ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, 2005, p.65).<br />
Figura 3 - Estatuto da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente, viabiliza<strong>do</strong><br />
pela câmara d<strong>os</strong> <strong>de</strong>putad<strong>os</strong>. Fonte: Casa Re<strong>na</strong>scer.<br />
A a<strong>do</strong>lescente com <strong>de</strong>zesseis an<strong>os</strong>, foi uma das poucas que assumiu abertamente<br />
a prática da ativida<strong>de</strong>. Nascida <strong>em</strong> Natal, disse estar <strong>na</strong> sétima série, no supletivo. Era
uma garota more<strong>na</strong>, <strong>de</strong> aparência saudável, bonita. Os homens a<strong>os</strong> quais se oferecia,<br />
disse, não importavam, podia ser qualquer um <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que esse tivesse dinheiro para<br />
pagar por seus serviç<strong>os</strong>.<br />
Disse ter algumas amigas da mesma ida<strong>de</strong> que também se pr<strong>os</strong>titu<strong>em</strong> com as<br />
quais vai para as festas e beb<strong>em</strong> muito com algum hom<strong>em</strong> <strong>de</strong>pois dissso oferece drogas,<br />
dinheiro. Assim disse ter aconteci<strong>do</strong> com ela, que precisava <strong>de</strong> dinheiro e por<br />
intermédio <strong>de</strong> outra garota, acabou sain<strong>do</strong> com um <strong>estrangeiro</strong>, que pagou duzent<strong>os</strong><br />
reais <strong>em</strong> cheque, que foi dividi<strong>do</strong> com a negociante, experiente no assunto.<br />
Ela também trabalhou <strong>na</strong> casa <strong>de</strong> um <strong>estrangeiro</strong> como babá, que mantinha uma<br />
casa <strong>de</strong> strip tease e chegou a ameaçá-la com uma arma para que participasse da sua<br />
casa <strong>de</strong> shows, supon<strong>do</strong> que ela se pr<strong>os</strong>tituía <strong>na</strong> época.<br />
Thaís pareceu uma garota comum, simples <strong>em</strong> suas palavras, s<strong>em</strong> muitas<br />
expressões <strong>de</strong> tristeza ou felicida<strong>de</strong>.<br />
Esta garota p<strong>os</strong>suía um sentimento indiferente, talvez a estampa <strong>de</strong> sua<br />
inocência, num local que sofre por falta <strong>de</strong> apoio e orientação, que se ac<strong>os</strong>tumou com<br />
uma situação, que prejudica o país <strong>em</strong> muit<strong>os</strong> aspect<strong>os</strong>. A imag<strong>em</strong>, a vida da infância,<br />
que são conseqüência da falta <strong>de</strong> educação, da pobreza e principalmente submissão d<strong>os</strong><br />
mora<strong>do</strong>res a<strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong>, que há muito t<strong>em</strong>po compra diversão e buscam o <strong>turismo</strong><br />
sexual.<br />
41
CAPÍTULO II<br />
2.1 Trabalha<strong>do</strong>res da indústria turística<br />
Como <strong>os</strong> trabalha<strong>do</strong>res da indústria turística representarão <strong>os</strong> estabeleciment<strong>os</strong><br />
<strong>de</strong> Ponta Negra e sua p<strong>os</strong>tura com relação à facilida<strong>de</strong> d<strong>os</strong> que têm si<strong>do</strong> agredid<strong>os</strong><br />
sexualmente, violan<strong>do</strong> e não cumprin<strong>do</strong> proibições previstas no ECA- Estatuto da<br />
Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente. Conforme artigo 81, parágrafo I e II e artigo 82, <strong>na</strong> seção II,<br />
d<strong>os</strong> produt<strong>os</strong> e serviç<strong>os</strong>:<br />
42<br />
Art. 81. É proibida a venda à criança ou ao a<strong>do</strong>lescente <strong>de</strong>: II -<br />
bebidas alcoólicas; III - produt<strong>os</strong> cuj<strong>os</strong> componentes p<strong>os</strong>sam causar<br />
<strong>de</strong>pendência física ou psíquica ainda que por utilização in<strong>de</strong>vida; Art.<br />
82. É proibida a h<strong>os</strong>pedag<strong>em</strong> <strong>de</strong> criança ou a<strong>do</strong>lescente <strong>em</strong> hotel,<br />
motel, pensão ou estabelecimento congênere, salvo se autoriza<strong>do</strong> ou<br />
acompanha<strong>do</strong> pel<strong>os</strong> pais ou responsável. (ESTATUTO DA<br />
CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, 2005, p.24).<br />
Principalmente <strong>na</strong> rua permaneciam tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> dias muito menores <strong>de</strong> ida<strong>de</strong><br />
ven<strong>de</strong>n<strong>do</strong> drogas, as meni<strong>na</strong>s ficavam com a merca<strong>do</strong>ria, enquanto <strong>os</strong> menin<strong>os</strong><br />
negociavam s<strong>em</strong> nenhum impedimento sua venda. Algumas <strong>de</strong>ssas garotas também se<br />
pr<strong>os</strong>tituíam e era níti<strong>do</strong> que eram orientadas por alguém mais instruí<strong>do</strong>, que se<br />
beneficiavam <strong>de</strong>sse intenso comércio, obten<strong>do</strong> seus lucr<strong>os</strong> todas as noites.<br />
Em mais <strong>de</strong> uma vez, presenciei discussões d<strong>os</strong> garot<strong>os</strong> da rua, intermediada por<br />
um maior <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, já <strong>de</strong> madrugada, o motivo era por drogas que teriam si<strong>do</strong><br />
<strong>em</strong>prestadas e não <strong>de</strong>volvidas (talvez vendida ou consumida pelo outro). Esse mesmo<br />
garoto, segun<strong>do</strong> <strong>os</strong> trabalha<strong>do</strong>res da rua, durante a estada <strong>de</strong> um <strong>estrangeiro</strong> pela <strong>praia</strong>,<br />
foi garoto <strong>de</strong> programa, ganhou roupas, dinheiro, disseram que ele tinha esperança <strong>de</strong><br />
ser leva<strong>do</strong> ao exterior, mas sua vonta<strong>de</strong> acabou com o fim da t<strong>em</strong>porada 6 , o americano<br />
foi <strong>em</strong>bora e o garoto continua <strong>na</strong> rua ven<strong>de</strong>n<strong>do</strong> drogas.<br />
Pel<strong>os</strong> bares, restaurantes e pousadas <strong>de</strong> Ponta Negra, realizei treze entrevistas,<br />
das quais oito foram classificadas como mais interessantes e citadas abaixo. Muit<strong>os</strong><br />
<strong>de</strong>sses trabalham à noite a muito t<strong>em</strong>po e conhec<strong>em</strong> garotas <strong>de</strong> programas e revelaram<br />
6 Termo utiliza<strong>do</strong> para se referir ao t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> férias, que vai d<strong>os</strong> meses <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro à fevereiro, é quan<strong>do</strong><br />
há maior fluxo <strong>de</strong> visitantes.
outr<strong>os</strong> aspect<strong>os</strong> <strong>de</strong>sse merca<strong>do</strong> turístico. Foram entrevistad<strong>os</strong> ao to<strong>do</strong> treze<br />
trabalha<strong>do</strong>res da indústria turística, entre garçons, barten<strong>de</strong>rs 7 , recepcionistas e gerente.<br />
O primeiro entrevista<strong>do</strong> foi Joaquim 8 , 24 an<strong>os</strong> barten<strong>de</strong>r <strong>do</strong> bar e restaurante<br />
Amaretto, trabalha <strong>na</strong> rua há três an<strong>os</strong>. Ele contou que principalmente <strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong><br />
freqüenta<strong>do</strong>res <strong>do</strong> estabelecimento, quan<strong>do</strong> vê<strong>em</strong> alguma meni<strong>na</strong> sozinha procuram<br />
alguém para combi<strong>na</strong>r um valor ou oferec<strong>em</strong> um pagamento direto, sugerin<strong>do</strong> um<br />
programa.<br />
O estabelecimento não p<strong>os</strong>sui nenhum p<strong>os</strong>icio<strong>na</strong>mento relacio<strong>na</strong><strong>do</strong> a<br />
pr<strong>os</strong>tituição, já que se localiza <strong>em</strong> frente a boate Azúcar e outr<strong>os</strong> qui<strong>os</strong>ques (on<strong>de</strong> há<br />
maior concentração <strong>de</strong> estrangeir<strong>os</strong> e garotas <strong>de</strong> programa), então é um d<strong>os</strong> bares que<br />
acolh<strong>em</strong> tod<strong>os</strong> que permanec<strong>em</strong> <strong>na</strong> rua até mais tar<strong>de</strong>, inclusive o público principal.<br />
Ele diz, sobre opinião sobre a gran<strong>de</strong> existência da pr<strong>os</strong>tituição <strong>na</strong> rua: “Eu não<br />
evito, conheço muitas garotas, se um gringo se interessar pela meni<strong>na</strong> eu ajeito elas, que<br />
trabalham com comissão. Ou elas me dão algum dinheiro, <strong>de</strong>z reais, trinta reais. Ou <strong>os</strong><br />
gring<strong>os</strong> dão uma gorjeta, como agra<strong>de</strong>cimento”.<br />
Afirma que tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> dias estrangeir<strong>os</strong> são vist<strong>os</strong> <strong>na</strong> cida<strong>de</strong> e a maioria está <strong>em</strong><br />
busca <strong>de</strong> mulheres e drogas, não procuram as belezas <strong>na</strong>turais da cida<strong>de</strong>. Na inte<strong>rn</strong>et<br />
segun<strong>do</strong> ele, Natal está associada à imag<strong>em</strong> da pr<strong>os</strong>tituição e cada vez há mais<br />
divulgação <strong>de</strong>ssas mulheres, é a gran<strong>de</strong> propaganda turística da cida<strong>de</strong>. O <strong>de</strong>talhe<br />
relevante para a aceitação e acolhimento d<strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong> é o dinheiro que eles <strong>de</strong>ixam<br />
<strong>na</strong> cida<strong>de</strong>, invest<strong>em</strong> e gastam muito, e a movimentação da economia num local on<strong>de</strong> há<br />
pobreza visível, é significativa não importan<strong>do</strong> sua forma <strong>de</strong> obtenção.<br />
Conheceu uma menor <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, que usava i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> falsa e acabou in<strong>do</strong> para a<br />
Itália com um <strong>estrangeiro</strong>. Também conheceu menores que vendiam drogas e outr<strong>os</strong><br />
adult<strong>os</strong> que fo<strong>rn</strong>eciam para essas crianças. Segun<strong>do</strong> conhecid<strong>os</strong> <strong>de</strong> Joaquim, sua esp<strong>os</strong>a<br />
era pr<strong>os</strong>tituta e o <strong>de</strong>ixou para continuar sen<strong>do</strong>, mas durante a entrevista e n<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> dias<br />
<strong>de</strong> convivência ele não disse <strong>na</strong>da a respeito.<br />
Ele sabe que há uma mobilização d<strong>os</strong> <strong>em</strong>presári<strong>os</strong>, para proibir a circulação d<strong>os</strong><br />
ven<strong>de</strong><strong>do</strong>res ambulantes e travestis <strong>na</strong> rua, mas há suspeitas <strong>de</strong> que esse dinheiro seja<br />
para garantir a segurança d<strong>os</strong> estabeleciment<strong>os</strong>, exercidas ilegalmente por policiais.<br />
Contou que <strong>do</strong>is estrangeir<strong>os</strong> foram surpreendid<strong>os</strong> com cocaí<strong>na</strong> <strong>de</strong>ntro da boate<br />
Azúcar on<strong>de</strong> um d<strong>os</strong> seguranças e também policial, s<strong>em</strong> estar <strong>em</strong> exercício, utilizou sua<br />
7 Garçom <strong>de</strong> um bar, utiliza-se <strong>de</strong> um balcão para preparar bebidas.<br />
8 Os nomes dad<strong>os</strong> a<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> foram modificad<strong>os</strong>, para preservar a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> d<strong>os</strong> mesm<strong>os</strong>.<br />
43
autorida<strong>de</strong> para retirá-l<strong>os</strong> da boate fazer ameaças, roubar uma câmera digital, um<br />
celular, dinheiro tu<strong>do</strong> isso para sup<strong>os</strong>tamente não ser<strong>em</strong> pres<strong>os</strong>. O fato é que <strong>os</strong><br />
estrangeir<strong>os</strong> têm muito me<strong>do</strong> <strong>de</strong> se envolver <strong>em</strong> algum escândalo no Brasil e acabam<br />
sen<strong>do</strong> extorquid<strong>os</strong> facilmente.<br />
Prova da existência <strong>de</strong> policiais trabalhan<strong>do</strong> <strong>em</strong> segurança particular e atuan<strong>do</strong><br />
ativamente <strong>na</strong> rua, é Menezes 9 , que realiza esse serviço ao escritório da boate, ele<br />
realizava uma arrecadação mensal, n<strong>os</strong> estabeleciment<strong>os</strong>.<br />
Comprovan<strong>do</strong> a existência <strong>de</strong>ssa entida<strong>de</strong>/ organização <strong>de</strong> <strong>em</strong>presári<strong>os</strong> que<br />
pagam uma quantida<strong>de</strong> mensal, para segun<strong>do</strong> eles retirar ambulantes e travestis da rua.<br />
O <strong>do</strong>no <strong>do</strong> restaurante Galo <strong>do</strong> Alto, on<strong>de</strong> estagiei pagava esta quantida<strong>de</strong> mensal, mas<br />
também não me explicou <strong>em</strong> <strong>de</strong>talhes qual era a fi<strong>na</strong>lida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa contribuição.<br />
Qu<strong>em</strong> realizava essas cobranças era justamente o policial, segurança <strong>do</strong><br />
escritório da boate Azúcar, que disse recolher esse dinheiro para a organização,<br />
chamada por uma sigla que tentavam retirar <strong>os</strong> ambulantes e travestis <strong>do</strong> local, que<br />
segun<strong>do</strong> ele estavam prejudican<strong>do</strong> a imag<strong>em</strong> da rua.<br />
Depois <strong>de</strong> algumas conversas informais, a entrevista foi marcada , o policial,<br />
trinta an<strong>os</strong>, ele disse já ter trabalha<strong>do</strong> <strong>na</strong> viatura <strong>em</strong> Ponta Negra, entre <strong>os</strong> an<strong>os</strong> <strong>de</strong> 2005<br />
a 2007, época da maior incidência <strong>de</strong> exploração sexual nesta <strong>praia</strong>.<br />
Ele acredita que as crianças estão se envolven<strong>do</strong> com drogas e se pr<strong>os</strong>tituin<strong>do</strong> há<br />
muito t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à questão sócio-econômica local e sabe que é difícil o combate com<br />
maiores <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Para ele o <strong>turismo</strong> sexual nunca vai acabar se o gove<strong>rn</strong>o não elaborar<br />
leis que proíbam e coíbam melhorias <strong>na</strong> educação. Os graus <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> <strong>em</strong> regiões<br />
como a Nor<strong>de</strong>ste são muito baix<strong>os</strong> o que acarreta <strong>de</strong>s<strong>em</strong>preg<strong>os</strong>, baixa renda e estas<br />
pessoas acabam optan<strong>do</strong> por caminh<strong>os</strong> mais fáceis <strong>de</strong> obtenção <strong>de</strong> dinheiro.<br />
Na <strong>praia</strong> <strong>de</strong> Ponta Negra há gran<strong>de</strong> investimento no setor imobiliário,<br />
restaurantes, bares, boates, o que contribui com a economia local e t<strong>em</strong> si<strong>do</strong> responsável<br />
pela geração <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego para muito trabalha<strong>do</strong>res que com pouca qualificação e baixa<br />
escolarida<strong>de</strong> t<strong>em</strong> uma mão <strong>de</strong> obra mais barata.<br />
Para ele <strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong> traz<strong>em</strong> muito dinheiro, <strong>em</strong> vári<strong>os</strong> setores da economia,<br />
principalmente <strong>em</strong> locais turístic<strong>os</strong>. Então não se po<strong>de</strong> impedir sua entrada no país,<br />
quan<strong>do</strong> isso acontece, <strong>de</strong> alguma forma o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego aumenta e a economia entra <strong>em</strong><br />
crise.<br />
9 Os nomes dad<strong>os</strong> a<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> foram modificad<strong>os</strong>, para preservar a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> d<strong>os</strong> mesm<strong>os</strong>.<br />
44
O que aconteceu <strong>em</strong> Natal foi a proibição d<strong>os</strong> vô<strong>os</strong> fretad<strong>os</strong>, conten<strong>do</strong> ape<strong>na</strong>s<br />
homens, mas <strong>na</strong> capital ao la<strong>do</strong>, Fortaleza (local <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> incidência <strong>de</strong> pr<strong>os</strong>tituição e<br />
exploração), chegam tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> dias vô<strong>os</strong> fretad<strong>os</strong>, <strong>os</strong> homens <strong>de</strong>s<strong>em</strong>barcam <strong>em</strong> Fortaleza<br />
e vão <strong>de</strong> ônibus até Natal.<br />
Menezes, o policial conheceu a Ilha da Fantasia e constatou que ali havia quart<strong>os</strong><br />
para realização <strong>de</strong> programas. Esta foi fechada por ação da polícia fe<strong>de</strong>ral, conforme <strong>os</strong><br />
relat<strong>os</strong> d<strong>os</strong> jor<strong>na</strong>is da época.<br />
Próximo dali conheci a pousada Safári e seu gerente, Murilo 10 <strong>de</strong> 26 an<strong>os</strong>,<br />
forma<strong>do</strong> <strong>em</strong> Turismo pela UNP, que por coincidência havia realiza<strong>do</strong> há <strong>do</strong>is an<strong>os</strong> seu<br />
trabalho <strong>de</strong> conclusão sobre o perfil das profissio<strong>na</strong>is <strong>do</strong> sexo.<br />
Nesta sua pesquisa confirmou o envolvimento <strong>de</strong> taxistas, policiais,<br />
recepcionistas <strong>de</strong> hotel. Um dia, conta que tomou um táxi <strong>na</strong> rua <strong>de</strong> sua pousada e fingiu<br />
ser turista ao taxista, <strong>na</strong> tentativa <strong>de</strong> investigar algo sobre a oferta e intermediação da<br />
pr<strong>os</strong>tituição por estes. Ele obteve informações sobre on<strong>de</strong> e como conseguir uma garota<br />
e lhe foi m<strong>os</strong>tra<strong>do</strong> um book, das garotas que po<strong>de</strong>ria escolher, elas estavam s<strong>em</strong>inuas<br />
<strong>em</strong> p<strong>os</strong>es sensuais e realizaram as fot<strong>os</strong> para este fim prova concreta <strong>de</strong> que <strong>os</strong> taxistas<br />
p<strong>os</strong>su<strong>em</strong> uma ligação forte e direta com esse “comercio sexual”.<br />
A pousada t<strong>em</strong> uma p<strong>os</strong>tura <strong>de</strong>sfavorável quanto à receptivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pr<strong>os</strong>titutas,<br />
ela p<strong>os</strong>sui o selo Paulo Freire <strong>de</strong> Ética no Turismo, concedi<strong>do</strong> pela “RESPOSTA”. O<br />
gerente t<strong>em</strong> ple<strong>na</strong> consciência da utilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> selo, <strong>do</strong> porque a pousada conseguiu<br />
obter, participou <strong>do</strong> processo, ela é duvid<strong>os</strong>a com relação à procedência <strong>do</strong> selo da<br />
pousada R<strong>os</strong>a Náutica.<br />
Esse gerente entrevista<strong>do</strong> lamenta: “Infelizmente, no caso da reserva para casais,<br />
não há como saber qual o comportamento da garota e se ela exerce o sexo comercial, no<br />
caso <strong>do</strong> h<strong>os</strong>pe<strong>de</strong> querer levar uma acompanhante, cobram<strong>os</strong> taxa abusivas, <strong>na</strong> tentativa<br />
<strong>de</strong> inibir essa conduta”.<br />
Entre as pessoas que entrevistou para sua pesquisa havia três menores <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>,<br />
ele afirma perceber a existência <strong>de</strong> um responsável, pois era p<strong>os</strong>sível verificar a falta <strong>de</strong><br />
condições das meni<strong>na</strong>s, não tinham como elas pagar<strong>em</strong> a moradia <strong>em</strong> que estavam; para<br />
ele havia algum hom<strong>em</strong> n<strong>os</strong> cuidad<strong>os</strong> (exploran<strong>do</strong>), que teria trazi<strong>do</strong> elas para aquele<br />
lugar.<br />
10 Os nomes dad<strong>os</strong> a<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> foram modificad<strong>os</strong>, para preservar a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> d<strong>os</strong> mesm<strong>os</strong>.<br />
45
Acredita que muit<strong>os</strong> d<strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong> que estão <strong>em</strong> Natal, além <strong>de</strong> ape<strong>na</strong>s estar<br />
gastan<strong>do</strong> seu dinheiro com pr<strong>os</strong>titutas e drogas, <strong>de</strong>v<strong>em</strong> estar exploran<strong>do</strong> essas menores<br />
para a pr<strong>os</strong>tituição e utilização <strong>de</strong> drogas também, pois entre estes “produt<strong>os</strong>” há s<strong>em</strong>pre<br />
uma forte ligação.<br />
Ber<strong>na</strong>r<strong>do</strong> 11 , vinte e nove an<strong>os</strong>, barten<strong>de</strong>r <strong>do</strong> restaurante Galo <strong>do</strong> Alto, tinha<br />
várias histórias sobre o <strong>turismo</strong> sexual. Sabe que muitas meni<strong>na</strong>s sa<strong>em</strong> <strong>do</strong> interior,<br />
prometen<strong>do</strong> a<strong>os</strong> pais trabalhar <strong>na</strong> capital, mas estão com a intenção <strong>de</strong> se pr<strong>os</strong>tituír<strong>em</strong> e<br />
o motivo principal é o dinheiro que consegu<strong>em</strong> s<strong>em</strong> esforço, muitas pagam a faculda<strong>de</strong>.<br />
Conheceu inúmeras menores <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> que se pr<strong>os</strong>tituíam, algumas <strong>na</strong> <strong>praia</strong>,<br />
outras <strong>em</strong> boates, a maioria experimentava por diversão e <strong>de</strong>pois acabava se tor<strong>na</strong>n<strong>do</strong><br />
“<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte” da ativida<strong>de</strong>.<br />
Ele trabalhou no Hotel C<strong>os</strong>ta Brasil, <strong>na</strong> orla <strong>de</strong> Ponta Negra, on<strong>de</strong> só residiam<br />
garotas <strong>de</strong> programa, o patrão mantinha as meni<strong>na</strong>s h<strong>os</strong>pedadas, com alimentação,<br />
salário e comissão <strong>em</strong> troca <strong>de</strong> exclusivida<strong>de</strong> <strong>em</strong> sua casa notur<strong>na</strong> no centro da cida<strong>de</strong>.<br />
As garotas que se submetiam a essa situação vinham principalmente das capitais<br />
São Paulo, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Recife e chegavam à cida<strong>de</strong> ciente das condições que seriam<br />
submetidas.<br />
No Café Paris, elas recebiam comissão pelas bebidas consumidas e para saír<strong>em</strong><br />
<strong>do</strong> estabelecimento, o cliente tinha que pagar uma quantia a casa. Lá havia shows <strong>de</strong><br />
sexo explícito e banheira <strong>de</strong> espumas, gran<strong>de</strong> atrativo para <strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong>.<br />
Quan<strong>do</strong> as garotas voltavam ao hotel, era Junior qu<strong>em</strong> trabalhava no tu<strong>rn</strong>o da<br />
madrugada. Ao fi<strong>na</strong>l da noite uma van realizava o transporte <strong>de</strong> ida e volta, disse que<br />
chegavam extr<strong>em</strong>amente bêbadas e drogadas e tinham que ser “trancadas” no hotel,<br />
proibidas <strong>de</strong> sair até o outro dia <strong>de</strong> manhã.<br />
Estes <strong>do</strong>is estabeleciment<strong>os</strong> foram fechad<strong>os</strong> pouc<strong>os</strong> meses, ocasio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> muito<br />
<strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego, antes da blitz realizada pela Polícia Fe<strong>de</strong>ral, <strong>na</strong> orla <strong>de</strong> Ponta Negra, ainda<br />
assim <strong>de</strong>scobriram que o <strong>do</strong>no p<strong>os</strong>suía socieda<strong>de</strong> com vári<strong>os</strong> estabeleciment<strong>os</strong><br />
utilizad<strong>os</strong> para <strong>turismo</strong> sexual, estava envolvi<strong>do</strong> <strong>em</strong> lavag<strong>em</strong> <strong>de</strong> dinheiro e venda <strong>de</strong><br />
drogas.<br />
D<strong>os</strong> motiv<strong>os</strong> que induz<strong>em</strong> a existência <strong>de</strong> tantas garotas submetidas a prática <strong>do</strong><br />
<strong>turismo</strong> sexual, elas alegam <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego por falta <strong>de</strong> qualificação e estud<strong>os</strong>, a imag<strong>em</strong><br />
<strong>do</strong> Brasil formada no exterior, principalmente <strong>do</strong> nor<strong>de</strong>ste, mulheres s<strong>em</strong>inuas,<br />
11 Os nomes dad<strong>os</strong> a<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> foram modificad<strong>os</strong>, para preservar a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> d<strong>os</strong> mesm<strong>os</strong>.<br />
46
car<strong>na</strong>val, faz<strong>em</strong> com que <strong>os</strong> homens venham para o Brasil exclusivamente à procura <strong>de</strong><br />
sexo.<br />
Eliete 12 , trinta an<strong>os</strong>, trabalha há seis an<strong>os</strong> <strong>na</strong> rua, garçonete <strong>do</strong> restaurante<br />
Frigi<strong>de</strong>ira, <strong>em</strong> frente ao restaurante Galo <strong>do</strong> Alto. Passan<strong>do</strong> por vári<strong>os</strong> estabeleciment<strong>os</strong><br />
presenciou <strong>em</strong> tod<strong>os</strong>, negociações <strong>de</strong> “venda <strong>de</strong> sexo”, n<strong>os</strong> bares e restaurantes. A<br />
maioria das garotas não sai com brasileir<strong>os</strong>, a não ser quan<strong>do</strong> t<strong>em</strong> interesses neles e às<br />
vezes sa<strong>em</strong> por diversão.<br />
Ela sabe que há muitas garotas <strong>de</strong> programas, muitas sustentam <strong>os</strong> filh<strong>os</strong> com<br />
dinheiro d<strong>os</strong> programas, outras sustentam as famílias. Menores <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, afirma<br />
conhecer pouc<strong>os</strong> que se pr<strong>os</strong>titu<strong>em</strong> e diz que <strong>os</strong> bares e casas notur<strong>na</strong>s não aceitam a<br />
entrada <strong>de</strong>las, são mais vistas <strong>na</strong> orla da <strong>praia</strong>.<br />
“Os gring<strong>os</strong> vê<strong>em</strong> uma meni<strong>na</strong> bonitinha, oferec<strong>em</strong> dinheiro, elas aceitam e<br />
acaba viran<strong>do</strong> um vício”, diz ela, “outras se envolv<strong>em</strong> para obter dinheiro para consumo<br />
<strong>de</strong> drogas, umas por incentivo <strong>de</strong> amigas e as promessas da vida luxu<strong>os</strong>a que po<strong>de</strong> ter<br />
com esses estrangeir<strong>os</strong>”.<br />
Para ela <strong>os</strong> taxistas, <strong>do</strong>n<strong>os</strong> <strong>de</strong> boates e <strong>os</strong> guias são <strong>os</strong> principais colabora<strong>do</strong>res e<br />
beneficiári<strong>os</strong> <strong>do</strong> <strong>turismo</strong> sexual, por ex<strong>em</strong>plo, a boate Azúcar, construída voltada para<br />
esse público, lá as mulheres não pagam a entrada, ainda ganham uma bebida e elas<br />
sob<strong>em</strong> no balcão se insinuan<strong>do</strong> junto com as dançari<strong>na</strong>s.<br />
O probl<strong>em</strong>a continua acontecen<strong>do</strong> <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à falta <strong>de</strong> fiscalização e punição, a<br />
situação per<strong>de</strong> o controle e as casas notur<strong>na</strong>s continuam abertas, s<strong>em</strong> <strong>na</strong>da ser feito<br />
contra, já que as pessoas po<strong>de</strong>m alegar estar “fican<strong>do</strong>” nestes lugares ape<strong>na</strong>s por<br />
atração, não há como provar que existe exploração se qu<strong>em</strong> se pr<strong>os</strong>titui não assumir.<br />
Para turistas estrangeir<strong>os</strong> mais conscientes essa oferta sexual, não é uma<br />
vantag<strong>em</strong> <strong>do</strong> Brasil, é algo ruim, que <strong>de</strong>veria acabar: “um dia um italiano disse: por c<strong>em</strong><br />
eu saio hoje com a loira, amanhã pelo mesmo preço com uma mulata que escolher, não<br />
podia ficar no bar que elas chegavam mesmo”, para alguns a exagerada “oferta <strong>de</strong><br />
mulheres”, serve <strong>de</strong> fator repelente, mas ainda assim <strong>os</strong> bares e restaurantes não<br />
proíb<strong>em</strong> que elas se insinu<strong>em</strong> para seus clientes ou freqüente esses locais.<br />
Entre <strong>os</strong> recepcionistas entrevistad<strong>os</strong>, João* <strong>de</strong> vinte sete an<strong>os</strong>, da pousada R<strong>os</strong>a<br />
Náutica, a<strong>ponta</strong>da pel<strong>os</strong> jor<strong>na</strong>is como receptora <strong>de</strong> exploração, <strong>turismo</strong> sexual e<br />
pr<strong>os</strong>tituição. Esta funcio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> normalmente p<strong>os</strong>sui Selo Paulo Freire <strong>de</strong> Ética no<br />
12 * Os nomes dad<strong>os</strong> a<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> foram modificad<strong>os</strong>, para preservar a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> d<strong>os</strong> mesm<strong>os</strong>.<br />
47
Turismo (concedi<strong>do</strong> pela ONG RESPOSTA), mas ele não soube explicar qu<strong>em</strong> tinha<br />
concedi<strong>do</strong>-lhes, n<strong>em</strong> como foi o processo <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são, achava que alguém liga<strong>do</strong> a<br />
prefeitura teria <strong>em</strong>iti<strong>do</strong>.<br />
O funcionário parecia estar b<strong>em</strong> instruí<strong>do</strong> <strong>na</strong>s informações que fo<strong>rn</strong>ecia,<br />
afirman<strong>do</strong> ser proibi<strong>do</strong> travestis, pr<strong>os</strong>titutas e menores <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> entrar no<br />
estabelecimento, pois disse haver uma lei da Policia Fe<strong>de</strong>ral, que pren<strong>de</strong> o <strong>do</strong>no <strong>do</strong><br />
estabelecimento que estiver permitin<strong>do</strong> pr<strong>os</strong>tituição e exploração. “Teve um caso que o<br />
<strong>estrangeiro</strong> tentou subor<strong>na</strong>r a <strong>do</strong><strong>na</strong> da pousada, mas a gente barra mesmo que pague, ela<br />
man<strong>do</strong>u o casal <strong>em</strong>bora”.<br />
Mas não po<strong>de</strong>m impedir a entrada <strong>de</strong>ssas pessoas, quan<strong>do</strong> já estiver<br />
acompanhada <strong>do</strong> h<strong>os</strong>pe<strong>de</strong> ou <strong>estrangeiro</strong> que se apresentam como um casal ou<br />
<strong>na</strong>morad<strong>os</strong>,no momento <strong>do</strong> check in 13 .<br />
Os <strong>do</strong>n<strong>os</strong> se interessaram pela minha presença durante a entrevista, quiseram<br />
saber <strong>de</strong> que assunto se tratava e ressaltaram e repetiram <strong>em</strong> alguns moment<strong>os</strong> as<br />
resp<strong>os</strong>tas <strong>de</strong> seu funcionário.<br />
Talvez essa pousada ainda permita alguma ativida<strong>de</strong> que envolva pr<strong>os</strong>tituição,<br />
ou estão queren<strong>do</strong> limpar sua imag<strong>em</strong> diante da socieda<strong>de</strong>, já que há pouco t<strong>em</strong>po tinha<br />
si<strong>do</strong> fechada por fazer parte das pousadas que permitiam a entrada <strong>de</strong> menores <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>,<br />
não exigiam nenhuma <strong>do</strong>cumentação.<br />
Outro entrevista<strong>do</strong> foi o gerente <strong>do</strong> bar norueguês Bari, Emanuel 14 com 26 an<strong>os</strong><br />
que p<strong>os</strong>suía conhecimento e experiências <strong>na</strong> Rua <strong>de</strong> Ponta Negra, era um d<strong>os</strong> pouc<strong>os</strong><br />
entrevistad<strong>os</strong> que falava outras línguas. Este bar não estava nesta rua, mas num local<br />
mais tranqüilo e com selecio<strong>na</strong>d<strong>os</strong> freqüenta<strong>do</strong>res, pois havia restaurantes requintad<strong>os</strong><br />
da gastronomia potiguar ao re<strong>do</strong>r.<br />
Segun<strong>do</strong> ele, o bar ao la<strong>do</strong> c<strong>os</strong>tumava receber um <strong>do</strong>no <strong>de</strong> pousada, que<br />
mantinha a moradia <strong>de</strong> garotas <strong>de</strong> programa, além <strong>de</strong> alimentação e estabilida<strong>de</strong><br />
fi<strong>na</strong>nceira, para isso tinham que conseguir clientes estrangeir<strong>os</strong> para se h<strong>os</strong>pedar. Esses<br />
clientes pagavam diárias da pousada para casal, além <strong>de</strong> consumir produt<strong>os</strong> e serviç<strong>os</strong><br />
<strong>do</strong> local, fato que continuava acontecen<strong>do</strong> mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> apreensões e operações<br />
policiais.<br />
Conheceu garotas com ida<strong>de</strong>s entre <strong>de</strong>zesseis e <strong>de</strong>zessete an<strong>os</strong>, quan<strong>do</strong><br />
trabalhava <strong>na</strong> noite, da qual faziam parte pessoas <strong>de</strong> amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> sex<strong>os</strong>, travestis e<br />
13 Na linguag<strong>em</strong> turística, nome da<strong>do</strong> à entrada <strong>de</strong> hóspe<strong>de</strong>s no hotel.<br />
14 Os nomes dad<strong>os</strong> a<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> foram modificad<strong>os</strong>, para preservar a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> d<strong>os</strong> mesm<strong>os</strong>.<br />
48
pr<strong>os</strong>titutas. Esse comércio por ser extr<strong>em</strong>amente rentável apesar <strong>de</strong> ilegal continua<br />
acontecen<strong>do</strong>, pois são muit<strong>os</strong> <strong>os</strong> interesses e <strong>os</strong> envolvid<strong>os</strong>, policiais, taxistas, <strong>do</strong>n<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />
hotéis e pousadas, casas notur<strong>na</strong>s. “E a Rua <strong>de</strong> Ponta Negra é o local apropria<strong>do</strong> e<br />
aberto para isso, qu<strong>em</strong> tiver dinheiro lá consegue o tu<strong>do</strong>”.<br />
Franciele, <strong>de</strong>zoito an<strong>os</strong>, garçonete <strong>do</strong> restaurante Galo <strong>do</strong> Alto, mora<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> vila<br />
soube <strong>de</strong> cas<strong>os</strong> <strong>de</strong> exploração, próximo a sua casa, conce<strong>de</strong>u uma entrevista e contou<br />
cas<strong>os</strong> envolven<strong>do</strong> estrangeir<strong>os</strong> e potiguares, <strong>na</strong> prática da exploração sexual.<br />
No início <strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 2007, havia um bar e suas garçonetes eram as garotas <strong>de</strong><br />
programa, o <strong>do</strong>no controlava as escolhas d<strong>os</strong> clientes e pagament<strong>os</strong>, que eram <strong>de</strong><br />
cinqüenta reais por quatro horas, realiza<strong>do</strong> <strong>em</strong> quart<strong>os</strong> no próprio local. As garotas<br />
tinham que pagar parte <strong>do</strong> programa para o proprietário, já que p<strong>os</strong>suíam moradia e<br />
comida, muitas chegavam <strong>do</strong> interior e <strong>de</strong> outr<strong>os</strong> estad<strong>os</strong>, e <strong>de</strong>samparadas não viam<br />
outra solução, se não a <strong>de</strong> se pr<strong>os</strong>tituír<strong>em</strong>.<br />
Ela conheceu uma garota que morava neste bar, viera da Paraíba e tinha<br />
<strong>de</strong>zesseis an<strong>os</strong>, outras com ida<strong>de</strong>s entre catorze e <strong>de</strong>zessete, todas vindas <strong>do</strong> interior <strong>do</strong><br />
esta<strong>do</strong> e submetidas a<strong>os</strong> “trat<strong>os</strong>”, <strong>de</strong>ste hom<strong>em</strong>, o explora<strong>do</strong>r.<br />
Ela também conheceu uma garota <strong>de</strong> programa que vivia numa casa<br />
administrada uma mulher conhecida pelo nome <strong>de</strong> Mir<strong>na</strong>, on<strong>de</strong> estão residin<strong>do</strong> mais <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>z meni<strong>na</strong>s, que pagam uma quantia mensal pelas <strong>de</strong>spesas, segun<strong>do</strong> a entrevistada,<br />
Mir<strong>na</strong> foi acusada <strong>em</strong> 2005 <strong>de</strong> agenciar garotas (reportagens abaixo), provavelmente<br />
continua agencian<strong>do</strong> muitas.<br />
Obtive as informações <strong>de</strong> que <strong>em</strong> Ponta Negra houve muito mais<br />
estabeleciment<strong>os</strong> que se beneficiavam da venda <strong>do</strong> corpo <strong>de</strong> mulheres, mantinham as<br />
mulheres h<strong>os</strong>pedadas <strong>em</strong> hotel exclusivo <strong>na</strong> orla <strong>de</strong> Ponta Negra.<br />
Em conversa informal com um recepcionista, ele afirmou ter trabalha<strong>do</strong> no hotel<br />
Azurra, <strong>do</strong> mesmo proprietário <strong>de</strong> boate Azúcar (vista por tod<strong>os</strong> como o local mais<br />
freqüenta<strong>do</strong> por pr<strong>os</strong>titutas e estrangeir<strong>os</strong>). Era italiano e realizava <strong>em</strong> sua pousada,<br />
excursões <strong>de</strong> estrangeir<strong>os</strong>, seus amig<strong>os</strong> ou indicad<strong>os</strong> por eles, que vinham para o Brasil<br />
com a única intenção <strong>de</strong> ter contato e “comprar” o produto mais fo<strong>rn</strong>eci<strong>do</strong>, conforme<br />
imag<strong>em</strong> que p<strong>os</strong>su<strong>em</strong> o sexo e as mulheres brasileiras.<br />
No próprio país, escolhiam as garotas, que estavam <strong>em</strong> álbum <strong>de</strong> fot<strong>os</strong> sensuais,<br />
ou <strong>em</strong> sites específic<strong>os</strong> para isso, assim o preço era negocia<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>barcavam<br />
as garotas estavam à disp<strong>os</strong>ição e permaneciam <strong>na</strong> pousada on<strong>de</strong> moravam, usufruin<strong>do</strong><br />
d<strong>os</strong> prazeres proporcio<strong>na</strong>d<strong>os</strong> pelo dinheiro <strong>estrangeiro</strong>, <strong>do</strong> qual o <strong>do</strong>no conseguia muito<br />
49
lucro. Fato que m<strong>os</strong>tra o nível <strong>de</strong> consciência e preocupação por parte <strong>de</strong> alguns<br />
<strong>em</strong>presári<strong>os</strong> é a oferta e a busca d<strong>os</strong> produt<strong>os</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo <strong>estrangeiro</strong>.<br />
Ainda que essas vonta<strong>de</strong>s ultrapass<strong>em</strong> e vão contra princípi<strong>os</strong>, envolvam<br />
crianças <strong>em</strong> péssimas condições, quan<strong>do</strong> não são <strong>os</strong> <strong>do</strong>n<strong>os</strong> <strong>de</strong> estabeleciment<strong>os</strong>, são <strong>os</strong><br />
funcionári<strong>os</strong>, <strong>os</strong> guias, “bugueir<strong>os</strong>”, taxistas, que não t<strong>em</strong> o menor probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> indicar<br />
tais “serviç<strong>os</strong> sexuais”, pois a busca pel<strong>os</strong> lucr<strong>os</strong> prevalece. A procura d<strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong><br />
é m<strong>os</strong>trada nitidamente, a pr<strong>os</strong>tituição e as drogas são <strong>os</strong> seus principais interesses.<br />
Em uma série <strong>de</strong> reportagens exibida durante uma s<strong>em</strong>a<strong>na</strong> no jor<strong>na</strong>l local, o foco<br />
era a Rua Manoel Bezerra <strong>de</strong> Araújo, havia ali drogas e menores <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e o principal<br />
era a pr<strong>os</strong>tituição <strong>em</strong> qualquer estabelecimento, fato que fez com que a movimentação<br />
da rua reduzisse significativamente, preocupan<strong>do</strong> <strong>os</strong> proprietári<strong>os</strong>, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à<br />
movimentação <strong>de</strong> dinheiro que po<strong>de</strong>ria estar se per<strong>de</strong>n<strong>do</strong>.<br />
Escutei a conversa e inquietação <strong>do</strong> <strong>do</strong>no <strong>do</strong> H<strong>os</strong>tel Lua Cheia 15 , um d<strong>os</strong> gran<strong>de</strong>s<br />
atrativ<strong>os</strong> da rua, que p<strong>os</strong>sui cartazes espalhad<strong>os</strong> <strong>em</strong> sua entrada contra a exploração<br />
sexual, que não compareceu <strong>na</strong> entrevista marcada, não reto<strong>rn</strong>ou as ligações, como<br />
havia prometi<strong>do</strong>, já saben<strong>do</strong> <strong>do</strong> que se tratava.<br />
Figura 4- “Pare o <strong>turismo</strong> Sexual”, fol<strong>de</strong>r da campanha 2008<br />
contra o <strong>turismo</strong> sexual. Fonte: Box <strong>de</strong> informações turísticas,<br />
Praia Shopping.<br />
15 Nome da<strong>do</strong> a<strong>os</strong> albergues, no caso o Lua Cheia é o nome <strong>do</strong> h<strong>os</strong>tel/ a h<strong>os</strong>pedag<strong>em</strong> da <strong>praia</strong> <strong>de</strong> Ponta<br />
Negra.<br />
50
Ele estava extr<strong>em</strong>amente preocupa<strong>do</strong> com a queda <strong>do</strong> movimento da rua e<br />
conversava com um amigo, prometen<strong>do</strong> tomar uma atitu<strong>de</strong>, falar com o Secretario <strong>de</strong><br />
<strong>turismo</strong> <strong>do</strong> município, seu conheci<strong>do</strong>, para intervir <strong>na</strong> exibição das reportagens, que<br />
estavam prejudican<strong>do</strong> seus negóci<strong>os</strong> e o <strong>de</strong> muito outr<strong>os</strong> da rua.<br />
Este relato <strong>de</strong>monstra a preocupação d<strong>os</strong> <strong>em</strong>presári<strong>os</strong> <strong>em</strong> geral, mas o que<br />
surpreen<strong>de</strong> são <strong>os</strong> cartazes espalhad<strong>os</strong> no H<strong>os</strong>tel 16 , pregan<strong>do</strong> uma i<strong>de</strong>ologia, da qual o<br />
<strong>do</strong>no não se preocupa, n<strong>em</strong> se interessa <strong>em</strong> fazer algo concreto para essa mudança.<br />
A p<strong>os</strong>tura d<strong>os</strong> <strong>do</strong>n<strong>os</strong> <strong>de</strong> estabelecimento diante da presença <strong>de</strong> estrangeir<strong>os</strong><br />
acompanhad<strong>os</strong> <strong>de</strong> pr<strong>os</strong>titutas, era receber s<strong>em</strong> intervenção e quan<strong>do</strong> havia brigas ou<br />
probl<strong>em</strong>as maiores com menores ven<strong>de</strong>n<strong>do</strong> drogas <strong>na</strong> rua, chamavam a polícia, que<br />
também estava envolvida nestes at<strong>os</strong> que aumentavam a impunida<strong>de</strong> e sujavam a<br />
imag<strong>em</strong> <strong>do</strong> local, mas que continuavam acontecen<strong>do</strong>.<br />
Outro fato presencia<strong>do</strong> envolven<strong>do</strong> <strong>do</strong>n<strong>os</strong> <strong>de</strong> estabeleciment<strong>os</strong>, <strong>em</strong> frente ao<br />
H<strong>os</strong>tel*, ele comprou cocaí<strong>na</strong> <strong>de</strong> uma garota da qual aprecia ter certa intimida<strong>de</strong>, este<br />
m<strong>em</strong>bro da Associação <strong>de</strong> Bares e Restaurantes da cida<strong>de</strong>, <strong>do</strong>no <strong>de</strong> um restaurante b<strong>em</strong><br />
freqüenta<strong>do</strong>, dali era p<strong>os</strong>sível assistir todas as noites a movimentação d<strong>os</strong> menores<br />
ven<strong>de</strong>n<strong>do</strong> drogas.<br />
Tod<strong>os</strong> presenciavam inúmer<strong>os</strong> fat<strong>os</strong>, ilegais, imorais, mas a cultura daquele povo<br />
e a busca incessante <strong>de</strong> melhores condições, junto com a oferta <strong>de</strong> dinheiro <strong>estrangeiro</strong> e<br />
suas vonta<strong>de</strong>s <strong>de</strong> alt<strong>os</strong> preç<strong>os</strong>, faziam com que tod<strong>os</strong> tapass<strong>em</strong> <strong>os</strong> olh<strong>os</strong> para a<br />
preocupação e valorização da condição huma<strong>na</strong>, <strong>em</strong> especial das crianças e<br />
a<strong>do</strong>lescentes.<br />
2.2 Taxistas: agencia<strong>do</strong>res da pr<strong>os</strong>tituição<br />
A reação d<strong>os</strong> muit<strong>os</strong> taxistas abordad<strong>os</strong>, foi b<strong>em</strong> parecida, a maioria se recusou a<br />
dar entrevistas, conversar ou permitir uma tentativa <strong>de</strong> especulação <strong>de</strong> algum<br />
conhecimento sobre o assunto. As resp<strong>os</strong>tas eram afirmações <strong>de</strong> que não trabalhavam<br />
s<strong>em</strong>pre à noite, <strong>de</strong> que não freqüentavam aquela rua, estavam ali ape<strong>na</strong>s para cobrir o<br />
lugar <strong>de</strong> um amigo, entre outras s<strong>em</strong>pre contraria a conversas, <strong>de</strong>clarações ou<br />
entrevistas.<br />
Na tentativa <strong>de</strong> que estes indicass<strong>em</strong> algum amigo que soubesse <strong>do</strong> assunto e<br />
aceitasse da entrevista ou <strong>de</strong> alguém que tivess<strong>em</strong> conhecimento, as resp<strong>os</strong>tas eram<br />
16 * Nome da<strong>do</strong> a<strong>os</strong> albergues, no caso Lua Cheia é a h<strong>os</strong>pedag<strong>em</strong> da <strong>praia</strong> <strong>de</strong> Ponta Negra.<br />
51
s<strong>em</strong>pre negativas ou então indicavam falar com qualquer um d<strong>os</strong> muit<strong>os</strong> que circulavam<br />
<strong>na</strong>s ruas diariamente.<br />
Em uma <strong>de</strong>ssas tentativas, consegui marcar uma entrevista, com um <strong>de</strong>sse<br />
muit<strong>os</strong> taxistas que ficavam <strong>na</strong> rua, durante a abordag<strong>em</strong> percebi muit<strong>os</strong> olhares<br />
voltad<strong>os</strong> a mim e interesse d<strong>os</strong> que estavam mais próxim<strong>os</strong>.<br />
O receio revela<strong>do</strong> d<strong>os</strong> taxistas m<strong>os</strong>trou que eles po<strong>de</strong>m já ter passa<strong>do</strong> por<br />
investigações ou saber <strong>de</strong> fat<strong>os</strong> parecid<strong>os</strong>, já ocorrid<strong>os</strong> no local. Nas conversas<br />
informais, percebe-se a existência <strong>de</strong> uma organização <strong>de</strong> taxistas envolvid<strong>os</strong><br />
diretamente com a pr<strong>os</strong>tituição, intermedian<strong>do</strong> este comércio liga<strong>do</strong> também à venda <strong>de</strong><br />
drogas. Há traficantes transitan<strong>do</strong> livr<strong>em</strong>ente <strong>na</strong>quelas ruas, como taxistas, que não são<br />
peg<strong>os</strong> ou punid<strong>os</strong>, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à falta <strong>de</strong> fiscalização notur<strong>na</strong>.<br />
D<strong>os</strong> vári<strong>os</strong> taxistas solicitad<strong>os</strong>, ape<strong>na</strong>s <strong>do</strong>is, Jorge, quarenta e oito an<strong>os</strong> e o outro<br />
Pedro, trinta an<strong>os</strong>, aceitaram realizar a entrevista. Contaram que muit<strong>os</strong> d<strong>os</strong><br />
trabalha<strong>do</strong>res <strong>de</strong>sse setor estão envolvid<strong>os</strong> com “o merca<strong>do</strong> da pr<strong>os</strong>tituição e drogas”,<br />
sab<strong>em</strong> que há com alguns taxistas catálog<strong>os</strong> com fot<strong>os</strong> das garotas e muit<strong>os</strong> têm contato<br />
direto com as pr<strong>os</strong>titutas, são <strong>os</strong> intermediári<strong>os</strong> <strong>de</strong> seus clientes, trabalham como<br />
“agencia<strong>do</strong>res”, <strong>em</strong> troca ganham pela corrida <strong>de</strong> táxi e <strong>em</strong> muit<strong>os</strong> cas<strong>os</strong> uma gorjeta<br />
d<strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong>.<br />
Outr<strong>os</strong> taxistas agenciam a própria esp<strong>os</strong>a, levan<strong>do</strong>-a e buscan<strong>do</strong> no motel,<br />
acompanhadas <strong>do</strong> <strong>estrangeiro</strong>/cliente. Outr<strong>os</strong> taxistas são intermediári<strong>os</strong> <strong>na</strong> compra <strong>de</strong><br />
drogas para <strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong>, há também <strong>os</strong> que fo<strong>rn</strong>ec<strong>em</strong> e utilizam seus táxis como<br />
loja, são irregulares e não são peg<strong>os</strong> pela fiscalização porque esta atua somente durante<br />
o dia.<br />
Enquanto entrevistava o senhor Jorge, um hom<strong>em</strong>, <strong>de</strong> tamanho inibi<strong>do</strong>r, ficou<br />
b<strong>em</strong> próximo, acredito que para escutar sobre o assunto trata<strong>do</strong>, já que o taxista estava<br />
<strong>na</strong> fila, aguardan<strong>do</strong> sua vez para pegar passageir<strong>os</strong> e eu o acompanhava à medida que o<br />
fila diminuía, mas continuei a entrevista, encarei este senhor que parecia fiscalizar <strong>os</strong><br />
outr<strong>os</strong> taxistas (também uniformiza<strong>do</strong>), logo <strong>de</strong>pois ele saiu e pr<strong>os</strong>segui a entrevista.<br />
Talvez <strong>os</strong> taxistas, sejam <strong>os</strong> mais envolvid<strong>os</strong> com as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> exploração<br />
sexual e drogas, o fato <strong>de</strong> ape<strong>na</strong>s <strong>do</strong>is <strong>de</strong>sses profissio<strong>na</strong>is, das cente<strong>na</strong>s que havia <strong>na</strong>s<br />
ruas <strong>de</strong> Ponta Negra todas as noites, m<strong>os</strong>tra claramente o envolvimento <strong>de</strong>sses que<br />
obtém gran<strong>de</strong>s lucr<strong>os</strong> com a inserção <strong>do</strong> dinheiro <strong>estrangeiro</strong>, crian<strong>do</strong> uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
profissio<strong>na</strong>is, comprometid<strong>os</strong> com capital a qualquer preço.<br />
52
CAPÍTULO III<br />
3.1 Reação da socieda<strong>de</strong><br />
53<br />
Artigo.145. Os estad<strong>os</strong> e o Distrito Fe<strong>de</strong>ral po<strong>de</strong>rão criar varas<br />
especializadas e exclusivas da infância e da juventu<strong>de</strong>, caben<strong>do</strong> ao<br />
Po<strong>de</strong>r Judiciário estabelecer sua proporcio<strong>na</strong>lida<strong>de</strong> por numero <strong>de</strong><br />
habitantes, <strong>do</strong>tá-las <strong>de</strong> infra-estrutura e dispor sobre o atendimento,<br />
inclusive <strong>em</strong> plantões. (ESTATUTO DA CRIANÇA e DO<br />
ADOLESCENTE, 2005, p.38).<br />
Houve certa dificulda<strong>de</strong> <strong>na</strong> realização <strong>de</strong>ssas entrevistas, pois estes órgã<strong>os</strong> se<br />
encontraram disponíveis para atendimento após o car<strong>na</strong>val (SETUR, RESPOSTA e<br />
Casa Re<strong>na</strong>scer). Visto que sua colaboração foi pouco significativa diante das revelações<br />
obtidas <strong>na</strong>s ruas. A impressão que estes órgã<strong>os</strong> passam é que a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ponta Negra<br />
faz parte <strong>do</strong> conhecimento <strong>de</strong> tod<strong>os</strong>, mas há algo maior, que faz com que crianças e<br />
a<strong>do</strong>lescente continu<strong>em</strong> <strong>na</strong>s ruas ven<strong>de</strong>n<strong>do</strong> drogas e se pr<strong>os</strong>tituin<strong>do</strong> e muit<strong>os</strong> envolvid<strong>os</strong><br />
continu<strong>em</strong> impunes.<br />
Realizei entrevista no Box <strong>de</strong> informações turísticas, subordi<strong>na</strong><strong>do</strong> SECTUR,<br />
ligada ao município que utilizava cartazes, fol<strong>de</strong>r, panflet<strong>os</strong> <strong>de</strong> conscientização e<br />
combate à exploração sexual, lançad<strong>os</strong> pelo município ou instituições ligadas a causa<br />
como as ONGs, contra o <strong>turismo</strong> sexual, uma <strong>de</strong>ssas ilustrada <strong>na</strong> Figura 5. Mas não<br />
muito preparo ou informação completa sobre qual atitu<strong>de</strong> concreta o gove<strong>rn</strong>o realiza,<br />
contra esta atitu<strong>de</strong>.
Figura 5 – Fol<strong>de</strong>r <strong>de</strong> campanha 2008, conten<strong>do</strong> as frases <strong>em</strong> duas<br />
línguas “Ela não ira te proteger da vergonha” e “Turismo sexual é<br />
uma séria ofensa. Acaba com sua reputação e a cida<strong>de</strong> também.<br />
Será trata<strong>do</strong> com o máximo rigor. Não termine suas férias mais<br />
ce<strong>do</strong>”. Fonte: Box <strong>de</strong> informações turísticas, Praia Shopping.<br />
Márcia 17 <strong>de</strong> quarenta e quatro an<strong>os</strong>, foi a entrevistada <strong>de</strong>ste balcão <strong>de</strong><br />
informações, também p<strong>os</strong>suía conhecimento <strong>em</strong> língua estrangeira, utilizava um méto<strong>do</strong><br />
para “<strong>de</strong>sviar” <strong>os</strong> turistas das rotas <strong>de</strong> <strong>turismo</strong> sexual, ela afirma que informava locais<br />
“sadi<strong>os</strong>” para passeio, essa seria uma forma <strong>de</strong> manter o público mais familiar<br />
freqüentan<strong>do</strong> <strong>os</strong> mesm<strong>os</strong> locais.<br />
O <strong>turismo</strong> sexual, diz ter si<strong>do</strong> leva<strong>do</strong> a cida<strong>de</strong> pel<strong>os</strong> italian<strong>os</strong>, espanhóis e suíç<strong>os</strong><br />
<strong>de</strong> baixa renda e nível cultural, exercen<strong>do</strong> sub-profissões, que têm seu po<strong>de</strong>r aquisitivo<br />
eleva<strong>do</strong> pela conversão da moeda euro <strong>em</strong> real.<br />
Há <strong>do</strong>is an<strong>os</strong> segun<strong>do</strong> ela, estavam sen<strong>do</strong> realizadas ações <strong>de</strong> redução e combate<br />
ao <strong>turismo</strong> sexual, como a da Policia Fe<strong>de</strong>ral juntamente com a Secretaria <strong>de</strong> Turismo<br />
fechou a boate Ilha da Fantasia, logo após foram instaladas câmeras <strong>na</strong> orla da <strong>praia</strong>, <strong>na</strong><br />
tentativa <strong>de</strong> inibir a pratica. O shopping que servia <strong>de</strong> ponto <strong>de</strong> encontro para<br />
estrangeir<strong>os</strong> e pr<strong>os</strong>titutas, passou a ser b<strong>em</strong> freqüenta<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> houve melhorias <strong>em</strong><br />
sua infra-estrutura, que segun<strong>do</strong> ela, serviram <strong>de</strong> repelente <strong>de</strong>sse público.<br />
E algo que beneficiou a imag<strong>em</strong> <strong>do</strong> nor<strong>de</strong>ste e dificultou a entrada <strong>de</strong><br />
estrangeir<strong>os</strong> “mal intencio<strong>na</strong>d<strong>os</strong>” no Brasil, foi a operação realizada, impedin<strong>do</strong> a<br />
entrada <strong>de</strong> aviões conten<strong>do</strong> ape<strong>na</strong>s homens, evitan<strong>do</strong> negociações <strong>de</strong> vô<strong>os</strong> fretad<strong>os</strong>,<br />
trazen<strong>do</strong> exclusivamente esses turistas. Mas essa medida preventiva, proibição <strong>de</strong> vô<strong>os</strong><br />
17 Os nomes dad<strong>os</strong> a<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> foram modificad<strong>os</strong>, para preservar a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> d<strong>os</strong> mesm<strong>os</strong>.<br />
54
charter exclusivamente masculin<strong>os</strong> está sen<strong>do</strong> driblada pel<strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong> que<br />
<strong>de</strong>s<strong>em</strong>barcam <strong>em</strong> Recife ou Fortaleza, ali há muito mais <strong>turismo</strong> sexual e ainda se<br />
permite esse tipo <strong>de</strong> vôo que se <strong>de</strong>slocam até Natal por transporte ro<strong>do</strong>viário com o<br />
mesmo objetivo, o <strong>do</strong> <strong>turismo</strong> sexual.<br />
Na SETUR encontrei <strong>do</strong><strong>na</strong> Joa<strong>na</strong> 18 , com sessenta e cinco an<strong>os</strong> <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, chefe <strong>do</strong><br />
setor <strong>de</strong> informações turísticas <strong>do</strong> gove<strong>rn</strong>o, a única entrevistada da secretaria, assim que<br />
cheguei fui indicada a conversar com ela. Procurei durante s<strong>em</strong>a<strong>na</strong>s uma pessoa que<br />
estivesse <strong>em</strong> cargo mais alto, mas nunca o encontrava <strong>na</strong> SETUR, era o que me diziam<br />
todas às vezes.<br />
No caso <strong>do</strong> <strong>turismo</strong> sexual, ela diz que <strong>os</strong> órgã<strong>os</strong> <strong>do</strong> município é que são<br />
responsáveis. O trabalho <strong>do</strong> gove<strong>rn</strong>o é realizar a conscientização <strong>na</strong>s ro<strong>do</strong>viárias e<br />
aeroport<strong>os</strong>, distribuin<strong>do</strong> panflet<strong>os</strong> e cartazes e p<strong>os</strong>su<strong>em</strong> ainda um Box <strong>de</strong> informação,<br />
que também distribui material <strong>de</strong> conscientização. Há pe<strong>na</strong>lida<strong>de</strong>s para <strong>os</strong> homens que<br />
for<strong>em</strong> peg<strong>os</strong> pratican<strong>do</strong> exploran<strong>do</strong> crianças ou a<strong>do</strong>lescentes. A maioria d<strong>os</strong> cas<strong>os</strong><br />
registrad<strong>os</strong> foi com estrangeir<strong>os</strong>.<br />
Na tentativa <strong>de</strong> diminuir este probl<strong>em</strong>a, foram instaladas câmeras <strong>na</strong> orla <strong>de</strong><br />
Ponta Negra, para controle <strong>do</strong> <strong>turismo</strong> sexual, <strong>na</strong>quele local <strong>os</strong> <strong>do</strong>n<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />
estabelecimento e funcionári<strong>os</strong> <strong>de</strong> hotel, apoiavam e incentivavam a prática <strong>do</strong> sexo. O<br />
papel <strong>do</strong> gove<strong>rn</strong>o t<strong>em</strong> si<strong>do</strong> dar apoio a iniciativas da prefeitura, principalmente <strong>na</strong> alta<br />
t<strong>em</strong>porada 19 .<br />
A população <strong>de</strong> Natal conhece o histórico <strong>de</strong> Ponta Negra e sua realida<strong>de</strong>,<br />
portanto <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> freqüentar o local, não quer presenciar ce<strong>na</strong>s <strong>de</strong> pr<strong>os</strong>tituição, ou seja,<br />
se omite.<br />
A população, representada pel<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong>, t<strong>em</strong> a opinião <strong>de</strong> que <strong>de</strong>via ter o<br />
controle rigor<strong>os</strong>o sobre a entrada <strong>de</strong> estrangeir<strong>os</strong> <strong>na</strong> cida<strong>de</strong>, por transporte ro<strong>do</strong>viário<br />
com o qual chegam livr<strong>em</strong>ente, como pel<strong>os</strong> vô<strong>os</strong> exclusivamente comp<strong>os</strong>to por homens<br />
e que ainda são permitid<strong>os</strong> <strong>em</strong> capitais como Recife e Fortaleza.<br />
Escutan<strong>do</strong> opiniões tão parecidas <strong>de</strong> representantes <strong>do</strong> gove<strong>rn</strong>o e <strong>do</strong> município,<br />
mais uma vez t<strong>em</strong>-se a impressão <strong>de</strong> que órgã<strong>os</strong> públic<strong>os</strong> <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Norte estão<br />
unid<strong>os</strong> num mesmo discurso fraco, que não p<strong>os</strong>sui planejamento básico com relação às<br />
situações que o <strong>turismo</strong> v<strong>em</strong> ocasio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> <strong>na</strong> cida<strong>de</strong> e as condições <strong>em</strong> que a população<br />
18 Os nomes dad<strong>os</strong> a<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> foram modificad<strong>os</strong>, para preservar a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> d<strong>os</strong> mesm<strong>os</strong>.<br />
19 Termo utiliza<strong>do</strong> para se referir ao t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> férias, que vai d<strong>os</strong> meses <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro a fevereiro, é<br />
quan<strong>do</strong> há maior fluxo <strong>de</strong> visitantes.<br />
55
está viven<strong>do</strong>, já que <strong>de</strong>ixam a responsabilida<strong>de</strong> ape<strong>na</strong>s às ONGs ou a<strong>os</strong> programas<br />
criad<strong>os</strong> para tratar <strong>do</strong> assunto.<br />
Segun<strong>do</strong> o ECA - Estatuto da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente, o Conselho Tutelar,<br />
previsto o artigo 131: “...é um órgão permanente e autônomo, não jurisdicio<strong>na</strong>l,<br />
encarrega<strong>do</strong> pela socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> zelar pelo cumprimento d<strong>os</strong> direit<strong>os</strong> da criança e <strong>do</strong><br />
a<strong>do</strong>lescente, <strong>de</strong>finid<strong>os</strong> nesta Lei.”, p. 35<br />
Procurei o Conselho Tutelar da Zo<strong>na</strong> Sul, e conversei com a psicóloga e com a<br />
assistente social, ambas pareciam estar com muita pressa e respondiam rapidamente as<br />
perguntas, <strong>de</strong> uma maneira confusa. Foi p<strong>os</strong>sível enten<strong>de</strong>r, que é um órgão liga<strong>do</strong> ao<br />
município, permanente e autônomo, não jurisdicio<strong>na</strong>l que trata <strong>de</strong> cas<strong>os</strong> <strong>em</strong> que há<br />
exploração sexual e outr<strong>os</strong> envolven<strong>do</strong> crianças e a<strong>do</strong>lescentes. O conselho trabalha<br />
com medidas <strong>de</strong> proteção, como requisição <strong>de</strong> serviç<strong>os</strong> públic<strong>os</strong> a<strong>de</strong>quad<strong>os</strong> às crianças e<br />
a<strong>do</strong>lescentes, notificar <strong>os</strong> pais ou responsáveis <strong>de</strong> suas obrigações.<br />
Então há cas<strong>os</strong> <strong>em</strong> que as assistentes sociais se encaminham ao local da<br />
ocorrência, que são d<strong>os</strong> tip<strong>os</strong> aban<strong>do</strong>no e exploração, quan<strong>do</strong> as famílias estão<br />
envolvidas o caso é encaminha<strong>do</strong> para a Delegacia da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente e<br />
quan<strong>do</strong> houver uma <strong>de</strong>núncia por terceir<strong>os</strong> encaminham à <strong>de</strong>legacia <strong>do</strong> bairro.<br />
O Conselho Tutelar participa <strong>na</strong>s campanhas e programas <strong>de</strong> prevenção, com<br />
permissão <strong>do</strong> gove<strong>rn</strong>o e um trabalho liga<strong>do</strong> a UNICEF. Há um número <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l <strong>do</strong><br />
disque <strong>de</strong>nuncia, 100, pelo qual o conselho aten<strong>de</strong> também <strong>em</strong> Natal.<br />
As conselheiras me indicaram as ONGs Casa Re<strong>na</strong>scer e RESPOSTA, ali<br />
consegui realizar entrevistas e não me <strong>de</strong>ram mais <strong>de</strong>talhes, alegan<strong>do</strong> não ter t<strong>em</strong>po e<br />
indican<strong>do</strong> <strong>os</strong> lugares <strong>em</strong> que iria obter melhores informações sobre o assunto.<br />
Durante <strong>os</strong> três meses <strong>de</strong> permanência <strong>na</strong> cida<strong>de</strong> não notei, nenhuma<br />
mobilização social, manifestações, mudança <strong>de</strong> p<strong>os</strong>tura com relação a<strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong>,<br />
existência <strong>de</strong> fiscalização notur<strong>na</strong>, preocupação verda<strong>de</strong>ira com a educação e a infância<br />
e muitas outras atitu<strong>de</strong>s que po<strong>de</strong>riam <strong>de</strong> alguma maneira mudar significativamente a<br />
situação relacio<strong>na</strong>da ao fluxo <strong>de</strong> estrangeir<strong>os</strong> no esta<strong>do</strong>, seus <strong>de</strong>sej<strong>os</strong> e objetiv<strong>os</strong> no país,<br />
a oferta d<strong>os</strong> “produt<strong>os</strong>” pel<strong>os</strong> quais estão <strong>em</strong> busca, a consciência da população, o grau<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência das famílias e as garotas que se pr<strong>os</strong>titu<strong>em</strong> seus motiv<strong>os</strong>, talvez isso<br />
custe a acontecer ou não aconteça.<br />
Há um elo muito forte e difícil <strong>de</strong> ser rompi<strong>do</strong>, entre pessoas que praticam o<br />
sexo comercial e são fi<strong>na</strong>nceira ou organicamente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>ste, como <strong>os</strong><br />
beneficiári<strong>os</strong> <strong>de</strong>ste comércio que enriquece <strong>os</strong> envolvid<strong>os</strong>, como <strong>do</strong>n<strong>os</strong> <strong>de</strong> pousadas,<br />
56
ares, boates (que <strong>na</strong> visão da <strong>de</strong>legada da DCA, não <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rad<strong>os</strong><br />
explora<strong>do</strong>res, pois <strong>de</strong> alguma forma se beneficiam <strong>do</strong> “merca<strong>do</strong> <strong>do</strong> sexo”) que são<br />
favoráveis e incentivam a prática, principalmente quan<strong>do</strong> o dinheiro <strong>estrangeiro</strong> estiver<br />
fazen<strong>do</strong> parte <strong>de</strong> seus lucr<strong>os</strong>.<br />
Assim como <strong>os</strong> taxistas são capazes <strong>de</strong> aliciar as esp<strong>os</strong>as <strong>em</strong> busca d<strong>os</strong> lucr<strong>os</strong><br />
obtid<strong>os</strong> (<strong>em</strong> eur<strong>os</strong> e dólares), com a venda <strong>de</strong> drogas a<strong>os</strong> mesm<strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong> que<br />
circulam tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> dias pela orla <strong>de</strong> Ponta Negra e são ameaçad<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> policiais,<br />
coerentes com exploração <strong>de</strong> menores e prática <strong>de</strong> extorsão.<br />
Muit<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> interesses faz<strong>em</strong> parte <strong>de</strong>sse merca<strong>do</strong>, cujo o principal produto é o<br />
sexo. Tal merca<strong>do</strong> só p<strong>os</strong>sibilitou a <strong>de</strong>scoberta das situações mais comuns, <strong>de</strong><br />
conhecimento da maioria.<br />
O me<strong>do</strong> d<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> <strong>de</strong> revelar sobre o assunto não permitiu<br />
aprofundamento nesse mun<strong>do</strong> obscuro, que é o <strong>do</strong> sexo, ofereci<strong>do</strong> a<strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong> <strong>na</strong><br />
Praia <strong>de</strong> Ponta Negra, <strong>em</strong> Natal, Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Norte.<br />
Muit<strong>os</strong> fat<strong>os</strong> po<strong>de</strong>riam ser citad<strong>os</strong> nesta pesquisa, mas não foram <strong>de</strong>scobert<strong>os</strong><br />
<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao me<strong>do</strong> que as pessoas tinham <strong>em</strong> tratar <strong>de</strong> assunto comum <strong>em</strong> seu cotidiano,<br />
mas um tabu para conversas mais profundas.<br />
3.2 Casa Re<strong>na</strong>scer<br />
Umas das Ongs entrevistadas é a Casa Re<strong>na</strong>scer, fundada há <strong>de</strong>zessete an<strong>os</strong> com<br />
o objetivo <strong>de</strong> acolher meni<strong>na</strong>s <strong>de</strong> rua, funcio<strong>na</strong> hoje como uma CEDECA (Centro <strong>de</strong><br />
Defesa da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente). Assim <strong>em</strong> 2007, a casa passa a exercer um papel<br />
político e passa a atuar <strong>na</strong> <strong>de</strong>fesa infanto-juvenil, realizan<strong>do</strong> atendimento psic<strong>os</strong>social e<br />
responsabilização d<strong>os</strong> agressores, através <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncias realizadas.<br />
Então a Casa atua a partir <strong>de</strong> encaminhament<strong>os</strong> <strong>do</strong> Conselho Tutelar, SOS<br />
criança, Delegacia da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente e também através <strong>de</strong> <strong>de</strong>manda<br />
espontânea (família, vizinh<strong>os</strong>, a<strong>do</strong>lescentes) que procuram apoio <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> da<br />
situação. Para esses atendiment<strong>os</strong> a casa conta com <strong>do</strong>is profissio<strong>na</strong>is da área <strong>de</strong><br />
psicologia, um assistente social, um advoga<strong>do</strong> e um pedagogo. O trabalho é realiza<strong>do</strong><br />
durante um ano com atendiment<strong>os</strong> individuais ou terapia familiar, visitas <strong>na</strong> casa da<br />
criança ou a<strong>do</strong>lescente envolvida.<br />
57
Um projeto está sen<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> <strong>em</strong> parceria com parceria <strong>do</strong> instituto liga<strong>do</strong> a<br />
uma organização inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. Este t<strong>em</strong> por objetivo promover a integração da escola,<br />
família e comunida<strong>de</strong>, para que haja sensibilização <strong>de</strong> tod<strong>os</strong>, realizam palestras abertas à<br />
comunida<strong>de</strong>, trabalho com um grupo <strong>de</strong> vinte alun<strong>os</strong> (formação <strong>de</strong> multiplica<strong>do</strong>res que<br />
compreendam seus direit<strong>os</strong> e <strong>de</strong>veres), além <strong>de</strong> capacitação <strong>de</strong> tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> professores.<br />
A entrevistada, coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>ra política pedagógica da Casa, Sayo<strong>na</strong>ra (trinta e um<br />
an<strong>os</strong>) diz que sabe da existência das re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> exploração, mas que o acesso a essas é<br />
difícil, e que há muit<strong>os</strong> beneficiári<strong>os</strong> (guias, taxistas, funcionári<strong>os</strong> e proprietári<strong>os</strong><br />
hoteleir<strong>os</strong>, famílias), tor<strong>na</strong>n<strong>do</strong> a re<strong>de</strong> cada vez mais fechada e segura.<br />
Quan<strong>do</strong> <strong>os</strong> profissio<strong>na</strong>is da Casa por meio <strong>de</strong> um atendimento tomam<br />
conhecimento da existência <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> exploração e p<strong>os</strong>síveis alicia<strong>do</strong>res<br />
mobilizam a Delegacia da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente (DCA) para iniciar um processo <strong>de</strong><br />
investigação, também a<strong>ponta</strong>m como responsáveis por isso outras <strong>de</strong>legacias e a Polícia<br />
Fe<strong>de</strong>ral. “A <strong>praia</strong> <strong>de</strong> Ponta Negra é uma vidraça <strong>do</strong> sexo <strong>turismo</strong>, as <strong>praia</strong>s <strong>do</strong> Meio e<br />
Redinha, que são urba<strong>na</strong>s também viv<strong>em</strong> da exploração intensa, e isto não ocorre<br />
somente <strong>na</strong>s <strong>praia</strong>s; as comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Natal também estão inseridas nessa<br />
ativida<strong>de</strong>.”disse Sayo<strong>na</strong>ra.<br />
Ela ainda diz: “que <strong>em</strong> Ponta Negra a situação é visada <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao <strong>turismo</strong><br />
intenso, há alicia<strong>do</strong>res e re<strong>de</strong>s articuladas às meni<strong>na</strong>s, que lhes fo<strong>rn</strong>ece <strong>do</strong>cument<strong>os</strong><br />
fals<strong>os</strong>, drogas, clientes. A associação direta da exploração a drogas e álcool, que<br />
acabam dan<strong>do</strong> outra fisionomia a essas garotas, b<strong>em</strong> como suas vestimentas,<br />
maquiag<strong>em</strong>, passan<strong>do</strong> a falsa impressão <strong>de</strong> que são garotas mais velhas, quan<strong>do</strong> <strong>na</strong><br />
verda<strong>de</strong> são a<strong>do</strong>lescentes. Mas essas re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> exploração sexual, não são <strong>de</strong> fácil<br />
acesso, pelo contrário são muito b<strong>em</strong> veladas”.<br />
Na entrevista da coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>ra político-pedagógica, contou que aten<strong>de</strong>u um caso<br />
<strong>de</strong> uma criança <strong>de</strong> onze an<strong>os</strong>, cuja mãe a aliciava e recebia to<strong>do</strong> o dinheiro d<strong>os</strong><br />
programas que realizava. Durante <strong>os</strong> atendiment<strong>os</strong> <strong>de</strong>sse caso a família não reconhecia<br />
suas atitu<strong>de</strong>s, e segun<strong>do</strong> estud<strong>os</strong>, há cas<strong>os</strong> como esses <strong>em</strong> que as crianças passam por<br />
abus<strong>os</strong> intra-familiares e por isso não ocorr<strong>em</strong> <strong>de</strong>núncias.<br />
A Casa atua com atendiment<strong>os</strong> psicológic<strong>os</strong>, <strong>de</strong> serviço social, pedagógico <strong>em</strong><br />
ofici<strong>na</strong>s <strong>de</strong> arte-educação, a crianças e a<strong>do</strong>lescentes e também realizam trabalho<br />
quinze<strong>na</strong>l com as famílias e <strong>em</strong> cas<strong>os</strong> que necessit<strong>em</strong> <strong>de</strong> maior compreensão utilizam a<br />
terapia familiar e um atendimento envolven<strong>do</strong> a a<strong>na</strong>lise da equipe <strong>de</strong> profissio<strong>na</strong>is.<br />
58
Um d<strong>os</strong> projet<strong>os</strong> <strong>de</strong>senvolvid<strong>os</strong> fora da Casa passa por fase <strong>de</strong> teste ainda, esta<br />
sen<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> <strong>em</strong> três escolas da re<strong>de</strong> publica da cida<strong>de</strong> e trabalha com<br />
conscientização e sensibilização d<strong>os</strong> alun<strong>os</strong> e professores, que funcio<strong>na</strong> com grup<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />
vinte, para facilitar-lhes a compreensão d<strong>os</strong> direit<strong>os</strong> e <strong>de</strong>veres, que juntamente com<br />
professores, que se tor<strong>na</strong>m multiplica<strong>do</strong>res <strong>de</strong>sse conhecimento. Também acontec<strong>em</strong><br />
palestras <strong>na</strong> escola, aberta a toda a comunida<strong>de</strong>, com o mesmo objetivo.<br />
O trabalho está foca<strong>do</strong> hoje <strong>na</strong>s vitimas <strong>de</strong> violência e exploração sexual, com<br />
as quais não obtive autorização para participar <strong>de</strong> alguma reunião, conversar ou ape<strong>na</strong>s<br />
observar <strong>os</strong> menores, que são ape<strong>na</strong>s <strong>do</strong> sexo f<strong>em</strong>inino. Hoje exist<strong>em</strong> discussões <strong>de</strong>ntro<br />
da Casa a respeito da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atendimento com menin<strong>os</strong>, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à <strong>de</strong>manda <strong>de</strong><br />
cas<strong>os</strong> ocorrid<strong>os</strong>.<br />
Para a coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>ra, Ponta Negra aparece <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao seu intenso fluxo turístico,<br />
algo muito prejudicial para a cida<strong>de</strong>, mas que passa a ser inevitável <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a<strong>os</strong><br />
interesses gerad<strong>os</strong> <strong>em</strong> to<strong>rn</strong>o d<strong>os</strong> <strong>em</strong>preendiment<strong>os</strong> turístic<strong>os</strong> <strong>de</strong> uma rua inteira que se<br />
beneficiam <strong>do</strong> “sexo vendi<strong>do</strong>”, b<strong>em</strong> como seus produt<strong>os</strong> <strong>de</strong> h<strong>os</strong>pedag<strong>em</strong>, alimentação,<br />
bebidas alcoólicas e drogas, vendidas <strong>na</strong>s ruas.<br />
Os alicia<strong>do</strong>res exist<strong>em</strong>, mas provavelmente continuarão a existir, enquanto<br />
houver pessoas que facilit<strong>em</strong> e se benefici<strong>em</strong> <strong>de</strong> sua existência e praticas ilegais<br />
mantidas. A ONG entra <strong>em</strong> confronto com questões muito objetivas, o dinheiro que<br />
essas garotas receb<strong>em</strong> não as <strong>de</strong>ixa se <strong>de</strong>svincular da situação e como a maioria, acaba<br />
<strong>na</strong>s ruas a procura <strong>de</strong> um turista que lhe pague uma pousada que não exija <strong>do</strong>cument<strong>os</strong>,<br />
um bar que lhes venda bebidas, e locais que facilit<strong>em</strong> e incentiv<strong>em</strong> sua presença.<br />
3.3 Responsabilida<strong>de</strong> Social P<strong>os</strong>ta <strong>em</strong> Prática<br />
Na Ong RESPOSTA, realizei entrevista com a coor<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>do</strong>ra <strong>do</strong> setor <strong>de</strong> estud<strong>os</strong>,<br />
Liliane, vinte e nove an<strong>os</strong>, que trabalha diretamente com o setor turístico. Devi<strong>do</strong> ao<br />
crescimento <strong>do</strong> <strong>turismo</strong> no esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Norte e à irresponsabilida<strong>de</strong> social<br />
causada pel<strong>os</strong> setores da indústria <strong>do</strong> <strong>turismo</strong>, surge então uma preocupação com a<br />
proteção <strong>de</strong> crianças e a<strong>do</strong>lescentes explorad<strong>os</strong> sexualmente <strong>em</strong> <strong>de</strong>corrência disto.<br />
59<br />
Toman<strong>do</strong> <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração o crescimento rápi<strong>do</strong> e contínuo, não só<br />
passa<strong>do</strong> como previsível, da activida<strong>de</strong> turística, que resulta <strong>de</strong><br />
motivações <strong>de</strong> lazer, negóci<strong>os</strong>, cultura, religião ou saú<strong>de</strong>, e produz
60<br />
po<strong>de</strong>r<strong>os</strong><strong>os</strong> efeit<strong>os</strong>, p<strong>os</strong>itiv<strong>os</strong> e negativ<strong>os</strong>, no ambiente, economia e<br />
socieda<strong>de</strong> d<strong>os</strong> países <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> e <strong>de</strong>stino, <strong>na</strong>s comunida<strong>de</strong>s locais e<br />
populações autóctones, e <strong>na</strong>s relações e trocas inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is;<br />
(CÓDIGO MUNDIAL DE ÉTICA NO TURISMO, p.1).<br />
Figura 6 - Logo e abertura. Fonte: site da ONG RESPOSTA.<br />
Basea<strong>do</strong> <strong>em</strong> convenções, pact<strong>os</strong> e acord<strong>os</strong> como o Código Mundial <strong>de</strong> Ética no<br />
Turismo, convenção sobre <strong>os</strong> direit<strong>os</strong> das crianças, conforme cita<strong>do</strong> no Código,<br />
Convenção relativa a<strong>os</strong> Direit<strong>os</strong> da Criança, <strong>de</strong> 26 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1990, elabora-se<br />
Código <strong>de</strong> Conduta <strong>do</strong> Turismo contra Exploração Sexual Infanto-Juvenil. Realiza<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
forma participativa, com representantes <strong>de</strong> divers<strong>os</strong> segment<strong>os</strong> gover<strong>na</strong>mentais e não-<br />
gover<strong>na</strong>mentais da socieda<strong>de</strong> norte-rio-gran<strong>de</strong>nse durante um s<strong>em</strong>inário no ano <strong>de</strong><br />
2001.<br />
O Código apresenta-se <strong>em</strong> seis línguas, elabora<strong>do</strong> para orientar e nortear<br />
estabeleciment<strong>os</strong> que <strong>de</strong>sejar<strong>em</strong> então estes ligad<strong>os</strong> ao setor turístico que estiver<strong>em</strong><br />
es<strong>ponta</strong>neamente interessad<strong>os</strong> entra <strong>em</strong> contato com a Resp<strong>os</strong>ta.<br />
O selo é basea<strong>do</strong> <strong>em</strong> princípi<strong>os</strong> estabelecid<strong>os</strong> no Código <strong>de</strong> Conduta <strong>do</strong> Turismo<br />
Contra a Exploração Sexual Infanto-Juvenil, que fora discuti<strong>do</strong> e i<strong>de</strong>aliza<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma<br />
participativa, com representantes <strong>de</strong> divers<strong>os</strong> segment<strong>os</strong> <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>, no S<strong>em</strong>inário<br />
realiza<strong>do</strong> <strong>em</strong> ag<strong>os</strong>to <strong>de</strong> 2001, que <strong>de</strong>liberou entre outr<strong>os</strong> <strong>os</strong> capítul<strong>os</strong>, o primeiro, d<strong>os</strong><br />
objetiv<strong>os</strong> e da a<strong>de</strong>são, cita<strong>do</strong> a seguir:<br />
Artigo 1 - O presente código é uma <strong>de</strong>claração formal, <strong>de</strong> livre a<strong>de</strong>são,<br />
<strong>de</strong>sti<strong>na</strong>da a orientar e regular a conduta ética <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas, pessoas e<br />
serviç<strong>os</strong> direta ou indiretamente vinculad<strong>os</strong> à indústria <strong>do</strong> <strong>turismo</strong>,<br />
contra a exploração sexual infanto-juvenil. (Código <strong>de</strong> Conduta <strong>do</strong><br />
Turismo Contra a Exploração Sexual Infanto-Juvenil, 2001, p.2).
Este <strong>do</strong>cumento m<strong>os</strong>tra parte <strong>de</strong> preocupação existente <strong>na</strong> cida<strong>de</strong> e mobilização<br />
<strong>de</strong> uma organização, que não esta vinculada ao gove<strong>rn</strong>o e presta s<strong>em</strong> cust<strong>os</strong> um serviço<br />
a<strong>os</strong> estabeleciment<strong>os</strong> turístic<strong>os</strong>, preocupada com sua conduta e tratamento as crianças e<br />
a<strong>do</strong>lescentes locais, voltad<strong>os</strong> para o reflexo causa<strong>do</strong> pelo <strong>turismo</strong>.<br />
O trabalho da ONG é primeiramente a<strong>na</strong>lisar <strong>os</strong> fol<strong>de</strong>r e publicida<strong>de</strong> da <strong>em</strong>presa,<br />
b<strong>em</strong> como sua imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> venda, verificar a coerência <strong>do</strong> estabelecimento com as<br />
imagens e palavras que divulga <strong>de</strong> si e <strong>do</strong> local.<br />
Depois é solicitada a presença da Vara <strong>de</strong> Infância, Justiça Fe<strong>de</strong>ral e Estadual,<br />
através <strong>do</strong> comitê <strong>de</strong> monitoramento, e que se faça a análise <strong>do</strong> histórico <strong>do</strong> <strong>em</strong>presário<br />
e <strong>em</strong>ita uma certidão negativa. O segun<strong>do</strong> passo é a visita ao estabelecimento, para<br />
verificação <strong>de</strong> seu ento<strong>rn</strong>o, comportamento d<strong>os</strong> funcionári<strong>os</strong>, caso seja necessário é<br />
envia<strong>do</strong> o chama<strong>do</strong> “cliente oculto”, uma pessoa contratada para realizar uma<br />
observação e sondag<strong>em</strong> <strong>do</strong> local, fi<strong>na</strong>lmente se tu<strong>do</strong> correr b<strong>em</strong> a <strong>em</strong>presa recebe um<br />
selo, o Selo Paulo Freire <strong>de</strong> Ética no Turismo. To<strong>do</strong> esse serviço não é cobra<strong>do</strong>,<br />
somente se cobra uma taxa pela <strong>em</strong>issão <strong>do</strong> selo, pois há uma ligação com o SEBRAE.<br />
A pretensão da Resp<strong>os</strong>ta agora é a realização <strong>do</strong> Manual <strong>de</strong> Boas Práticas para<br />
Bares e Restaurantes, também o manual para Agente <strong>de</strong> Viagens, <strong>em</strong> parceria com<br />
ABAV e ABH <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. A ONG não aten<strong>de</strong> vítimas <strong>de</strong> violência ou exploração, o que<br />
faz<strong>em</strong> é o encaminhamento <strong>de</strong>ssas à DCA, ao Sentinela (programa <strong>de</strong> assistência) e à<br />
Casa Re<strong>na</strong>scer.<br />
A ONG preten<strong>de</strong> realizar um projeto <strong>na</strong>s vilas mais afetadas pelo <strong>turismo</strong>, <strong>na</strong>s<br />
escolas da Favela da África, <strong>praia</strong> da Redinha, Farol <strong>de</strong> Mãe Luíza, subsidia<strong>do</strong> por<br />
órgã<strong>os</strong> da União Européia. Seriam ofici<strong>na</strong>s <strong>de</strong> capacitação <strong>de</strong> jovens, ensi<strong>na</strong>n<strong>do</strong>-lhes<br />
funções <strong>de</strong> uma produtora <strong>de</strong> TV, com as crianças e a<strong>do</strong>lescentes <strong>de</strong> escolas públicas,<br />
além <strong>de</strong> ofici<strong>na</strong>s <strong>de</strong> direito e proteção, realizan<strong>do</strong> visitas n<strong>os</strong> locais que asseguram esses<br />
direit<strong>os</strong>.<br />
O Conselho Tutelar da Zo<strong>na</strong> Sul, liga<strong>do</strong> ao po<strong>de</strong>r executivo municipal, trabalha<br />
com qualquer caso que envolva crianças e a<strong>do</strong>lescentes, também exploração sexual.<br />
Aten<strong>de</strong>m ocorrências, <strong>de</strong>núncias <strong>de</strong> aban<strong>do</strong>no e exploração, quan<strong>do</strong> houver famílias<br />
envolvidas encaminham para a DCA, que solicita presença d<strong>os</strong> pais ou responsáveis.<br />
São tomadas medidas <strong>de</strong> proteção notificam <strong>os</strong> pais <strong>de</strong> suas obrigações e requisitam<br />
serviç<strong>os</strong> públic<strong>os</strong> (educação, saú<strong>de</strong>, segurança) que estejam falh<strong>os</strong>.<br />
Em Natal há um conselho por região, seu trabalho é <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as leis <strong>do</strong><br />
ECA, a <strong>praia</strong> <strong>de</strong> Ponta Negra pertence ao da Zo<strong>na</strong> Sul, entrevista<strong>do</strong>. O fato <strong>de</strong> a a<strong>de</strong>são<br />
61
ao Código <strong>de</strong> Conduta <strong>do</strong> Turismo Contra Exploração Sexual Infanto-Juvenil, ser<br />
espontânea, tor<strong>na</strong> a conscientização e o combate, lent<strong>os</strong>. Proporcio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> que <strong>em</strong> locais,<br />
on<strong>de</strong> o maior número <strong>de</strong> <strong>em</strong>preendiment<strong>os</strong> estiver interessa<strong>do</strong> n<strong>os</strong> lucr<strong>os</strong> e benefíci<strong>os</strong><br />
trazid<strong>os</strong> por essa ativida<strong>de</strong>, continu<strong>em</strong> atuan<strong>do</strong> impunes.<br />
3.4 Delegacia da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente<br />
Delegada Adria<strong>na</strong> Shirley foi a entrevistada da DCA- Delegacia da Criança e <strong>do</strong><br />
A<strong>do</strong>lescente, local especializa<strong>do</strong> <strong>na</strong> <strong>de</strong>fesa da criança e <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente, que atua <strong>em</strong><br />
Natal <strong>de</strong>s<strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2001. A <strong>de</strong>legacia está inserida <strong>na</strong>s disp<strong>os</strong>ições <strong>do</strong> ECA- Estatuto<br />
da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente n<strong>os</strong> seguinte artigo: “ Art.130. Verificada a hipótese <strong>de</strong><br />
maus-trat<strong>os</strong>, opressão ou abuso sexual imp<strong>os</strong>t<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> pais ou responsável, a autorida<strong>de</strong><br />
judiciária po<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>r, como medida cautelar, o afastamento <strong>do</strong> agressor da<br />
moradia comum.”. p.35<br />
Ao la<strong>do</strong> <strong>de</strong> sua sala, existe um quarto <strong>em</strong> que receb<strong>em</strong> vítimas <strong>de</strong> algum tipo <strong>de</strong><br />
violência ou exploração, ela explicou que as psicólogas realizam atendimento neste<br />
ambiente, que é condicio<strong>na</strong><strong>do</strong> para as crianças, nele exist<strong>em</strong> brinqued<strong>os</strong>, bich<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />
pelúcia, corti<strong>na</strong>s coloridas, material escolar pedagógico e uma cama (para a realização<br />
d<strong>os</strong> atendiment<strong>os</strong>).<br />
Assim que se iniciou uma conversa, foi m<strong>os</strong>trada a intenção da pesquisa, ela quis<br />
saber mais a respeito <strong>do</strong> que tinha <strong>de</strong>scoberto e vivencia<strong>do</strong> <strong>em</strong> Ponta Negra, <strong>em</strong> seguida<br />
fez algumas anotações e pediu <strong>de</strong>scrições d<strong>os</strong> menores (<strong>os</strong> que se encontravam<br />
envolvid<strong>os</strong> com drogas), o que <strong>de</strong>u a impressão <strong>de</strong> que as autorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> segurança e a<br />
própria <strong>de</strong>legada, estavam alhei<strong>os</strong> a<strong>os</strong> aconteciment<strong>os</strong> <strong>na</strong>quela <strong>praia</strong>.<br />
Enfim ela explicou que a sua atribuição e a da DCA são investigar crimes <strong>de</strong><br />
<strong>na</strong>tureza sexual, exploração sexual e maus trat<strong>os</strong> cometid<strong>os</strong> contra qualquer criança ou<br />
a<strong>do</strong>lescente, disse que também é responsável pela realização das operações policiais <strong>de</strong><br />
combate e enfrentamento ao probl<strong>em</strong>a.<br />
Afirmou ainda que a exploração sexual infanto-juvenil, não é um probl<strong>em</strong>a só da<br />
polícia “é um probl<strong>em</strong>a da socieda<strong>de</strong> potiguar, que necessita m<strong>os</strong>trar suas ações<br />
coletivas e atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> repressão e ainda para que esta situação seja combatida”,<br />
<strong>de</strong>clarou ser necessário um trabalho <strong>de</strong> assistência social e políticas públicas, “para<br />
62
punir <strong>de</strong> forma expressiva <strong>os</strong> brasileir<strong>os</strong> e estrangeir<strong>os</strong> que foment<strong>em</strong> a indústria <strong>do</strong><br />
<strong>turismo</strong> sexual”.<br />
Na <strong>de</strong>legacia exist<strong>em</strong> pouc<strong>os</strong> registr<strong>os</strong> <strong>de</strong> exploração sexual, já que muit<strong>os</strong><br />
<strong>de</strong>sses cas<strong>os</strong> estão ligad<strong>os</strong> à família das vítimas (pais, ti<strong>os</strong> ou responsáveis) por isso<br />
pouc<strong>os</strong> <strong>de</strong>nunciam as crianças por inconsciência e as mães muitas vezes por me<strong>do</strong> e<br />
vergonha diante da “socieda<strong>de</strong>”. Exist<strong>em</strong> <strong>do</strong>is programas aliad<strong>os</strong>, no enfrentamento o<br />
Sentinela e o SOS Criança, que faz<strong>em</strong> rondas com educa<strong>do</strong>res sociais.<br />
Segun<strong>do</strong> a <strong>de</strong>legada <strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong> que mais procuram esse merca<strong>do</strong> <strong>do</strong> sexo<br />
são <strong>os</strong> italian<strong>os</strong> e espanhóis, pertencentes às classes operárias, e <strong>os</strong> <strong>em</strong>presári<strong>os</strong> e<br />
comerciantes que permit<strong>em</strong> pr<strong>os</strong>tituição ou negociações <strong>em</strong> seus estabeleciment<strong>os</strong> são<br />
gran<strong>de</strong>s colabora<strong>do</strong>res. Afirma ainda, que, consi<strong>de</strong>ra explora<strong>do</strong>r sexual tod<strong>os</strong> que se<br />
favorec<strong>em</strong>/beneficiam da pr<strong>os</strong>tituição <strong>de</strong> uma mulher adulta, criança ou a<strong>do</strong>lescente.<br />
As a<strong>do</strong>lescentes só procuram a <strong>de</strong>legacia, segunda a <strong>de</strong>legada, que é tratada <strong>de</strong><br />
tia por muitas meni<strong>na</strong>s, n<strong>os</strong> cas<strong>os</strong> <strong>de</strong> violência ou quan<strong>do</strong> o cliente se recusa a pagar<br />
pelo programa, elas utilizam o disque <strong>de</strong>nuncia, que po<strong>de</strong> ser o “disque 100”, <strong>em</strong> to<strong>do</strong> o<br />
território <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, no caso <strong>de</strong> Natal há o telefone gratuito, m<strong>os</strong>tra<strong>do</strong> <strong>na</strong> figura <strong>em</strong> fol<strong>de</strong>r<br />
<strong>de</strong> campanha ou ainda ligam diretamente no telefone da <strong>de</strong>legada, que adquir<strong>em</strong> muito<br />
ce<strong>do</strong>.<br />
Figura 7 – Fol<strong>de</strong>r distribuí<strong>do</strong> <strong>em</strong> campanha <strong>na</strong> cida<strong>de</strong>, incentivan<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong>núncias, anônimas. Fonte: Delegacia da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente.<br />
63
Foi p<strong>os</strong>sível perceber, que a DCA se parece com <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> órgã<strong>os</strong> públic<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />
Natal, ali existe pessoas pouco disp<strong>os</strong>tas a trabalhar, cumprin<strong>do</strong> seu horário <strong>em</strong> um<br />
cargo público obti<strong>do</strong> por indicação ou então não leva<strong>do</strong> a sério por pessoas que<br />
pertenc<strong>em</strong> a camadas da socieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> certa maneira estáveis e s<strong>em</strong> gran<strong>de</strong>s probl<strong>em</strong>as<br />
sociais.<br />
Então porque ter preocupação com essa situação que existe, não t<strong>em</strong> mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />
resolução, não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> ape<strong>na</strong>s das atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um órgão, envolve tod<strong>os</strong> da socieda<strong>de</strong>,<br />
talvez estejam ainda <strong>de</strong> braç<strong>os</strong> cruzad<strong>os</strong>, esperan<strong>do</strong> as atitu<strong>de</strong>s d<strong>os</strong> outr<strong>os</strong>? Infelizmente<br />
Natal e alguns <strong>de</strong> seus órgã<strong>os</strong> públic<strong>os</strong>, <strong>de</strong>ixam passar essa impressão a qu<strong>em</strong> esta<br />
buscan<strong>do</strong> ape<strong>na</strong>s mínimo que se po<strong>de</strong> exigir a informação.<br />
64
Consi<strong>de</strong>rações fi<strong>na</strong>is<br />
Os estud<strong>os</strong> e a compreensão <strong>do</strong> <strong>turismo</strong>, assim como seus impact<strong>os</strong> e<br />
conseqüências abrang<strong>em</strong> conheciment<strong>os</strong> <strong>de</strong> diversas áreas, principalmente as ligadas a<br />
aspect<strong>os</strong> sociais. Profissio<strong>na</strong>is <strong>de</strong>ssas áreas e órgã<strong>os</strong> que as representam, faz<strong>em</strong> parte <strong>de</strong><br />
setores públic<strong>os</strong>, privad<strong>os</strong>, não gover<strong>na</strong>mentais, <strong>os</strong> ligad<strong>os</strong> à ativida<strong>de</strong> turística,<br />
comunida<strong>de</strong> local e visitantes.<br />
Neste contexto d<strong>os</strong> relacio<strong>na</strong>ment<strong>os</strong> sociais entre <strong>os</strong> divers<strong>os</strong> setores e <strong>os</strong> seres<br />
human<strong>os</strong> envolvid<strong>os</strong>, necessitam<strong>os</strong> <strong>de</strong> regras, normas <strong>de</strong> conduta e respeito a<strong>os</strong><br />
princípi<strong>os</strong> étic<strong>os</strong> para que <strong>os</strong> p<strong>os</strong>síveis impact<strong>os</strong> negativ<strong>os</strong> não afet<strong>em</strong> nenhuma das<br />
partes.<br />
Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> então a ética, responsabilida<strong>de</strong> social, princípi<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento sustentável utilizad<strong>os</strong> <strong>em</strong> discurs<strong>os</strong> <strong>de</strong> organizações, v<strong>em</strong><strong>os</strong> que existe<br />
uma gran<strong>de</strong> carência <strong>de</strong> iniciativas por parte <strong>de</strong> tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> cidadã<strong>os</strong>, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a falta <strong>de</strong><br />
instrução ou <strong>de</strong> consciência coletiva, resultan<strong>do</strong> <strong>em</strong> pouc<strong>os</strong> plan<strong>os</strong> <strong>de</strong> ação executad<strong>os</strong>.<br />
A facilida<strong>de</strong> e rapi<strong>de</strong>z com que <strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> transporte são acessad<strong>os</strong> têm<br />
p<strong>os</strong>sibilita<strong>do</strong> constante interação entre as diversas culturas, troca <strong>de</strong> conheciment<strong>os</strong>,<br />
movimentação da economia <strong>do</strong> local, geração <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego e renda, melhorias <strong>na</strong> infra-<br />
estrutura e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />
Entre <strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> brasileir<strong>os</strong> <strong>em</strong> que o <strong>turismo</strong> se encontra <strong>em</strong> expansão, está o<br />
Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Norte e sua capital Natal. Seu <strong>de</strong>senvolvimento gera <strong>em</strong>prego e renda<br />
para a população, “aquecen<strong>do</strong>” a economia, trazen<strong>do</strong> investiment<strong>os</strong> para a cida<strong>de</strong>, assim<br />
como a inserção <strong>de</strong> capital <strong>estrangeiro</strong>, proporcio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> melhorias <strong>na</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida<br />
da população.<br />
Desta forma o <strong>turismo</strong> eleva <strong>os</strong> níveis culturais, pois permite contato com<br />
diversas <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lida<strong>de</strong>s e com as divergências <strong>do</strong> próprio país, atrai mão <strong>de</strong> obra,<br />
incentiva abertura <strong>de</strong> nov<strong>os</strong> estabeleciment<strong>os</strong> da indústria turística voltad<strong>os</strong> para o<br />
atendimento da ativida<strong>de</strong>, que se sustentam exclusivamente <strong>de</strong> sua existência. Ocasio<strong>na</strong><br />
também investimento <strong>em</strong> infra-estrutura, conseqüente beneficio a população,<br />
valorização da cultura local e aumento <strong>do</strong> consumo <strong>de</strong> seus produt<strong>os</strong> artesa<strong>na</strong>is e artig<strong>os</strong><br />
<strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>.<br />
As organizações particulares, gover<strong>na</strong>mentais, surg<strong>em</strong>, com a preocupação<br />
voltada para a ativida<strong>de</strong> turística <strong>na</strong> expectativa <strong>de</strong> reto<strong>rn</strong><strong>os</strong> fi<strong>na</strong>nceir<strong>os</strong>, estud<strong>os</strong>,<br />
fi<strong>na</strong>nciament<strong>os</strong>, si<strong>na</strong>lização e muit<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> aspect<strong>os</strong> que p<strong>os</strong>sam gerar lucr<strong>os</strong> e cada<br />
65
vez mais renda, para pouc<strong>os</strong>. Mas <strong>os</strong> benefíci<strong>os</strong> po<strong>de</strong>m <strong>na</strong> maioria d<strong>os</strong> cas<strong>os</strong>, retor<strong>na</strong>r ao<br />
seu país <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> ou permanecer <strong>na</strong>s mã<strong>os</strong> d<strong>os</strong> investi<strong>do</strong>res e proprietári<strong>os</strong><br />
estrangeir<strong>os</strong>.<br />
Esses estrangeir<strong>os</strong> p<strong>os</strong>su<strong>em</strong> uma visão <strong>de</strong>turpada das mulheres brasileiras, isto<br />
<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à imag<strong>em</strong> divulgada antigamente pela EMBRATUR, <strong>em</strong> campanhas <strong>de</strong><br />
incentivo ao <strong>turismo</strong> no exterior. Com isso <strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong> vêm para o Brasil, com a<br />
intenção da “compra” <strong>do</strong> sexo, livran<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> normas <strong>de</strong> conduta e princípi<strong>os</strong> étic<strong>os</strong><br />
existentes, seguid<strong>os</strong> por senso comum, acreditan<strong>do</strong> que toda mulher brasileira se sujeita<br />
a abus<strong>os</strong>, venda <strong>do</strong> sexo e o tratam como um produto.<br />
O fato <strong>de</strong> a Praia <strong>de</strong> Ponta Negra estar no nor<strong>de</strong>ste <strong>do</strong> país, acentua a<br />
movimentação turística e o interesse <strong>do</strong> público <strong>estrangeiro</strong> pela localida<strong>de</strong>, fato que<br />
gera choques culturais e fi<strong>na</strong>nceir<strong>os</strong>. Também se sabe que a região nor<strong>de</strong>ste <strong>do</strong> país<br />
p<strong>os</strong>sui muitas <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais, população com baixa escolarida<strong>de</strong>, renda, infra-<br />
estrutura básica.<br />
Neste caso <strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong>, seus investiment<strong>os</strong> e estabeleciment<strong>os</strong>, estão<br />
<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>n<strong>do</strong> a economia, fazen<strong>do</strong> com que <strong>os</strong> mora<strong>do</strong>res se to<strong>rn</strong><strong>em</strong> mão <strong>de</strong> obra barata,<br />
para a indústria turística que se forma diariamente. A baixa escolarida<strong>de</strong> e falta <strong>de</strong><br />
qualificação é um d<strong>os</strong> principais motiv<strong>os</strong> que tor<strong>na</strong>m a comunida<strong>de</strong> submissa a um <strong>do</strong>no<br />
<strong>de</strong> estabelecimento <strong>de</strong> outro esta<strong>do</strong> ou país, que obtém gran<strong>de</strong> sucesso <strong>na</strong> cida<strong>de</strong>.<br />
Assim a oferta maciça <strong>de</strong> capital <strong>estrangeiro</strong> <strong>na</strong>quela <strong>praia</strong>, faz com que as<br />
mulheres se submetam as condições imorais, ferin<strong>do</strong> princípi<strong>os</strong> étic<strong>os</strong> da socieda<strong>de</strong><br />
pr<strong>os</strong>tituin<strong>do</strong>-se <strong>na</strong>s ruas, se oferecen<strong>do</strong> para <strong>os</strong> homens, impon<strong>do</strong> seu preço ou então<br />
introduzin<strong>do</strong> crianças e a<strong>do</strong>lescentes <strong>na</strong> ativida<strong>de</strong>, já que estas conviv<strong>em</strong> com isto e<br />
acabam sen<strong>do</strong> incentivadas.<br />
As garotas menores <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m estar sen<strong>do</strong> exploradas por um adulto, que<br />
po<strong>de</strong> ser um familiar ou estar encantadas com as p<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong>s que o <strong>turismo</strong> sexual,<br />
com estrangeir<strong>os</strong>, vai lhes oferecer. Elas são incentivadas por amigas a buscar esses<br />
privilégi<strong>os</strong> <strong>de</strong> freqüentar restaurantes renomad<strong>os</strong>, ganhar roupas, ser<strong>em</strong> muito b<strong>em</strong><br />
tratadas pelo cliente e qu<strong>em</strong> sabe, conseguir morar no exterior.<br />
A existência <strong>de</strong> crianças <strong>na</strong>s ruas inseridas no contexto <strong>de</strong> pr<strong>os</strong>tituição, drogas,<br />
bebidas e dinheiro obti<strong>do</strong> s<strong>em</strong> esforço, pareceu fazer parte há muito t<strong>em</strong>po da cultura <strong>de</strong><br />
algumas mulheres potiguares, como m<strong>os</strong>traram <strong>os</strong> jor<strong>na</strong>is <strong>de</strong> alguns an<strong>os</strong> atrás. Os<br />
dólares e <strong>os</strong> eur<strong>os</strong> têm seduzi<strong>do</strong> muito brasileir<strong>os</strong> que viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> condições miseráveis a<br />
66
se tor<strong>na</strong>r<strong>em</strong> h<strong>os</strong>tis diante <strong>de</strong> p<strong>os</strong>turas i<strong>na</strong><strong>de</strong>quadas, como o incentivo e a impunida<strong>de</strong><br />
diante da participação livre <strong>de</strong> menores <strong>na</strong> ativida<strong>de</strong> sexual.<br />
Há muit<strong>os</strong> trabalha<strong>do</strong>res da indústria turística facilitan<strong>do</strong> a existência <strong>de</strong> <strong>turismo</strong><br />
sexual <strong>em</strong> Ponta Negra, eles se ac<strong>os</strong>tumaram com a <strong>de</strong>manda por esse merca<strong>do</strong>,<br />
p<strong>os</strong>su<strong>em</strong> <strong>os</strong> contat<strong>os</strong> com as garotas e ajudam <strong>na</strong>s negociações <strong>em</strong> muit<strong>os</strong> cas<strong>os</strong>. Por<br />
ex<strong>em</strong>plo, <strong>os</strong> garçons, que são <strong>os</strong> mais solicitad<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong> para intermediar um<br />
programa, utilizan<strong>do</strong> seus conheciment<strong>os</strong> <strong>em</strong> línguas, para arranjar as conhecidas, <strong>em</strong><br />
busca da obtenção <strong>de</strong> algum tipo <strong>de</strong> gorjeta e fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> <strong>do</strong> cliente.<br />
Os taxistas também estão muito envolvid<strong>os</strong> com esse merca<strong>do</strong>, já que alguns<br />
aliciam as próprias mulheres, levan<strong>do</strong>-as para o motel com o “gringo”. Outr<strong>os</strong> se tor<strong>na</strong>m<br />
<strong>os</strong> melhores amig<strong>os</strong> <strong>do</strong> <strong>estrangeiro</strong>, fo<strong>rn</strong>ecen<strong>do</strong>-lhe drogas e mulheres, sabe-se até que<br />
muit<strong>os</strong> p<strong>os</strong>su<strong>em</strong> fot<strong>os</strong> sensuais das garotas, que estarão disponíveis mediante car<strong>os</strong><br />
pagament<strong>os</strong>.<br />
Muit<strong>os</strong> taxistas conhec<strong>em</strong> as pousadas, que aceitam e permit<strong>em</strong> a entrada d<strong>os</strong><br />
hóspe<strong>de</strong>s com suas acompanhantes, s<strong>em</strong> restrições ou exigência <strong>de</strong> <strong>do</strong>cument<strong>os</strong>. Os<br />
recepcionistas também estão se benefician<strong>do</strong> e sen<strong>do</strong> coerentes. O me<strong>do</strong> <strong>de</strong> conversar<br />
sobre o assunto m<strong>os</strong>tra a proporção <strong>em</strong> que estão envolvid<strong>os</strong> e são talvez <strong>os</strong> mais<br />
responsáveis pela existência <strong>de</strong> pr<strong>os</strong>tituição.<br />
Mas não se po<strong>de</strong> responsabilizar ape<strong>na</strong>s um tipo <strong>de</strong> estabelecimento ou<br />
trabalha<strong>do</strong>r pela facilitação <strong>do</strong> <strong>turismo</strong> sexual, exist<strong>em</strong> <strong>os</strong> mais favoráveis, <strong>os</strong> que são<br />
contra, então tod<strong>os</strong> que permit<strong>em</strong> a pr<strong>os</strong>tituição, principalmente quan<strong>do</strong> se beneficiam<br />
materialmente com esta são consi<strong>de</strong>rad<strong>os</strong> explora<strong>do</strong>res, pois direta ou indiretamente t<strong>em</strong><br />
as mulheres ou crianças e a<strong>do</strong>lescentes como principal atrativo.<br />
Há ainda muit<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> aspect<strong>os</strong> que faz<strong>em</strong> com que as garotas queiram se<br />
pr<strong>os</strong>tituir <strong>de</strong>s<strong>de</strong> muito ce<strong>do</strong>, o dinheiro obti<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma fácil e a <strong>na</strong>turalida<strong>de</strong> com que a<br />
prática é tratada no esta<strong>do</strong>, a vida <strong>de</strong> festas, drogas e bebidas que consegu<strong>em</strong>, <strong>os</strong> lugares<br />
requintad<strong>os</strong> que freqüentam.<br />
Na Rua Manoel Augusto Bezerra <strong>de</strong> Araújo, praticamente tod<strong>os</strong> <strong>os</strong><br />
estabelecimento turístico permit<strong>em</strong> a entrada <strong>de</strong> estrangeir<strong>os</strong> e pr<strong>os</strong>titutas, exceto<br />
menores <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, das quais <strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong> marcam um programa <strong>na</strong> rua ou consegu<strong>em</strong><br />
comprar drogas.<br />
Os organism<strong>os</strong> locais se m<strong>os</strong>traram muito preocupad<strong>os</strong> com essa situação, mas<br />
diante d<strong>os</strong> beneficiári<strong>os</strong>, que são maioria, acabam realizan<strong>do</strong> uma ativida<strong>de</strong> lenta e com<br />
67
poucas mudanças significativas, já que a re<strong>de</strong> ligada a esse merca<strong>do</strong> sexual, existe e irá<br />
permanecer, enquanto a p<strong>os</strong>tura <strong>de</strong> toda a comunida<strong>de</strong> local não mudar.<br />
A violência e exploração sexual t<strong>em</strong> si<strong>do</strong> alvo da preocupação <strong>de</strong> órgã<strong>os</strong><br />
públic<strong>os</strong> e população, mas para que tod<strong>os</strong> tom<strong>em</strong> consciência, requer corag<strong>em</strong> e quebra<br />
<strong>de</strong> barreiras como o “silêncio”, sobretu<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> vítimas e agressores pertencer<strong>em</strong> à<br />
mesma família.<br />
Assim as Ongs, como a Casa Re<strong>na</strong>scer e a RESPOSTA, t<strong>em</strong> realiza<strong>do</strong> projet<strong>os</strong>,<br />
<strong>na</strong> tentativa <strong>de</strong> mudar a qualida<strong>de</strong> e conduta d<strong>os</strong> estabeleciment<strong>os</strong> turístic<strong>os</strong>, crian<strong>do</strong><br />
certificações e sel<strong>os</strong>, com pesquisa a<strong>de</strong>quada, aplican<strong>do</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conscientização<br />
<strong>na</strong>s escolas e comunida<strong>de</strong>, <strong>na</strong> tentativa <strong>de</strong> mudança.<br />
As secretarias ligadas ao <strong>turismo</strong> não se m<strong>os</strong>tram a favor da exploração sexual,<br />
já que se mobilizam <strong>em</strong> distribuição <strong>de</strong> fol<strong>de</strong>r, cartazes, ví<strong>de</strong><strong>os</strong> <strong>de</strong> repreensão e<br />
conscientização, mas não se vê muitas iniciativas concretas acontecen<strong>do</strong>. Talvez um d<strong>os</strong><br />
motiv<strong>os</strong> seja o dinheiro <strong>estrangeiro</strong> b<strong>em</strong> vin<strong>do</strong> e necessário para crescimento e<br />
<strong>de</strong>senvolvimento da cida<strong>de</strong>, mais uma vez a h<strong>os</strong>pitalida<strong>de</strong> s<strong>em</strong> medidas <strong>de</strong><br />
conseqüência, causa h<strong>os</strong>tilida<strong>de</strong>.<br />
A questão <strong>do</strong> <strong>turismo</strong> sexual se m<strong>os</strong>tra como algo muito abrangente, que envolve<br />
todas as áreas da socieda<strong>de</strong>, e requer ações e planejamento envolven<strong>do</strong> o po<strong>de</strong>r<br />
executivo, o judiciário, organizações, comunida<strong>de</strong> e universida<strong>de</strong> que result<strong>em</strong> <strong>em</strong><br />
melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, investimento <strong>em</strong> conscientização e educação.<br />
Iniciativas para que toda a socieda<strong>de</strong> tenha capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> modificar ou <strong>de</strong><br />
alguma forma reduzir o probl<strong>em</strong>a, que <strong>em</strong> conseqüência <strong>do</strong> <strong>turismo</strong> e da oferta <strong>de</strong><br />
capital <strong>estrangeiro</strong>, se <strong>de</strong>ixa <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>r por princípi<strong>os</strong> anti-étic<strong>os</strong>, imorais, que violentam<br />
as crianças e a<strong>do</strong>lescentes e suas famílias, <strong>de</strong>negrin<strong>do</strong> a “saú<strong>de</strong>” e imag<strong>em</strong> da cida<strong>de</strong>.<br />
68
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71
ANEXOS<br />
ANEXO 1 - Questionário sócio-econômico.<br />
Nome<br />
Ida<strong>de</strong> Sexo Masculino<br />
F<strong>em</strong>inino<br />
Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> Natal e cida<strong>de</strong>s da região<br />
Região Nor<strong>de</strong>ste<br />
Outra região <strong>do</strong> Brasil<br />
Outro país<br />
Escolarida<strong>de</strong> 1º grau Completo<br />
2º grau<br />
Técnico Incompleto<br />
Superior<br />
Profissão<br />
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ANEXO 2 - Roteiro <strong>de</strong> entrevistas s<strong>em</strong>i-estruturadas aplicadas às ONGs Casa Re<strong>na</strong>scer<br />
e RESPOSTA.<br />
1- A ONG surgiu a partir <strong>de</strong> qual necessida<strong>de</strong>? Como ela funcio<strong>na</strong> hoje?<br />
2- Com o que está trabalhan<strong>do</strong>? On<strong>de</strong> atua exatamente?<br />
3- Como e por que essas crianças e a<strong>do</strong>lescentes chegam até a Ong?<br />
4- Chegam acompanhadas? Que motiv<strong>os</strong> as levaram a isso?<br />
5- Você acha que o <strong>turismo</strong> p<strong>os</strong>sui ligação direta com esta situação?<br />
6-Qual sua opinião sobre o <strong>turismo</strong> sexual <strong>de</strong> Ponta Negra?<br />
7-Existe <strong>de</strong> fato o <strong>turismo</strong> sexual comprova<strong>do</strong>?Qual a ocorrência <strong>de</strong>ste com menores?<br />
8- Há envolviment<strong>os</strong> <strong>de</strong> adult<strong>os</strong> <strong>de</strong> amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> sex<strong>os</strong>, agin<strong>do</strong> como explora<strong>do</strong>res?<br />
9-Qual o vínculo que estes explora<strong>do</strong>res p<strong>os</strong>su<strong>em</strong>, com esta criança ou a<strong>do</strong>lescente?<br />
10- Qual a p<strong>os</strong>ição das famílias <strong>de</strong>stes menores?<br />
11- Que atitu<strong>de</strong>s órgã<strong>os</strong> públic<strong>os</strong> têm toma<strong>do</strong> <strong>em</strong> relação a estes fat<strong>os</strong>?<br />
12- Exist<strong>em</strong> projet<strong>os</strong>/programas <strong>de</strong> prevenção ao <strong>turismo</strong> sexual?<br />
13-Como funcio<strong>na</strong>m estes projet<strong>os</strong> e on<strong>de</strong> acontec<strong>em</strong>?<br />
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ANEXO 3 - Entrevistas aplicadas às representantes <strong>de</strong> órgã<strong>os</strong> públic<strong>os</strong>.<br />
1- O que você sabe sobre <strong>turismo</strong> sexual <strong>de</strong> Ponta Negra?<br />
2- Qual a responsabilida<strong>de</strong> a SETUR-RN t<strong>em</strong> sobre esta prática?<br />
3- Você conhece ou sabe da existência <strong>de</strong> menores se pr<strong>os</strong>tituin<strong>do</strong>?<br />
4- Você sabe <strong>de</strong> pessoas que se beneficiam da pr<strong>os</strong>tituição (exploran<strong>do</strong> ou facilitan<strong>do</strong>)?<br />
5- Qual a p<strong>os</strong>ição das famílias <strong>de</strong>ssas crianças exploradas?<br />
6- Quais as atitu<strong>de</strong>s que a prefeitura tomou <strong>em</strong> relação ao <strong>turismo</strong> sexual?<br />
7- Qual a relação ou influência que <strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong> têm com a pr<strong>os</strong>tituição?<br />
8- Quais <strong>os</strong> motiv<strong>os</strong> que <strong>os</strong> traz<strong>em</strong> para Natal?<br />
9 - A existência <strong>do</strong> <strong>turismo</strong> sexual, <strong>em</strong> sua opinião prejudica ou beneficia a imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Natal?<br />
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ANEXO 4 - Entrevistas aplicadas a<strong>os</strong> trabalha<strong>do</strong>res da indústria turística e mora<strong>do</strong>res.<br />
1- O que você sabe sobre <strong>turismo</strong> sexual <strong>de</strong> Ponta Negra?<br />
2 Você conhece muitas garotas que se pr<strong>os</strong>titu<strong>em</strong>?<br />
3- Conhece menores <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>? Qual a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong>las?<br />
4-Quais <strong>os</strong> motiv<strong>os</strong> que fizeram essas garotas começar a se pr<strong>os</strong>tituír<strong>em</strong>?<br />
5- Você conhece pessoas que se beneficiam da pr<strong>os</strong>tituição (exploran<strong>do</strong> ou facilitan<strong>do</strong>)?<br />
6- Que tip<strong>os</strong> <strong>de</strong> pessoas (<strong>do</strong>n<strong>os</strong> <strong>de</strong> hotéis, bares, boates...)?<br />
7- Por quais motiv<strong>os</strong> são exploradas (pr<strong>os</strong>tituição, drogas)?<br />
8- Quais <strong>os</strong> motiv<strong>os</strong> que incentivam a existência <strong>do</strong> <strong>turismo</strong> sexual <strong>em</strong> Ponta Negra?<br />
9- Qual a relação ou influência que <strong>os</strong> estrangeir<strong>os</strong> têm com a pr<strong>os</strong>tituição?<br />
10- Quais <strong>os</strong> motiv<strong>os</strong> que traz<strong>em</strong> esses estrangeir<strong>os</strong> para Natal?<br />
11- A existência <strong>do</strong> <strong>turismo</strong> sexual, <strong>em</strong> sua opinião prejudica ou beneficia a imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Natal?<br />
12- Existe algum tipo <strong>de</strong> movimento a favor ou contra a pr<strong>os</strong>tituição, algo para modificar essa situação?<br />
13- Qual a p<strong>os</strong>ição das famílias <strong>de</strong>ssas garotas? Quais são suas perspectivas/sonh<strong>os</strong>?<br />
14- Quant<strong>os</strong> programas as garotas realizam por noite<br />
15- Quanto elas cobram por um programa? Qu<strong>em</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa renda?<br />
16-Os preç<strong>os</strong> são diferenciad<strong>os</strong> para brasileir<strong>os</strong> e estrangeir<strong>os</strong>? Qu<strong>em</strong> mais procura <strong>os</strong> programas?<br />
17- Sabe <strong>de</strong> algum tipo <strong>de</strong> trauma ou violência pela qual essas garotas passam, ou já passaram?<br />
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