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(PIBID) e a formação docente para a alfabetização - UFSCar

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS<br />

CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS<br />

DEPARTAMENTO DE TEORIAS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS<br />

O PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA<br />

(<strong>PIBID</strong>) E A FORMAÇÃO DOCENTE PARA A ALFABETIZAÇÃO E<br />

LETRAMENTO<br />

São Carlos/SP<br />

2011<br />

1<br />

Taís Aparecida de Moura


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS<br />

CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS<br />

DEPARTAMENTO DE TEORIAS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS<br />

O PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA<br />

(<strong>PIBID</strong>) E A FORMAÇÃO DOCENTE PARA A ALFABETIZAÇÃO E<br />

LETRAMENTO<br />

São Carlos/SP<br />

2011<br />

Trabalho de Conclusão do Curso de<br />

Licenciatura em Pedagogia da<br />

Universidade Federal de São Carlos,<br />

realizado pela estudante Taís Aparecida de<br />

Moura, sob orientação da Professora<br />

Doutora Heloisa Chalmers Sisla Cinquetti.<br />

2


Aos meus pais, por sempre acreditarem em mim.<br />

3


Meus mais sinceros agradecimentos<br />

AGRADECIMENTOS<br />

À minha orientadora, Heloisa C. S. Cinquetti, por todos os ensinamentos, pela<br />

dedicação, carinho, amizade e confiança nesta empreitada.<br />

Ao grupo do <strong>PIBID</strong>/Pedagogia da <strong>UFSCar</strong> orientado por Heloisa Cinquetti e Márcia<br />

Onofre, coordenado por Elenice Onofre e supervisionado por Eliana Cruz, por ter<br />

proporcionado uma <strong>formação</strong> <strong>docente</strong> inicial diferenciada.<br />

À professora Maria do Carmo, pela coragem de estar à frente do <strong>PIBID</strong>/<strong>UFSCar</strong>.<br />

Ao grupo de bolsistas da Pedagogia, especialmente as licenciandas: Ariela, Ana<br />

Carolina, Bruna, Camila Rosa, Camila Rosolen, Danielle, Gabriella, Lísia, Luciana, Mariana,<br />

Marina, Paula Marina, Paula Ferreira, Taciane, Thiara, Sthefany e Vanessa, pelas discussões<br />

enriquecedoras e pela amizade.<br />

acolhimento.<br />

inesquecível.<br />

Aos membros da EMEB “D.G.”, especialmente a professora Eliana e Mary, pelo<br />

Aos professores/as e amigos/as, da UNESP de Marília, pelo primeiro ano universitário<br />

Aos professores/as e amigos/as, da <strong>UFSCar</strong>, pela aprendizagem, por todas as aventuras<br />

e alegrias durante quatro anos, especialmente as amigas Gabriella, Vanessa e Adriana, por<br />

compartilhar segredos.<br />

Aos grandes amigos/as da vida Lahyssa e Renan, pelo apoio e descontração.<br />

A minha amiga Jéssica que deixa muitas saudades, pelo carinho.<br />

Ao meu pai Cícero Pereira de Moura e a minha mãe Aparecida Alves de Moura, pelas<br />

cobranças e pelo apoio, não me deixando desistir.<br />

Ao meu irmão Rafael H. de Moura, por compartilhar meus sonhos.<br />

E ao meu namorado Silvio Cesar A. Carrijo, pela paciência, por todo amor e por me<br />

fazer sempre ir em frente.<br />

4


“Olha lá, quem acha que perder<br />

5<br />

é ser menor na vida<br />

Olha lá, quem sempre quer vitória<br />

e perde a glória de chorar<br />

Eu que já não quero mais ser um vencedor,<br />

levo a vida devagar pra não faltar amor”<br />

(Los Hermanos)


RESUMO<br />

Este trabalho apresenta uma análise reflexiva acerca das aprendizagens teóricas e práticas que<br />

envolvem a <strong>formação</strong> <strong>docente</strong> <strong>para</strong> a <strong>alfabetização</strong> e o letramento, a partir das vivências de<br />

bolsistas com práticas de leitura e escrita nos anos iniciais do Ensino Fundamental por meio<br />

do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (<strong>PIBID</strong>), do curso de<br />

Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal de São Carlos. A pesquisa, portanto,<br />

objetiva analisar e refletir sobre as aprendizagens e desafios que envolvem a <strong>formação</strong><br />

<strong>docente</strong>, especificamente, <strong>para</strong> os temas de <strong>alfabetização</strong> e letramento de licenciandas,<br />

ocorridas no <strong>PIBID</strong>. Contextualizaremos o emerge campo de <strong>formação</strong> de professoras e<br />

dentre diversos programas governamentais optamos por analisar o <strong>PIBID</strong>, por considerarmos<br />

que esta política representa novidades na <strong>formação</strong> <strong>docente</strong> no país, na medida em que<br />

incentiva e oferece melhores condições <strong>para</strong> o início da docência. Visando contemplar os<br />

objetivos acima expostos, a pesquisa foi desenvolvida numa abordagem qualitativa e contou<br />

com a análise de entrevistas, notas de diário de campo e portifólios. Os dados obtidos trazem<br />

contribuições <strong>para</strong> analisar alguns aspectos da <strong>formação</strong> inicial da docência, voltados<br />

principalmente <strong>para</strong> a <strong>alfabetização</strong> e letramento e também revelam como a política de<br />

iniciação à docência tem melhorado a qualidade da educação básica pública brasileira.<br />

Palavras-chave: Políticas públicas educacionais. <strong>PIBID</strong>. Formação <strong>docente</strong>. Alfabetização.<br />

Letramento.<br />

i


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS<br />

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior<br />

CEPAL – Comissão Econômica <strong>para</strong> a América Latina e o Caribe<br />

CNE – Conselho Nacional de Educação<br />

DCN – Diretrizes Curriculares Nacionais<br />

ET – Eixos Temáticos<br />

IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica<br />

ISEs – Institutos Superiores de Educação<br />

LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional<br />

MEC – Ministério da Educação<br />

TCC – Trabalho de Conclusão de Curso<br />

PDE – Plano de Desenvolvimento da Educação<br />

<strong>PIBID</strong> – Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência<br />

PNE – Plano Nacional de Educação<br />

PNUD – Programa das Nações Unidas <strong>para</strong> o Desenvolvimento<br />

PPSC – <strong>PIBID</strong>/Pedagogia/<strong>UFSCar</strong> - campus de São Carlos<br />

RFP – Referenciais <strong>para</strong> a Formação de Professores<br />

SEF – Secretaria de Educação Fundamental<br />

<strong>UFSCar</strong> – Universidade Federal de São Carlos<br />

UNESCO – Organização das Nações Unidas <strong>para</strong> a Educação, a Ciência e a Cultura<br />

UNICEF – Fundo das Nações Unidas <strong>para</strong> a Infância<br />

ii


SUMÁRIO<br />

INTRODUÇÃO 1<br />

1. POLÍTICAS PÚBLICAS EM EDUCAÇÃO: A FORMAÇÃO<br />

DOCENTE NO BRASIL<br />

1.1. O <strong>PIBID</strong> E O INCENTIVO À DOCÊNCIA NO CURSO DE<br />

LICENCIATURA EM PEDAGOGIA DA <strong>UFSCar</strong><br />

2. A FORMAÇÃO DOCENTE PARA ALFABETIZAR E LETRAR 14<br />

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 23<br />

4. AS FACETAS DAS APRENDIZAGENS E DESAFIOS<br />

PROPORCIONADOS PELO PROGRAMA INSTITUCIONAL DE<br />

BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA/PEDAGOGIA/<strong>UFSCar</strong> –<br />

CAMPUS DE SÃO CARLOS (PPSC) PARA A FORMAÇÃO<br />

DOCENTE EM ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS 40<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 42<br />

APÊNDICE<br />

4<br />

9<br />

27<br />

iii


INTRODUÇÃO<br />

Este trabalho apresenta uma análise reflexiva acerca das aprendizagens teóricas e<br />

práticas que envolvem a <strong>formação</strong> <strong>docente</strong> <strong>para</strong> a <strong>alfabetização</strong> e o letramento, a partir das<br />

vivências de bolsistas, especialmente as voltadas <strong>para</strong> práticas de leitura e escrita no contexto<br />

escolar por meio do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (<strong>PIBID</strong>), do<br />

curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal de São Carlos (<strong>UFSCar</strong>).<br />

O interesse por esta temática está relacionado com minha trajetória escolar, como<br />

estudante de graduação em Pedagogia e bolsista do <strong>PIBID</strong>/Pedagogia/<strong>UFSCar</strong> - campus de<br />

São Carlos (PPSC), no período de 2010 e 2011. Para além do plano individual, justifica-se ser<br />

importante estudar este tema, por identificarmos nas políticas públicas tanto internacionais,<br />

quanto nacionais que ainda é preciso aprimorar a <strong>formação</strong> <strong>docente</strong> <strong>para</strong> atuar na área de<br />

<strong>alfabetização</strong> e letramento.<br />

Neste contexto, as experiências acadêmicas me permitiram conectar o percurso da<br />

minha <strong>formação</strong> inicial com este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), no qual faço um<br />

recorte sobre as políticas públicas <strong>para</strong> a <strong>formação</strong> de professoras 1 no Brasil, com destaque na<br />

<strong>formação</strong> <strong>para</strong> alfabetizar e letrar e discuto com maior propriedade a respeito de práticas de<br />

leitura e escrita nos anos 2 iniciais do Ensino Fundamental.<br />

Entre os recortes expostos <strong>para</strong> esta investigação, justificamos a escolha em especial<br />

por <strong>alfabetização</strong> e letramento, pois sempre me foi desafiador entender a <strong>formação</strong> da<br />

professora alfabetizadora, tendo em vista que este conteúdo é nuclear na atuação <strong>docente</strong> nos<br />

anos iniciais do Ensino Fundamental. Nesse sentido, acreditamos que é preciso na <strong>formação</strong><br />

inicial dar maior atenção a esta área porque sabemos que as licenciandas, futuras professoras<br />

saem da graduação ainda muito inseguras quanto a sua <strong>formação</strong> <strong>para</strong> a <strong>alfabetização</strong> e, como<br />

destaca Lima (2006) a respeito do início da docência, estudos vêm mostrando que esta é uma<br />

fase tão importante, quanto difícil na constituição da carreira de professora.<br />

Optamos pela investigação de <strong>alfabetização</strong> e práticas de letramento juntamente com o<br />

<strong>PIBID</strong>, não apenas por fazermos parte deste Programa, mas por considerarmos que esta<br />

1 Embora saibamos que a profissão <strong>docente</strong> é constituída por homens e mulheres, optei por adotar o<br />

critério gramatical feminino porque me identifico diretamente. Esta escolha me permite me encontrar no texto, já<br />

que o trabalho tem como base uma análise reflexiva da minha própria prática e de outras bolsistas do PPSC.<br />

Porém, espero que todas educadoras e educadores se sintam contempladas (os)! Ressalvo a exceção do uso do<br />

masculino em alguns momentos <strong>para</strong> preservar a escolha das pessoas citadas literalmente. A opção pelo uso da<br />

linguagem desta forma está de acordo com as orientações <strong>para</strong> evitar a linguagem sexista, sugerimos a consulta<br />

do Manual <strong>para</strong> o uso não sexista da linguagem da UNIFEM disponível em: <br />

2 De acordo com a Lei nº. 11.274 de 6 de Fevereiro de 2006, o Ensino Fundamental passa ter a duração<br />

de 9 (anos). Adotaremos aqui a terminologia de anos, e não séries, pois é a que está em vigor.<br />

1


política representa novidades na <strong>formação</strong> <strong>docente</strong> no país, na medida em que incentiva e<br />

oferece melhores condições <strong>para</strong> o início da docência. Seria ainda importante indicar, nesta<br />

justificativa, que o lugar das ações voltadas <strong>para</strong> a <strong>alfabetização</strong> no seio do <strong>PIBID</strong> se destaca,<br />

por ser uma das demandas mais evidentes das escolas envolvidas: auxiliar no trabalho com<br />

estudantes que apresentam dificuldades com a aprendizagem do Português, seja na fase inicial<br />

da <strong>alfabetização</strong>, ou em fases posteriores, de consolidação do aprendizado. Assim é que,<br />

atendendo a esta demanda das escolas, o PPSC tem voltado algumas de suas ações <strong>para</strong> o<br />

ensino de Português nos anos iniciais do Ensino Fundamental.<br />

Diante destas considerações é objetivo geral deste trabalho analisar e refletir sobre as<br />

aprendizagens e desafios que envolvem a <strong>formação</strong> <strong>docente</strong> <strong>para</strong> a <strong>alfabetização</strong> e letramento<br />

de licenciandas, ocorridas no PPSC.<br />

A partir do objetivo proposto podemos levantar os seguintes questionamentos: O<br />

<strong>PIBID</strong> tem se configurado como uma política acertada <strong>para</strong> garantir uma <strong>formação</strong> <strong>docente</strong> de<br />

mais qualidade? Como o incentivo à docência pelo PPSC abrange <strong>alfabetização</strong> e letramento?<br />

E, quais as contribuições gerais desta política <strong>para</strong> as futuras professoras em relação ao ensino<br />

da leitura e da escrita, nos anos iniciais do Ensino Fundamental?<br />

Para buscar caminhos a estes questionamentos recorremos ao estudo de autores e<br />

autoras na área de <strong>alfabetização</strong> e letramento e na de <strong>formação</strong> <strong>docente</strong>, assim como em<br />

documentos mais recentes que delineiam as políticas de <strong>formação</strong> de professoras do Governo<br />

Federal, que de certa forma irão incidir sobre o <strong>PIBID</strong>, como o Edital geral do Programa<br />

lançado pelo Ministério da Educação (MEC) (2009) e o subprojeto do PPSC (2009). Deste<br />

modo, <strong>para</strong> analisarmos e refletirmos sobre as políticas públicas em educação, <strong>alfabetização</strong>,<br />

letramento e <strong>formação</strong> <strong>docente</strong> à luz dos referenciais teóricos estudados, organizamos o<br />

trabalho em quatro seções.<br />

Na primeira seção “Políticas Públicas em Educação: a <strong>formação</strong> <strong>docente</strong> no Brasil”,<br />

contextualizaremos o emergente campo de <strong>formação</strong> de professoras. Para tanto, buscaremos<br />

compreender quais influências os debates internacionais e nacionais sobre <strong>formação</strong> <strong>docente</strong><br />

tiveram nas reformas educacionais em nosso país, a partir do final do século XX. Verificamos<br />

que o final do século XX e início do século XXI representaram um quadro de intensos debates<br />

sobre o modelo de <strong>formação</strong> <strong>docente</strong>. As disputas se deram em torno das críticas a uma<br />

concepção mais técnica, frente à defesa de uma <strong>formação</strong> <strong>docente</strong> mais prática e reflexiva.<br />

Detalharemos, nesta seção, com maior precisão o que define cada modelo de <strong>formação</strong> <strong>para</strong><br />

entendermos suas implicações na formulação de políticas <strong>para</strong> a educação. Nas reformas<br />

educacionais e proposições de políticas públicas identificamos o <strong>PIBID</strong> como fruto dos<br />

2


debates sobre <strong>formação</strong> <strong>docente</strong>, por isso, no subitem da primeira seção “O <strong>PIBID</strong> e o<br />

incentivo à docência no curso de Licenciatura em Pedagogia da <strong>UFSCar</strong>”, abordaremos<br />

especificamente os investimentos do Governo Federal na <strong>formação</strong> de professoras a partir<br />

deste Programa e explicitaremos as contribuições desta política.<br />

A segunda seção, “A Formação <strong>docente</strong> <strong>para</strong> alfabetizar e letrar”, ainda mantém o<br />

foco na <strong>formação</strong> de professoras, no entanto, direcionaremos o olhar <strong>para</strong> as práticas de<br />

leitura e escrita que envolvem o ambiente escolar e que estão co-relacionadas com as<br />

concepções de <strong>alfabetização</strong> e letramento. Nela apresentaremos um panorama sobre a história<br />

da <strong>alfabetização</strong> que engloba as disputas dos métodos de ensino e salientaremos as<br />

contribuições tanto da Linguística, quanto especialmente da Psicologia na organização de<br />

propostas e práticas pedagógicas brasileiras, com destaque <strong>para</strong> a teoria construtivista. Não<br />

deixaremos de lado o surgimento do letramento e por este motivo conferiremos como as<br />

concepções teóricas relacionadas com o processo de ensino e aprendizagem da leitura e da<br />

escrita estão sendo abarcadas na <strong>formação</strong> de professoras.<br />

Na terceira seção, “Procedimentos metodológicos”, descreveremos a fundamentação e<br />

o desenho da metodologia de pesquisa utilizada <strong>para</strong> a elaboração deste trabalho. Trata-se de<br />

uma pesquisa qualitativa, cuja caracterização será explicitada, bem como serão detalhadas<br />

todas as etapas que levaram à construção deste TCC. Logo, ressaltaremos os procedimentos<br />

de coletas de dados empregados e assinalaremos a escolha dos documentos analisados:<br />

portifólios, diário de campo e entrevista.<br />

A quarta e última seção “As facetas das aprendizagens e desafios proporcionados<br />

pelo PPSC <strong>para</strong> a <strong>formação</strong> <strong>docente</strong> em <strong>alfabetização</strong> e letramento”, consistirá na análise dos<br />

dados coletados. Pretendemos analisar as aprendizagens e os desafios propiciados pela<br />

atuação de bolsistas do PPSC, em particular <strong>para</strong> atuar na área de <strong>alfabetização</strong> e letramento.<br />

Por fim, nas considerações finais retomaremos as questões de pesquisa e os temas<br />

discutidos no presente trabalho, elencando quais as contribuições, ponderações e questões<br />

feitas a respeito do tema central da pesquisa, isto é, o <strong>PIBID</strong> e a <strong>formação</strong> <strong>docente</strong> <strong>para</strong> a<br />

<strong>alfabetização</strong> e o letramento.<br />

3


1. POLÍTICAS PÚBLICAS EM EDUCAÇÃO: A FORMAÇÃO DOCENTE NO<br />

BRASIL<br />

Pretendemos apresentar na primeira seção deste trabalho um breve panorama histórico<br />

sobre as políticas públicas em educação, com ênfase na <strong>formação</strong> <strong>docente</strong> no Brasil, desde as<br />

últimas três décadas do século XX até os dias atuais. É relevante tal recorte <strong>para</strong> entendermos<br />

a influência dos modelos de <strong>formação</strong> <strong>docente</strong> nas políticas educacionais e analisarmos as<br />

reformas decorrentes deste processo. Além disso, buscaremos localizar neste conjunto o<br />

<strong>PIBID</strong>, como política pública direcionada <strong>para</strong> a <strong>formação</strong> de professoras, compreendendo os<br />

motivos de sua implantação, <strong>para</strong> nos posicionarmos diante desta proposta.<br />

Historicamente, notamos que o final do século XX e início do século XXI foram<br />

marcados por intensas discussões e reformas na área da educação. Tanto no cenário mundial,<br />

quanto no nacional, tais transformações não se limitaram apenas ao campo educacional, pois<br />

se presenciou modificações no âmbito social, político, econômico, cultural e tecnológico.<br />

Estas mudanças foram decorrentes de inúmeros fatores, dentre estes podemos destacar alguns<br />

marcos, como por exemplo, o processo de globalização, a influência da política neoliberal, as<br />

lutas dos movimentos sociais, as contribuições das áreas científica e tecnológica, que de<br />

forma (in) direta estão todos co-relacionados à configuração da sociedade atual.<br />

Na década de 1990 emergiram muitas políticas públicas em educação no Brasil,<br />

associadas a leis, diretrizes e decretos. Mazzeu (2009) elucida que as propostas educacionais,<br />

de modo geral, foram embasadas pelas recomendações de organismos multilaterais<br />

internacionais e regionais, como: Banco Mundial, Organização das Nações Unidas <strong>para</strong> a<br />

Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), Fundo das Nações Unidas <strong>para</strong> a Infância<br />

(UNICEF), Comissão Econômica <strong>para</strong> a América Latina e o Caribe (CEPAL) e Programa das<br />

Nações Unidas <strong>para</strong> o Desenvolvimento (PNUD).<br />

Verificamos neste período que a importância econômica atribuída à educação foi<br />

tratada inicialmente em um documento da CEPAL 3 , intitulado Transformación productiva<br />

com equidad. Este documento propunha que nos anos de 1990 era preciso enfrentar os<br />

desafios extraordinários, como fortalecer a democracia e, ao mesmo tempo ajustar as<br />

economias, estabilizando-as e incorporando-as a uma mudança tecnológica ao encontro do<br />

novo <strong>para</strong>digma de desenvolvimento e ao novo reordenamento mundial.<br />

3 Este documento pode ser consultado no site:<br />

<br />

4


Ainda na década de 1990, ressaltamos de acordo com Ivo e Hipólito (2009), a<br />

Conferência Mundial de Educação <strong>para</strong> Todos, como referência <strong>para</strong> a educação. Financiada<br />

pelos organismos internacionais, tinha por objetivo discutir propostas <strong>para</strong> que países<br />

considerados em desenvolvimento pudessem alcançar melhor qualidade na educação. O<br />

encontro contou com a participação de representantes de diversos países, agências<br />

internacionais, organismos não-governamentais, associações profissionais, personalidades<br />

destacadas no plano educacional de todo o mundo e passou a influenciar a implementação das<br />

políticas públicas em educação.<br />

Em relação aos investimentos e esforços direcionados <strong>para</strong> a educação no Brasil,<br />

Maués (2003) considera que as reformas políticas apresentaram objetivos bem definidos, que<br />

envolveram a estrutura administrativa e pedagógica da escola, a <strong>formação</strong> de professoras, os<br />

conteúdos, aportes teóricos e tudo o que pudesse estar relacionado com o processo de ensino-<br />

aprendizagem. Destacamos, dentre as mudanças realizadas em nosso país nesta esteira, a<br />

promulgação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), em 1996,<br />

como fruto e possibilidade destas mudanças.<br />

Quanto à <strong>formação</strong> <strong>docente</strong>, a nova LDBEN (Lei nº 9.394/96) determinou que ela<br />

devesse atender aos objetivos dos diferentes níveis e modalidades de ensino. Também, se<br />

defini que <strong>para</strong> atuar na educação a <strong>formação</strong> inicial deve ser realizada em nível superior, em<br />

curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades ou Institutos Superiores de<br />

Educação (ISEs), conforme determinam seus artigos 61 e 62.<br />

Entendemos que esta lei teve um caráter muito geral por ser fruto dos embates entre o<br />

setor público e privado na educação, <strong>para</strong> além de diversos outros interesses, como de grupos<br />

sindicalistas, corporativistas, educadoras com idéias marcadas por diferentes concepções de<br />

educação e governantes preocupados com a contenção de gastos, dentre outros. No entanto,<br />

<strong>para</strong> compreendermos melhor as reformas educacionais brasileiras, não podemos deixar de<br />

lado outros elementos das discussões internacionais que foram expressivos na formulação das<br />

políticas públicas em educação.<br />

Notamos que a obra Educação: um tesouro a descobrir, que consiste de um relatório<br />

<strong>para</strong> a UNESCO da Comissão Internacional sobre educação <strong>para</strong> o século XXI, elaborada por<br />

Delors, marcou a proposição de muitas políticas públicas educacionais no Brasil, indicando<br />

quatro pilares <strong>para</strong> a educação:<br />

5


(...) os pilares do conhecimento: aprender a conhecer, isto é adquirir os<br />

instrumentos da compreensão; aprender a fazer, <strong>para</strong> poder agir sobre o meio<br />

envolvente; aprender a viver juntos, a fim de participar e cooperar com os<br />

outros em todas as atividades humanas; finalmente aprender a ser, via<br />

essencial que integra as três precedentes. (DELORS, 2000, p. 89-90).<br />

Neste relatório, Delors (2000) ressalta que é preciso revelar o tesouro escondido em<br />

cada uma de nós. Isso supõe que se ultrapasse a visão puramente instrumental da educação,<br />

considerada como via obrigatória <strong>para</strong> obter certos resultados (saber-fazer, aquisição de<br />

capacidades diversas, fins de ordem econômica), e se passe a considerá-la em toda a sua<br />

plenitude: realização da pessoa que, na sua totalidade, aprende a ser.<br />

No entanto, avaliamos de modo geral, que os quatro pilares <strong>para</strong> a educação induzem à<br />

<strong>formação</strong> de um sujeito que se adeque ao sentido econômico atribuído <strong>para</strong> o conhecimento e<br />

a educação e que está fortemente enraizado com o saber fazer. Para Mazzeu (2009), estas<br />

orientações, no caso da <strong>formação</strong> <strong>docente</strong>, incentivam uma instrução mais rápida e flexível,<br />

numa perspectiva mais técnica do ensino.<br />

Pérez Gómez (1995) sugeriu que a <strong>formação</strong> <strong>docente</strong> no século XX apresentou grande<br />

ênfase na <strong>formação</strong> de professoras nos moldes de racionalidade técnica, na qual a atividade da<br />

profissional é considerada, sobretudo instrumental, dirigida <strong>para</strong> a solução dos problemas<br />

mediante a aplicação rigorosa de teorias e técnicas científicas.<br />

De acordo com Pereira (1999), os currículos de <strong>formação</strong> de professoras, no modelo<br />

da racionalidade técnica, mostram-se inadequados à realidade da prática profissional <strong>docente</strong><br />

porque se<strong>para</strong>m a teoria da prática na pre<strong>para</strong>ção profissional. Por estes motivos, Pérez<br />

Gómez (1995) indica que a abordagem unívoca e positivista da ciência tem uma utilidade<br />

muito limitada <strong>para</strong> a prática social e <strong>para</strong> a ação da professora, que é chamada a enfrentar<br />

problemas de grande complexidade e incerteza.<br />

As análises sobre a <strong>formação</strong> pautada pela racionalidade técnica, indicadas acima,<br />

abriram espaço <strong>para</strong> a defesa por uma <strong>formação</strong> mais prática e reflexiva, cuja formulação vem<br />

se constituindo e se instaurando, tanto em reformas políticas internacionais, quanto nacionais.<br />

Um dos conceitos centrais na construção deste novo modelo é o de reflexão. Schön (1995) é<br />

um grande precursor dessa temática, na defesa da importância da professora refletir sobre sua<br />

prática. Para ele, é essencial que a profissional da educação, ao se relacionar com o saber<br />

escolar, desenvolva o conhecimento-na-ação, a reflexão-na-ação, a reflexão sobre a ação e a<br />

reflexão sobre a reflexão-na-ação.<br />

Entendemos de acordo com Schön (1995) que o conhecimento na ação engloba os<br />

saberes que a professora domina sobre determinado conteúdo e executa na ação. A reflexão-<br />

6


na-ação está relacionada ao pensamento da professora sobre sua atuação e consiste numa<br />

conexão dos conhecimentos que ela já possui com estratégias que podem auxiliá-la na<br />

resolução de situações incertas no momento da prática.<br />

Já os outros dois processos, a reflexão sobre a ação e a reflexão sobre a reflexão na<br />

ação, se realizam posteriormente à ação, através da reconstrução da ação <strong>para</strong> tentar analisá-la<br />

retrospectivamente, logo, são momentos importantes na <strong>formação</strong> <strong>para</strong> a professora pensar<br />

sobre a própria prática. Estes dois processos, de acordo com Alarcão (1996), levam a<br />

professora a progredir no seu desenvolvimento e a construir a sua forma pessoal de<br />

conhecimento, tendo em vista que ajuda a determinar as ações futuras, a compreender futuros<br />

problemas ou a descobrir novas soluções, em articulação com os saberes teóricos.<br />

Com base nas discussões presentes nos bastidores sobre os modelos de <strong>formação</strong><br />

<strong>docente</strong>, observamos que as propostas das reformas educacionais no Brasil passam a induzir a<br />

demanda por essa <strong>formação</strong> de um novo perfil de professora, considerando que:<br />

A ênfase na <strong>formação</strong> prática é outro componente da reforma internacional<br />

da <strong>formação</strong> do magistério. A justificativa apresentada <strong>para</strong> tanto é que, à<br />

semelhança de outras profissões, o futuro professor precisa entrar em contato<br />

real com o meio em que deverá atuar, devendo desde o início da <strong>formação</strong><br />

assumir tarefas específicas e ter um acompanhamento direto <strong>para</strong> a<br />

realização delas. (MAUÉS, 2003, p.101)<br />

Diante de novos <strong>para</strong>digmas <strong>para</strong> a <strong>formação</strong> de um novo perfil da profissional da<br />

educação são elaborados em 2002 pela Secretaria de Educação Fundamental (SEF) do<br />

Ministério da Educação (MEC) os Referenciais <strong>para</strong> a Formação de Professores (RFP) e,<br />

posteriormente as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) <strong>para</strong> a Formação de Professores<br />

da Educação Básica, (BRASIL/CNE, Par. nº. 09/2001, Res. nº. 01/2002).<br />

Os RFP abordam a <strong>formação</strong> de <strong>docente</strong>s da Educação Infantil e dos primeiros anos do<br />

Ensino Fundamental. Esta <strong>formação</strong> é compreendida com um caráter contínuo e, nesse<br />

sentido, envolve a <strong>formação</strong> inicial, continuada e permanente:<br />

O objetivo da <strong>formação</strong> de professores, de acordo com as concepções<br />

contidas nestes Referenciais é a sua profissionalização por meio do<br />

desenvolvimento de suas competências de modo a permitir que no<br />

cumprimento das suas funções estejam contempladas as dimensões técnicas,<br />

sociais e políticas que são igualmente importantes e imprescindíveis ao<br />

desenvolvimento do nosso país. (BRASIL, 2002, p.3)<br />

Portanto, ressaltamos que os objetivos e as orientações <strong>para</strong> a <strong>formação</strong> <strong>docente</strong><br />

propostos nos RFS fundamentam-se numa concepção pedagógica com ênfase na aquisição de<br />

competência profissional, em acordo com Perrenoud (2002, p.180), <strong>para</strong> quem o exercício de<br />

7


uma competência é mais do que uma simples aplicação de saberes, pois é um processo que<br />

implica raciocínio, antecipação, julgamento, criação, aproximação, síntese e risco.<br />

Em relação às DCN <strong>para</strong> a Formação de Professores da Educação Básica, observamos<br />

que elas também sugerem que a competência precisa ser uma concepção nuclear dos cursos<br />

de <strong>formação</strong> de professoras, visando a aprendizagem de conhecimentos e habilidades <strong>para</strong> o<br />

exercício <strong>docente</strong>. Neste caso, a aprendizagem da docência deve ser orientada pelo princípio<br />

metodológico geral, que pode ser traduzido pela ação-reflexão-ação e que aponta a resolução<br />

de situações-problema como uma das estratégias didáticas centrais. (BRASIL/CNE, Par. nº.<br />

09/2001, Res. nº. 01/2002) Esta ideia é muito próxima às proposições acima mencionadas, de<br />

Pereira (1999), Pérez Gómez (1995) e especialmente de Schön (1995).<br />

Com este panorama, constatamos que as reformas educacionais que se referem à<br />

<strong>formação</strong> de professoras no Brasil buscaram atender novos <strong>para</strong>digmas da educação que<br />

revelaram a importância de associar de forma mais enfática teorias e práticas nos cursos de<br />

<strong>formação</strong> <strong>docente</strong>. Com isto, evidenciamos que as propostas <strong>para</strong> a educação no século XXI<br />

tendem a vincular esta aproximação teórica e prática, com o intuito de garantir melhor<br />

qualidade na <strong>formação</strong> <strong>docente</strong>.<br />

Reiterando tal aproximação no que se refere às políticas em educação nas últimas<br />

décadas no Brasil, verificamos que o Plano Nacional de Educação (PNE) do último decênio<br />

(2001-2010) aponta que na <strong>formação</strong> inicial é preciso haver uma superação histórica da<br />

dicotomia existente entre teoria e prática, além do divórcio entre a <strong>formação</strong> pedagógica e a<br />

<strong>formação</strong> no campo dos conhecimentos específicos que serão trabalhados em sala de aula.<br />

Dada a importância da superação destes aspectos na <strong>formação</strong> <strong>docente</strong>, ressaltamos que o<br />

PNE (2011-2020 4 ) que está em discussão <strong>para</strong> o próximo decênio também reforça estes<br />

ideais.<br />

As metas do PNE buscaram ser viabilizadas pelas ações do Plano de Desenvolvimento<br />

da Educação (PDE) lançado em 2007 5 , que não contém muitas medidas específicas <strong>para</strong> o<br />

ensino superior, pois quase todas estão entrelaçadas com as demandas da Educação Básica.<br />

Dentre as medidas <strong>para</strong> o ensino superior e que se voltam <strong>para</strong> a <strong>formação</strong> <strong>docente</strong>,<br />

localizamos o <strong>PIBID</strong>, criado como Programa de incentivo à docência que associa teoria e<br />

prática e que investe na qualidade da <strong>formação</strong> de futuras professoras. Por esta razão foi que<br />

escolhemos abordar especificamente o <strong>PIBID</strong> entre os Programas de investimentos do<br />

4 Sugerimos a consulta do PNE (2011-2020): .<br />

5 Material disponível no portal do MEC: .<br />

8


Governo Federal, por acreditarmos que esta proposta tem trazido contribuições efetivas <strong>para</strong> a<br />

<strong>formação</strong> <strong>docente</strong> quanto à exigência de um novo perfil de professora, além da nossa<br />

participação no mesmo.<br />

Passamos a seguir à análise das implicações do <strong>PIBID</strong> <strong>para</strong> a <strong>formação</strong> de professoras.<br />

1.1. O <strong>PIBID</strong> E O INCENTIVO À DOCÊNCIA NO CURSO DE LICENCIATURA<br />

EM PEDAGOGIA DA <strong>UFSCar</strong><br />

Trataremos neste item sobre o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à<br />

Docência (<strong>PIBID</strong>), um dos programas do Governo Federal que tendem a investir na qualidade<br />

da educação pública, com foco na <strong>formação</strong> de professoras. Destacaremos sua implantação na<br />

<strong>UFSCar</strong>, especificamente no Curso de Licenciatura em Pedagogia 6 , campus de São Carlos,<br />

analisando algumas implicações do Programa em relação às contribuições <strong>para</strong> a <strong>formação</strong> de<br />

futuras professoras.<br />

Como indicamos acima, o <strong>PIBID</strong> é uma iniciativa do PDE (2007) que envolve ações<br />

dimensionadas <strong>para</strong> o Ensino Superior atreladas às demandas da Educação Básica. Este<br />

programa foi planejado pelo Governo Federal direcionado <strong>para</strong> o ensino e a extensão em<br />

universidades públicas federais e estaduais do Brasil, visando apoiar a <strong>formação</strong> de<br />

professoras 7 <strong>para</strong> a Educação Básica e antecipar o ingresso das graduandas no ambiente<br />

escolar de forma supervisionada, em adição à experiência dos estágios.<br />

O Decreto Presidencial nº 7.219, de 24/06/10 que dispõe sobre o <strong>PIBID</strong> define que<br />

este programa “tem por finalidade fomentar a iniciação à docência, contribuindo <strong>para</strong> o<br />

aperfeiçoamento da <strong>formação</strong> de <strong>docente</strong>s em nível superior e <strong>para</strong> a melhoria de qualidade da<br />

educação básica pública brasileira.” (art. 1º)<br />

A participação de estudantes de graduação no Programa conta com bolsas da<br />

fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), que<br />

também é atribuída a supervisoras (professoras das escolas de Educação Básica que<br />

supervisionam o trabalho das bolsistas) e <strong>para</strong> as coordenadoras institucionais e de áreas<br />

(<strong>docente</strong>s das instituições de ensino superior).<br />

6<br />

Será abordado neste trabalho o curso de Licenciatura em Pedagogia presencial que faz parte do<br />

<strong>PIBID</strong>/<strong>UFSCar</strong>.<br />

7<br />

Ressalvo que o <strong>PIBID</strong> visa à <strong>formação</strong> tanto de licenciandas, como de licenciandos e conta com outros<br />

membros masculinos no Programa, como supervisores, coordenadores, entre outros.<br />

9


O <strong>PIBID</strong>/<strong>UFSCar</strong> 8 iniciou-se em 2009 agregando as licenciaturas com maior<br />

defasagem de professoras na área (Física, Química, Biologia e Matemática). Com a abertura<br />

do novo edital lançado pela CAPES no 2º semestre de 2009 a <strong>UFSCar</strong> estendeu o projeto no<br />

ano seguinte <strong>para</strong> os cursos de Licenciatura em Letras, Pedagogia, Geografia, Educação<br />

Musical e Educação Física. No ano de 2011 encontra-se em vigor um terceiro edital que<br />

amplia a participação dos cursos de Educação Especial, Pedagogia à distância, Filosofia e dá<br />

continuidade aos projetos dos cursos das áreas de ciências exatas e naturais. Hoje o Programa<br />

envolve na <strong>UFSCar</strong> mais de 100 professoras e 4.000 estudantes da Educação Básica, inclui<br />

260 licenciandas/os e, ainda, integra a participação de <strong>docente</strong>s de 12 departamentos da<br />

universidade.<br />

Os cursos de licenciatura da <strong>UFSCar</strong> envolvidos no <strong>PIBID</strong> estão distribuídos entre os<br />

campi de Araras, São Carlos e Sorocaba. A Universidade busca atuar juntamente com as<br />

secretarias Estadual e municipais almejando a melhoria do ensino nas escolas públicas cujo<br />

Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) esteja abaixo da média nacional, ou<br />

seja, baixo com<strong>para</strong>tivamente às escolas da mesma cidade.<br />

A proposta do <strong>PIBID</strong>/<strong>UFSCar</strong>, conforme destaca Sousa (2010) prioriza a iniciação à<br />

docência dos licenciando desta instituição, se volta <strong>para</strong> o aprimoramento da <strong>formação</strong><br />

continuada de professores em serviço na Escola Pública e visa à promoção da melhoria do<br />

ensino e da aprendizagem na Educação Básica, por meio de ações em parceria colaborativa<br />

entre Escola-Universidade. Portanto:<br />

As ações do <strong>PIBID</strong>/<strong>UFSCar</strong>, como por exemplo, Oficinas, Seminários e<br />

Projetos Interdisciplinares Temáticos, visam promover e fortalecer a prática<br />

investigativa enquanto compromisso com a profissionalização do professor e<br />

com a produção de saberes pedagógicos que dialoguem com as<br />

problemáticas concretas do campo da educação escolar. (SOUSA, 2010,<br />

p.04)<br />

No período de 2009 a 2011, <strong>para</strong> garantir que as ações previstas pelo <strong>PIBID</strong>/<strong>UFSCar</strong><br />

ocorram, elas se dão em torno de seis Eixos temáticos (ET):<br />

ET1: Discussões, reflexões e desenvolvimento de “situações de aprendizagem” e<br />

outros temas curriculares;<br />

8 Alguns dados sobre o <strong>PIBID</strong>/<strong>UFSCar</strong> foram obtidos em conversas informais com orientadoras do<br />

Programa e pelo site: .<br />

10


ET2: Fortalecimento das relações escola/aluno/comunidade;<br />

ET3: Desenvolvimento curricular;<br />

ET4: Reflexões sobre avaliação;<br />

ET5: Sensibilização dos alunos <strong>para</strong> a aprendizagem e valorização do conhecimento;<br />

ET6: Abordagem das relações entre Educação e Trabalho.<br />

As licenciaturas envolvidas com o <strong>PIBID</strong>/<strong>UFSCar</strong> puderam organizar seus subprojetos<br />

com todos os eixos temáticos ou limitando-se apenas em alguns, de acordo com as áreas e a<br />

proposta de trabalho. No caso do grupo PPSC, o subprojeto institucional tem ações previstas<br />

em consonância com o ET1, ET2, ET4 e ET5. Neste subprojeto do PPSC elaborado em 2009,<br />

era objetivo aprimorar a inserção profissional de estudantes em Pedagogia através da<br />

participação em atividades de ensino desenvolvidas na escola pública, embasadas nos<br />

contextos culturais e sociais específicos das comunidades atendidas pela instituição e das<br />

reflexões teóricas do campo da <strong>formação</strong> de professoras, de gestoras, da didática e das<br />

políticas de educação.<br />

O edital do PPSC prevê o seu desenvolvimento num prazo de dois anos, tendo iniciado<br />

suas atividades em duas escolas da cidade de São Carlos no ano de 2010 e pretende encerrá-<br />

las em março de 2012. A equipe do PPSC é composta por 24 bolsistas, 3 supervisoras das<br />

escolas, 4 orientadoras do projeto e 1 coordenadora geral de área, as quais devem dedicar 12<br />

horas semanais <strong>para</strong> participar e desenvolver ações do Programa.<br />

Para cumprir o horário proposto de envolvimento com o Programa, as bolsistas do<br />

PPSC fazem planejamento didático, realizam reuniões semanais, intervenções no contexto<br />

escolar, refletem sobre a prática, participam de grupos de estudos e acompanham as notícias<br />

do grupo tanto por e-mail, quanto pelo site do <strong>PIBID</strong>/<strong>UFSCar</strong>. Além disso, as licenciandas<br />

elaboram diários de campo semanais sobre a intervenção em sala de aula e como todas as<br />

áreas do <strong>PIBID</strong>/<strong>UFSCar</strong> produzem semestralmente um portifólio de suas vivências<br />

embasados com estudos teóricos.<br />

Assinalamos a importância do diário de campo na <strong>formação</strong> de uma profissional<br />

prática reflexiva, pois ele é instrumento de estudo que permite as bolsistas descreverem, (re)<br />

pensarem acerca dos erros e acertos durante a própria prática pedagógica trazendo em seu<br />

bojo percepções e detalhes do cotidiano escolar. Entendemos que o espaço de reflexão que o<br />

diário condiciona é interessante também <strong>para</strong> buscar soluções e saídas <strong>para</strong> o trabalho <strong>docente</strong><br />

e, por isso, releva-se como um material riquíssimo na <strong>formação</strong> de professoras.<br />

11


Lembramos que o portifólio consiste na análise de um episódio dilemático vivenciado<br />

pela bolsista durante a atuação na escola, incluindo interpretações subjetivas, e também<br />

apoiadas em referenciais teóricos, os quais auxiliam na reflexão e superação dos desafios do<br />

início da docência. Assim, por demandar das licenciandas análises mais reflexivas da própria<br />

prática, entendemos que o portifólio é um instrumento promissor de reflexões e mudanças na<br />

<strong>formação</strong> <strong>docente</strong>.<br />

Em relação às ações desenvolvidas com a parceria entre universidade-escola, o PPSC<br />

organizou atividades 9 que relacionavam os conteúdos com o lúdico e a arte, como por<br />

exemplo: jogos interativos, atividades com poesias e cinema, feira de conhecimento etc. As<br />

bolsistas também fizeram um trabalho específico de apoio escolar do 1º ao 5º ano do Ensino<br />

Fundamental, no qual atendiam um grupo com no máximo quatro estudantes que<br />

apresentavam dificuldades acentuadas de aprendizagem de leitura, escrita e matemática.<br />

Do conjunto de ações realizadas pelo grupo PPSC, o apoio escolar se revelou como a<br />

ação mais dilemática de incentivo à docência e a mais rica em aprendizagens. Isso pelo fato<br />

de ser o momento em que as bolsistas se posicionaram como professoras e, em meio a<br />

incertezas e inseguranças, tiveram que planejar e ensinar conteúdos <strong>para</strong> as crianças, fazendo<br />

correspondência entre a teoria e a prática, considerando os conhecimentos da <strong>formação</strong><br />

inicial.<br />

Como apresentamos na primeira seção deste estudo, os novos <strong>para</strong>digmas <strong>para</strong> a<br />

educação do século XX sinalizam que é preciso articular de forma mais integrada teoria e<br />

prática nos cursos de <strong>formação</strong> <strong>docente</strong>. Nesta perspectiva, percebemos que o PPSC vem<br />

incentivando as bolsistas no início à docência com o intuito delas explorarem as teorias<br />

estudadas, refletirem sobre a própria prática a partir do contexto em que atuam, criando e<br />

diversificando as atividades acadêmicas, compartilhando saberes entre escola, universidade e<br />

comunidade, <strong>para</strong> que o processo de ensino e aprendizagem seja significativo <strong>para</strong> todas as<br />

pessoas envolvidas.<br />

Logo, entre os incentivos do PPSC, identificamos que o apoio escolar foi uma grande<br />

oportunidade de associar teoria e prática e segundo Imbernón (2009) a relevância desta<br />

aproximação é importante na <strong>formação</strong> <strong>docente</strong> <strong>para</strong> esta assumir um papel que transcende o<br />

ensino numa mera atualização científica, pedagógica e didática, transformando-se na<br />

9 Optamos por não identificar com características específicas a escola na qual atuamos/atuei, por isso<br />

apresentarei um panorama geral das atividades desenvolvidas pelo PPSC, com exceção do apoio escolar que será<br />

alvo do estudo.<br />

12


possibilidade de criar espaços de participação, reflexão e <strong>formação</strong>, <strong>para</strong> que as pessoas<br />

aprendam e se vislumbrem estratégias <strong>para</strong> poder conviver com a mudança e a incerteza.<br />

Neste contexto, constatamos que a proposta do <strong>PIBID</strong> permite que a estudante durante<br />

a graduação tenha uma <strong>formação</strong> diferenciada através de estudos aprofundados teoricamente a<br />

respeito do cotidiano de uma escola pública. Deste modo, Cruz (2010) ressalta que:<br />

A iniciação à docência apresenta-se como processo de “tornar-se professor”,<br />

o qual não tem uma fórmula e não é idêntico <strong>para</strong> nenhum de nós e evidencia<br />

algumas fases que acontecem no início da docência de modo geral, e em<br />

específico, como este pode se tornar “menos angustiante” quando a inserção<br />

na escola ocorre antes do “torna-se professora de uma turma.” (p.4)<br />

Portanto, através do detalhamento do PPSC temos possíveis pistas que esta política é<br />

importante <strong>para</strong> as licenciandas enfrentarem os desafios do início da docência, mas<br />

examinaremos esta hipótese na análise dos dados.<br />

Neste momento, identificamos que a pareceria entre universidade e escola já tem<br />

incidido sobre a <strong>formação</strong> inicial e continuada, pois grupos de estudos constituídos pelas<br />

professoras da escola e as bolsistas do PPSC, tem se consolidado e refletem numa parceria<br />

interessante. Num dos grupos discute-se sobre práticas de professoras bem sucedidas no<br />

contexto escolar e uma professora 10 do 5º ano do Ensino Fundamental considera o espaço<br />

importante <strong>para</strong> compartilhar sua prática e estudar. Também foi criado um grupo <strong>para</strong><br />

aprofundar os estudos sobre os povos indígenas e africanos e as questões das relações<br />

étnicorraciais no contexto escolar. Com estes exemplos, evidenciamos que a troca de saberes<br />

nos grupos de estudos vem fortalecendo a <strong>formação</strong> <strong>docente</strong>.<br />

Enfim, analisamos com maior aprofundamento quais as implicações do <strong>PIBID</strong> no<br />

curso de Licenciatura em Pedagogia, especificamente da <strong>UFSCar</strong>. A partir disto, apontamos<br />

algumas contribuições <strong>para</strong> a <strong>formação</strong> <strong>docente</strong> e julgamos que esta é uma política<br />

interessante e acertada dentro da proposta de melhorar a qualidade da <strong>formação</strong> de futuras<br />

professoras por antecipar o ingresso de licenciadas no contexto escolar e minimizar o choque<br />

com a realidade.<br />

Na próxima seção, continuaremos a abordar a <strong>formação</strong> <strong>docente</strong>, mas com foco na<br />

<strong>alfabetização</strong> e no letramento.<br />

10 O relato da professora sobre práticas bem sucedidas de <strong>alfabetização</strong> e letramento foi obtido em uma<br />

conversa informal.<br />

13


2. A FORMAÇÃO DOCENTE PARA ALFABETIZAR E LETRAR<br />

Letramento é diversão, é leitura à luz de vela ou lá fora, à luz do sol.<br />

14<br />

Magda B. Soares (2004b, p.42)<br />

Na segunda seção deste trabalho direcionaremos nosso olhar <strong>para</strong> a <strong>formação</strong> da<br />

professora alfabetizadora. A partir da literatura sobre esta temática discutiremos sobre práticas<br />

de leitura e escrita na escola, tendo por objetivo analisar algumas concepções teóricas que<br />

vêm dando suporte à <strong>formação</strong> <strong>docente</strong> <strong>para</strong> alfabetizar e letrar. Além disso, buscaremos<br />

responder e compreender algumas questões centrais dentro do tema como, por exemplo: O<br />

que é <strong>alfabetização</strong>? O que é letramento? De que formas estes processos se conectam? Qual é<br />

o papel da professora diante deles? E qual deveria ser a <strong>formação</strong> <strong>docente</strong> <strong>para</strong> <strong>alfabetização</strong> e<br />

letramento?<br />

Antes de conceituarmos o que é <strong>alfabetização</strong> é preciso explicitar que tal conceito é<br />

construído socialmente e que por isso, está sujeito a algumas mudanças ao longo da história.<br />

De acordo com Ferreiro (2001), a escrita pode ser concebida de duas maneiras muito<br />

diferentes e conforme forem consideradas as conseqüências e práticas pedagógicas também<br />

podem ser muito diversas.<br />

Uma maneira muito disseminada no cenário educacional de compreensão do processo<br />

de <strong>alfabetização</strong> corresponde ao modelo que alguns autores chamam de ensino tradicional.<br />

Amaral (2008) elucida que nesta abordagem a professora é apontada como centro das ações e<br />

concebida como a única ou principal detentora do conhecimento, a aprendizagem se dá pela<br />

memorização de modelos fornecidos e a <strong>alfabetização</strong> está desvinculada dos usos sociais.<br />

O modelo tradicional de ensino, de modo geral, abrange e está associado à decifração<br />

e codificação da escrita por meio de processos mecanizados, assim, “a linguagem escrita é<br />

considerada como espelho da linguagem oral, pelo qual o aluno deve aprender a representar<br />

fonemas em grafemas (escrever) e grafemas em fonemas (ler).” (AMARAL, 2008, p.76)<br />

Segundo Carvalho (2008), neste modelo geralmente prevalecem os chamados métodos<br />

sintéticos, nos quais o ensino tem início tomando as unidades menores da língua (letra, sílaba<br />

ou fonema) <strong>para</strong> depois alcançar frases e histórias. Tais métodos foram base <strong>para</strong> a <strong>formação</strong><br />

<strong>docente</strong> intensivamente na primeira metade do século XX e, em síntese, as matrizes<br />

metodológicas sintéticas são a soletração, a silabação e os métodos fônicos, com foco inicial,<br />

respectivamente, na letra, na sílaba e no fonema.


A ênfase inicial em unidades menores da língua foi questionada por algumas<br />

pedagogas a partir do início do século XX, em consonância com os movimentos da Pedagogia<br />

Renovada, primeiramente na Europa e, no Brasil, mais intensamente a partir da segunda<br />

metade do século. Buscavam atribuição de sentido aos textos desde o início do processo de<br />

<strong>alfabetização</strong> e, contrapondo-se ao percurso sintético, suas matrizes metodológicas<br />

englobavam a palavração, a sentenciação e os métodos de contos, pois se entendia que a<br />

aprendizagem da leitura e da escrita deveria acontecer a partir de histórias e orações, isto é, “a<br />

<strong>alfabetização</strong> deveria começar por unidades amplas como histórias ou frases <strong>para</strong> chegar em<br />

nível de letra e de som, mas sem perder de vista o texto original e seu significado.”<br />

(CARVALHO, 2008, p.33)<br />

Em meio aos embates a respeito de qual método seria mais eficiente <strong>para</strong> alfabetizar,<br />

as disputas e polêmicas entre defensoras dos métodos sintéticos e analíticos ficaram<br />

conhecidas na área da educação como „querela dos métodos 11 ‟. Este movimento foi<br />

importante na história da <strong>alfabetização</strong>, pois influenciou diretamente a formulação de teorias e<br />

práticas pedagógicas referentes aos dois grandes blocos de métodos de ensino.<br />

A partir da década de 1960 direcionou-se o olhar <strong>para</strong> a eficácia dos métodos de<br />

<strong>alfabetização</strong> e, como conseqüência deste processo, Leite (2008) ressalta que o modelo<br />

tradicional de ensino foi duramente criticado, a partir do momento em que os países em<br />

desenvolvimento detectaram a condição de analfabetismo funcional em parcelas significativas<br />

de suas respectivas populações. Segundo Soares (2004a, p.6) configurou-se o termo<br />

analfabetismo funcional quando constatado que, embora a população estivesse alfabetizada,<br />

“não dominava as habilidades de leitura e da escrita necessárias <strong>para</strong> uma participação efetiva<br />

e competente nas práticas sociais e profissionais que envolvem a língua escrita.” Moreira<br />

(2003, p.1) define que “analfabetos funcionais são pessoas completamente analfabetas no<br />

sentido tradicional ou pessoas aparentemente alfabetizadas, mas cujo grau de <strong>alfabetização</strong> é<br />

insuficiente <strong>para</strong> que exerçam funções básicas na sociedade moderna.”<br />

Os reflexos desta constatação se transformaram em tentativas de superação do alto<br />

nível de analfabetismo, assim houve muitas mudanças tanto epistemológicas, quanto<br />

metodológicas em relação às concepções de <strong>alfabetização</strong>, sendo que:<br />

Inúmeros trabalhos e pesquisas foram desenvolvidos, nos anos 70 e 80,<br />

demonstrando a necessidade do desenvolvimento de novos modelos de<br />

<strong>alfabetização</strong>, atendendo às demandas de uma sociedade cada vez mais<br />

11 Termo evidenciado por BRASLAVSKY (1971). BRASLAVSKY, B. P. Problemas e métodos no<br />

ensino da leitura. São Paulo: Melhoramentos/Edusp, 1971.<br />

15


exigente no que se refere à <strong>formação</strong> do indivíduo <strong>para</strong> o pleno exercício da<br />

cidadania. (LEITE, 2008, p.24)<br />

Neste cenário, propostas teóricas das áreas de Linguística e Psicologia trouxeram<br />

importantes avanços teóricos-pedagógicos relacionados ao processo de <strong>alfabetização</strong> escolar.<br />

Assim:<br />

Assume-se que o conhecimento é construído a partir dessa relação que se<br />

estabelece entre o sujeito e o objeto – no caso da <strong>alfabetização</strong>, entre a<br />

criança e a escrita. Entretanto, tal relação é sempre mediada, e na escola o<br />

principal (mas não único) mediador é o professor. (LEITE, 2008, p.33)<br />

Leite (2008) destaca que na área da Linguística os estudos de Geraldi, Cagliari, e<br />

Possenti, dentre outros, auxiliaram a compreensão entre a relação da linguagem escrita e a<br />

linguagem oral, fizeram uma nova interpretação do fenômeno das variações lingüísticas,<br />

revolucionaram o conceito de texto, assim como contribuíram <strong>para</strong> um novo entendimento do<br />

próprio conceito de leitura.<br />

No campo da Psicologia, o mesmo autor sustenta que as contribuições efetivas sobre<br />

as novas concepções de escrita vieram tanto a partir da teoria construtivista difundida pelos<br />

estudos de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky, quanto de outras contribuições da teoria sócio-<br />

histórica, representada pelos trabalhos de Vygostky, Luria e Wallon. Detalharemos um pouco<br />

mais os aportes da Psicologia, com ênfase no construtivismo porque, conforme demonstra<br />

Monteiro (2010), estes estudos começaram, a partir da década de 1980, a interferir de forma<br />

marcante na organização de propostas e práticas pedagógicas brasileiras.<br />

A pesquisa desenvolvida por Ferreiro e Teberosky (1999) não propõe um novo método<br />

de <strong>alfabetização</strong>, mas levanta questões sobre a intervenção educativa alfabetizadora a partir de<br />

novos dados obtidos da investigação sobre a psicogênese da escrita na criança. Weiss (1999)<br />

destaca que Ferreiro e Teberosky demonstraram como se dá o processo de aquisição da língua<br />

escrita e a análise de tal processo configurou-se, numa revolução conceitual na <strong>alfabetização</strong>,<br />

isto é, a psicogênese da língua escrita deslocou a questão central da <strong>alfabetização</strong> do ensino<br />

<strong>para</strong> a aprendizagem: partiu do exame de como se aprende, ao invés de enfocar como se deve<br />

ensinar, como faziam os defensores dos métodos sintéticos e analíticos.<br />

A investigação e explicação do processo de aprendizagem da leitura e da escrita<br />

permitiram que Emilia Ferreiro e Ana Teberosky aprofundassem uma análise a respeito das<br />

concepções que as crianças têm sobre o sistema de escrita. “Do ponto de vista construtivista, a<br />

escrita infantil segue uma linha de evolução surpreendentemente regular, através de diversos<br />

meios culturais, de diversas situações educativas e de diversas línguas.” (FERREIRO, 2001,<br />

16


p.18-19) Ao direcionarem sua pesquisa <strong>para</strong> como se dá o processo de aquisição da língua<br />

escrita, estas autoras conseguiram distinguir quatro níveis psicogenéticos decisivos que<br />

envolvem o processo de <strong>alfabetização</strong> escolar: o pré-silábico, o silábico, o silábico alfabético<br />

e o alfabético.<br />

O nível pré-silábico se caracteriza pelas primeiras escritas infantis, que não<br />

apresentam diferenciação entre as marcas gráficas figurativas e as não-figurativas, isto é,<br />

ainda não há distinção, nos níveis iniciais, entre desenhar e escrever, a criança imita a escrita,<br />

seja com letras ou pseudoletras, mas sem associar a escrita à fala. Ao superar os conflitos<br />

deste nível a criança passa <strong>para</strong> o nível silábico, isto significa que ela já realiza diferenciações<br />

interfigurais e estabelece hipóteses que vinculam a fala e a escrita, geralmente, pensando que<br />

a cada sílaba corresponde uma letra:<br />

A criança começa por descobrir que as partes da escrita (suas letras) podem<br />

corresponder a outras tantas partes da palavra escrita (suas sílabas). Sobre o<br />

eixo quantitativo isto se exprime na descoberta de que a quantidade de letras<br />

com que se vai escrever uma palavra pode ter correspondência com a<br />

quantidade de partes que se reconhece na emissão oral. (FERREIRO, 2001,<br />

p.25)<br />

Segundo a autora, o que permite à criança evoluir <strong>para</strong> o nível silábico é uma<br />

exigência rigorosa na escrita, neste caso, exige-se uma letra por sílaba, sem omitir sílabas e<br />

utilizando diferentes letras. Já a passagem <strong>para</strong> o terceiro nível, silábico-alfabético, marca a<br />

transição entre os esquemas prévios em vias de serem abandonados e os esquemas futuros, em<br />

vias de serem construídos. Por último, quando a criança alcança o nível alfabético e<br />

compreende o sistema de escrita socialmente arbitrado, ainda terá de superar as dificuldades<br />

ortográficas.<br />

Este panorama sobre as contribuições do trabalho de Ferreiro e Teberosky auxilia-nos<br />

a compreender melhor o que é <strong>alfabetização</strong>. Ao conhecer como se dá a aprendizagem das<br />

crianças, com base nesta teoria, podemos indicar que <strong>alfabetização</strong> se refere à aprendizagem<br />

do sistema convencional da língua escrita, caracterizada por uma sequência de níveis de<br />

concepções sobre a leitura e a escrita.<br />

A análise da psicogênese da <strong>alfabetização</strong> nos permite constatar que a criança avança<br />

no processo de aquisição da leitura e da escrita quando supera os conflitos de passagem entre<br />

os níveis psicogenéticos. Os conflitos de passagem são momentos preciosos do processo que<br />

se caracterizam pela evidência e contradições nas condutas do sujeito que aprende, as quais<br />

perdem estabilidade do nível anterior e ainda não se organizam de acordo com o nível<br />

seguinte. (GROSSI, 1990)<br />

17


É papel da professora alfabetizadora, com base na teoria construtivista, criar situações<br />

de ensino e aprendizagem que desestabilizem os conflitos de passagem, o que requer<br />

planejamento de atividades de acordo com o nível psicogenético que a criança se encontra na<br />

aprendizagem da leitura e da escrita, sendo que a identificação de tal nível acontece por meio<br />

da sondagem. O Guia Ler e Escrever, proposta da Secretaria de Educação do Estado de São<br />

Paulo de apoio ao trabalho de professoras alfabetizadoras, 12 define sondagem como:<br />

(...) uma atividade de escrita que envolve, num primeiro momento, a<br />

produção espontânea e sem apoio de outras fontes escritas de uma lista de<br />

palavras conhecidas dos alunos. Ela pode ou não envolver a escrita de frases<br />

simples. É uma situação de escrita que deve, necessariamente, ser seguida da<br />

leitura pelo aluno daquilo que ele escreveu. Por meio da leitura é que o<br />

professor poderá observar se o aluno estabelece ou não relações entre aquilo<br />

que ele escreveu e aquilo que ele lê em voz alta, ou seja, entre a fala e a<br />

escrita. (SÃO PAULO, 2006, p.35)<br />

A sondagem é um procedimento derivado das idéias de Ferreiro e Teberosky (1999)<br />

que tem tido difusão nas práticas alfabetizadoras. Segundo Monteiro (2010), as ideias destas<br />

autoras interferiram na organização de diversas práticas pedagógicas no ambiente escolar e<br />

foram expressivas na atuação <strong>docente</strong> porque trouxeram uma nova interpretação dos erros de<br />

escrita das crianças, ao mostrar que a aprendizagem da leitura e da escrita passa por diferentes<br />

níveis psicogenéticos.<br />

No caso da teoria sócio-histórica, notamos que as contribuições mais efetivas <strong>para</strong> as<br />

práticas pedagógicas referem-se ao desenvolvimento do caráter simbólico da escrita. Leite<br />

(2008) aponta que a mediação tem um papel determinante na relação entre a criança e a<br />

escrita e esta se configura numa intervenção importante que cabe à professora alfabetizadora.<br />

Nesta perspectiva teórica, segundo Monteiro (2010) é importante que a professora analise,<br />

considere e trabalhe as transformações da escrita da criança <strong>para</strong> garantir a qualidade de<br />

mudança da percepção sobre o mecanismo e o sentido da escrita.<br />

Até o momento, nos detivemos primordialmente na análise do processo de<br />

<strong>alfabetização</strong> no contexto da escolarização de forma sistematizada, a partir de então<br />

direcionaremos a discussão <strong>para</strong> outra perspectiva sobre a prática social da leitura e da escrita,<br />

isto é, abordaremos sobre a concepção de letramento, por considerarmos que a emergência<br />

deste conceito representa um marco na compreensão do processo de ensino da leitura e da<br />

escrita.<br />

12 Material disponível no Portal da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo:<br />

.<br />

18


O termo letramento surgiu na década de 1980, segundo Soares (2004b, p.47) ele pode<br />

ser definido como estado ou condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas cultiva e<br />

exerce as práticas sociais que usam a escrita. Tal definição sugere que a pessoa deve ser<br />

letrada, ou seja, que saiba fazer uso social da leitura e da escrita a ponto de usá-las com<br />

desenvoltura e propriedade <strong>para</strong> dar conta de suas atribuições sociais e profissionais.<br />

(CARVALHO, 2008)<br />

Nesse sentido, fica explícito que <strong>alfabetização</strong> é um processo diferente do de<br />

letramento. Para Carvalho (2008), por exemplo, a palavra <strong>alfabetização</strong> é usada no sentido<br />

restrito de aprendizagem inicial da leitura e escrita, isto é, a ação de ensinar (ou o resultado de<br />

aprender) o código alfabético, ou seja, as relações entre letras e sons, especialmente<br />

envolvendo a codificação e decodificação. Para Soares (2004b, p.31) “<strong>alfabetização</strong> é a ação<br />

de alfabetizar, isto é, tornar o indivíduo capaz de ler e escrever.”<br />

No que se refere especificamente ao termo letramento, segundo Kleiman (2003), esta<br />

concepção é definida como um conjunto de práticas sociais que usam a escrita, como sistema<br />

simbólico e como tecnologia, em contextos específicos, <strong>para</strong> objetivos específicos. Por estes<br />

motivos, compreendemos que o letramento é importante no processo de aquisição da leitura e<br />

da escrita porque através de práticas mais contextualizas traz significado e sentido ao processo<br />

de ensino e aprendizagem.<br />

Entretanto, <strong>para</strong> avançarmos na discussão sobre <strong>alfabetização</strong> e letramento não<br />

devemos nos ater apenas à diferenciação destes termos, pois é preciso considerar outros<br />

aspectos que estão associados à definição destas concepções. Soares (2004a), por exemplo,<br />

demonstra em seus estudos que no Brasil os conceitos de <strong>alfabetização</strong> e letramento se<br />

mesclam, se superpõem e frequentemente se confundem porque “embora a relação entre<br />

<strong>alfabetização</strong> e letramento seja inegável, além de necessária e até mesmo imperiosa, ela, ainda<br />

que focalize diferenças, acaba por diluir a especificidade de cada um dos dois fenômenos.”<br />

(p.8) Desta maneira:<br />

Dissociar <strong>alfabetização</strong> e letramento é um equívoco porque, no quadro das<br />

atuais concepções psicológicas, lingüísticas e psicolingüísticas de leitura e<br />

escrita, a entrada da criança (e também do adulto analfabeto) no mundo da<br />

escrita ocorre simultaneamente por esses dois processos: pela aquisição do<br />

sistema convencional de escrita – a <strong>alfabetização</strong> – e pelo desenvolvimento<br />

de habilidades de uso desse sistema em atividades de leitura e escrita, nas<br />

práticas sociais que envolvem a língua escrita – o letramento. Não são<br />

processos independentes, mas interdependentes, e indissociáveis: a<br />

<strong>alfabetização</strong> desenvolve se no contexto de e por meio de práticas sociais de<br />

leitura e de escrita, isto é, através de atividades de letramento, e este, por sua<br />

vez, só se pode desenvolver no contexto da e por meio da aprendizagem das<br />

19


elações fonema–grafema, isto é, em dependência da <strong>alfabetização</strong>.<br />

(SOARES, 2004a, p.14)<br />

Verificamos, portanto, que teoricamente os processos de <strong>alfabetização</strong> e letramento<br />

têm características muito peculiares, porém estão associadas e deveriam ocorrer de forma<br />

articulada. É interessante ponderarmos que definir e conhecer como se desenvolvem estes<br />

processos não significa e nem garante que na prática isto se aplique, como revelou a pesquisa<br />

de Carvalho (2008), ainda hoje as práticas se voltam excessivamente <strong>para</strong> a <strong>alfabetização</strong><br />

(aspectos técnicos, relativos ao ensino das relações entre grafia e fonema e código<br />

ortográfico) e se preocupam menos com o letramento. Esta autora identificou, num estudo<br />

com três professoras alfabetizadoras que a <strong>formação</strong> inicial e continuadas das professoras<br />

deveria ser mais aprofundadas, em relação ao temas específicos de ensino da leitura e da<br />

escrita. Ela observou que o conhecimento da teoria construtivista, por exemplo, é dado de<br />

forma superficial <strong>para</strong> as professoras, não relacionando com a prática e, portanto, não as tem<br />

pre<strong>para</strong>do <strong>para</strong> lidar com as situações concretas do dia-a-dia.<br />

Powaczuk (2009) ao investigar a trajetória formativa de algumas professoras<br />

alfabetizadoras constatou que sentimentos de angústia e desespero acompanharam o início da<br />

carreira delas, sendo que estes sentimentos eram oriundos da consciência do despreparo <strong>para</strong><br />

tal exercício, que por sua vez, foram moldados pelas condições e circunstâncias concretas da<br />

vida pessoal e profissional das mesmas. Com este estudo, a autora também evidenciou que no<br />

início da carreira <strong>docente</strong> as professoras afirmaram que adotaram uma atitude de reprodução<br />

na sala de aula porque fizeram o que lhes foi indicado pelos seus pares de trabalho como mais<br />

adequado e, por conseqüência, não demonstraram adotar uma postura reflexiva sobre as<br />

práticas realizadas, pois ainda não dispunham de elementos capazes de avançar fora do que<br />

lhes fora indicado.<br />

Dentre os diferentes elementos que poderiam e deveriam compor a <strong>formação</strong> <strong>para</strong><br />

alfabetizar e letrar, destacaremos a seguir alguns elementos quanto ao que se espera que uma<br />

professora aprenda na <strong>formação</strong> inicial <strong>para</strong> alfabetizar e letrar, numa apresentação dos<br />

Referenciais <strong>para</strong> o Exame Nacional de Ingresso na Carreira Docente (2011), documento que<br />

propõe uma matriz de referência com os conhecimentos gerais e específicos necessários <strong>para</strong><br />

se ingressar na carreira do magistério. Este documento foi proposto pelo MEC, discutido por<br />

diferentes grupos e constituirá a base <strong>para</strong> um exame nacional que poderá ser usado pelas<br />

secretarias estaduais e municipais <strong>para</strong> a seleção de professoras.<br />

20


Com relação ao tema específico do ensino de Língua Portuguesa, os conteúdos dos<br />

Referenciais <strong>para</strong> o referido Exame apontam que <strong>para</strong> ser uma professora alfabetizadora é<br />

preciso:<br />

Conhecer as diferentes concepções e métodos de <strong>alfabetização</strong> e<br />

letramento de crianças, jovens e adultos;<br />

Reconhecer as concepções referentes à <strong>formação</strong> de sujeitos leitores;<br />

Reconhecer as concepções com ênfase na linguagem oral e sua<br />

relação com a linguagem escrita;<br />

Conhecer as formas de uso da gramática <strong>para</strong> ensino da linguagem;<br />

Reconhecer o uso da literatura infantil <strong>para</strong> o ensino-aprendizagem<br />

da linguagem;<br />

Identificar as diferentes hipóteses de escritas dos alunos durante seu<br />

processo de <strong>alfabetização</strong>;<br />

Avaliar as habilidades de leitura e compreensão de textos dos<br />

alunos;<br />

Avaliar as habilidades dos alunos de produzir textos, de acordo com<br />

a hipótese de escrita;<br />

Compreender metodologicamente os motivos que levam aos erros<br />

dos alunos;<br />

Reconhecer intervenções viáveis <strong>para</strong> ajudar os alunos a superar os<br />

erros, considerando as habilidades alcançadas e a alcançar;<br />

Identificar estratégias de ensino da língua portuguesa adequadas a<br />

cada série ou etapa do desenvolvimento dos alunos, de modo a<br />

alcançar determinados objetivos de aprendizagem.<br />

(Referenciais <strong>para</strong> o Exame Nacional de Ingresso na Carreira<br />

Docente, 2011, p.09)<br />

Ao analisarmos os itens referentes ao ensino da Língua Portuguesa, é possível<br />

averiguarmos que <strong>para</strong> ingressar na carreira <strong>docente</strong>, a professora precisa dominar<br />

conhecimentos conceituais, atitudinais e procedimentais, de modo que, subentendesse que a<br />

teoria e prática devem estar presentes no processo de ensino-aprendizagem. Alguns dos<br />

aspectos abordados nesta seção do trabalho se manifestaram nos Referenciais, tais como o<br />

conhecimento sobre os métodos de <strong>alfabetização</strong>, os saberes sobre o letramento e sobre as<br />

concepções que estudantes apresentam sobre a língua escrita, assim como a interpretação dos<br />

erros cometidos. Alguns destes aspectos, relativos às intervenções da professora, serão mais<br />

explorados na Seção 4, outros aspectos se referem a etapas posteriores à <strong>alfabetização</strong>, como<br />

o relativo à Gramática, e há aspectos que, embora importantes, não serão destacados neste<br />

trabalho, como o destaque dado à literatura infantil.<br />

De modo geral, entendemos que é interessante existir um parâmetro que auxilie os<br />

cursos de <strong>formação</strong> <strong>docente</strong> em relação aos saberes e conteúdos relevantes <strong>para</strong> viabilizar uma<br />

<strong>formação</strong> inicial de qualidade. Mas, ao olhar criticamente <strong>para</strong> o presente Exame devemos nos<br />

atentar <strong>para</strong> que tais orientações não sejam absorvidas como receitas, pois há o risco dos<br />

21


cursos de <strong>formação</strong> <strong>docente</strong> vir a cumprir de qualquer maneira o que indica este documento,<br />

entretanto a qualidade deste ensino pode cair <strong>para</strong> um segundo plano, não priorizando o<br />

processo e sim, apenas os resultados.<br />

Neste cenário, ao refletirmos especificamente sobre qual deveria ser a <strong>formação</strong><br />

<strong>docente</strong> <strong>para</strong> a <strong>alfabetização</strong> e letramento, observamos na relação de conteúdos do Ensino de<br />

Língua Portuguesa que a expressão letramento vem a ser abordada uma única vez, por isso,<br />

interpretamos que a leitura e a escrita entendida como prática social ainda carece de maior<br />

aprofundamento. Não cabe neste momento analisar cada marcador, mas presumimos que pode<br />

haver outras ponderações.<br />

Contudo, nos propusemos nesta seção a discutir sobre a <strong>formação</strong> <strong>docente</strong> <strong>para</strong><br />

alfabetizar e letrar e expusemos as concepções teóricas do trabalho quanto a estes processos.<br />

Na próxima seção indicaremos a metodologia utilizada nesta pesquisa.<br />

22


3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS<br />

Nesta terceira seção apresentaremos os procedimentos metodológicos da pesquisa<br />

utilizados <strong>para</strong> a elaboração deste trabalho. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, que busca<br />

aprofundar significados das ações e relações humanas, tendo em vista, que estes aspectos não<br />

são perceptíveis e captáveis em equações, médias e estatísticas. (MINAYO, 1994)<br />

Bogdan e Biklen (1994) indicam cinco características da abordagem qualitativa, nesta<br />

perspectiva, consideram que o ambiente natural é a fonte direta de dados e a pesquisadora é<br />

seu principal instrumento. Também apontam que se trata de uma pesquisa descritiva, na qual<br />

o maior interesse da pesquisadora é estudar o processo. Além disso, o significado que as às<br />

pessoas atribuem às situações e à sua própria vida detém uma importância vital <strong>para</strong> a<br />

investigadora, que, ao analisar os dados, tende a seguir um processo indutivo, isto é, ela<br />

utiliza-se de múltiplas observações dos fenômenos, em que se partindo do específico busca-se<br />

conclusões de cunho generalizante.<br />

A opção por essa abordagem de estudo possibilita atender aos objetivos propostos pelo<br />

trabalho, que tem como foco central a análise das reflexões a respeito das aprendizagens e<br />

desafios que as vivências das bolsistas do PPSC tiveram em relação às práticas de leitura e<br />

escrita na escola, nos anos iniciais do Ensino Fundamental.<br />

A organização e desenvolvimento da pesquisa consistiram das seguintes etapas: 1)<br />

levantamento, seleção, leitura e estudo da bibliografia referente à temática em questão; 2)<br />

construção de um projeto de pesquisa; 3) redação das seções teóricas do trabalho; 4) definição<br />

dos procedimentos metodológicos; 5) fase de seleção das pessoas participantes da entrevista e<br />

coleta de dados (portifólios, diário de campo e entrevista); 6) análise de dados e 7) revisão<br />

geral de conteúdo e forma. O detalhamento destas fases, a seguir, é essencial <strong>para</strong><br />

contextualizar e justificar a escolha dos procedimentos metodológicos utilizados.<br />

Inicialmente foi feito um levantamento bibliográfico sobre o tema proposto, <strong>para</strong> tanto<br />

foram realizadas leituras sobre <strong>alfabetização</strong>, letramento, políticas públicas, <strong>formação</strong> <strong>docente</strong><br />

e documentos referentes ao <strong>PIBID</strong>. Com base nestes estudos, foi constituído um projeto<br />

inicial que definiu o problema central do trabalho, os objetivos, a metodologia, quais eram os<br />

resultados esperados e a elaboração de um cronograma.<br />

Após a construção deste projeto, as leituras dos referenciais teóricos se deram de<br />

forma constante, pois neste processo o trabalho foi sendo construído e sistematizado em<br />

seções, ao mesmo tempo em que dávamos andamento ao planejamento da etapa seguinte, o<br />

trabalho de campo.<br />

23


Antes de iniciar a coleta de dados, houve a seleção das bolsistas que participariam da<br />

pesquisa, quando determinamos que as reflexões empregadas neste trabalho fossem de dois<br />

tipos: sobre a minha própria prática e as práticas de outras bolsistas. A opção pela associação<br />

destes dois tipos de dados foi feita <strong>para</strong> que a pesquisa pudesse apresentar não só as minhas<br />

próprias reflexões, mas também as de outras colegas que atuaram no mesmo tipo de atividade<br />

que eu, que envolviam mais diretamente práticas de leitura e escrita na escola.<br />

Justifico a opção de com<strong>para</strong>r os dois tipos de reflexões por saber que em geral as<br />

pesquisas optam ora pela percepção da própria pesquisadora (professor pesquisador 13 ), com a<br />

análise das reflexões sobre a própria prática, ora pelo estudo de práticas de professoras.<br />

Entretanto, julguei que seria interessante apresentar os significados e aprendizagens<br />

propiciados pela atuação em <strong>alfabetização</strong> no <strong>PIBID</strong> não só da minha perspectiva, que foi a<br />

primeira intenção, mas também de outras colegas, porque queria saber até que ponto as<br />

minhas aprendizagens e reflexões eram compartilhadas por elas que atuaram no mesmo<br />

espaço educativo e com o mesmo tipo de proposta e de dificuldades, no mesmo período e<br />

Programa. Que pontos em comum e de dissonância, com<strong>para</strong>tivamente com o meu processo,<br />

apresentariam? Que outros componentes da experiência ofereceriam?<br />

Ao considerar que o grupo PPSC era composto por 24 bolsistas, foi critério <strong>para</strong> a<br />

seleção de duas participantes, aquelas que se dedicaram ao apoio de Português no ano de 2010<br />

e que realizaram o apoio escolar específico <strong>para</strong> <strong>alfabetização</strong>, com estudantes dos anos<br />

iniciais do Ensino Fundamental.<br />

Focamos no apoio escolar por considerarmos que é uma vivência de iniciação à<br />

docência riquíssima de aprendizagens e desafios em relação às práticas de leitura e escrita no<br />

contexto escolar. O apoio escolar funciona como uma atividade <strong>para</strong> as crianças que ainda não<br />

estão alfabetizadas, isto é, que estão em descompasso em relação às outras crianças de suas<br />

respectivas salas de aula. As turmas de apoio eram compostas com no máximo quatro<br />

estudantes do mesmo ano de ensino e as aulas ocorriam semanalmente com duração de 2<br />

horas. Consistia ação da bolsista planejar e aplicar atividades pedagógicas que iam ao<br />

encontro das dificuldades apresentadas pelas crianças, com a orientação da professora de<br />

educação básica, também bolsista do <strong>PIBID</strong>, que era a supervisora da área na escola.<br />

Nesse sentido, definidos os critérios de participação e selecionadas as bolsistas, a<br />

próxima etapa da pesquisa envolveu a coleta de dados. Lüdke e André (1986) ressaltam que<br />

<strong>para</strong> se estudar questões associadas ao cotidiano escolar são utilizadas mais freqüentemente<br />

13 Nesta vertente metodológica a professora é reconhecida como produtora de conhecimento, mesmo<br />

fora do espaço acadêmico. Zeichner (1998), Esteban e Zaccur (2002) são alguns representantes desta abordagem.<br />

24


na abordagem qualitativa a observação participante, que aproxima a pesquisadora da realidade<br />

estudada; a entrevista, que permite um maior aprofundamento das informações obtidas; e a<br />

análise documental, que complementa os dados obtidos e que aponta novos aspectos da<br />

realidade pesquisada.<br />

Dadas as circunstâncias e o prazo de menos de um ano <strong>para</strong> a elaboração desta<br />

monografia, optamos por utilizar como instrumentos de coleta de dados a entrevista e a<br />

análise documental. Em relação à entrevista Bogdan e Biklen (1994, p.134) apontam que esta<br />

é utilizada <strong>para</strong> recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo à<br />

investigadora desenvolver intuitivamente uma idéia sobre a maneira como os sujeitos<br />

interpretam aspectos do mundo. Neste caso, preferimos a entrevista reflexiva, a qual, segundo<br />

Szymanski (2008) consiste num encontro interpessoal e de interação entre a entrevistadora e<br />

as entrevistadas. Neste tipo de entrevista busca-se promover uma horizontalidade nas relações<br />

de poder, pois se prioriza a construção de conhecimento entre as envolvidas na pesquisa, com<br />

a garantia de retorno <strong>para</strong> a entrevistada dos dados obtidos.<br />

Para realizar as entrevistas foi elaborado um roteiro, composto por dez questões<br />

(APÊNDICE A). Na elaboração das perguntas procuramos abranger informações pertinentes<br />

ao tema estudado, direcionando, por exemplo, <strong>para</strong> as aprendizagens e desafios em relação à<br />

<strong>alfabetização</strong> e letramento através das experiências das bolsistas no PPSC. De acordo com as<br />

orientações de Szymanski (2008) buscamos relacionar os termos das perguntas com o<br />

universo linguístico das participantes e as indagações feitas se deram no sentido de<br />

induzirmos o diálogo a uma descrição.<br />

Os documentos analisados foram os portifólios 14 (das colegas e meu) e os meus diários<br />

de campo, que, com as entrevistas, foram considerados suficientes <strong>para</strong> uma análise do<br />

problema investigado. Os portifólios eram elaborados semestralmente pelas bolsistas do<br />

<strong>PIBID</strong>/<strong>UFSCar</strong>. Neles nos debruçávamos sobre nossas vivências no contexto escolar e o<br />

acesso aos mesmos era aberto <strong>para</strong> as pessoas envolvidas com o Programa. Ressaltamos que,<br />

em acordo com o Código de Ética de Pesquisa em Seres Humanos da <strong>UFSCar</strong>, foi solicitada<br />

permissão das entrevistadas por meio de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido<br />

<strong>para</strong> incluir este material na pesquisa, que em seu cerne possibilitou analisar alguns aspectos<br />

de suas práticas. Justifico ainda que apenas meus diários de campo foram utilizados e não os<br />

14 Ressaltamos que nas análises de dados, o portifólio não foi muito explorado porque devido a sua<br />

estrutura tratava de diversas questões relacionadas com o <strong>PIBID</strong>, as quais na maioria das vezes não estavam<br />

voltadas aos objetivos deste estudo.<br />

25


das colegas, por compreender que estes são mais pessoais e que os portifólios sintetizam as<br />

reflexões mais importantes, por isso não solicitei os diários <strong>para</strong> as licenciandas.<br />

Feita a coleta de dados, a etapa seguinte exigiu muito empenho. Neste caso, <strong>para</strong><br />

analisarmos as entrevistas gravadas, tivemos que transcrevê-las. Szymanski (2008) elucida<br />

que a transcrição da entrevista numa primeira versão deve ser feita na íntegra, tanto quanto<br />

possível, tal como se deu. Já numa segunda versão a autora aponta que deve ser feita uma<br />

revisão dos vícios de linguagem, com base nas normas ortográficas e de sintaxe <strong>para</strong><br />

posteriormente se fazer a categorização dos dados alcançados.<br />

Sabemos que existem diversas formas de agrupar as informações e, com as<br />

transcrições das duas entrevistas em mãos, optamos por analisar os dados em categorias de<br />

codificação. Bogdan e Biklen (1994) explicam que as categorias constituem um meio de<br />

classificar os dados descritivos que a pesquisadora recolheu e elas são constituídas com base<br />

nos objetivos da pesquisa e preocupações de investigação.<br />

Desta maneira, ao analisarmos as entrevistas buscamos os trechos que poderiam ser<br />

incluídos em diferentes categorias, que foram criadas a partir dos objetivos da pesquisa, na<br />

medida em que esta busca era feita. Foram usados lápis de cor <strong>para</strong> grifar nos documentos os<br />

trechos que pertenciam a cada categoria, com uma cor <strong>para</strong> cada uma. Surgiram diversas<br />

categorias, que posteriormente foram reagrupadas, melhor definidas e serão apresentadas na<br />

próxima seção do trabalho.<br />

Os trechos que serão apresentados na análise dos dados terão uma nomenclatura<br />

específica, <strong>para</strong> localizar a leitora a respeito de qual material se trata e de que participantes se<br />

referem: Entrevista, Pibidiana I; Entrevista, Pibidiana II; Portifólio, Pibidiana I; Portifólio,<br />

Pibidiana II, Portifólio da pesquisadora e Diário de campo da pesquisadora.<br />

Por fim, ao longo deste processo as seções foram sistematizadas e coube antes de<br />

concluir o TCC revermos a produção, revisando os conteúdos e as formas.<br />

26


4. AS FACETAS DAS APRENDIZAGENS E DESAFIOS PROPORCIONADOS PELO<br />

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À<br />

DOCÊNCIA/PEDAGOGIA/<strong>UFSCar</strong> – CAMPUS DE SÃO CARLOS (PPSC) PARA A<br />

FORMAÇÃO DOCENTE EM ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO<br />

Na última seção deste trabalho apresentaremos a análise dos dados obtidos por meio<br />

da leitura de portifólios e entrevistas realizadas com duas colegas do PPSC, além da análise<br />

da minha própria prática dentro do Programa, registrada em diários de campo. Tal análise tem<br />

por propósito apontar quais as contribuições do PPSC <strong>para</strong> a qualidade da <strong>formação</strong> de futuras<br />

professoras, em particular <strong>para</strong> atuar na área de <strong>alfabetização</strong> e letramento.<br />

Os dados obtidos nos puderam dar pistas acerca do objetivo proposto neste trabalho e<br />

estavam co-relacionados com o tema central foram agrupados em dois grandes blocos<br />

temáticos: 1) O <strong>PIBID</strong> e a Formação Docente; 2) A Formação Docente <strong>para</strong> Alfabetizar e<br />

Letrar: aprendizagens e desafios proporcionados pelo PPSC.<br />

Começaremos a partir da definição dos blocos a delimitar e destacar as categorias de<br />

análise que emergiram em cada conjunto e que foram perceptíveis na atuação das bolsistas,<br />

considerando tanto os referenciais teóricos, quanto os materiais analisados. Escolhemos <strong>para</strong><br />

esta apresentação o que consideramos serem os principais temas que identificamos, o que não<br />

esgotou os temas levantados. As categorias elencadas estão expostas no quadro abaixo:<br />

BLOCO 1 BLOCO 2<br />

Insuficiência dos saberes na <strong>formação</strong> inicial Planejamento<br />

Choque do real e/ou choque com a realidade Criação de sentido no processo de ensino e<br />

Sentimentos de medo e insegurança gerados<br />

pela inexperiência<br />

Importância da reflexão na fase de iniciação<br />

da carreira <strong>docente</strong>.<br />

Aprender a lidar com algumas barreiras<br />

institucionais<br />

O <strong>PIBID</strong> é um Programa significativo <strong>para</strong> a<br />

construção da docência<br />

aprendizagem da leitura e da escrita<br />

Recurso do alfabeto móvel<br />

Avaliação diagnóstica/sondagem<br />

Relação entre professora e estudantes<br />

A participação no <strong>PIBID</strong> trouxe importantes<br />

contribuições e aprendizagens específicas na<br />

área de <strong>alfabetização</strong> e letramento<br />

27


A experiência no PPSC propõe uma<br />

<strong>formação</strong> diferenciada<br />

O primeiro bloco temático foi dedicado ao <strong>PIBID</strong> e a Formação Docente, tendo em<br />

vista que nos dados analisados emergiram questões que se relacionam à <strong>formação</strong> <strong>docente</strong> em<br />

geral e que não estiveram especificamente direcionadas <strong>para</strong> o ensino da leitura e da escrita.<br />

Neste bloco as participantes revelaram alguns aspectos que envolvem o <strong>PIBID</strong> e a Formação<br />

Docente na fase de iniciação da carreira de professora e será nesta etapa do desenvolvimento<br />

profissional que nos deteremos com maior propriedade.<br />

Com relação ao primeiro tema pudemos identificar um sentimento de frustração em<br />

relação à <strong>formação</strong> <strong>para</strong> a docência em todas as respostas, porque a insuficiência dos saberes<br />

na <strong>formação</strong> inicial se revelou uma das mais recorrentes queixas das participantes<br />

entrevistadas. Isso pode ser percebido nas seguintes colocações:<br />

No meu curso de Pedagogia tive uma disciplina (Metodologia e Prática de<br />

Ensino de Alfabetização), mas é um tema muito amplo que talvez devesse ter<br />

sido mais explorado na nossa graduação porque talvez seja à base da nossa<br />

profissão e na prática esbarrei em várias dificuldades. (Entrevista, Pibidiana<br />

I)<br />

Através da vivência no <strong>PIBID</strong> pude perceber que a <strong>formação</strong> inicial não dá<br />

conta de pre<strong>para</strong>r os professores com conteúdos essenciais na área de<br />

língua portuguesa a serem ensinados às crianças, principalmente porque o<br />

currículo na <strong>formação</strong> inicial apresenta uma se<strong>para</strong>ção entre teoria e<br />

prática. (Portifólio, Pibidiana II)<br />

O que depreendemos desses depoimentos é que há uma insatisfação no modelo de<br />

<strong>formação</strong> inicial, que muitas vezes não está garantindo à futura professora subsídios tanto<br />

teóricos, como práticos <strong>para</strong> trabalhar. No entanto, observamos que as queixas em relação à<br />

qualidade da <strong>formação</strong> <strong>docente</strong> e as disputas entre os modelos de ensino historicamente vêm<br />

acompanhando os debates das políticas públicas em educação, como ressaltamos na primeira<br />

seção deste trabalho.<br />

Nesse sentido, constatamos que a preocupação com a qualidade da <strong>formação</strong> <strong>docente</strong><br />

não é algo novo no cenário político e a insuficiência dos saberes da <strong>formação</strong> inicial também<br />

não representa uma reclamação exclusiva das bolsistas, pois no início da carreira muitas<br />

professoras não se sentem pre<strong>para</strong>das <strong>para</strong> o exercício da docência, de acordo com autoras<br />

que pesquisam este tema, como Lima (2006), Powaczuk (2009), dentre outras.<br />

Segundo Huberman (1995) a entrada na carreira <strong>docente</strong> é marcada por dois aspectos:<br />

o de sobrevivência e o de descoberta. A fase de sobrevivência traduz o que se chama<br />

28


vulgarmente o “choque do real”, no qual as professoras se dão conta da complexidade da<br />

situação profissional e, em contrapartida o aspecto da descoberta revela o entusiasmo pela<br />

profissão. Deste modo, <strong>para</strong> o autor a experiência no início da carreira pode ser vivida pelas<br />

professoras como fácil e/ou difícil, porque não se trata de processos excludentes, tendo em<br />

vista que a descoberta ajuda a suportar a sobrevivência, deste modo, são processos<br />

interdependentes.<br />

Com a experiência no PPSC as bolsistas afirmaram em seus depoimentos que o<br />

Programa redimensionou o impacto com o choque do real e/ou choque com a realidade a<br />

partir do momento que tiveram contato com o cotidiano escolar ainda durante a graduação e a<br />

importância de terem tido uma inserção mais “tranquila” na fase de iniciação da carreira<br />

<strong>docente</strong> ficou explícita em falas como:<br />

Quando eu cheguei à escola, me dei conta que são milhares de problemas,<br />

como falta de material, tempo, então eu percebi que ensinar não é do jeito<br />

que eu achava que tinha que ser, entre outras coisas. (Entrevista, Pibidiana<br />

II)<br />

(...) estando na escola e com esta experiência que temos pelo <strong>PIBID</strong> não<br />

vamos chegar ao ano que vem formadas e ter esse impacto com essa<br />

realidade, porque de certa forma tivemos através do <strong>PIBID</strong>. (Entrevista,<br />

Pibidiana I)<br />

No entanto, o choque com a realidade escolar não é a única surpresa que vem com<br />

início da carreira. Nesta fase do desenvolvimento profissional, as participantes revelaram que<br />

os sentimentos de medo e insegurança gerados pela inexperiência também são reflexos de<br />

uma <strong>formação</strong> carente da articulação entre teoria e prática. Os depoimentos das bolsistas<br />

sobre as aulas de apoio exemplificam como esses sentimentos são determinantes até mesmo<br />

<strong>para</strong> o (in) sucesso do trabalho <strong>docente</strong>:<br />

A minha insegurança em relação a minha prática atrapalhou porque eu<br />

fiquei muito preocupada em fazer o certo, esquecendo que eu poderia errar<br />

e que errando talvez eu pudesse estar fazendo o certo, meu medo era de<br />

ensinar e estar ensinando errado. (Entrevista, Pibidiana I)<br />

No apoio eu tinha muita insegurança sempre em relação ao que eu estava<br />

passando e ao que as crianças estavam aprendendo. Muita insegurança,<br />

porque eu não sabia se as atividades que eu estava levando eram<br />

significativas <strong>para</strong> as crianças ou se era só mais uma perda de tempo de<br />

tirá-las da sala. (Portifólio da pesquisadora)<br />

Nas aulas de apoio não tinha ninguém que eu pudesse pedir auxílio, foi<br />

difícil <strong>para</strong> mim, faltou alguém <strong>para</strong> conversar a respeito da atividade se<br />

era legal ou não. Porque de verdade, vejo que saímos da universidade com<br />

muita insegurança e mesmo com o <strong>PIBID</strong>, que busca associar teoria e<br />

29


prática minha insegurança ainda é muito grande. (Entrevista, Pibidiana<br />

II)<br />

Diante destas explanações, observamos que as dificuldades com as quais as bolsistas<br />

se de<strong>para</strong>ram ao iniciar na profissão envolvem o medo de errar, falhar e de não dar conta do<br />

tamanho da responsabilidade profissional. Deste modo, notamos de forma implícita que as<br />

bolsistas criaram grande expectativa em relação a sua prática e que as facetas afetivas e<br />

cognitivas do magistério coloriram fortemente suas falas, marcadas pela percepção do que<br />

faltava na <strong>formação</strong> inicial.<br />

Também depreendemos dos depoimentos que a insegurança em relação à própria<br />

prática não é estancada na <strong>formação</strong> inicial e nem mesmo através do <strong>PIBID</strong>, porque temos<br />

dimensão que as dificuldades enfrentadas pelas professoras no início da carreira <strong>docente</strong> são<br />

diversas, podem ser sentidas de diferentes maneiras e em diferentes contextos. Para tanto,<br />

Imbernón (2009, p.61) nos lembra que é necessário o professor aprender a conviver com as<br />

próprias limitações e com as frustrações e condicionantes produzidos pelo entorno, já que a<br />

função <strong>docente</strong> se move em contextos sociais que, cada vez mais refletem forças em conflito.<br />

Entretanto, mesmo sabendo que as dificuldades estarão presentes no início da carreira<br />

<strong>docente</strong>, acreditamos ser importante que a <strong>formação</strong> inicial prepare melhor a futura professora<br />

<strong>para</strong> lidar com situações reais do cotidiano escolar, pois sabemos que elas são incertas e<br />

condicionadas por diferentes contextos sociais. Nesta perspectiva, vemos que é necessário<br />

haver uma nova epistemologia da prática, como apontamos com Pérez Gómez (1995) na<br />

Seção 1, que reconsidere de forma radical a função da professora como profissional e, em<br />

consequência proporcione uma mudança profunda tanto da concepção teórica da sua<br />

<strong>formação</strong> como do processo do seu desenvolvimento prático e reflexivo.<br />

Em relação às contribuições gerais do <strong>PIBID</strong> <strong>para</strong> a <strong>formação</strong> <strong>docente</strong> as participantes<br />

destacaram diversas vezes a importância da reflexão na fase de iniciação da carreira<br />

<strong>docente</strong>. Entre os comentários nas entrevistas pudemos notar que as reflexões sobre a própria<br />

prática ocorreram em diversas situações, por exemplo, em relação às aprendizagens<br />

adquiridas dentro da universidade, isto é, no curso de Licenciatura em Pedagogia, assim como<br />

acerca das aprendizagens que ocorreram dentro do espaço escolar, vivenciadas pelas bolsistas<br />

no <strong>PIBID</strong>.<br />

(...) Sem dúvida nenhuma a importância de refletir sobre a prática se deve<br />

ao <strong>PIBID</strong>, eu acho que sem o <strong>PIBID</strong>, sem estar ali num contexto escolar,<br />

diante das dificuldades dos alunos e minha, eu não poderia conceber a<br />

importância de refletir sobre isso. (Entrevista, Pibidiana I)<br />

30


A partir desta experiência percebo que a profissão <strong>docente</strong> não pode ser<br />

entendida como uma tarefa pronta e acabada, uma vez que está intimamente<br />

ligada à questão da observação, reflexão e autoavaliação da própria<br />

prática, que é constituída a partir da relação estabelecida com seus alunos,<br />

pois é através desta que o <strong>docente</strong> pode entender, captar e compreender as<br />

dificuldades e os anseios dos seus alunos <strong>para</strong> então rever e refletir sobre a<br />

sua própria ação. (Entrevista, Pibidiana II)<br />

Através desses comentários pudemos perceber que a compreensão a respeito do papel<br />

da reflexão na atuação <strong>docente</strong> <strong>para</strong> as participantes no início de carreira foi enriquecedora e<br />

determinante <strong>para</strong> a prática delas e se caracterizou como um diferencial na <strong>formação</strong> inicial.<br />

Para Alarcão (1996), o conceito de reflexão se apresenta com uma dimensão formativa e uma<br />

dimensão pragmática, quer isto dizer que aprofunda o nosso saber no que ele encerra de<br />

conhecimentos e de capacidades e que, além disso, se traduz no nosso modo de agir. A autora<br />

também elucida que ninguém deve ser obrigada a ser reflexiva, embora todas as pessoas<br />

devam ser estimuladas a sê-las, pois, educar <strong>para</strong> a autonomia implica fazer um ensino<br />

reflexivo que, por sua vez, se baseia numa postura reflexiva da própria professora.<br />

Nesse sentido, Schön (1995) propõe que a reflexão deve fazer parte do currículo<br />

formativo da professora. Como vimos na primeira seção, este autor define momentos de<br />

reflexões a respeito da prática <strong>docente</strong>, antes, durante e depois da ação em sala de aula, por<br />

saber que as situações vividas pelas professoras são únicas e exigem uma <strong>formação</strong> prática<br />

reflexiva.<br />

Aprender a lidar com algumas barreiras institucionais foi outro desafio encontrado<br />

pelas bolsistas no contexto escolar e que permitiu compreender de forma mais contextualizada<br />

como funcionam os meandros das relações escolares. As participantes revelaram que as<br />

relações institucionais são delicadas, pois exemplificam que no apoio, não puderam alcançar<br />

maiores avanços no trabalho devido a outras demandas e barreiras escolares, conforme os<br />

comentários abaixo ilustram:<br />

Eu atendia crianças com muita dificuldade, mas não era por falta de<br />

preguiça ou vontade, por exemplo, um dos alunos que estava naquela<br />

situação de apoio escolar foi porque veio transferido de outra escola com 6<br />

anos de idade apto <strong>para</strong> o 2º ano do Ensino Fundamental, isso quer dizer<br />

que ele perdeu o ano de <strong>alfabetização</strong>, ele não estava no lugar correto, pois<br />

deveria estar no 1º ano do Ensino Fundamental. Por mais que eu seja<br />

comprometida com meu trabalho, sinto que a própria instituição escolar<br />

criou uma condição de dificuldade de aprendizagem, porque talvez, se o<br />

menino estivesse no 1º ano não estaria na aula de apoio. (Entrevista,<br />

Pibidiana I)<br />

A falta de contato com a professora regular das crianças que eu atendia no<br />

apoio me incomodou bastante, porque eu sentia que ela encaminhou<br />

31


crianças <strong>para</strong> o apoio que não precisavam somente dele, como num caso<br />

específico de uma aluna que eu tinha, que precisou também de<br />

acompanhamento psicológico. Então eu acho que confunde muito quem é<br />

uma criança que precisa ir <strong>para</strong> o apoio, pois até mesmo <strong>para</strong> mim, que<br />

recebia aquelas crianças não tinha ficado nítido o porquê, mas era uma<br />

situação que está acima da minha decisão. (Entrevista, Pibidiana II)<br />

Observamos que o critério de escolha das crianças que foram <strong>para</strong> o apoio não foi bem<br />

discutido entre as bolsistas, com as professoras da escola e até mesmo com a direção, pois os<br />

comentários deixam a impressão de que as participantes tiveram que aprender a lidar com a<br />

imposição e determinação de quais estudantes deveriam cursar o apoio escolar, estando elas<br />

se sentindo confortáveis ou não nesta relação. Entretanto, lidar com as barreiras institucionais,<br />

não tem só aspectos negativos <strong>para</strong> a professora, porque Schön (1995) destaca que aprender a<br />

se confrontar com a burocracia escolar também faz parte do processo de aprendizagem da<br />

docência e de certa forma estes comentários reforçam que em algumas situações é comum o<br />

<strong>docente</strong> enfrentar situações burocráticas e reguladoras na escola.<br />

Todavia, as participantes afirmaram ainda que o <strong>PIBID</strong> é um Programa significativo<br />

<strong>para</strong> a construção da carreira <strong>docente</strong>, pois:<br />

A oportunidade de acompanhar as crianças em sala de aula e auxiliar a<br />

professora faz com que em todas as intervenções na escola eu amplie meu<br />

conhecimento e aprendizagens em diversos conteúdos que compõem o<br />

currículo escolar. (Diário de Campo da pesquisadora, 04/10/2010)<br />

Portanto, a partir dos últimos depoimentos notamos que há um reconhecimento de que<br />

as contribuições proporcionadas pelo <strong>PIBID</strong> estão sendo marcadas de forma significativa na<br />

<strong>formação</strong> inicial das participantes. Por este motivo, entendemos que os depoimentos das<br />

entrevistadas parecem confirmar a idéia de que experiências em grupos de pesquisa e<br />

extensão contribuem <strong>para</strong> uma <strong>formação</strong> <strong>docente</strong> de qualidade.<br />

Averiguamos também que o PPSC vem criando condições <strong>para</strong> as bolsistas se<br />

tornarem pesquisadoras da própria prática através da troca de saberes que se dá por meio do<br />

diálogo entre a universidade e a escola. Ressaltamos que tais contribuições não se restringem<br />

apenas as bolsistas, porque o Programa também foi significativo <strong>para</strong> a construção da carreira<br />

das professoras, tendo em vista que ao receberem as licenciandas em suas salas de aula se<br />

reconheceram como produtoras de saberes, ao compartilharem as experiências de seus<br />

trabalhos e conhecimentos.<br />

Analisamos ainda com maior precisão que o valor de qualidade atribuído a uma boa ou<br />

má <strong>formação</strong> está associado com o grau de envolvimento que as licenciandas têm com a<br />

prática e com a reflexão durante a graduação. Assim, considerando que na fase de iniciação à<br />

32


docência os vícios e as rotinas se constituem como processos usuais da profissão, ficou<br />

evidente que o Programa trouxe benefícios <strong>para</strong> a <strong>formação</strong> <strong>docente</strong> com ênfase no ensino<br />

prático-reflexivo, pois o hábito de refletir sobre a própria prática foi a maior faceta<br />

conquistada pelas participantes. Portanto, notamos no <strong>PIBID</strong> que a ênfase numa <strong>formação</strong><br />

prática reflexiva se distancia da <strong>formação</strong> da racionalidade técnica, na medida em que<br />

propicia os diferentes tipos de reflexão sobre a prática <strong>para</strong> as bolsistas.<br />

O segundo grande tema abordado nas entrevistas refere-se à Formação Docente <strong>para</strong><br />

Alfabetizar e Letrar: aprendizagens e desafios proporcionados pelo PPSC. Nesta temática<br />

reunimos os depoimentos direcionados <strong>para</strong> as práticas de leitura e escrita. Optamos por não<br />

se<strong>para</strong>r as aprendizagens e desafios encontrados no início da carreira <strong>docente</strong>, por<br />

considerarmos que são duas facetas da mesma experiência, afinal muitas vezes <strong>para</strong> se<br />

conquistar as aprendizagens é preciso superar os desafios.<br />

Comecemos a tratar sobre as expectativas das bolsistas antes da aula de apoio de<br />

Língua Portuguesa e de Alfabetização, porque no início de carreira o momento de<br />

planejamento se revelou dilemático <strong>para</strong> as participantes. Tal dilema pode ser ilustrado nos<br />

seguintes depoimentos:<br />

(...) observo e vivencio que meu maior dilema neste processo de transição do<br />

status de aluna <strong>para</strong> professora é conseguir planejar as atividades e<br />

dominar os conteúdos específicos do ensino. As dúvidas e preocupações me<br />

cercam perante a dificuldade e necessidade de planejar uma aula que ao<br />

longo do processo seja significativa <strong>para</strong> o ensino e aprendizagem da leitura<br />

e da escrita das crianças. (Portifólio da pesquisadora)<br />

No <strong>PIBID</strong> percebi que o fato de aprender a tentar planejar é muito difícil e<br />

muito complicado. Com as crianças, aprendemos a atender cada uma de um<br />

jeito diferente porque cada uma era de um jeito diferente, então tivemos que<br />

pensar como é que faço <strong>para</strong> essa atividade caber <strong>para</strong> esta criança, <strong>para</strong><br />

essa criança e <strong>para</strong> aquela criança. (Entrevista, Pibidiana II)<br />

Observamos nas falas das participantes que mais uma vez o medo, a insegurança e a<br />

inexperiência estão de certa forma interferindo na prática delas, desta vez, diretamente no<br />

momento de planejamento das aulas de apoio escolar. Entendemos que quando elas se<br />

de<strong>para</strong>ram com o desafio de planejar atividades específicas <strong>para</strong> <strong>alfabetização</strong> ficaram<br />

preocupadas com o tipo de atividade que tinham que pre<strong>para</strong>r, pois <strong>para</strong> elas o ensino tem que<br />

ter um sentido <strong>para</strong> as crianças. Consideramos que este tipo de anseio é próprio do início da<br />

vida profissional e tem também características próprias da carreira <strong>docente</strong>. Mediante tais<br />

sentimentos em relação à dificuldade de planejar e refletir sobre o apoio escolar, entendemos<br />

que é comum estas emoções cognitivas aflorarem no discurso das bolsistas, pois Schön (1995)<br />

33


também indica que a aprendizagem profissional é marcada pela confusão e incerteza, já que é<br />

impossível aprender sem ficar confuso. Nesse sentido, temos um contraste entre as impressões<br />

negativas das participantes com a proposta positiva que o autor apresenta como parte da<br />

aprendizagem da docência.<br />

No entanto, sabemos que na fase de iniciação à docência, são muitas as incertezas e<br />

que por isso é muito difícil nesta etapa perceber a positividade da confusão, mas nos<br />

depoimentos observamos que em alguns momentos aspectos positivos puderam ser<br />

percebidos nas falas das entrevistas. Desta maneira, apesar dos dilemas enfrentados pelas<br />

bolsistas <strong>para</strong> planejar e dominar conteúdos específicos de <strong>alfabetização</strong>, elas apontaram um<br />

ganho com este processo, na perspectiva da Pibidiana I:<br />

Tentar fazer o planejamento escolar contribuiu bastante <strong>para</strong> as minhas<br />

aulas, porque eu chegava com determinado planejamento, às vezes alguma<br />

coisa não estava certa, mas ali eu tinha uma base e não ficava tão<br />

desprevenida. (Entrevista, Pibidiana I)<br />

Nesse sentido, percebemos que as aprendizagens e os desafios estão atrelados ao<br />

planejamento, pois as participantes tiveram dificuldades em articular teoria e prática, mas o<br />

apoio teórico e o planejamento antecedendo as aulas de apoio ajudaram a direcionar a prática<br />

<strong>docente</strong>, principalmente na fase de iniciação à docência, na qual se sentiam muito<br />

despre<strong>para</strong>das e perdidas no exercício profissional.<br />

Também verificamos nos relatos que o planejamento é uma parte muito importante do<br />

processo de ensino e, conforme defende Gimeno Sacristán (1998), a oportunidade de pensar a<br />

prática, representando-a antes de realizá-la num esquema que inclua os elementos mais<br />

importantes <strong>para</strong> intervir na mesma, considerando as condições de trabalho, é um ato<br />

fundamental <strong>para</strong> a professora, que reflete uma maturidade profissional que as <strong>docente</strong>s têm<br />

ou estão adquirindo. Além disso, o autor reitera a necessidade das professoras<br />

compreenderem o significado desta ação, pois do contrário, tal atividade ficará apenas como<br />

assimilação de mera retórica, como uma exigência burocrática, ou será simplesmente deixada<br />

de lado.<br />

No momento das aulas de apoio as participantes destacaram de forma contundente em<br />

suas falas, diversas aprendizagens e desafios específicos que envolvem o ensino da leitura e<br />

da escrita. A criação de sentido no processo de ensino e aprendizagem da leitura e da<br />

escrita foi um tema muito exposto nas entrevistas. Todas as bolsistas perceberam que era<br />

importante incluir em seu ensino a questão de atribuir sentido ao que estavam tentando<br />

ensinar. Ressaltamos que esta percepção não é dada e a literatura educacional aponta que é<br />

34


muito comum as professoras não se ocuparem disto, conforme sinalizam os estudos Carvalho<br />

(2008), porém os depoimentos abaixo são bem elucidativos do contrário:<br />

Destaco que <strong>para</strong> mim o maior desafio é como mostrar <strong>para</strong> as crianças a<br />

importância delas serem alfabetizadas e letradas. Porque eu sentia no<br />

<strong>PIBID</strong>, no caso, daquelas crianças do apoio, talvez que elas não<br />

vivenciassem experiências em que precisassem ler, escrever e entender e por<br />

isso, <strong>para</strong> elas aquilo não fazia sentido, não fazia diferença. Eu acredito que<br />

o sentido social <strong>para</strong> a leitura e a escrita é muito importante, o ensino disso<br />

tem que vir junto com a parte de decodificar, mas não foi assim que eu<br />

comecei a fazer. (Entrevista, Pibidiana II)<br />

Eu achei muito difícil trabalhar com <strong>alfabetização</strong> porque é difícil ensinar a<br />

criança, mostrar <strong>para</strong> ela a leitura, mostrar a escrita, a fazer aquilo ganhar<br />

sentido porque as crianças chegam de diferentes formas e é difícil fazê-las<br />

compreender a importância de ler e escrever. Eu sentia que <strong>para</strong> elas<br />

aprender o abecedário já estava bom, é o que elas sabem, sabem escrever o<br />

nome e quebrar com isso pra mim foi muito difícil. (entrevista, Pibidiana I)<br />

Meu grande desafio enquanto uma profissional em <strong>formação</strong> está em<br />

ensinar sem que este ensinamento esteja alicerçado a uma prática de<br />

reproduzir o conhecimento, ou seja, que memorizem sem compreender <strong>para</strong><br />

que estão aprendendo. (Diário de Campo da pesquisadora, 04/10/2010)<br />

Eu vou destacar que eu não cheguei a trabalhar com o letramento, porque<br />

eu tinha dificuldade com <strong>alfabetização</strong>, justamente porque eu não sabia<br />

ensinar e identificar realmente a dificuldade das crianças e o que era<br />

preciso fazer. (Entrevista, Pibidiana I)<br />

Através desses relatos é possível perceber que as participantes tiveram muita<br />

dificuldade em saber se o que elas estavam ensinando estava correto e se estava surgindo<br />

efeito na aprendizagem das crianças. Nas falas também registramos que foi um grande desafio<br />

tentar promover o interesse nas crianças em aprender a ler e escrever, tendo em vista que a<br />

criação de sentido no processo de ensino e aprendizagem parecia ser uma tarefa inalcançável<br />

pelas bolsistas. Nesse sentido, pudemos compreender que no apoio trabalhamos com<br />

<strong>alfabetização</strong>, mas o letramento não foi tão aprofundado, pudemos interpretar que<br />

possivelmente a dificuldade em trabalhar com a <strong>alfabetização</strong> e letramento também está<br />

associada com a inexperiência das participantes.<br />

Se na categoria anterior as impressões foram quanto à dificuldade de incluir a<br />

atribuição de sentido das aprendizagens dos estudantes, minhas colegas e eu pudemos<br />

identificar um recurso que auxiliou muito as intervenções no apoio: o recurso do alfabeto<br />

móvel, conforme os comentários abaixo exemplificam:<br />

Foi nesse processo que eu descobri o alfabeto móvel, que fez todo sentido<br />

talvez <strong>para</strong> as crianças, eu não sei se elas tiveram um salto muito grande na<br />

35


aprendizagem da <strong>alfabetização</strong>, mas eu acho que eu consegui fazê-las<br />

perceber a <strong>formação</strong> das palavras, o sentido do alfabeto, <strong>para</strong> que se<br />

aprende o alfabeto. Isso porque através do alfabeto móvel as crianças<br />

puderam formar os próprios nomes, outras palavras e então este recurso fez<br />

sentido no processo de <strong>alfabetização</strong> <strong>para</strong> que elas deslanchassem.<br />

(Entrevista, Pibidiana I)<br />

Eu usei o alfabeto móvel porque era o que a gente tinha na escola e era o<br />

que as crianças se interessavam em brincar, porque só usando o caderno<br />

elas não se interessavam. Eu acho que é um recurso muito legal <strong>para</strong> as<br />

professoras usarem porque é concreto e acho que facilita <strong>para</strong> as crianças<br />

entenderem. (Entrevista, Pibidiana II)<br />

Logo, compreendemos que o uso deste recurso foi determinante <strong>para</strong> o processo de<br />

<strong>alfabetização</strong> por propiciar as crianças criarem palavras com maior liberdade, considerando<br />

que de forma lúdica e concreta elas estavam aprendendo e construindo o prazer em ler e<br />

escrever, além de atribuírem significado <strong>para</strong> as aulas. Além disso, justifica-se que este<br />

material pedagógico é muito importante no processo de <strong>alfabetização</strong> porque permite que a<br />

criança na fase inicial de aprendizagem da escrita postergue os desafios motores da escrita das<br />

letras e se concentra nos desafios conceituais, tais como: que letra devo usar <strong>para</strong> escrever?<br />

Quantas letras vou usar <strong>para</strong> escrever “sapo”? Vou repetir letrar ou preciso usar letras<br />

diferentes?<br />

Estes desafios são os mais crucias, de acordo com Ferreiro e Teberosky (1999) na fase<br />

de aquisição da leitura e da escrita, mas ressaltamos que a professora posteriormente deverá<br />

trazer outros elementos conceituais e proporcionar outros desafios motores em relação, por<br />

exemplo, à escrita das letras <strong>para</strong> se garantir o êxito na aprendizagem das crianças.<br />

As participantes indicaram apenas o alfabeto móvel como recurso pedagógico, e<br />

quando questionadas se apoiaram o trabalho em algum referencial teórico disseram que<br />

durante o processo não recorreram diretamente a um método de ensino. Elas alegaram que<br />

talvez possam até ter desenvolvido práticas tradicionais e terem usado a silabação, no entanto,<br />

não tinham uma definição exata do que se propunham a fazer, apesar de planejarem as aulas a<br />

maior preocupação se pautava em buscar sentido no que estavam ensinando.<br />

Uma das participantes comentou que chegou a fazer uma avaliação<br />

diagnóstica/sondagem, no início das aulas de apoio, sendo esta uma prática recomendada<br />

pela teoria construtivista, pelos seguintes motivos:<br />

Eu cheguei a fazer um diagnóstico com as crianças na primeira aula de<br />

apoio quando pedi <strong>para</strong> elas elaborarem uma redação e foi com isto que<br />

percebi que era preciso ainda alfabetizá-las. (Entrevista, Pibidiana II)<br />

36


Analisamos que a sondagem realizada foi importante <strong>para</strong> a bolsista perceber que as<br />

crianças ainda não estavam alfabetizadas, mas observamos que ela não partiu destes dados<br />

<strong>para</strong> classificar as crianças em níveis psicogenéticos da língua escrita. Ressaltamos que a<br />

sondagem tem por finalidade uma função diagnóstica <strong>para</strong> a professora, pois lhe permite<br />

acompanhar de maneira mais próxima como a criança está evoluindo no processo de<br />

aprendizagem da leitura e da escrita e, conforme vimos nas orientações do Guia Ler e<br />

Escrever, na segunda seção, se configura numa atividade de grande potencial, pois não se trata<br />

apenas de classificar as crianças em níveis de aprendizagem, e sim se revela como base <strong>para</strong> o<br />

planejamento <strong>docente</strong>.<br />

Durante as aulas de apoio outra situação que foi difícil de ser contornada pelas<br />

participantes foi a relação entre professora e estudantes, isso porque elas perceberam como<br />

é delicada esta relação, que pode influenciar diretamente na aprendizagem da criança. No<br />

depoimento abaixo a entrevistada relata seu mal-estar:<br />

(...) Uma das crianças me embarreirava, ela abaixava a cabeça e não<br />

deixava eu chegar <strong>para</strong> ensinar, era como se aquilo fosse uma vergonha.<br />

Então no começo das aulas eu tive que trabalhar isso também, no caso,<br />

melhorar a relação entre professor-aluno. (Entrevista, Pibidiana I)<br />

Sobre esses estudos na área educacional Libâneo (1990) afirma que a interação entre o<br />

professor e o aluno pode ocorrer entre dois aspectos: o aspecto cognoscitivo e o aspecto sócio-<br />

emocional. O primeiro aspecto está associado ao movimento que transcorre no ato de ensinar<br />

e aprender e, o segundo se referem aos vínculos afetivos entre professor e aluno que também<br />

regem a disciplina na sala de aula.<br />

Nesse contexto, observamos que a bolsista, no papel de professora durante a interação<br />

na sala de aula teve dificuldade a respeito dos aspectos sócio-emocionais que regiam a<br />

relação, mas ao perceber que ir <strong>para</strong> o apoio era um ato vergonhoso <strong>para</strong> a criança, a<br />

professora tentou transformar esse sentimento por meio do diálogo.<br />

Concomitantemente, em meio às dificuldades, as bolsistas também estavam<br />

aprendendo e afirmaram que a participação no <strong>PIBID</strong> trouxe importantes contribuições e<br />

aprendizagens específicas na área de <strong>alfabetização</strong> e letramento. Nas seguintes colocações<br />

as entrevistadas identificaram alguns resultados advindos da participação no PPSC:<br />

No <strong>PIBID</strong>, com relação à <strong>alfabetização</strong> o que eu aprendi, acho que foi meio<br />

no susto e na experimentação porque eu planejava uma atividade que eu<br />

acha que ia ser importante <strong>para</strong> aquelas criança e eu pesquisava uma<br />

atividade que alguém já tivesse feito. (Diário de campo da pesquisadora,<br />

09/11/2010)<br />

37


O que eu aprendi no <strong>PIBID</strong> que eu constatei trabalhando com <strong>alfabetização</strong><br />

é que despertar a curiosidade, a vontade na criança de fazer parte do<br />

mundo da leitura e da escrita é a coisa mais difícil que tem (...) (Entrevista,<br />

Pibidiana I)<br />

Eu tive dificuldade em saber como despertar o desejo da criança <strong>para</strong><br />

aprender a ler e escrever e no <strong>PIBID</strong> eu percebi que isto era algo<br />

importante, quase que crucial porque como professora aprendi que tenho<br />

que partir desse despertar <strong>para</strong> depois conseguir abordar outras questões<br />

(...) (Entrevista, Pibidiana II)<br />

Identificamos novamente nos depoimentos, que o desafio em criar sentido nas<br />

atividades de leitura e escrita esteve muito presente na fase iniciação da carreira <strong>docente</strong> das<br />

participantes, mas vimos também que com isto elas aprenderam que despertar a vontade de<br />

aprender nas crianças, criando confiança e estabelecendo uma relação saudável entre<br />

professora-aluna é um elemento crucial <strong>para</strong> possivelmente se obter sucesso na atividade<br />

profissional.<br />

Os depoimentos também revelaram que é um ganho muito grande <strong>para</strong> as bolsistas ter<br />

contato com o cotidiano escolar ainda na graduação, de modo que a experiência no PPSC<br />

propõe uma <strong>formação</strong> diferenciada, na qual teoria e prática estão mais integradas. Isso pode<br />

ser confirmado na afirmação abaixo:<br />

Eu acredito que as bolsistas estão tendo um ganho muito grande tendo a<br />

oportunidade de participar desse grupo do <strong>PIBID</strong>, de estar dentro da escola<br />

ainda em <strong>formação</strong>, vendo tudo que vamos enfrentar e sabendo da<br />

importância de se buscar conhecimento teórico e prático <strong>para</strong> estar atuando<br />

no sentido dessa conscientização de, alfabetizar <strong>para</strong> o mundo, alfabetizar<br />

<strong>para</strong> vida, no âmbito de letramento, com um sentido social. (Entrevista,<br />

Pibidiana I)<br />

Além disso, averiguamos que mesmo as participantes dizendo que não sabiam<br />

trabalhar com <strong>alfabetização</strong> e letramento tiveram outras aprendizagens desta situação, com<br />

aspectos positivos e negativos, conforme os comentários explicitam:<br />

Talvez o que tire de aprendizado dessa etapa do processo que eu trabalhei<br />

com <strong>alfabetização</strong> é justamente olhar <strong>para</strong> o que já fiz e não fazer mais, no<br />

sentido de sempre aprimorar. (Diário de Campo da pesquisadora,<br />

06/05/2011)<br />

Mais penso que foi ótimo esta experiência porque no ruim ou no bom a<br />

gente sempre aprende alguma coisa e a minha esperança é sempre aprender<br />

<strong>para</strong> melhorar futuramente, amanhã, daqui a algumas horas, não sei.<br />

(Entrevista, Pibidiana I)<br />

38


Para tanto, encerramos a análise desses dados com uma marca de esperança, porque<br />

pudemos observar a partir do relato das vivências das bolsistas no PPSC que a fase de<br />

iniciação da carreira <strong>docente</strong> nem sempre se dá de forma calma e tranquila, pois não há<br />

nenhuma receita pronta que resultará no sucesso profissional, entretanto salientamos que<br />

mesmo diante do fácil ou difícil é preciso acreditar no trabalho <strong>docente</strong>, não perdendo a<br />

esperança e sem desanimar.<br />

Finalizando, contatamos que as facetas das aprendizagens e desafios proporcionados<br />

pelo PPSC, principalmente com ênfase nas práticas de leitura e escrita estão fortemente<br />

enraizadas no processo de ensino e aprendizagem, tendo em vista que por meio destas facetas<br />

o Programa tem se revelado uma política efetiva na qualidade da <strong>formação</strong> <strong>docente</strong>, pois a<br />

capacidade de propiciar às licenciadas o contato com o cotidiano da sala de aula, envolvendo<br />

teoria e prática, numa proposta de <strong>formação</strong> prática-reflexiva está sendo percebido como<br />

muito significativo na <strong>formação</strong> de futuras professoras.<br />

39


CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Propusemo-nos a discutir neste trabalho sobre a <strong>formação</strong> <strong>docente</strong> <strong>para</strong> alfabetizar e<br />

letrar. Nesse sentido, o objetivo geral foi analisar e refletir sobre as aprendizagens e desafios<br />

que as licenciadas vinculadas ao PPSC tiveram em às práticas de leitura e escrita na escola,<br />

nos anos iniciais do Ensino Fundamental.<br />

Nesta pesquisa inicialmente apresentamos as relações entre as políticas públicas<br />

educacionais e a <strong>formação</strong> de professoras tanto no contexto internacional, quanto no nacional,<br />

ao explorarmos modelos de <strong>formação</strong> <strong>docente</strong>. Notamos que o modelo da racionalidade<br />

técnica tem uma utilidade muito limitada <strong>para</strong> a <strong>formação</strong> de professoras, pois o ensino<br />

instrumental baseado apenas em teorias e técnicas científicas, geralmente não fornece<br />

subsídios suficientes <strong>para</strong> que elas lidem com questões complexas e incertas que envolvem o<br />

exercício profissional.<br />

Observamos que a ênfase na modalidade prática-reflexiva se configura numa proposta<br />

interessante, na medida em que aproxima teoria e prática durante a <strong>formação</strong> inicial. Nesta<br />

perspectiva, compreendemos que a reflexão é uma atividade chave nesta conexão da teoria<br />

com a prática, pois ao fazer este processo a professora passa a refletir sobre o processo de<br />

ensino e aprendizagem, com base em aportes teóricos que auxiliam na resolução de muitos<br />

desafios da docência.<br />

Neste contexto, diante de diversas políticas públicas, diretrizes e referenciais <strong>para</strong> a<br />

<strong>formação</strong> <strong>docente</strong>, nos detivemos na análise do <strong>PIBID</strong> por consideramos que este Programa<br />

representa uma novidade potencialmente interessante no cenário da educação superior, por<br />

propiciar às licenciandas o contato com o cotidiano de escolas públicas, através do incentivo à<br />

docência ainda durante a <strong>formação</strong> inicial.<br />

Ao analisamos a <strong>formação</strong> <strong>docente</strong> sobre o prisma da <strong>alfabetização</strong> e letramento,<br />

constatamos que esses temas são poucos aprofundados na <strong>formação</strong> inicial, como aponta a<br />

literatura, o que foi reiterado nos dados levantados neste estudo, que muitas professoras na<br />

fase de iniciação da carreira <strong>docente</strong> se sentem despre<strong>para</strong>das em relação à atuação<br />

profissional, e neste caso, principalmente no que tange os conteúdos <strong>para</strong> alfabetizar e letrar.<br />

Na pesquisa realizada com as bolsistas do PPSC, ficou evidente que este despreparo está<br />

representado nos sentimentos de insegurança e medo gerados pela inexperiência, com a<br />

prática profissional. Algumas aprendizagens se destacaram nas análises, no sentido de<br />

caminhar <strong>para</strong> uma sensação de menos insegurança, tais como a percepção da importância<br />

que tem a reflexão sobre a prática na vivência do PPSC, de como identificar e buscar superar<br />

40


as barreiras institucionais e a delicadeza dos meandros da relação com estudantes.<br />

Percebemos ainda que a experiência ajudará a amainar o choque de realidade que professoras<br />

iniciantes enfrentam.<br />

Quanto a aspectos mais especificamente relacionados a aprender a ensinar a língua,<br />

um dos desafios que se destacou nos relatos das licenciandas foi o de planejar sua ação, o que<br />

requer a articulação entre o repertório de conteúdos específicos sobre a língua, os<br />

conhecimentos pedagógicos <strong>para</strong> o ensino de Português com as necessidades e saberes dos<br />

estudantes, <strong>para</strong> que o ensino proposto faça sentido. A preocupação com a criação de sentido<br />

na aprendizagem das crianças que apresentavam dificuldades na leitura e escrita foi<br />

mencionada nos relatos das três licenciandas e um dos elementos identificados, nas ações<br />

realizadas no apoio, foi a ênfase nos processos de codificação e decodificação e uma<br />

secundarização do letramento.<br />

Aprendizagens mais instrumentais também foram realçadas nas vozes das<br />

participantes, como fazer a sondagem e reconhecer as possibilidades do alfabeto móvel no<br />

início do processo de <strong>alfabetização</strong>.<br />

Portanto, verificamos que a partir dos procedimentos metodológicos utilizados, numa<br />

abordagem qualitativa, conseguimos contemplar os objetivos propostos inicialmente, tendo<br />

em vista, que constatamos diversas aprendizagens e desafios que envolvem a que a <strong>formação</strong><br />

<strong>docente</strong> <strong>para</strong> a <strong>alfabetização</strong> e letramento, devido à análise e reflexão de práticas de leitura e<br />

escrita no contexto escolar, com licenciandas vinculadas ao PPSC.<br />

Concluímos que este trabalho traz contribuições <strong>para</strong> analisar alguns aspectos da<br />

<strong>formação</strong> inicial da docência, voltados principalmente <strong>para</strong> a <strong>alfabetização</strong> e letramento e<br />

devido às vivências apresentadas pelas bolsistas do PPSC constatamos que este Programa está<br />

sendo significativo <strong>para</strong> a <strong>formação</strong> das mesmas. Enfim, entendemos que os cursos de<br />

licenciatura têm muito a ganhar ao antecipar o ingresso de licenciandas no ambiente escolar<br />

de forma supervisionada e orientada, <strong>para</strong> além da experiência com os estágios, porque<br />

efetivamente esta política oferece uma contribuição <strong>para</strong> o aperfeiçoamento da <strong>formação</strong> de<br />

<strong>docente</strong>s em nível superior e <strong>para</strong> a melhoria de qualidade da educação básica pública<br />

brasileira.<br />

41


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46


APÊNDICE<br />

47


APÊNDICE A<br />

ROTEIRO PARA ENTREVISTAS COM AS BOLSISTAS DO <strong>PIBID</strong> DO CURSO DE<br />

1. Nome _________________<br />

2. Qual é a sua experiência profissional?<br />

PEDAGOGIA DA <strong>UFSCar</strong><br />

3. Período de atuação no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência<br />

(<strong>PIBID</strong>) __________________<br />

4. Conte como foi a sua atuação nas atividades do <strong>PIBID</strong>.<br />

5. O que você aprendeu com a participação no <strong>PIBID</strong>?<br />

6. Quais destas aprendizagens você considera importantes <strong>para</strong> a sua docência?<br />

7. Você lembra-se de situações dilemáticas que enfrentou atuando no <strong>PIBID</strong>?<br />

8. O que você aprendeu atuando no <strong>PIBID</strong> quanto a alfabetizar e letrar?<br />

9. Você se lembra de situações difíceis que enfrentou quando ensinava as crianças a ler e<br />

escrever? Poderia relatá-las?<br />

10. Você poderia resumir o que não sabia sobre <strong>alfabetização</strong> e letramento e que aprendeu<br />

atuando no <strong>PIBID</strong>?<br />

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