MEMÓRIAS DE UM EX-CADETE DA AERONÁUTICA - ReservAer
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Certo dia estava na varanda do meu quarto, olhando a<br />
paisagem, quando vi passar um corpo caindo. Era um oficial que<br />
estava internado com problemas cardíacos e que havia se<br />
suicidado, pulando da varanda do seu quarto no hospital. Seu<br />
corpo ficou estatelado no pátio interno, por algum tempo, antes<br />
que o retirassem.<br />
Naquele hospital a seção de ortopedia ficava no mesmo andar<br />
da de psiquiatria e, durante o dia, vários “malucos beleza”<br />
(pessoas com problemas mentais, porém não violentas), passeando<br />
pelos corredores, acabavam penetrando nos quartos para<br />
conversar com os pacientes engessados. Nós costumávamos gozar<br />
os “malucos”, contando estórias inventadas, as quais eles,<br />
acreditando nelas piamente, passavam adiante.<br />
Em uma ocasião um deles entrou no meu quarto, disse que<br />
havia um cadete na capela (que ficava em um prédio atrás do<br />
hospital e estava ligada a este por um pátio interno) e perguntou-<br />
me se não queria ir falar com ele. Fui, então, com o “maluco” até a<br />
capela, pensando encontrar ali um colega que havia sido<br />
transferido para o hospital com algum problema. Lá chegando,<br />
havia um caixão com o corpo de um cadete, acidentado em<br />
desastre aéreo, naquele dia, e que havia falecido em conseqüência<br />
dos ferimentos e queimaduras recebidos.<br />
Fiquei sem saber se, de tanto ser gozado, o “maluco” resolvera<br />
também gozar alguém, ou se ele estava realmente maluco e achava<br />
que podíamos conversar com os mortos.