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A Lenda do Amor

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H-10<br />

Uma realização SESC-Madureira -2006<br />

Histórias para a Mulher Pássaro<br />

A <strong>Lenda</strong> <strong>do</strong> <strong>Amor</strong><br />

Ricar<strong>do</strong> Kubrusly<br />

Há muitos e muitos anos, não éramos dividi<strong>do</strong>s em <strong>do</strong>is sexos diferentes, como hoje<br />

somos, mas em três.<br />

Éramos seres muito estranhos, re<strong>do</strong>n<strong>do</strong>s como bolas, tínhamos tu<strong>do</strong> em <strong>do</strong>bro.<br />

Tínhamos, naquela época, duas faces, uma oposta a outra. Dois olhos miran<strong>do</strong> o mar,<br />

<strong>do</strong>is as montanhas. Essa visão de 360 graus muito nos ajudava para encontrar o que<br />

procurávamos ou, mesmo, fugir <strong>do</strong> indeseja<strong>do</strong>. Tínhamos quatro orelhas, como se podia<br />

esperar em um ser de duas faces opostas. Com isso ouvíamos muito mais <strong>do</strong> que hoje<br />

em dia e podíamos determinar com bastante precisão de onde vinham os sons. Dois<br />

narizes nos davam a precisa direção <strong>do</strong>s cheiros e usávamos, de fato, as duas bocas que<br />

tínhamos para alimentar melhor o corpo esférico e <strong>do</strong>bra<strong>do</strong> de que dispúnhamos.Braços<br />

e pernas eram o nosso ponto alto. Com quatro braços longos e quatro mãos<br />

determinadas, nada escapava ao nosso alcance, éramos capazes de piruetas<br />

inimagináveis e nossas quatro pernas fortes nos faziam rápi<strong>do</strong>s precisos nos<br />

movimentos e capazes de saltos espetaculares. Éramos seres quase perfeitos e<br />

<strong>do</strong>minávamos o mun<strong>do</strong> com nossos três sexos bem defini<strong>do</strong>s.<br />

Havia os machos que se chamavam, como agora ainda se chamam, homens, as fêmeas,<br />

ou mulheres, e os andrógenos que eram seres bolas, como to<strong>do</strong>s os outros que tinham<br />

ao mesmo tempo os <strong>do</strong>is sexos, masculino e feminino. Éramos felizes e <strong>do</strong>minávamos o<br />

mun<strong>do</strong>.


Com o sucesso da nossa espécie, vieram a arrogância e o sonho de poder e, então<br />

começamos a desafiar os deuses. No início eles, com as muitas tarefas que tinham na<br />

contínua organização de to<strong>do</strong> o cosmos, não deram muita importância ao<br />

comportamento vai<strong>do</strong>samente escandaloso que passamos a ter nas relações com as<br />

outras espécies e, principalmente, nas relações com to<strong>do</strong>s os deuses, que de obediência<br />

passaram a desafiantes e questiona<strong>do</strong>ras. Não demorou muito e começamos a tramar<br />

uma tomada de poder. Usaríamos nossas pernas e braços e nossos senti<strong>do</strong>s aguça<strong>do</strong>s<br />

para escalar os céus e tomar o controle <strong>do</strong> cosmos. Os deuses ao perceberem que<br />

estavam sen<strong>do</strong> desafia<strong>do</strong>s e ataca<strong>do</strong>s, resolveram nos punir.<br />

Mandaram que fôssemos dividi<strong>do</strong>s em <strong>do</strong>is. Corta<strong>do</strong>s pelo meio em duas metades iguais<br />

e diferentes. Dessa vingança <strong>do</strong>s deuses, surgiram <strong>do</strong>is seres horríveis. Abertos pelo<br />

meio expunham a princípio, o corte imenso em um <strong>do</strong>s la<strong>do</strong>s com os pés e a cabeça<br />

vira<strong>do</strong>s para o outro la<strong>do</strong>. Os deuses mandaram que cabeças e pés fossem revira<strong>do</strong>s para<br />

que pudéssemos olhar a chaga em que nos tínhamos transforma<strong>do</strong> enquanto<br />

caminhávamos para frente. Com pena dessa triste figura, os próprios deuses que nos<br />

haviam castiga<strong>do</strong>, mandaram um mensageiro tapar as nossas feridas. Ele desceu ao<br />

mun<strong>do</strong> em cada um de nós, repuxou a pele das bordas <strong>do</strong> corte até que ela se unisse no<br />

meio, <strong>do</strong> que hoje chamamos a barriga, e com um nó, fechou-nos a ferida e criou o<br />

umbigo, para que ao vê-lo, sempre pudéssemos nos lembrar <strong>do</strong> nosso feito e de suas<br />

conseqüências.<br />

Os seres parti<strong>do</strong>s se dispersaram e passaram, desde então,a procurar sua outra metade<br />

perdida. Sua cara metade com que eles se completariam.<br />

Os que originalmente eram homens se dividiram em <strong>do</strong>is homens que se buscavam, os<br />

que eram mulher, em duas mulheres que se buscavam e os andrógenos em um homem e<br />

uma mulher que se completariam e que teriam a responsabilidade de procriar essa nova<br />

espécie com apenas <strong>do</strong>is sexos diferentes e um amor resultante da eterna busca da cara<br />

metade.

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