Direito educacional e educação no século XXI ... - unesdoc - Unesco

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jovens portugueses (inclusive os nascidos no Brasil) quanto a que se ministrava para meninos e meninas indígenas. As conseqiiências dessa açâo educacional e missionária marcaram todo o inicio de nossa historia e podem ser assim resumidas: 1 ) introduçâo de mudanças substanciáis na vida dos indígenas da área litorânea, causando a destruiçâo de sua cultura ou modificando, irreversivelmente, hábitos tradicionais como o nomadismo; 2) manutençâo da unidade "nacional" em torno da lingua portuguesa e da fé crista; 3) maior facilidade de comunicaçâo entre colonizadores e indios, pois estes, devido aos ensinamentos de portugués, aprenderam logo os rudimentos da nova lingua; 4) preparo técnico dos indígenas em varios oficios, facilitando a sua integraçâo na carnada mais baixa da pirámide social da nascente sociedade brasileira; 5) desenvolvimento do processo de urbanizaçâo, através do aldeamento ( agrupamento de indios ou tribos em núcleos urbanos); 6) modificacáo do regime de trabalho dispersivo, transformando-o em trabalho disciplinado como o agrícola; 7) reformas no modo de vida indígena, com o estabelecimento de vínculos familiares e a exaltaçâo as fórmulas de dignidade individual e doméstica, sem falar na substituiçâo dos rituais de mitos primitivos por outros do teocentrismo medieval; 8) atenuaçâo da violencia no trato dos indios pelos colonizadores e combate à escravidâo dos indígenas; 9) apaziguamento de indios e de tribos revoltados contra a dominaçâo cultural, económica e social. 3.2.2. Da reforma de 1759 à independencia A educaçâo em Portugal e ultramar, antes da reforma implantada pelo Marqués de Pombal, baseava-se ñas rígidas regras da escolástica, definidas especialmente por Sao Tomás de AQUINO, que, com base no pensamento de ARISTÓTELES, renovou amplamente a patrística oriunda de Santo Agostinho, mantendo, contudo, os principios básicos do teocentrismo medieval. Em éditai de 7 de maio de 1746, baixado pelo Reitor do Colegio das Artes de Coimbra, fica clara essa influencia da escolástica na área educacional: "... nos exames, ou licöes, Condusöes Públicas ou Particulares se näo ensine defensäo ou opiniöes novas pouco recebidas, ou inúteis para o e das ciencias maiores como sao as de Renato DESCARTES, GASSENDO, NEWTON, e outros, e, nomeadamente qualquer ciencia, que defenda os átomos de EPI CURO, ou negué as realidades dos acídenles encáustic ou quaisquer condusöes opostas ao sistema de ARISTÓTELES, o qual nestas escolas se deve seguir como repetidas vezes se recomenda nos estatutos deste Colegio das Artes" 1 ' 6 . 116 Id ibid, p. 86. - 105-

O Consulado Pombalino, iniciado em 1751, implantou em Portugal urna nova política económica, com leis voltadas para a promoçâo do trabalho e da industria, a qual se fez acompanhar de urna nova filosofía, que implicava a secularizaçâo de todos os setores da sociedade, na supremacía do Direito Civil sobre o Canónico e no fortalecimento do predominio e do controle do Estado sobre a Igreja, bem como na tentativa de banimento, por decreto, da escolástica. Tal mudança ñas relaçôes do Estado com a Igreja foi efetivamente violenta e incluiu a expulsáo dos jesuítas que atuavam no Brasil, os quais já haviam sido expulsos do Grao-Pará, bem como o lançamento de um programa oficial de política indígena, prevendo liberdade para os silvícolas e término das interferencias das ordens religiosas na vida dos indios. Com a revogaçâo de antigás leis, Pombal implantou urna verdadeira reforma em toda a so-ciedade portuguesa, inclusive na área educacional, por meio do Alvará de 28 de junho de 1759. Estavam incluidas nesse Alvará as seguintes mudanças: a) reforma dos estudos de Latim, Grego e Retórica; b) proibiçâo aos jesuítas de dirigir esses estudos; c) proibiçâo do uso de métodos de ensino dos jesuítas e d) proibiçâo da adoçâo de livros dos jesuítas. Inicia-se a implantaçâo dessa reforma no Brasil, sob a direçâo de D. Tomás de ALMEIDA, ainda em 1759, com a realizaçâo do primeiro concurso público para escolha de professores regios, no qual foram aprovados dezenove mestres. O Alvará de 4 de junho de 1771 dá continuidade a essa restauraçâo dos estudos tanto no Reino quanto nos seus dominios, incluindo a transferencia da Administraçâo e Direçâo dos Estudos Menores para a Real Mesa Censoria e a criaçâo de dezessete aulas de 1er e escrever. Para se pagar os novos professores leigos, é criado um novo imposto, o "subsidio literario", visando, para eles, "decente fionestidade de fiabitaçao e de independencia". Acompanha essa reforma urna mudança profunda na filosofía da educaçâo reinante, com o predominio das idéias iluministas. Todavía, esse iluminismo portugués e brasileiro foi bem diferente do francés, pois nao foi nem revolucionario, nem anti-histórico, nem irreligioso. Com efeito, apesar de progressista, reformista e de cunho nacionalista, nao repudiou o catolicismo. Na realidade, reimplantou a tradiçâo humanista na área pedagógica, valorizando os professores leigos, que passaram a ser considerados como exemplo para toda a sociedade, bem no espirito do educador romano SÉNECA, que dizia: "Magister se ipsum docet discipulis". A Pedagogía de entáo baseava-se num modernismo moderado, "mais de método que de fundo", e na simplificaçâo, procurando abreviar, reduzir e explicar por principios universais, condenando o aristotelismo escolástico e afirmando o "regalismo" de natureza ético-jurídica. - 106-

jovens portugueses (inclusive os nascidos <strong>no</strong> Brasil) quanto a que se ministrava para meni<strong>no</strong>s<br />

e meninas indígenas.<br />

As conseqiiências dessa açâo <strong>educacional</strong> e missionária marcaram todo o inicio de <strong>no</strong>ssa<br />

historia e podem ser assim resumidas:<br />

1 ) introduçâo de mudanças substanciáis na vida dos indígenas da área litorânea, causando<br />

a destruiçâo de sua cultura ou modificando, irreversivelmente, hábitos tradicionais como<br />

o <strong>no</strong>madismo;<br />

2) manutençâo da unidade "nacional" em tor<strong>no</strong> da lingua portuguesa e da fé crista;<br />

3) maior facilidade de comunicaçâo entre colonizadores e indios, pois estes, devido aos<br />

ensinamentos de portugués, aprenderam logo os rudimentos da <strong>no</strong>va lingua;<br />

4) preparo técnico dos indígenas em varios oficios, facilitando a sua integraçâo na carnada<br />

mais baixa da pirámide social da nascente sociedade brasileira;<br />

5) desenvolvimento do processo de urbanizaçâo, através do aldeamento ( agrupamento de<br />

indios ou tribos em núcleos urba<strong>no</strong>s);<br />

6) modificacáo do regime de trabalho dispersivo, transformando-o em trabalho disciplinado<br />

como o agrícola;<br />

7) reformas <strong>no</strong> modo de vida indígena, com o estabelecimento de vínculos familiares e a<br />

exaltaçâo as fórmulas de dignidade individual e doméstica, sem falar na substituiçâo dos<br />

rituais de mitos primitivos por outros do teocentrismo medieval;<br />

8) atenuaçâo da violencia <strong>no</strong> trato dos indios pelos colonizadores e combate à escravidâo<br />

dos indígenas;<br />

9) apaziguamento de indios e de tribos revoltados contra a dominaçâo cultural, económica<br />

e social.<br />

3.2.2. Da reforma de 1759 à independencia<br />

A educaçâo em Portugal e ultramar, antes da reforma implantada pelo Marqués de Pombal,<br />

baseava-se ñas rígidas regras da escolástica, definidas especialmente por Sao Tomás de<br />

AQUINO, que, com base <strong>no</strong> pensamento de ARISTÓTELES, re<strong>no</strong>vou amplamente a patrística<br />

oriunda de Santo Agostinho, mantendo, contudo, os principios básicos do teocentrismo<br />

medieval.<br />

Em éditai de 7 de maio de 1746, baixado pelo Reitor do Colegio das Artes de Coimbra, fica<br />

clara essa influencia da escolástica na área <strong>educacional</strong>: "... <strong>no</strong>s exames, ou licöes, Condusöes<br />

Públicas ou Particulares se näo ensine defensäo ou opiniöes <strong>no</strong>vas pouco recebidas, ou inúteis para o e<br />

das ciencias maiores como sao as de Renato DESCARTES, GASSENDO, NEWTON, e outros, e, <strong>no</strong>meadamente<br />

qualquer ciencia, que defenda os átomos de EPI CURO, ou negué as realidades dos acídenles encáustic<br />

ou quaisquer condusöes opostas ao sistema de ARISTÓTELES, o qual nestas escolas se deve seguir como<br />

repetidas vezes se recomenda <strong>no</strong>s estatutos deste Colegio das Artes" 1 ' 6 .<br />

116 Id ibid, p. 86.<br />

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