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Tais ensinamentos permanecem atuais, porque, hoje, o papel da educaçâo para o desenvolvimento se agiganta diante da consciência de que, como afirma Alvin TOFLER, "o Poder nao decorre mais do tamanho, e sim do confiecimento, das estrategias e das alianças" . 2I6 Destarte, a força de um Estado, no próximo sáculo, dependerá, em muito, do nivel de educaçâo de seu povo e de suas habilidades para produzirem e aplicarem novos conhecimentos científicos e novas tecnologías. Daí a importancia do Governo investir realmente no desenvolvimento de todos os níveis de ensino, inclusive na preservaçâo e multiplicaçâo de centros de excelencia e ñas áreas em que a iniciativa privada nao tiver interesse ou condiçôes para atuar. 5.3.10. O direito de todos a urna educaçâo de qualidade e a equalizaçâo de oportunidades O tema democratizaçâo ou universalizaçâo da educaçâo, bem como o de equalizaçâo de oportunidades, principalmente do ensino fundamental, deverâo, portante, voltar à baila, e ser reforçados com os debates sobre a Década da Educaçâo, sobre a aplicaçâo dos dispositivos da Lei Darcy Ribeiro e sobre novas propostas de emendas constitucionais. Mas, o enfoque tradicional com que eles costumavam ser abordados, ou seja, de um lado, os defensores de mais recursos para as escolas públicas e só para elas; e, de outro, os privativistas, reivindicando recursos públicos, na forma de bolsas e de financiamentos, para as escolas particulares fazerem novos investimentos, deverá ser mudado. O novo eixo das discussóes deverá ser o proprio direito à educaçâo, e a urna educaçâo de qualidade, dando margem para uma mudança de mentalidade e para urna abertura diante da invençâo de novas propostas e formas de se solucionar o problema, as quais deverâo ser decorrentes da criatividade e boa vontade de todas as partes envolvidas. Neste aspecto, logo após a publicaçâo da LDB, o Sindicato das Escolas Particulares de Santa Catarina, através de seu Presidente, o educador José ZINDER, que já foi Presidente da Federaçâo Interestadual das Escolas Particulares - FIER saiu na frente e defendeu a terceirizaçâo do ensino, bem como a idéia, já apresentada varias vezes, no Congresso Nacional, há alguns anos, de lançamento do "Vale-educaçâo". Para avivar a polémica a respeito e abrir caminhos para uma discussâo mais profunda do assunto, da qual devem participar nao só estudantes, pais, donos de escolas, administradores escolares e professores, mas também toda a comunidade, especialmente os seus líderes de todos os setores e segmentos, transcrevemos, a seguir, a opiniâo de losé ZINDER: "Fago minfias as palavras do Secretario Aurelio WANDER, da Secretaria de Direito Económico, segundo o qual comunidade deve lutar mais para melhorar o ensino público e menos para nao pagar as mensalidades'. Nessa mesma linha de pensamento do Secretario, acrescento a minha versäo, que é a seguinte: lutar pe reduçâo de mensalidade é brigar para a perpetuando do ensino pago. É precisamente isso, discutir preç mensalidade é uma auténtica aberraçâo. Temos que discutir é a gratuidade do ensino em todas as categor de escolas. É esseonosso deverde cidadáos. Essa é uma questáo elementar de justiça. O atual sistema so 216 TOFLER, Alvin - "Tbfler aprésenla a 'quarta onda', in Caseta Mercantil, 1996, p. 1. -235-

asileiro é cruel do ponto de vista social e inviável económicamente. Os milhöes de brasileros despropiaos de educaçâo jamais lerdo oportunidades reals de obter renda, a persistir a atual situaçâo. Näo tendo renda, estaräo sempre marginalizados, näo consumiräo além do estritamente básico, näo pagaräo impostos, näo estaräo aptos para o emprego e pouca coisa ou quase nada poderäo fazer. Observe que a maior parte dos estudantes aprovados nos vestibulares das universidades federáis sao oriundos de escolas particulares ou de cursinhos. Ou seja, raramente estudante pobre tem acesso à universidade gratuita. O pobre, filfio de lavadeira de roupa, quando passa em vestibular, dá de presente para a mäe o carne das mensalidades, enquanto que o rico, egresso da escola particular, ganha de presente do pai um carro que vai entupir ainda mais o já entupido estacionamento da universidade. Cito o ¡ato como exemplo da gritante distorçao existente. Ora, é pura ilusäo alguém pensar que existe escola gratuita. Todas, sejam do governo ou de particulares, sao pagas. Näo existe nada de graça, nem na educaçâo. A chamada escola pública existe porque todos nos, contribuintes, pagamos impostos. Agora eu pergunto, é justo esse mesmo contribuinte, que deixa 20% de seus rendimentos na máo do Governo, e é penalizado pela absoluta falta de boas escolas públicas, ter que pagar urna escola particular? Evidentemente que nao éjusto ter que comprar no mercado o que deveria receber de graça. O correto seria o Governo instituir logo o vale-educaçâo, dando a cada familia o soberano direito de escolher a escola de sua preferencia, seja do governo ou da iniciativa particular. (...) Portante mais do que urna questäo de principios, tratase de urna visäo pragmática. O vale-educaçâo, num país como o Brasil em que tudo o que se fizer para zerar o déficit social ainda é pouco, é a chave para a grande virada. "A proposta é simples. Cada familia receberia do Governo vouchers equivalentes a urna determinada quantia em dinheiro, e escolheria livremente a escola que desejasse. Com isso, ensejaria urna saudável competiçao no setor, envolvendo escolas governamentais e näo governamentais, as quais competiriam entre si e, em conseqüência, a qualidade do ensino tendería a melhorar multo. Note que o vale-educaçâo é täo bom para a escola pública quanto para a escola particular. No caso da escola pública, isto é, a escola governamental, se o diretor for bom administrador ele vai fazer com que sua escola melhore sensivelmente em qualidade sob todos os aspectos. Näo devemos temer a possibilidade de ocorrer desvio de dinheiro, absolutamente, porque o usuario do vale e sua familia soberao fiscalizar, pois eles poderäo escolher a escola que quiserem. O problema é que, segundo apontou o proprio Gary BECKER, 'as escolas públicas tem praticamente o monopolio em sua área de atuaçâo, e como qualquer tipo de monopolio, público ou privado, näo se obtêm eficiencia e alta qualidade'. "O que intéressa é colocar todas as enancas ñas escolas, näo importa se em escola governamental ou näo governamental. Como ? Através do vale-educaçâo e, também, da terceirizacäo da rede de escolas oficiáis. Eis ai a grande saída. Segundo dados mais recentes, temos quatro milhöes de enancas, dos 7 aos 14 anos, fora das salas de aula. Esse contingente equivale a toda a populaçao de países como Israel e \ordania. Näo se pode perder de vista esses números quando se tenta esboçar o grande desafio educacional brasileiro. É bom que se diga também que os 35 milhöes de enancas espalhadas por cerca de 200 mil escolas de I a grau equiparamse à soma dos habitantes de urna Argentina. E atente só para o detalhe: desse total, apenas cerca de 11% estäo matriculados no setor privado. No terceiro grau o problema também é grave, pois as universidades brasileira atendem a urna reduzidíssima parcela da populaçao, ou seja, apenas 1,6 milhäo de estudantes, contabilizadas as matrículas das oficiáis e particulares. Observe o abismo em que estamos. O grande desafio, -236-

Tais ensinamentos permanecem atuais, porque, hoje, o papel da educaçâo para o desenvolvimento<br />

se agiganta diante da consciência de que, como afirma Alvin TOFLER, "o Poder nao<br />

decorre mais do tamanho, e sim do confiecimento, das estrategias e das alianças" . 2I6 Destarte, a força de<br />

um Estado, <strong>no</strong> próximo sáculo, dependerá, em muito, do nivel de educaçâo de seu povo e de<br />

suas habilidades para produzirem e aplicarem <strong>no</strong>vos conhecimentos científicos e <strong>no</strong>vas<br />

tec<strong>no</strong>logías. Daí a importancia do Gover<strong>no</strong> investir realmente <strong>no</strong> desenvolvimento de todos<br />

os níveis de ensi<strong>no</strong>, inclusive na preservaçâo e multiplicaçâo de centros de excelencia e ñas<br />

áreas em que a iniciativa privada nao tiver interesse ou condiçôes para atuar.<br />

5.3.10. O direito de todos a urna educaçâo de qualidade e a<br />

equalizaçâo de oportunidades<br />

O tema democratizaçâo ou universalizaçâo da educaçâo, bem como o de equalizaçâo de<br />

oportunidades, principalmente do ensi<strong>no</strong> fundamental, deverâo, portante, voltar à baila, e<br />

ser reforçados com os debates sobre a Década da Educaçâo, sobre a aplicaçâo dos dispositivos<br />

da Lei Darcy Ribeiro e sobre <strong>no</strong>vas propostas de emendas constitucionais. Mas, o enfoque<br />

tradicional com que eles costumavam ser abordados, ou seja, de um lado, os defensores de<br />

mais recursos para as escolas públicas e só para elas; e, de outro, os privativistas, reivindicando<br />

recursos públicos, na forma de bolsas e de financiamentos, para as escolas particulares<br />

fazerem <strong>no</strong>vos investimentos, deverá ser mudado. O <strong>no</strong>vo eixo das discussóes deverá ser<br />

o proprio direito à educaçâo, e a urna educaçâo de qualidade, dando margem para uma<br />

mudança de mentalidade e para urna abertura diante da invençâo de <strong>no</strong>vas propostas e<br />

formas de se solucionar o problema, as quais deverâo ser decorrentes da criatividade e boa<br />

vontade de todas as partes envolvidas.<br />

Neste aspecto, logo após a publicaçâo da LDB, o Sindicato das Escolas Particulares de Santa<br />

Catarina, através de seu Presidente, o educador José ZINDER, que já foi Presidente da Federaçâo<br />

Interestadual das Escolas Particulares - FIER saiu na frente e defendeu a terceirizaçâo<br />

do ensi<strong>no</strong>, bem como a idéia, já apresentada varias vezes, <strong>no</strong> Congresso Nacional, há alguns<br />

a<strong>no</strong>s, de lançamento do "Vale-educaçâo".<br />

Para avivar a polémica a respeito e abrir caminhos para uma discussâo mais profunda do<br />

assunto, da qual devem participar nao só estudantes, pais, do<strong>no</strong>s de escolas, administradores<br />

escolares e professores, mas também toda a comunidade, especialmente os seus líderes<br />

de todos os setores e segmentos, transcrevemos, a seguir, a opiniâo de losé ZINDER: "Fago<br />

minfias as palavras do Secretario Aurelio WANDER, da Secretaria de <strong>Direito</strong> Económico, segundo o qual<br />

comunidade deve lutar mais para melhorar o ensi<strong>no</strong> público e me<strong>no</strong>s para nao pagar as mensalidades'.<br />

Nessa mesma linha de pensamento do Secretario, acrescento a minha versäo, que é a seguinte: lutar pe<br />

reduçâo de mensalidade é brigar para a perpetuando do ensi<strong>no</strong> pago. É precisamente isso, discutir preç<br />

mensalidade é uma auténtica aberraçâo. Temos que discutir é a gratuidade do ensi<strong>no</strong> em todas as categor<br />

de escolas. É esseo<strong>no</strong>sso deverde cidadáos. Essa é uma questáo elementar de justiça. O atual sistema so<br />

216 TOFLER, Alvin - "Tbfler aprésenla a 'quarta onda', in Caseta Mercantil, 1996, p. 1.<br />

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