CADA CASO É UM CASO - Instituto Fazendo História
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de fotografias e desenhos contendo comentários reflexivos sobre a separação da família biológica, a chegada no abrigo, ou na família substituta, as experiências vividas nos diferentes contextos pelos quais ela passa, os sentimentos e as lembranças, para assim ajudá-la a compreender seu passado e presente. Palácios et al. (2004) enfatizam que as crianças e os adolescentes trazem lembranças de seus primeiros anos de vida em outros contextos e, por isso, é ainda mais necessário retomar a história, as dúvidas e os medos, ajudando-os a elaborar o passado. O passado é parte importante deles e, por isso, deve-se aprender a respeitá-lo e a se referir a ele de maneira sensível no que diz respeito aos sentimentos que possam acompanhá-lo. Por outro lado, frequentemente observa-se nas crianças e nos adolescentes um processo silenciador ativo sobre sua história, associado a um passado de sofrimentos e rupturas que eles querem esquecer. O assunto tende a ser mantido em segredo, escamoteado, omitido. Porém, ele permeia as relações entre todos os envolvidos, dificultando indagações, conversas, esclarecimentos. Deve-se, então, levar em consideração que o espaço de acolhimento e de diálogo deve existir sempre, no entanto cada criança terá momentos e maneiras diferentes de se expressar, sendo o silêncio uma que deve ser respeitada. CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando particularmente a delicada arte da conversa e da escuta de crianças ou adolescentes sob medida de proteção, que são encaminhados ou que já estão no abrigo, apresenta-se a seguir os principais pontos discutidos neste texto. Para elevar a criança e o adolescente à posição de sujeito ativo e de direitos no processo de abrigamento, é preciso aprender a ouvi-los, e o melhor jeito de ouvilos é conversando com eles. Acredita-se que, por meio da conversa, as crianças e os adolescentes podem aprender sobre si e construir suas histórias, uma vez que as experiências narradas ao outro favorecem a construção de seus próprios significados sobre o mundo e sobre si. O fato de essas narrativas serem sempre diversas merece atenção, já que criadas na interação com diferentes parceiros, em diferentes contextos. Portanto, não podem ser consideradas “verdade” generalizável. É importante serem providenciados espaços e oportunidades variadas, no dia a dia, para a criança ou o adolescente poder conversar sobre eventos de sua vida e também para serem exploradas diferentes linguagens e narrativas pelas quais eles se expressam. Foi enfatizado o importante papel que a rede social desempenha na tarefa de acolher, apoiar, ouvir e conversar com crianças e adolescentes; ressaltamos a necessidade de investimento na qualificação de todos os profissionais envolvidos com as crianças e os adolescentes, já que precisam estar capacitados para conversar com eles e ouvi-los respeitando e compreendendo seus silêncios. Foram descritas algumas metodologias que podem favorecer ou mediar essas conversas. 71
Para finalizar, aceita-se que os pontos tratados nesse texto devem ser levados em conta em toda e qualquer conversa/escuta com crianças e adolescentes, mas deve-se atentar para aquelas que visam à elaboração dos estudos de caso e pareceres judiciais. Nesse sentido, aponta-se que a voz da criança e do adolescente deve ser sempre levada em consideração, porém lembrando sempre do contexto em que foi produzida, ou seja, quem era o parceiro de conversa e em que situação. Cabe ressaltar ainda que, muitas vezes, ouvir as pessoas que convivem com as crianças e os adolescentes e que têm a oportunidade de conversar com eles no dia a dia pode ser uma forma de nos ajudar a escutar suas vozes, lembrando que a voz não é expressa só pela palavra. Desta forma, um estudo ou um parecer deve estar pautado na maior variedade e frequência possível de contato com eles e podem acontecer por meio de conversas e observações no Fórum, no abrigo, durante as visitas da família de origem ou substituta, dando espaço para as manifestações espontâneas desses jovens e utilizando metodologias adequadas. Enfim, acredita-se que a escuta deve ser abrangente e sempre contextualizada. REFERÊNCIAS 72 • ALMEIDA, I. G. Que posições ocupam os irmãos na rede de relações de crianças em situação de abrigamento? Projeto de Pesquisa (Mestrado). Departamento de Psicologia e Educação, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2007. • ________.; ROSSETTI-FERREIRA, M. C. Que posições ocupam os irmãos na rede de relações de crianças em situação de abrigamento? In: Resumos do Encontro Científico do Cindedi/USP – Políticas Públicas e práticas sociais de acolhimento à criança: o quanto nossas pesquisas podem ajudar a repensá-las. Ribeirão Preto: Cindedi, 2008. v. XIII. p. 47-49. • BORBA, F. S. (Org.). Dicionário Unesp do português contemporâneo. São Paulo: Unesp, 2004. • BRUNER, J. Atos de significação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. • CARVALHO, A. M. A.; BERALDO, K. E. A .; PEDROSA, M. I.; COELHO, M. T. O uso de entrevistas em estudos com crianças. Psicologia em Estudo, 9 (2), p. 291- 200, 2004. • CASTRO, L. R. (Org.). Subjetividade e cidadania: um estudo com crianças e jovens em três cidades brasileiras. Rio de Janeiro: 7Letras, 2001. • CHRISTENSEN, P.; JAMES, A. Research with Children – Perspectives and practices. London and New York: Falmer Press, 2000. • DELFOS, M. F. Me escuchas? Cómo conversar con niños de cuatro a doce años. Bernard van Leer Foundation, 2001.
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Palácios et al. (2004) enfatizam que as crianças e os adolescentes trazem lembranças<br />
de seus primeiros anos de vida em outros contextos e, por isso, é ainda<br />
mais necessário retomar a história, as dúvidas e os medos, ajudando-os a elaborar<br />
o passado. O passado é parte importante deles e, por isso, deve-se aprender a respeitá-lo<br />
e a se referir a ele de maneira sensível no que diz respeito aos sentimentos<br />
que possam acompanhá-lo.<br />
Por outro lado, frequentemente observa-se nas crianças e nos adolescentes<br />
um processo silenciador ativo sobre sua história, associado a um passado de sofrimentos<br />
e rupturas que eles querem esquecer. O assunto tende a ser mantido<br />
em segredo, escamoteado, omitido. Porém, ele permeia as relações entre todos os<br />
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no entanto cada criança terá momentos e maneiras diferentes de se expressar,<br />
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CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
Considerando particularmente a delicada arte da conversa e da escuta de crianças<br />
ou adolescentes sob medida de proteção, que são encaminhados ou que já estão no<br />
abrigo, apresenta-se a seguir os principais pontos discutidos neste texto.<br />
Para elevar a criança e o adolescente à posição de sujeito ativo e de direitos no<br />
processo de abrigamento, é preciso aprender a ouvi-los, e o melhor jeito de ouvilos<br />
é conversando com eles. Acredita-se que, por meio da conversa, as crianças e<br />
os adolescentes podem aprender sobre si e construir suas histórias, uma vez que<br />
as experiências narradas ao outro favorecem a construção de seus próprios significados<br />
sobre o mundo e sobre si. O fato de essas narrativas serem sempre diversas<br />
merece atenção, já que criadas na interação com diferentes parceiros, em diferentes<br />
contextos. Portanto, não podem ser consideradas “verdade” generalizável. <strong>É</strong><br />
importante serem providenciados espaços e oportunidades variadas, no dia a dia,<br />
para a criança ou o adolescente poder conversar sobre eventos de sua vida e também<br />
para serem exploradas diferentes linguagens e narrativas pelas quais eles se<br />
expressam. Foi enfatizado o importante papel que a rede social desempenha na tarefa<br />
de acolher, apoiar, ouvir e conversar com crianças e adolescentes; ressaltamos<br />
a necessidade de investimento na qualificação de todos os profissionais envolvidos<br />
com as crianças e os adolescentes, já que precisam estar capacitados para conversar<br />
com eles e ouvi-los respeitando e compreendendo seus silêncios. Foram descritas<br />
algumas metodologias que podem favorecer ou mediar essas conversas.<br />
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