CADA CASO É UM CASO - Instituto Fazendo História
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Ou seja, a autora destaca que a fala de crianças deve ser interpretada no<br />
contexto sociopolítico-afetivo das relações adulto-criança. Isto é, a fala da criança<br />
deve ser entendida a partir de suas relações afetivas e de afinidade, contextualizando-a<br />
em seu mundo familiar e sociocultural.<br />
Porém, a compreensão do significado atribuído a estas falas é, em geral, relacionada<br />
ao sentido de proteção à infância enquanto um período de vida merecedor<br />
de cuidados especiais pelos adultos. De fato, as crianças necessitam de proteção<br />
física. Contudo, algumas concepções de infância das sociedades modernas<br />
agregam ao sentido da proteção o da inocência da infância, postulando a preservação<br />
de um estado de ignorância das crianças sobre certos aspectos da vida. Nessa<br />
perspectiva, os adultos consideram que devem manter segredo e não conversar<br />
sobre vários temas, em especial sobre relações sexuais e morte.<br />
SILÊNCIO PROTETOR<br />
Rosemberg (1985), analisando uma amostra de livros infantojuvenis brasileiros,<br />
produzidos, entre 1950 e 1975, como estratégia para apreender a concepção de<br />
infância em nossa sociedade, chega à mesma conclusão.<br />
<strong>É</strong> assim que certas informações lhe são negadas [à infância], como também<br />
certas curiosidades lhe são tolhidas. Certos porquês omitidos e apagados. Uma<br />
certa ordem “natural”, nas coisas, nos seres, nas ações dos homens aparece,<br />
então, quase que como resultante de um acordo entre atores: “eu faço de conta<br />
que isso não me interessa e você faz de conta que isto não lhe interessa”. Deste<br />
modo, problemas existenciais fundamentais – como a vida e a morte – não são<br />
discutidos.<br />
A vida, sua origem, o amor entre homem e mulher, o amor sexo, o amor afeto<br />
não transparece nestas narrativas. O próprio contato físico é pouco frequente.<br />
Nenhuma menção sobre o desejo ou o comportamento sexual, adulto ou infantil.<br />
Quase nenhuma referência no texto ou na ilustração a atributos sexuais,<br />
primários ou secundários. O nascimento e a preparação judiciosamente<br />
camuflados [...]<br />
Há mortos, e muitos, na literatura infantojuvenil, mas apenas a morte a serviço<br />
da trama, aquela que elimina personagens indesejáveis, ou a morte como castigo<br />
e punição. Porém, a morte necessária, visceral, dramática e angustiante praticamente<br />
inexiste.<br />
A omissão do tema sexual e o tratamento “cuidadoso” dado à morte acentuam<br />
o caráter repressivo assumido por amplos setores da literatura infantil, pois<br />
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